domingo, 28 de janeiro de 2024

MÃES DE VERDADE

Título Original: Asa Ga Kuru
Diretor: Naomi Kawase
Ano: 2020
País de Origem: Japão
Duração: 140min
Nota: 10

Sinopse: Após uma longa e dolorosa experiência com tratamento de fertilidade, um jovem casal decide adotar um bebê. Seis anos depois, eles recebem um telefonema ameaçador de uma mulher, que afirma ser a mãe biológica da criança.
 
Comentário: Indicado no Festival de Cannes que não ocorreu devido a pandemia. Tenho vários filmes da Kawase comigo para assistir, mas nunca havia visto nenhum até este e já me arrependo amargamente, preciso colocar as obras dela em dia. Achei o filme simplesmente maravilhoso, tocante e emocionante. Só uma mulher para conseguir fazer um filme com esta visão tão perfeita do que é ser mãe, do que é ser mulher, do que é a maternidade. Estava esperando algo completamente diferente pela sinopse, e acabou sendo catártico. Chorei, me preocupei com praticamente todos os personagens, torci por eles. Lindo! Um dos melhores filmes de 2020, que foi um ano sem muitos lançamentos e sem filmes tão bons. Parte técnica e elenco primoroso. Recomendo muito.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

A GRANDE BELEZA

Título Original: La Grande Bellezza
Diretor: Paolo Sorrentino
Ano: 2013
País de Origem: Itália
Duração: 140min
Nota: 10

Sinopse: Jep Gambardella tem seduzido sua vida noturna de luxo em Roma por décadas, mas após seu aniversário de 65 anos, e um choque do passado, Jep olha para além das boates e festas para encontrar uma paisagem atemporal de grande beleza.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes e Vencedor do Oscar e do Globo de Ouro como Melhor Filme Estrangeiro. Como é que eu demorei tanto para assistir este filme? Simplesmente brilhante! Merecia a Palma de Ouro, merecia tudo que é prêmio. Sorrentino é com certeza o que o cinema italiano tem de melhor nos últimos anos. Toni Servillo dá um show como protagonista, interpretação brilhante. Simplesmente tudo no filme funciona, qualidade técnica e narrativa perfeitas. O filme tem todos os elementos contrabalanceados, há desde comédia a um senso nostálgico que faz a gente nem esconder a lágrima que escorre na cena final. Um filme sobre a vida, sobre envelhecer, sobre lugares e principalmente sobre memórias. Lindo demais!

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

CASA SENHORIAL

Título Original: Malmkrog
Diretor: Cristi Puiu
Ano: 2020
País de Origem: Romênia
Duração: 200min
Nota: 8

Sinopse: Um fazendeiro, um político, uma condessa, um general e sua esposa se encontram em uma espaçosa casa senhorial e discutem sobre morte, guerra, progresso e moralidade. Com o passar do tempo, a discussão se torna mais séria e acalorada.
 
Comentário: Vencedor do Prêmio de Melhor Diretor em uma competição paralela no Festival de Berlim. Achei o filme muito bom, mas confesso que entendo que não deva funcionar com uma grande maioria, me contorcia assistindo querendo participar da conversa, tive vontades descontroladas de bater na mesa e xingar todo mundo com suas visões limitadas transbordando a burguesia alienada que vive em uma realidade paralela. O discurso de Nikolai querendo tratar a morte como algo de um mal no sentido religioso e ignorando completamente a compreensão da natureza sob um contexto geral é patético. Aliás, muito interessante notar como a natureza é ignorada em quase todos os discursos, sendo sobreposta por uma falsa razão de cunho muitas vezes religioso cristão. Eu, que moro na Europa de hoje, talvez tenha gostado tanto do filme por ter escancarado o europeu como ainda são hoje, como lidam e encaram as coisas com sua visão extremamente limitada com valores construídos há seculos com seu eurocentrismo e valores ocidentais como absolutos. Um filme necessário para entender como a Europa pensa hoje, interessante também notar, que apesar do filme se passar no século XIX, há assuntos tratados que passam pelo futuro como o genocídio armênio, e há uma cena que parece misturar tanto a Primeira Guerra quanto a Revolução de 1917. Enfim, achei muito bom e funcionou muito bem para mim. Enrolei para ver por conta dos comentários negativos, mas devia ter visto antes.

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

GRITOS E SUSSURROS

Título Original: Viskningar Och Rop
Diretor: Ingmar Bergman
Ano: 1972
País de Origem: Suécia
Duração: 92min
Nota: 10

Sinopse: Quando uma mulher que morre de câncer no início do século XX, na Suécia, é visitada por suas duas irmãs, sentimentos reprimidos entre elas emergem à superfície.
 
Comentário: Vencedor de um tal Grande Prêmio Técnico no Festival de Cannes (não me perguntem que prêmio é este, não tenho ideia, deve ter sido um prêmio especial daquele ano) e indicado a 5 Oscars (vencedor de Melhor Direção de Arte). Não pude estar com minha irmã quando ela faleceu e este filme me abriu várias feridas, foi bem difícil para mim assisti-lo. Achei um filme grandioso do diretor, que conseguiu combinar tudo aquilo de melhor que ele foi construindo até aqui em sua carreira. Tudo funciona, o clima claustrofóbico, a construção das personagens, o vermelho predominante. Harriet Andersson brilha como nunca, tanto que consegue ofuscar Liv e Ingrid. Os 15 minutos finais é simplesmente catártico.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

NITRAM

Título Original: Nitram
Diretor: Justin Kurzel
Ano: 2021
País de Origem: Austrália
Duração: 111min
Nota: 7

Sinopse: Os eventos que levaram á massacre de Port Arthur em 1996 na Tasmânia, numa tentativa de entender por que e como a atrocidade ocorreu.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro e vencedor do Prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes. A atuação do Caleb Landry Jones é o que o filme tem de melhor realmente, mas acho que há conveniências demais no roteiro. Diretor perde muito tempo com cenas que não levam a lugar nenhum e acaba omitindo ou distorcendo várias coisas mais importantes. O elenco todo está muito bem e ajuda a dar o tom certo ao filme. É muito interessante o tipo de discussão que o filme acaba trazendo no final, já que mesmo a Austrália tendo restringido a lei do porte de arma depois de 1996, hoje o país tem mais armas do que na época. Simplesmente uma história, principalmente se for buscar os fatos depois de assistir ao filme, que é difícil acreditar como pode ocorrer. O filme tenta humanizar o personagem, mas depois de ler sobre a parte final que o filme não mostra fica difícil enxergá-lo de maneira muito humanizada.

domingo, 14 de janeiro de 2024

LUZ NATURAL

Título Original: Természetes Fény
Diretor: Dénes Nagy
Ano: 2021
País de Origem: Hungria
Duração: 103min
Nota: 8

Sinopse: Segunda Guerra Mundial, ocupada a União Soviética. István Semetka é um simples fazendeiro que serve como subtenente em uma unidade especial de reconhecimento de grupos partidários. Quando seu comandante é morto, Semetka precisa superar seus medos e assumir o comando da unidade enquanto é arrastado para um caos que não pode controlar. Baseado no romance homônimo de Pál Závada.
 
Comentário: Indicado ao Urso de Ouro e vencedor do Prêmio de Melhor Diretor no Festival de Berlim. Fui assistir pensando que ia gostar bem menos do que acabei gostando. Apesar do ritmo o filme passou muito rápido para mim. O prêmio de melhor diretor se justifica, imagens lindíssimas. Em um mundo onde os horrores mostrados no filme ainda são bem costumeiros (não vamos esquecer o Massacre de Odessa inclusive celebrado por alguns políticos ucranianos que continuam no poder) é interessante ver o personagem preservando sua humanidade se mantendo distante de tudo que está acontecendo ao redor dele, me identifiquei em vários níveis com o personagem. A falta de diálogo, para mim, ajudou a manter o clima do filme: denso, claustrofóbico e desumanizador. Um filme que me entregou mais do que prometia.

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

RETRATOS FANTASMAS

Título Original: Retratos Fantasmas
Diretor: Kleber Mendonça Filho
Ano: 2023
País de Origem: Brasil
Duração: 92min
Nota: 9

Sinopse: O filme se passa no centro de Recife, no passado e agora, entre o Cinema Veneza, em duas pontes e o Cinema São Luiz.
 
Comentário: Indicado ao Olho de Ouro, que premia documentários no Festival de Cannes. Se eu, que não conheço Recife, fiquei emocionado, imagina quem conhece.  Meu avô, nascido na cidade, sempre me contava sobre ela com um brilho no olhar e está nos meus planos visitar a cidade o quanto antes. Fui assistir ao filme sem saber do que se tratava e muito menos que era um documentário. Achei lindo! Kleber Mendonça consegue dosar tudo muito bem sem tornar nada cansativo, uma verdadeira carta de amor ao cinema, a cidade e a própria história que conecta tudo isso. Assisto muito pouco documentários e fico pensando o tanto de coisa que estou perdendo. Estou familiarizado com boa parte da obra do diretor, mas ainda não assisti O Som ao Redor, falha minha que espero remediar ainda este ano. Aqui temos várias referências ao filme em questão que acho legal ter assistido antes. Mas não me atrapalhou em nada curtir este. Filmaço, um dos melhores do ano.

sábado, 6 de janeiro de 2024

FERRUGEM E OSSO

Título Original: De Rouille et D'Os
Diretor: Jacques Audiard 
Ano: 2012
País de Origem: França
Duração: 122min
Nota: 10

Sinopse: Alain deixa a Bélgica para viver com sua irmã e seu marido em Antibes. A conexão de Alain com Stephanie, uma treinadora de baleias, se aprofunda depois que Stephanie sofre um acidente horrível.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro em Cannes, que para mim era o favorito ao prêmio mesmo concorrendo com o Amor do Haneke. Um dos meus filmes preferidos da vida, assisti de novo hoje e me emocionou da mesma maneira de quando vi no cinema. O filme é forte, bate em você de um jeito sem dó, os personagens são realistas, profundos e cheio de traumas que vão sendo montados como um quebra-cabeça pelo espectador. Marion Cotillard é rainha e mostra tudo e muito mais aqui, que entrega! Acho que o que mais me pega nele é o pensamento de que as pessoas, por mais diferentes que sejam, podem fazer um relacionamento dar certo se ambas querem e se empenham para isso, portanto se uma relação falhou é porque não era tão importante assim para uma delas ou até para ambas, é no que acredito. O filme é brutal e transborda amor ao mesmo tempo, difícil outro que tenha me tocado assim desse jeito.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

O PARAÍSO DO PAVÃO

Título Original: Il Paradiso del Pavone
Diretora: Laura Bispuri
Ano: 2021
País de Origem: Itália
Duração: 87min
Nota: 8

Sinopse: A família de Nena se reúne em sua casa à beira-mar para comemorar seu aniversário. Todo mundo está lá, inclusive Paco, o pavão de Alma.
 
Comentário: Indicado a duas premiações paralelas no Festival de Veneza. Adorei o filme, simples e direto recheado de personagens que só acrescentam densidade ao filme, cada um com sua história e particularidade. Excelente diretora e a trilha música meio caótica da um belo tom. E minha surpresa quando aparece o Caetano Veloso (hehehehehehe). Fui assistir porque sou fã da Tihana Lazovic, que faz uma coadjuvante, mas o elenco conta ainda com a veterana Dominique Sanda e a talentosa Alba Rohrwacher. A garotinha rouba todas as cenas e o pavão é a cereja no bolo. Gostei muito da direção e fiquei na expectativa dos próximos filmes dela. Adoro filme assim: simples, história bem amarrada e personagens cativantes. Tudo transcorre em menos de um dia, então temos pedaços de um todo, como se fossemos um convidado para o almoço da família.

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

LETRA MAIÚSCULA

Título Original: Tipografic Majuscul
Diretor: Radu Jude
Ano: 2020
País de Origem: Romênia
Duração: 128min
Nota: 9

Sinopse: A história de Mugur Calinescu, um adolescente romeno, que foi preso pela polícia secreta por pichações de protesto político e cuja morte prematura está envolta em mistério.
 
Comentário: Filme que estreou no Festival de Berlim fora de competições. Adorei a montagem do filme, as cenas documentais de uma Romênia marcada historicamente ao mesmo tempo em que se passa a narrativa que está sendo contada deu um tom vibrante ao filme. Talvez funcionasse melhor para algumas pessoas se as interpretações não fossem tão robóticas por conta da escolha artística deles lerem um texto que é totalmente documental, mas para mim a ideia funcionou muito bem. Acho que o filme peca só em contextualizar algumas coisas, como por exemplo a Rádio Free Europe que existe até hoje, completamente financiada pelo governo dos Estados Unidos para países que consideram que não há liberdade de informação, que vai desde países europeus, Ásia e até o Oriente Médio, e que não passa de propaganda imperialista capitalista. Não defendendo a forma de "socialismo" que veio na ramificação do stalinismo em que vivia a Romênia na época. Um filme que me surpreendeu de um diretor que vem me conquistando a cada filme.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

FEBRE DO MEDITERRÂNEO

Título Original:
Diretora: Maha Haj
Ano: 2022
País de Origem: Palestina
Duração: 105min
Nota: 9

Sinopse: Waleed sonha com uma carreira de escritor enquanto sofre de depressão. Ele desenvolve uma amizade inesperada com seu vizinho, um vigarista, que os leva a uma jornada de encontros sombrios.
 
Comentário: Vencedor de melhor roteiro no prêmio Um Certo Olhar no Festival de Cannes. Fui assistir sem esperar muita coisa e no fim se mostrou um baita filme. A história é bem simples, mas as coisas se conectam e falam sobre tabus tão cotidianos, como depressão e suicídio, misturados a situações de uma Palestina ocupada de uma maneira tão sútil me conquistou. A história se passa em Haifa, formada por uma grande parte de judeus que vieram da Rússia (por isso a médica é russa) e de uma maioria árabe que segue o cristianismo (por isso a dificuldade do personagem dizer que é muçulmano). A maneira quase tragicômica de se contar uma história tão pesada é característica do povo palestino e que engrandece muito a experiência de assistir ao filme. Nos apegamos aos personagens, nos envolvemos com eles, com seus problemas e conflitos e é isso que vale a pena em um filme. Atuações e direções que esbanjam talento. Daqueles que dá para indicar para uma grande maioria que acho que vai agradar.