sexta-feira, 28 de junho de 2024

A GRANDE CARRUAGEM

Título Original: Le Grand Chariot
Diretor: Philippe Garrel
Ano: 2023
País de Origem: França
Duração: 97min
Nota: 6

Sinopse: Três irmãos, um pai e uma avó administram um negócio na forma de um show de marionetes itinerante. Quando o pai morre, os membros restantes da família tentam manter seu legado vivo.

Comentário:

quinta-feira, 27 de junho de 2024

FÅRÖ 1979

Título Original: Fårödokument 1979
Diretor: Ingmar Bergman
Ano: 1979
País de Origem: Suécia
Duração: 104min
Nota: 8

Sinopse: Fårö 1979 é a continuação de dez anos do primeiro documentário que Bergman fez sobre sua casa adotiva, a ilha de Fårö na Suécia, onde filmou muitos de seus melhores trabalhos e viveu até o fim de sua vida.

Comentário:

terça-feira, 25 de junho de 2024

EU, CAPITÃO

Título Original: Io Capitano
Diretor: Matteo Garrone
Ano: 2023
País de Origem: Senegal
Duração: 221min
Nota: 8

Sinopse: Conta a história de dois jovens que saem do Senegal rumo à Europa; uma odisséia contemporânea pelos perigos do deserto, os perigos do mar e as ambiguidades da alma humana.

Comentário: Indicado ao Leão de Ouro e vencedor dos prêmios de Melhor Direção e Ator Revelação para Seydou Sarr no Festival de Veneza. Quando o filme terminou vem aquele sentimento bom que todo filme hollywoodiano usa como forma de te enganar, então fui inundado pelo mesmo sentimento da crítica de várias pessoas de que o filme falha miseravelmente quando mostra a chegada na Europa como uma salvação. Porém, depois de um tempo pensando tive uma outra visão do filme. Eu moro na Europa, vivo e trabalho com muitos africanos que fizeram este caminho do deserto para o mar. Acompanho de muito perto também o sentimento fascista anti-imigrante que só cresce. Acredito que é um filme feito por um europeu para outros europeus, pois qualquer um que mora aqui sabe que a Europa não é uma salvação, portanto o filme serve para que as pessoas criem empatia, entendam o lado do outro como seres humanos. Nisso acho que o filme faz um bom trabalho. O mais louco é ver vários africanos que trabalham comigo, se ferrando muito, mas gastam com roupas de marca para postar fotos no Instagram para a família pensar que eles estão bem, mesmo muitos me relatando que gostariam de voltar para a África, e assim se cria esse mito de que a Europa é muito boa, pois nem os africanos que estão aqui vão dizer o contrário para não preocupar suas famílias. Lógico que há também africanos que estão muito melhor aqui que lá. O ator é realmente incrível, mas o que mais me chamou a atenção foi a trilha sonora composta por Andrea Farri, fazia tempo que eu não via uma trilha tão poderosa. No geral, pensando nessa nova interpretação que me veio, é um filme muito bom.

*Cadastrei o filme no Senegal, porque ao meu ver não se trata em nada sobre a Itália. Ele é falado em Wolof e de italiano só tem o dinheiro da produção e a equipe técnica mesmo.

segunda-feira, 24 de junho de 2024

SEM CORAÇÃO

Título Original: Sem Coração
Diretores: Nara Normande & Tião
Ano: 2014
País de Origem: Brasil
Duração: 26min
Nota: 8

Sinopse: Leo sai de férias para o litoral na casa de seu primo, em uma vila de pescadores. Lá, ele conhece uma garota que atende pelo apelido de Sem Coração por quem se apaixona.

Comentário: Vencedor de um prêmio de curtas do Festival de Cannes. Este curta metragem é o que deu origem ao filme lançado em 2023. Resolvi assistir este antes de ver o longa. É uma história bem simples, com foco naquela época que marca o fim da infância e o começo da adolescência. Durante o curta, tenho que confessar que nada me chamou muito a atenção, nada havia me cativado ou me emocionado de nenhuma forma. O desfecho, no entanto, é sensacional. É o final que fez o curta valer a pena para mim. Me deslocou no tempo e fez eu rever as primeiras vezes que me apaixonei e os pedaços de nossos corações que acabamos deixando para trás. Não consigo imaginar isso como um longa, pois não vi tantas camadas para ser trabalhado em tanto tempo em tela, mas há quem esteja exaltando o filme, portanto verei muito em breve.

sábado, 22 de junho de 2024

BABA AZIZ, O PRÍNCIPE QUE CONTEMPLOU SUA ALMA

Título Original: Bab'Aziz
Diretor: Nacer Khemir
Ano: 2005
País de Origem: Tunísia
Duração: 99min
Nota: 9

Sinopse: A história de um dervixe cego Baba Aziz e sua espirituosa neta, Ishtar, juntos vagam pelo deserto em busca de uma grande reunião de dervixes que ocorre apenas uma vez a cada trinta anos.

Comentário: Último filme da Trilogia do Deserto do diretor Nacer Khemir, simplesmente ótimo, os três filmes. Este é o mais fácil dentre eles, uma narrativa mais simples, mas sem deixar toda a característica subjetiva de lado. O avô e a neta são a alma do filme. Fui assistir de tarde, pois como estudo árabe gosto de ouvir com o som mais alto para me habituar ao idioma e tive uma surpresa quando começaram a falar em farsi, perguntei para minha esposa (que é iraniana) e ela não soube me dizer porque estariam falando em farsi na Tunísia. Depois descobri que o filme foi filmado no Irã também, então talvez ele esteja no país persa depois de ter migrado da Tunísia (já que todas as histórias do passado estão em árabe). Para quem não sabe, os dervixes são monges bastante parecidos com os franciscanos do cristianismo, pessoas muito simples e que transbordam empatia ao próximo. Há várias referências a Rumi, o grande poeta persa. Um filme contemplativo, muito lindo e que fecha com chave de ouro uma trilogia que mantém a qualidade em todos os seus filmes. Khemir devia produzir mais, pois é um diretor soberbo.

segunda-feira, 17 de junho de 2024

FAUSTO

Título Original: Lekce Faust
Diretor: Jan Svankmajer
Ano: 1994
País de Origem: República Tcheca
Duração: 92min
Nota: 9

Sinopse: Através de um mapa, um homem é atraído a um estranho teatro de marionetes, onde acaba envolvido em uma produção da lenda de Fausto.

Comentário: Eu peguei isto passando na TV Cultura no final dos anos 90 e me apaixonei. Nunca havia visto inteiro até agora, mas devo ter visto mais de uma hora de filme na época. Acredito que foi meu primeiro contato com a obra de Goethe, acompanhei uns anos depois quando a peça foi montada na íntegra com o Bruno Ganz (acho que 2001) e fui acabar lendo o livro em 2006. Poder ver inteiro em uma boa qualidade foi uma bela experiência, a maneira como o diretor mistura o livro com o mundo contemporâneo brincando com a metalinguagem do teatro torna este filme único. É divertido ao mesmo tempo que é a mais pura arte. Os efeitos em stop motion e as marionetes dão o toque final, mostrando que a simplicidade é quase sempre o melhor caminho do que as parafernalhas deste mundo de CGI que vivemos.

domingo, 16 de junho de 2024

TODA UMA NOITE

Título Original: Toute Une Nuit
Diretora: Chantal Akerman
Ano: 1982
País de Origem: Bélgica
Duração: 91min
Nota: 7

Sinopse: Acompanhando mais de duas dezenas de pessoas diferentes na atmosfera quase sem palavras de uma noite escura na cidade de Bruxelas, Akerman examina a aceitação e a rejeição no reino do romance.

Comentário: Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza. Fui assistir sem saber absolutamente nada, há anos planejo começar a ver as obras da diretora e finalmente iniciei por este. É deveras estranho, assisti de madrugada depois das 3 da manhã e não senti sono. Mas confesso que teve momentos que achei cheio de significados e outros completamente vazio. Há histórias que mereciam mais tempo na tela e outras menos. Mas é muito interessante como somos meros voyeurs de momentos ínfimos de uma história de amor, vemos apenas um lampejo de um todo, como quando estamos na mesa do lado e acompanhamos uma discussão ou um momento de ternura. Gostei da proposta, gostei de vários momentos, mas ficou um sentimento de que poderia ser algo mais se conseguíssemos nos conectar mais... mas daí, talvez, seria só mais um filme como tantos outros. O filme pode não agradar muita gente, mas tem personalidade. Me vi em várias situações. Gostei.

quarta-feira, 12 de junho de 2024

SONATA DE OUTONO

Título Original: Höstsonaten
Diretor: Ingmar Bergman
Ano: 1978
País de Origem: Suécia
Duração: 93min
Nota: 10

Sinopse: Uma pianista visita a filha no interior da Noruega. A mãe é uma artista de renome internacional, mas a filha é tímida e deprimida. O encontro das duas é tenso, marcado por lembranças do passado e revela uma relação repleta de rancor, ressentimentos e cobranças.

Comentário: Um filme ignorado, injustamente, pelos grandes festivais. Vencedor de Melhor Filme Estrangeiro no Globo de Ouro e indicado a dois Oscars. Junto com Gritos e Sussurros é o melhor Bergman da década de 70. Que baita filme, forte, cheio de áreas cinzentas, com as duas atrizes dando tudo de si. Ingrid e Liv estão estupendas. O texto é maravilhoso. Para mim me remeteu muito a frase do Oscar Wilde "No início, os filhos amam os pais. Depois de um certo tempo, passam a julgá-los. Raramente ou quase nunca os perdoam". Eva, no filme, é tão presa a seus traumas e ressentimentos que não consegue mais ver a mãe como um ser humano, com falhas e sonhos, com erros e acertos. Quantos filhos culpam seus pais por tudo? Como diria o nosso poeta Renato Russo "Isto é um absurdo, são crianças como vocês, o que vocês vão ser quando crescer". Amei o filme, passei por uma fase de julgamento de meus pais, hoje os entendo e consigo dar todo o amor que tenho a eles. Um filme necessário, intenso e maravilhoso.

segunda-feira, 10 de junho de 2024

MÚSICA

Título Original: Musik
Diretora: Angela Schanelec
Ano: 2023
País de Origem: Alemanha
Duração: 109min
Nota: 7

Sinopse: Abandonado quando bebê, Jon se vê na prisão sob a acusação de homicídio culposo. Ele se apaixona pela guarda da prisão, Iro, sem saber de sua fatídica conexão.

Comentário: Indicado ao Urso de Ouro e vencedor do prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Berlim. Me falaram que a diretora não era fácil, mas para mim o filme estava indo muito bem até a meia hora final, quando se desloca para a Alemanha de fato. Adorei o ritmo, os silêncios apesar do título, a delicadeza de Iro e a fotografia. Fiquei vidrado e não senti nenhum sono apesar de assistir de madrugada. Interessante como a diretora utiliza do catártico jogo de futebol (Alemanha e Itália na semifinal da Copa do Mundo de 2006) para demarcar toda a cronologia do personagem, a partir daí é possível entender que o assassinato do começo do filme se passa em 1999 e a cena final provavelmente uns 30 anos depois. São detalhes. Me perdi em vários momentos, mas me remeteu a um texto do Ademir Luiz que colo um trecho aqui: "A grande arte não precisa fazer ninguém se sentir “cabeça” por estar diante dela. Muitas vezes ocorre o contrário: sentimo-nos estúpidos por não conseguirmos alcançar o pensamento ou as intenções de um grande artista. Quando isso ocorre, a culpa é sempre nossa, jamais do artista, se ele já passou pelo crivo do tempo e da história. O recomendável é tentarmos de novo, mas se desistimos quem perde mais somos nós, não a Arte". Portanto, que venham mais filmes de Angela Schanelec.

terça-feira, 4 de junho de 2024

FORTUNATA

Título Original: Fortunata
Diretor: Sergio Castellitto
Ano: 2017
País de Origem: Itália
Duração: 102min
Nota: 8

Sinopse: A história de uma jovem mãe (Jasmine Trinca) com um casamento fracassado, que diariamente luta para conquistar o seu sonho de abrir um salão de beleza, em uma tentativa de libertar-se, ganhar a sua independência e o direito de ser feliz.

Comentário: Indicado ao prêmio Um Certo Olhar e vencedor do de Melhor Atriz na categoria no Festival de Cannes. Jasmine Trinca é o grande trunfo do filme, que atuação, que presença, que baita entrega ao papel. Há situações forçadas, não gostei muito do personagem do psicólogo, mas no geral, a mensagem principal do filme soa muito bem no final, gera reflexão e acho que vai tocar cada pessoa de maneira diferente. O ex-marido dá vontade de pegar na porrada e deixar sem uma perna, no mínimo. Faz a gente pensar em quantas mulheres vivem em situação tão parecida e em como existe homem babaca nesse mundo. A cópia que eu tinha para assistir estava com vários problemas na reprodução da imagem, ficava travando, mas deu para assistir relativamente bem. Acho que se fosse dirigido por uma mulher seria bem melhor.

segunda-feira, 3 de junho de 2024

COM OU SEM ORDEM

Título Original: Be Tartib ya Bedoun-e Tartib
Diretor: Abbas Kiarostami
Ano: 1981
País de Origem: Irã
Duração: 17min
Nota: 6

Sinopse: Comparações entre ordem e desordem e o benefício de se agir conforme a ordem em diversas situações, na visão do grande diretor iraniano.

Comentário: Outro curta feito para o Instituto para Desenvolvimento Intelectual de Crianças e Jovens Adultos. É legal de assistir até com os diálogos dos realizadores por trás das imagens, a cena das crianças entrando no ônibus fez eu me imaginar de volta a escola e de como deve ter sido divertido para as crianças realizar este filme. A cena em que aparece todos bebendo água do mesmo copo fez meu corpo tremer de aflição, principalmente neste mundo pós covid. Acaba sendo um pouco mais do mesmo que os outros curtas que seguem este estilo, a cena deles tentando filmar o trânsito em ordem e não conseguindo foi ótima também, que loucura aquilo.

sábado, 1 de junho de 2024

ILHA DE FERRO

Título Original: Jazireh Ahani
Diretor: Mohammad Rasoulof
Ano: 2005
País de Origem: Irã
Duração: 86min
Nota: 8

Sinopse: Na costa sul do Irã, uma população miserável que não tem onde morar se estabelece num velho petroleiro abandonado. No comando da embarcação está o capitão Nemat, que tenta a todo custo persuadir os donos do navio e as autoridades navais a não confiscarem a embarcação. Seu interesse está em continuar controlando as atividades comerciais dentro do navio, do qual também vende partes da estrutura. Sem saber que destino lhes aguarda, a pobre comunidade segue sua vida.

Comentário: Filme de começo de carreira de Rasoulof e obrigatório para quem curte o diretor. A região sul do Irã é a que mais sofre com o abandono e com a pobreza no país, muito triste, pois é uma das regiões mais belas do país também. Aqui vemos um micro mundo com características sociais próprias e à parte do país, pessoas que vivem afastadas pela condição de pobreza em que estão submetidas. Parece algo tirado das Mil e Uma Noites misturado com o cinema cheio de simbologia da cultura iraniana. Aqui vemos quase um estágio embrionário de um lado estilístico do diretor que ele viria a aprimorar para realizar seu maravilhoso Os Campos Brancos. Há toda uma delicadeza e toda uma brutalidade no filme. Um choque tão comum para quem conhece o país.