domingo, 26 de março de 2023

UTAMA - TERRA ESQUECIDA

Título Original: Utama
Diretor: Alejandro Loayza Grisi
Ano: 2022
País de Origem: Bolívia
Duração: 87min
Nota:  10

Sinopse: Nos andes boliviano, um casal quéchua idoso vive a mesma vida cotidiana há anos. Durante uma seca incomumente longa, Virginio e sua esposa Sisa enfrentam um dilema: resistir ou ser derrotado pelo ambiente e pelo próprio tempo.
 
Comentário: Vencedor no Festival de Sundance. Que filme lindo, de uma sutileza e ao mesmo tempo tão simples. A parte técnica é linda, cada tomada da câmera é uma obra de arte. Apenas o ator Santos Choque, que interpreta o neto Clever, é um ator profissional. O casal de avós são casados na vida real e achei toda a interpretação deles de uma sinceridade muito bonita, não sei se atores conseguiriam pegar a essência deles tão bem. Interessante como é um filme que dialoga com Alcarrás do mesmo ano. Não teve como não lembrar de meus avós e das ligações que tinha com eles quando mais novo e gera um sentimento nostálgico, mas também amargo na boca pela distância que acaba se criando conforme envelhecemos. 2022 foi um ano de excelentes filmes e este fica entres os obrigatórios.

sábado, 18 de março de 2023

QUARTA-FEIRA DE FOGOS DE ARTIFÍCIO

Título Original: Chaharshanbe-soori
Diretor: Asghar Farhadi
Ano: 2006
País de Origem: Irã
Duração: 102min
Nota:  10

Sinopse: Na última quarta-feira antes do solstício da primavera inaugurar o Nowruz, as pessoas soltam fogos de artifício seguindo uma antiga tradição persa. Rouhi, passando seu primeiro dia em um novo emprego, encontra-se no meio de um tipo diferente de fogos de artifício - uma disputa doméstica entre seu novo chefe e sua esposa.
 
Comentário: Resolvi assistir exatamente no Chaharshanbe-soori deste ano (2023), já que o Nowruz (Ano Novo do calendário persa acontece agora segunda feira dia 20 de março). Achei um dos melhores filmes do Farhadi, não pela história em si, mas pela incrível capacidade de transformar um dia cotidiano em uma narrativa frenética que não fica devendo em nada para o Alfred Hitchcock. Quase que um prelúdio do A Separação, mas este é mais mundano, corriqueiro, enquanto o outro é uma crítica mais sagaz a sociedade religiosa do Irã. Elenco está fantástico, os detalhes vão sendo construídos em conta gotas e a tensão é crescente, não é a toa que o diretor já ganhou dois Oscar de filme estrangeiro e coleciona premiações pelo mundo. Um dos meus preferidos dele.

quarta-feira, 15 de março de 2023

ABRINDO OS PUNHOS

Título Original: Razzhimaya Kulaki
Diretor: Kira Kovalenko
Ano: 2021
País de Origem: Rússia
Duração: 96min
Nota:  8

Sinopse: Numa antiga aldeia mineira na Ossétia do Norte, uma jovem mulher luta para escapar ao controlo sufocante da família que ama tanto quanto rejeita.

Comentário: Vencedor do prêmio Um Certo Olhar no Festival de Cannes. O filme me surpreendeu muito positivamente em vários aspectos, é impressionante como algumas histórias só podem ser contadas pelas mãos de uma diretora, o comportamento de todos os personagens masculinos se mostram tóxicos em algum momento, a personagem de Ada é uma graça, da vontade de cuidar dela, fugir com ela dali. A atuação da estreante Milana Aguzarova é impressionante e a melhor coisa do filme, no mais, o filme reflete muito os conflitos e traumas daquela região tão castigada com conflitos. O ataque com reféns na escola que o filme usa realmente aconteceu na região em 2004 e ainda é uma enorme sombra. A narrativa cria situações de tensão e alívio muito bem. Um filme bem acima da média para mim, com mais acertos que erros, me tocou.

terça-feira, 14 de março de 2023

O SACRIFÍCIO

Título Original: Offret
Diretor: Andrei Tarkovsky
Ano: 1986
País de Origem: Suécia
Duração: 148min
Nota:  10

Sinopse: No início da Terceira Guerra Mundial, um homem procura uma maneira de restaurar a paz no mundo e descobre que deve dar algo em troca.
 
Comentário: Vencedor do Grande Prêmio do Juri no Festival de Cannes e o derradeiro canto do cisne de um dos maiores diretores de todos os tempos. Concordo quando dizem que é o filme mais "Bergman" do diretor russo, os paralelos são vários. Sempre prorroguei em assistir porque depois que o fizesse não teria mais nada de novo para ver do diretor, havia chegado a hora finalmente e sinto esse vazio existencial por vários motivos além do filme. O filme é brilhante, as mensagens são inúmeras. A morte, o vazio, a fé, o medo que permeava a humanidade nos anos 80 de uma guerra nuclear, está tudo aí na película. Nunca vou entender esse sentimento de "temos que salvar a humanidade", não consigo ver nenhum motivo para salvá-la, inclusive acho que já durou demais; então mesmo com essa dificuldade em entender os motivos o filme ainda teve muito a dialogar comigo, muito a refletir e a ponderar. Filme bom é assim!

sábado, 11 de março de 2023

O CHEIRO DO PAPAIA VERDE

Título Original: Mùi Đu Đủ Xanh
Diretor: Anh Hung Tran
Ano: 1993
País de Origem: Vietnã
Duração: 104min
Nota:  7

Sinopse: Saigon, 1951. Mui, uma menina de dez anos, começa a trabalhar para uma família rica e influente. À medida que cresce, ela percebe que seu relacionamento com um pianista que admira desde a infância fica cada vez mais complexo.
 
Comentário: Vencedor do Câmera de Ouro no Festival de Cannes e indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Um filme falado em vietnamita, que se passa e com atores do Vietnã, mas rodado inteiro na França, ou seja, com uma certa visão eurocentrista. O diretor foi educado na França, portanto é complicado embarcar na sua visão do Vietnã. O que vale o filme é sua qualidade técnica e a graciosidade da atriz Man San Lu, que interpreta a atriz principal quando garotinha. Não da para comprar o discurso "Você era como uma filha para mim" da dona da casa que manteve a "filha de coração" em condição de serva morando em um quartinho mixuruca de empregada. A sequência final fica meio perdida, o salto de 10 anos não ajuda o filme que perde vários fios que estavam indo muito bem. Vale pelas cenas lindíssimas da fotografia mais do que qualquer outra coisa.

sexta-feira, 10 de março de 2023

O CHEIRO DO RALO

Título Original: O Cheiro do Ralo
Diretor: Heitor Dhalia
Ano: 2006
País de Origem: Brasil
Duração: 100min
Nota:  8

Sinopse: Lourenço é proprietário de uma loja de penhores e se sustenta desenvolvendo um jogo perverso com seus clientes, geralmente em dificuldades financeiras. Tudo muda quando ele conhece uma garçonete e começa a perder o controle de sua vida.

Comentário: Indicado para o Festival de Sundance e ganhador de vários prêmios em festivais nacionais (Festival Internacional de São Paulo, Rio de Janeiro e Prêmio Guarani). Nunca tinha visto, sempre me falaram que eu lembro o Selton Mello neste filme, espero que seja mais de aparência, apesar de já ter me apaixonado por uma bunda. Ok, eu tenho um certo grau de excentricidade, mas o personagem é nojento demais e sei que passa longe de mim neste quesito. Dá raiva! Selton Mello brilha em vários momentos, mas acho que há outros que ele força demais e não funciona, fica meio falso. O filme é bem louco, típico do Mutarelli. Interessante ver que o diretor tem duas obras baseadas em histórias em quadrinhos na sua carreira, gostei mais deste filme, talvez porque não tenha lido. Tungstênio eu li e prefiro mais a HQ mesmo, apesar do trabalho sempre competente do diretor. Paula Braun está uma graça no filme, conquista todo mundo com ou sem a bunda. No geral, gostei bastante, mais pelo nível de ousadia do roteiro do que qualquer outra coisa. Não é algo que vemos com frequência em nenhum cinema mainstream.

domingo, 5 de março de 2023

EM TRÂNSITO

Título Original: Transit
Diretor: Christian Petzold
Ano: 2018
País de Origem: Alemanha
Duração: 101min
Nota:  10

Sinopse: Quando Georg (Franz Rogowski) tenta fugir da França após a invasão nazista, ele rouba os manuscritos de um autor falecido e assume sua identidade. Preso em Marseille, acaba conhecendo Marie (Paula Beer), que está desesperada para encontrar seu marido desaparecido - o mesmo que ele está fingindo ser. Para complicar ainda mais, ele começa a se apaixonar por ela.
 
Comentário: Indicado ao Urso de Ouro no Festival de Berlim. Christian Petzold vem escalando posições entre meus diretores favoritos de todos os tempos e aqui ele consegue avançar mais algumas posições. Amei! A mistura entre uma história de filme de época filmada em um cenário contemporâneo só reforça o que venho gritando aos sete ventos que a Europa caminha de novo para o fascismo a passos largos. O filme se passa durante a Segunda Guerra tanto como pode se passar em uma Europa mais atual. Portanto a cenografia não importa e o diretor faz questão disso. As relações pessoais com o clima de desastre iminente regional são perfeitas e os atores abraçam a ideia muito bem. Ninguém quer ficar sozinho, ninguém quer ser abandonado, mas é um salve-se quem puder. "Quem esquece primeiro, o abandonado ou quem abandona?", aaaaaah, eu espero que quem abandona sofra bastante, me senti vingado. Obrigado Petzold, tirou um muro de concreto das minhas costas.

sábado, 4 de março de 2023

RRR: REVOLTA, REBELIÃO, REVOLUÇÃO

Título Original: RRR: Raudraṁ Raṇaṁ Rudhiraṁ
Diretor: S.S. Rajamouli
Ano: 2022
País de Origem: Índia
Duração: 185min
Nota:  10

Sinopse: Uma história fictícia sobre dois revolucionários lendários e sua jornada para longe de casa antes de começarem a lutar por seu país em 1920.
 
Comentário: Pode não ter figurado entre os selecionados nos festivais de cinema de maior prestígio, mas com certeza figura entre os melhores filmes do ano. Quem me conhece sabe o nojo que eu tenho do imperialismo britânico (eu moro nessa ilha nojenta de lama), ver isso escancarado no filme é lindo demais, porque ele chegou a ser até pior do que mostrado em tela em países como Sudão e Quênia. Ver esses caras se fodendo é lindo demais e nesse nível de cinema que eu achei que havia morrido, foi melhor ainda. O cinema indiano dá uma aula para Hollywood com tudo aquilo que o cinema americano esqueceu: o filme tem mensagem, história, motivo, emoção, ação, aventura... e muito mais que eu não vou nem lembrar. Rajamouli conseguiu pegar tudo e colocar em um filme só, mas sem se perder. Acho que a grande lição que fica é a de amizade e da importância de se rebelar contra a opressão imperialista. Me espanta que tenha feito certo sucesso nos EUA, hoje, o país com o imperialismo mais sujo, sanguinário e nojento na face do planeta. Pena que o Netflix não tem a opção de ver com o áudio original, tive que usar outros meios para assistir. Que atores! Que direção! Que cinema!

sexta-feira, 3 de março de 2023

MAIS QUE DUAS HORAS

Título Original: Bishtar az do Saat
Diretor: Ali Asgari
Ano: 2013
País de Origem: Irã
Duração: 14min
Nota:  10

Sinopse: São 3:00 da manhã. Um jovem casal está rondando pela cidade, desesperadamente procurando um hospital para curá-la, mas é mais difícil do que pensavam. A lei está no seu caminho.
 
Comentário: Curta metragem merecidamente premiadíssimo, selecionado em festivais como Cannes, Berlim e Sundance. Vencedor do Festival de Curtas de Direitos Humanos. Eu acho extremamente difícil contar uma história em 14 minutos e o diretor aqui consegue com um êxito notório. Eu fiquei extremamente nervoso, minhas unhas foram roídas e eu só conseguia pensar nos absurdos que esse governo iraniano faz. Se existe um governo que sempre consegue me surpreender é o do Irã, quando eu acho que não dá para ser pior ele prova que eu estou errado. Seja nas condições que este curta expõe ou seja nas notícias atuais de estudantes sendo envenenadas em escolas. Governo do Irã e da Turquia parecem competir em qual é pior, mas acho que o iraniano ainda ganha. Interpretações magníficas e um Asgari provando toda sua competência como diretor. Amei! Curta super hiper mega blaster necessário!