terça-feira, 28 de julho de 2020

POESIA

Título Original: Shi
Diretor: Chang-dong Lee
Ano: 2010
País de Origem: Coréia do Sul
Duração: 139min
Nota: 9

Sinopse: Mija vive com seu neto em uma cidade localizada nas encostas do rio Han. Por acaso, ela acaba entrando em uma "aula de poesia" e é desafiada pela primeira vez em sua vida a escrever um poema. Mija nasce novamente. Como uma criança que se surpreende com a vida, ela parece estar vendo tudo como se fosse a primeira vez, mas quando a realidade cruel chega, ela acaba tendo que retornar e ver que o mundo não é tão bonito quanto ela imaginava.

Comentário: Um filme muito bem arquitetado e vencedor do prêmio de melhor roteiro em Cannes. A atriz, Jeong-hie Yun, é talvez o principal motivo do filme funcionar tão bem, ela leva o filme nas costas fácil fácil. Ela era uma atriz que fez muitos filmes desde a década de 60 no país e que estava aposentada das telas desde 1994, voltou a ativa apenas para fazer este filme desde então, o filme merece ser assistido nem que seja para ver sua atuação. O filme é bem sútil, mesmo quando aborda assuntos pesados, e pode parecer que não vai chegar a lugar nenhum em determinado momento, mas o desfecho vale muito toda a experiência, diria até que tem um toque de Machado de Assis, simplesmente brilhante. Acho que tanto este filme como o Cópia Fiel mereciam muito mais ganhar o Palma de Ouro naquele ano. Tecnicamente o filme é bastante competente e nos apresenta um dos melhores filmes daquele ano.

terça-feira, 21 de julho de 2020

UMA VIDA OCULTA

Título Original: A Hidden Life
Diretor: Terrence Malick
Ano: 2019
País de Origem: EUA
Duração: 174min
Nota: 9

Sinopse: Santa Radegunda, Áustria, 1939. Franz e Fani levam uma vida feliz em uma casa no campo, até serem surpreendidos com a convocação dele para servir ao exército de Adolf Hitler, que acabara de invadir o país. Contrário aos ideais nazistas, Franz se recusa a atender ao chamado. Com o tempo, ele e sua esposa passam a sofrer preconceito dentro da própria comunidade em que vivem.

Comentário: Malick é um dos meus diretores favoritos de todos os tempos, aqui ele não nos decepciona com mais um filme com suas características mais marcantes. Poético e reflexivo. Eu não consigo pensar em ninguém que apoie a decisão do personagem, que para mim não fez aquilo que acreditava baseado no que era certo ou errado, mas sim baseado em sua religião. Temos exemplos durante toda a guerra do lado alemão de pessoas que não acreditavam nos ideais de Hitler, mas fizeram o necessário para proteger suas famílias e ainda de quebra tentar mostrar de maneira firme suas posições contrárias, como é o caso de August Landmesser e do famoso escritor Ernst Jünger. Acredito que o filme sirva também para criticar a religião e o caminho de fé cega que as pessoas trilham nela. Tirando o fato de querermos bater no personagem com as cagadas de atitude que toma, o filme é maravilhoso e nos coloca em várias discussões de valores morais em praticamente toda as quase três horas de sua duração. A trilha sonora é fantástica e fico imaginando o trabalhão que deve dar editar um filme desse, que merecia fácil qualquer prêmio de edição e fotografia em que concorresse. Coração aperta com a última atuação de Bruno Ganz, que faz uma pequena participação. O que realmente me irritou no filme é ver um filme que se passa na Áustria, com todo o elenco alemão ou austríaco falando em inglês e em algumas partes em alemão, acho que o Malick pecou pela primeira vez em um filme ao americanizar o que não precisava.

domingo, 19 de julho de 2020

O ÚLTIMO POEMA DO RINOCERONTE

Título Original: Fasle Kargadan
Diretor: Bahman Ghobadi
Ano: 2012
País de Origem: Irã
Duração: 88min
Nota: 8

Sinopse: O poeta curdo-iraniano Sahel acaba de receber uma sentença de 30 anos de prisão no Irã. Agora a única coisa que vai mantê-lo com vontade de continuar vivendo é o pensamento de reencontrar sua esposa que pensa que ele está morto há mais de 20 anos.

Comentário: Apesar do filme ser feito no Iraque e Turquia, classifico-o como um filme iraniano, já que sua não realização no país foi devido as perseguições políticas de seus realizadores. Fazia seis anos que estava com este filme aqui para ver e chega a ser uma coincidência que tenha assistido depois de ver Incêndios, que tem vários pontos similares a trama, mas preferi este. O filme de Ghobadi é mais poético, não tem medo de mostrar sua crítica aos reais motivos à revolução iraniana de 1979 e também é mais pé no chão ao contar o que se propõe. O filme tem lá seus tropeços, mas consegue um bom resultado e possui uma fotografia belíssima. É interessante entendermos também a força do filme para a própria população iraniana ao ter Behrouz Vossoughi no papel principal, desde 1979 o ator nunca havia feito um filme iraniano, por recusa pelo exílio imposto, mas aceitou devido ao papel que diz muito sobre tudo isso, ele é muito querido pelo público no Irã. Também é fácil entender o porque a escolha de uma atriz não iraniana no papel que é de Monica Bellucci, já que poderia trazer graves consequências a uma atriz que não usaria o hijab e fizesse cenas de nudez e sexo. Vemos aqui também o homem com a pior lábia para conquistar uma mulher na história do cinema. As cenas com leitura de poesia me remeteram ao filme O Espelho de Tarkovski. Um filme que pode passar batido se a pessoa não tem muita afinidade com toda a merda que acontece no Irã nas últimas décadas.

sexta-feira, 17 de julho de 2020

INCÊNDIOS

Título Original: Incendies
Diretor: Denis Villeneuve
Ano: 2010
País de Origem: Canadá
Duração: 130min
Nota: 6

Sinopse: Na leitura do testamento de sua mãe Nawal, os gêmeos Simon e Jeanne descobrem que eles tem um irmão e que o pai, que os dois achavam que havia falecido, estava vivo. Dentre muitos outros desconfortáveis pedidos, o seu final é de que eles achem tanto seu irmão quanto seu pai e lhe entreguem duas cartas que lhes são entregadas seladas. Nawal sempre foi um mistério para seus dois filhos, e a relação entre eles sempre foi muito difícil. Simon fica com raiva e resiste, mas Jeanne se sente no dever de respeitar o desejo de sua mãe.

Comentário: Todo mundo falava deste filme, fui assistir agora e apesar de ser um bom filme o achei superestimado. Existem vários pontos que me incomodaram, o fato de não revelar onde a ação se passa é quase como colocar todo o Oriente Médio ou país muçulmano no mesmo barco, uma visão muito limitada que o pessoal tem do ocidente. A violência, em muitos momentos, gratuita parece tentar chocar o telespectador, sem tratar dos assuntos de maneira mais esclarecida, pois já que o lugar é meio que fictício, tudo o que está acontecendo no país é tratado de maneira rasa, inclusive para não identificar o lugar. Chega a ser ridículo imaginar que uma mulher fique em uma prisão daquela por quinze anos e é estuprada apenas uma vez (infelizmente a realidade é outra). Mas o pior de tudo foi o plot twist alá Shyamalan do final, completamente desnecessário, eu não entendo essa mania de querer fazer algo mirabolante no final, o filme estava indo muito bem sem nada daquilo. A direção do Villeneuve é ótima, acho que é um diretor que se destaca mais pela parte técnica do que pelos seus filmes: A Chegada é um filme legal, mas acho que por ter lido o conto em que se baseia antes, o filme ficou muito aquém. Blade Runner 2049 é uma porcaria, mas no quesito direção, todos eles tem uma qualidade técnica indiscutível. De resto o filme é bom, a trama que vai se construindo com pedaços do passado se sobrepondo a busca de Jeanne pela verdade é muito bem construída. Se o filme fugisse do padrãozinho hollywoodiano e tentasse algo mais profundo, seria um filme muito melhor. Lógico que para a galera acostumada com filme americano, quando bate de cara com este, parece um filme incrível, dá para entender todo o hype entorno dele.

quarta-feira, 8 de julho de 2020

ELENA

Título Original: Elena
Diretor: Andrey Zvyagintsev
Ano: 2011
País de Origem: Rússia
Duração: 109min
Nota: 7

Sinopse: Quando uma doença súbita e uma reunião inesperada ameaçam a possível herança da dona de casa obediente, Elena, ela deve traçar um plano desesperado ...

Comentário: Filme vencedor do Prêmio Especial do Juri da premiação Um Certo Olhar. O prêmio é merecido já que o filme é tecnicamente perfeito, e bota perfeição nisso. Zvyagintsev mostra aqui toda a competência como diretor, desde a iluminação, fotografia, trilha sonora, atuações, enfim... tudo é perfeito, mas ao mesmo tempo ele nos entrega um filme hermético, frio demais, sem muito sentimento. Acredito que tudo foi milimetricamente pensado, já que a história combina com esse "jeito" de fazer o filme, mas por outro lado tem a experiência do telespectador que poderia ser um pouco melhor. Eu não me senti em nenhum momento ligado emocionalmente aos personagens ou ao filme de maneira geral, fui um mero observador, e isto foi estranho.

terça-feira, 7 de julho de 2020

BIUTIFUL

Título Original: Biutiful
Diretor: Alejandro González Iñárritu
Ano: 2010
País de Origem: Espanha
Duração: 148min
Nota: 7

Sinopse: Esta é a história de um homem que vive uma queda livre emocional. Em sua viagem em busca de redenção, a escuridão ilumina o seu caminho. Conectado ao outro mundo, Uxbal é um trágico herói e pai de dois filhos que, ao sentir o perigo iminente da morte, batalha contra uma dura realidade e um destino que o impede de perdoar, perdoar-se, por amor e para sempre.

Comentário: Filme que deu o prêmio de melhor ator em Cannes para Javier Bardem, merecido, já que é ele que segura o filme aqui. Não foi um filme que me agradou muito, a narrativa é muito caótica e se estende demais sem focar em muita coisa. O filme é profundo sem se aprofundar em nenhum dos assuntos que nos apresenta, o que não é ruim necessariamente, foi o estilo que o diretor escolheu seguir, mas ao meu ver tornou o filme um pouco longo demais e arrastado. Teve horas que tive que parar para brincar com meu cachorro para tirar o peso que o filme carrega. Um filme que tem seus momentos, mas prefiro outros do diretor. O filme concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro pelo México, mas é um filme todo feito na Espanha com atores espanhóis, classifico o filme mais como espanhol do que como mexicano. A trilha sonora é um espetáculo a parte.

segunda-feira, 6 de julho de 2020

O CORPO

Título Original: El Cuerpo
Diretor: Oriol Paulo
Ano: 2012
País de Origem: Espanha
Duração: 111min
Nota: 10

Sinopse: O corpo de uma mulher desaparece misteriosamente do necrotério sem deixar qualquer vestígio. O Inspetor Jaime Peña investiga o estranho acontecimento com a ajuda de Alex Ulloa, o viúvo da mulher desaparecida.

Comentário: O diretor já havia me conquistado com o excelente Um Contratempo, mas este filme anterior é ainda melhor. Com uma trama bem amarrada e um ritmo frenético, que virou uma espécie de marca registrada do diretor, O Corpo merece ser visto e revisto com toda a atenção nos detalhes. Um filme de mistério que nos deixa ligado nos 220V do começo ao fim. Quando o filme termina você percebe quase que uma genialidade em tudo que o diretor (que também é o escritor) fez até ali. Não fica devendo em nada para nenhum filme policial americano, na verdade é até muito melhor que a maioria, já que não sou muito fã de filme americano. Há um remake indiano deste filme no Netflix com o nome Um Corpo Desaparecido, não vi, mas sempre priorizo assistir a obra original. Não comentar mais nada para não dar spoiler, vai correndo assistir isso aqui!

sábado, 4 de julho de 2020

O CAVALO DE TURIM

Título Original: A Torinói Ló
Diretores: Béla Tarr & Ágnes Hranitzky
Ano: 2011
País de Origem: Hungria
Duração: 155min
Nota: 9

Sinopse: Uma voz conta, sem imagens, que em Turim, no dia 3 de janeiro de 1889, Friedrich Nietzsche saiu pela porta do número 6 da Via Carlo Alberto para caminhar ou para buscar suas correspondências nos Correios. “Não muito longe, aliás, bastante longe dele, um cocheiro estava tendo problemas com o seu teimoso cavalo”, conta o narrador. Apesar de todos os esforços do cocheiro, o animal se recusava a mover-se. O dono do cavalo perdeu a paciência e começou a chicoteá-lo. Nietzsche teria surgido no meio da “multidão” e interrompe a sessão de tortura ao colocar os braços ao redor do pescoço do cavalo, para a ira do cocheiro. Levado por um vizinho para casa, ele teria ficado dois dias silencioso no sofá, até que teria dito: “Mãe, eu sou um tolo”. Segundo o narrador, Nietzsche teria vivido mais 10 anos, calmo e louco, aos cuidados da mãe e das irmãs. Mas sobre o cavalo, não se soube mais nada. A partir daí, mergulhamos na história de um cavalo castigado, seu dono e filha. Uma história silenciosa e louca, que reflete o “fim do mundo” ou, pelo menos, da “Humanidade”.

Comentário: Filme vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim. O que dizer desse filme? Eu não indicaria para ninguém, pois ele não é um filme fácil que agradaria qualquer pessoa. O filme é tecnicamente perfeito, a fotografia, atuações, direção de arte, iluminação... enfim, tudo é perfeito. O filme é longo e aparenta não acontecer nada, como o próprio diretor já disse: "É uma anti-história". Mas é impressionante como ele nos diz tanto, em cada detalhe há a futilidade de nossa existência. O diálogo da obra com Nietzsche é enorme. Não há muito o que dizer, mas ao mesmo tempo há tanto. Uma resenha difícil de fazer já que acredito que os significados e percepções da película são exclusivas de cada um que a assista. Para mim há uma certa referência a diretores como Ingmar Bergman (Principalmente ao filme O Sétimo Selo) e Victor Sjöström. Para mim valeu demais a experiência, não sei para você.

quinta-feira, 2 de julho de 2020

A AUSÊNCIA DE DAMASCOS

Título Original: The Absence of Apricots
Diretor: Daniel Asadi Faezi
Ano: 2018
País de Origem: Paquistão
Duração: 48min
Nota: 6

Sinopse: Uma aldeia nas montanhas do norte do Paquistão. Certo dia, um deslizamento de terra bloqueou o rio. Milhares de casas e campos foram inundados. Aldeias desapareceram. O que resta são as pessoas e suas histórias, transmitidas de uma geração para outra. E os fantasmas, que ainda estão vagando pela região.

Comentário: O diretor alemão, descendente de iranianos, faz aqui um filme parte documentário e parte experimental no Paquistão. O filme vale mais pelas imagens lindas do que pela sua narrativa em si. Ele filma o dia a dia de pessoas que moram em um lugar remoto que foi destruído por uma enchente e amarra tudo isso narrando tudo com uma lenda antiga local. O lugar é lindo, é até difícil conceber uma paisagem assim dentro da nossa realidade, mas ao mesmo tempo a realidade da vida das pessoas que vivem lá não é tão bonito como o cenário. Essa dicotomia é interessante, mas não há muito mais do que isso no filme. Acho que ele se perde ao não se posicionar como documentário, nem como uma narração da lenda que se propõe a contar.