domingo, 29 de janeiro de 2023

FEVEREIRO

Título Original: Février
Diretor: Kamen Kalev
Ano: 2020
País de Origem: Bulgária
Duração: 125min
Nota:  6

Sinopse: A vida de um homem aos 8, 18 e 82 anos de idade. Em sua aldeia, fora dela, sob o sol forte e a neve congelante. O curso de sua existência monótona parece ter sido previamente escrito e desprovido de significado. Apesar de tudo, existe uma força invisível dentro dele que misteriosamente o impulsiona para a frente, em direção à morte.
 
Comentário: Foi um dos filmes selecionados no Festival de Cannes que não ocorreu em 2020 devido a pandemia. O filme é contemplativo e poético, mas não caiu tanto no meu gosto, ficou muito longo e com um fio narrativo sem necessariamente uma história. Acho que o que me mais pega em um filme é a história, e nesse sentido não acho que há algo muito profundo aqui, são fragmentos, mas muito diferentes do Encontros do Hong Sang-soo, por exemplo. Há contemplação, mas falta algo que gere interesse como nos filmes do Nuri Bilge Ceylan. As imagens são lindas, a história do meio é a que menos me interessou e parece criar um vario entre as outras duas. Não é ruim, no geral é interessante de ver e gera sim reflexões, mas achei que está muito aquém do potencial que tinha.

sábado, 28 de janeiro de 2023

CLOSE

Título Original: Close
Diretor: Lukas Dhont
Ano: 2022
País de Origem: Holanda
Duração: 103min
Nota:  10

Sinopse: A amizade entre os dois meninos de treze anos, Leo e Rémi acaba de repente. Lutando para entender o que aconteceu, Léo procura Sophie, mãe de Rémi.
 
Comentário: Porra, Dhont! Nao faz isso comigo! Vencedor do Grande Prêmio do Festival de Cannes, simplesmente o meu filme preferido de 2022. No começo do filme eu não estava dando nada, pensava "white people problems" ou "que comportamento adolescente fake"... quando vem o soco no estômago e todo o filme muda. Que pedrada! Fora toda a parte pessoal que o filme teve em mim, vivi algo bem parecido, mas quando era mais velho. Dhont se mostra uma nova força na história do cinema, com seu segundo trabalho depois do ótimo Garota, este só vem para cravar seu talento de forma definitiva. Enquanto no primeiro temos cenas emocionais carregadas utilizando o ballet, aqui o diretor usa do mesmo recurso no hóquei. Elenco poderoso! De uma sensibilidade ímpar. Só tenho elogios mesmo. Odeio quando o filme fica com o título em inglês, gosto de ver traduzido, mas ficou Close aqui mesmo.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

CAFARNAUM

Título Original: Capharnaüm
Diretor: Nadine Labaki
Ano: 2018
País de Origem: Líbano
Duração: 126min
Nota:  8

Sinopse: Aos doze anos, Zain (Zain Al Rafeea) carrega uma série de responsabilidades: é ele quem cuida de seus irmãos no cortiço em que vive junto com os pais, que estão sempre ausentes. Quando sua irmã de onze é forçada a se casar com um homem mais velho, o menino fica extremamente revoltado e decide deixar a família. Ele passa a viver nas ruas junto aos refugiados e outras crianças que, diferentemente dele, não chegaram lá por conta própria.

Comentário: Vencedor do Prêmio do Juri no Festival de Cannes. O que mais espanta do filme é a atuação de Zain Al Rafeea, já que ele não era um ator e sim um refugiado sírio no Líbano vivendo em dificuldade (depois do filme conseguiu asilo na Noruega com a família). O filme começa bem, daí vai se estendendo demais e caindo em um certo pedantismo na tentativa a todo momento de tentar deixar o telespectador aflito, amargurado e revoltado com a situação que vai se tornando exagerada. Porém a película vai encontrando seu caminho e voltando aos trilhos no seu momento final e emociona, consegue passar a mensagem que queria muito bem. A cena final é linda. A direção de Labaki é extremamente competente, mas podia ter encurtado um pouco o filme na sala de edição.

domingo, 22 de janeiro de 2023

O FILME DA ESCRITORA

Título Original: So-seol-ga-ui Yeong-hwa
Diretor: Hong Sang-soo
Ano: 2022
País de Origem: Coréia do Sul
Duração: 92min
Nota:  7

Sinopse: Uma romancista visita uma livraria administrada por uma jovem colega que não tem mais contato há algum tempo e depois caminha com um diretor de cinema e sua esposa. Ela conhece uma atriz e tenta convencê-la para que façam um filme juntas.
 
Comentário: Vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim. Não foi um filme que me fisgou como os últimos do diretor, achei que faltou alto apesar de ter seus momentos. Faltou uma maior conexão entre as personagens e achei a romancista meio enfadonha em alguns momentos. Acho que se o diretor tivesse aberto mão da forma estilística aqui e filmado algumas cenas mais próximas ao personagem, o filme funcionaria melhor, a distância da câmera parece não ter feito tão bem aqui. A cena final é linda, mas parece que faltou algo, parece que a mensagem que o diretor queria passar ficou perdida. Amo a subjetividade do Sang-soo, mas aqui ela parece meio vazia, não me despertou interesse como os outros filmes. Será que a fórmula do diretor esteja se desgastando? Quanto a isso só os próximos filmes dele dirão, mas eu acho que não.

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

VIDAS DUPLAS

Título Original: Doubles Vies
Diretor: Olivier Assayas
Ano: 2018
País de Origem: França
Duração: 106min
Nota:  8

Sinopse: Um editor (Guillaume Canet) e um autor (Vincent Macaigne) enfrentam ao mesmo tempo a crise da meia idade, a revolução digital que abala o mercado editorial e imprevistas dificuldades em seus respectivos relacionamentos amorosos.

Comentário: Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza. Adorei este filme, provavelmente por fazer parte do meu universo que é a literatura. Por um lado tem dálologos afiados, densos e profundos como um precipício e por outro há outros toscos, vazios e profundos como uma colher de chá. Exatamente como é este mundo, cheio de pseudointelectuais chatos e enfadonhos, mas cheio de gente interessante também. O filme brinca o tempo todo com isso e serve inclusive como discussão da relação do mundo contemporâneo com a literatura. Fiquei meio assustado em perceber que 2018 já é há cinco anos e me fez querer ver o que esses personagens teriam a dizer hoje, no mundo pós pandemia... como anda o mundo deles? Isto que é o legal do filme para quem consegue embarcar. O filme tende a ficar cada vez mais datado, mas é o reflexo daquele momento, como um livro. Assayas é um gênio e o elenco ajuda bastante também.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

A LETRA ESCARLATE

Título Original: Der Scharlachrote Buchstabe
Diretor: Wim Wenders
Ano: 1973
País de Origem: Alemanha
Duração: 86min
Nota:  5

Sinopse: Adaptação de Wim Wenders do romance homónimo de Nathaniel Hawthorne, contando a história de uma mulher que, por ser adúltera, é marginalizada pela comunidade puritana em que vive (Salem, no século XVIII) e forçada a usar a letra "A" nos vestidos. O seu marido, julgado desaparecido, regressa com outra identidade para descobrir quem fora o amante dela.

Comentário: Primeiramente, o que mais me incomoda no filme é ver uma obra literária americana feita inteira na Alemanha, falado em alemão e todo mundo fingindo que está nos Estados Unidos e é americano. Fiquei imaginando alguém fazer isso com o Machado de Assis ou a gente filmando A Letra Escarlate em Paraty com todo mundo falando em português. Qual o sentido disso? Se tivessem adaptado para um vilarejo na Alemanha era muito mais fácil comprar a ideia. Eu gostei do filme pegar um trecho do livro e não querer adaptar a obra toda, há tomadas que achei muito bonitas e tirando as atuações da Yella Rottländer (a Pearl, que parece estar muito a vontade) e Rüdiger Vogler (que está felizão com sua flauta) o resto do elenco é bem fraco (mas Lou Castel como o padre ganha de longe como o pior ali). Não parece nem haver romance entre os personagens. Apesar dos tropeços, achei a edição do filme boa, ele passa rápido, não achei ruim de assistir. Longe das obras memoráveis do diretor.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

MÁ SORTE NO SEXO OU PORNÔ ACIDENTAL

Título Original: Babardeală Cu Bucluc sau Porno Balamuc
Diretor: Radu Jude
Ano: 2021
País de Origem: Romênia
Duração: 106min
Nota:  9

Sinopse: Emi, uma professora, vê sua carreira e reputação ameaçadas depois que um vídeo caseiro de sexo vazou na Internet. Forçada a encarar os pais dos alunos exigindo sua demissão, Emi se recusa a ceder à pressão deles.
 
Comentário: Vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim. Preferi o Roda do Destino, mas este mereceu bastante o prêmio pela forma ousada com que o diretor construiu sua película. Um reflexo da sociedade romena, cheia de machismo, racismo, conservadorismo e anticiência. Tudo isso e muito mais é retratado aqui. Eu trabalho com vários romenos e uma minoria deles aceitou tomar a vacina de Covid, lembra muito uma boa parcela de nós, brasileiros. O diretor parece colocar o dedo em várias feridas, o segundo segmento de anedotas, que eu adorei, lembrou-me um pouco o cinema do sueco Roy Andersson. Os diálogos são como navalha e há cenas que perturbam. O choque de cenas de sexo explícito serve tanto para ir se diluindo com os temas muito mais pesados que vêm a tona, como para mostrar a banalização das coisas no mundo pós-digital. Me incomodou não ver a professora falando "Pelo menos o meu marido me come!" para as invejosas, porque ia ser a primeira coisa que qualquer mulher da minha família (quase todas professoras) diriam. Recomendadíssimo e um dos melhores do ano!


domingo, 8 de janeiro de 2023

ENTARDECER

Título Original: Napszállta
Diretor: László Nemes
Ano: 2018
País de Origem: Hungria
Duração: 136min
Nota:  8

Sinopse: Em 1913, durante o declínio do Império Austro-Húngaro, uma jovem mulher (Juli Jakab) retorna à Budapeste, cidade em que nasceu, depois de anos vivendo em um orfanato. Ela começa a trabalhar na loja de chapéus comandada por parentes distantes sem que eles saibam dos laços que compartilham com a jovem.

Comentário: Filme vencedor do prêmio da Federação Internacional dos Críticos no Festival de Veneza. Achei o filme muito bom dentro do contexto onde tenta colocar o telespectador, porém tenho que concordar que não é um filme fácil, mas exatamente por se tratar de um tema tão caótico que é o mundo pré Primeira Guerra Mundial. Tudo no filme é caótico, e a personagem é dragada dentro desse abismo que vai consumindo-a. Direção, produção e fotografia são soberbas. Engraçado que logo depois de ver o filme apareceu uma matéria dizendo como neste ano de 2013 Trotsky, Stálin, Freud e Hitler moraram na mesma cidade em Vienna. Eu adorei a trama e de como nada fica claro, porém tudo é conduzido para a experiência ser, no mínimo, intrigante para quem assiste. Concordo que poderia ser um pouco mais curto, mas a condução final é excelente. O desfecho (não darei spoiler) acaba remetendo a própria questão da identidade dos povos (tese tão debatida por Stálin) e foco central da guerra que dividiu o Império Austro-húngaro em divisões étnicas. Interessante de se pensar que ela vem de Vienna, mas de identidade húngara. Filme que não indico para qualquer um, mas que irei revisitar um dia com certeza.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

MARTE UM

Título Original: Marte Um
Diretor: Gabriel Martins
Ano: 2022
País de Origem: Brasil
Duração: 112min
Nota:  8

Sinopse: Uma família de quatro membros da classe média baixa tenta manter o seu espírito e os seus sonhos nos meses seguintes à eleição de um presidente de direita, um homem que representa tudo o que eles não são.

Comentário: Indicado ao Festival de Sundance e vencedor de melhor trilha sonora e roteiro no nosso Festival de Gramado. O filme tem mais acertos que tropeços, mas os tropeços existem. Há uma certa narração "novela da Globo" das coisas que me incomodou um pouco, o lado meio clichê. Até o esteriótipo do trabalhador comunista para a direita poder xingar. O filme se segura no elenco que faz um excelente trabalho, nos momentos emocionantes que tiram lágrimas e na critica social que vai em diferentes direções. Fato curioso é um jogo entre Cruzeiro e Atlético Mineiro que acontece no meio do filme, jogo que nunca ocorreu, já que os times não se encontraram entre a eleição e a posse de Bolsonaro que mostra no filme.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

OS VERSOS ESQUECIDOS

Título Original: Los Versos del Olvido
Diretor: Alizera Khatami
Ano: 2017
País de Origem: Chile
Duração: 92min
Nota:  10

Sinopse: Quando o idoso zelador de um necrotério remoto descobre o corpo de uma jovem morta durante um protesto, ele embarca em uma odisseia mágica para dar a ela um enterro adequado antes que a milícia retorne.
 
Comentário: Filme vencedor de três diferentes prêmios no Festival de Veneza fora do circuito da premiação principal. O filme é uma fábula, mas também é bem realista. É poético, mas também é brutal. Achei lindo demais, tudo nele funciona, desde as atuações do ótimo elenco a direção técnica do iraniano (que não dirigiu mais nada depois desse filme, mas assinou o roteiro do filme Até Amanhã de 2022 dirigido por Ali Asgari). O filme é atual ao mesmo tempo que revira a ditadura de Pinochet, há cenas cheia de significados como em um filme iraniano, com raízes que podem passar despercebidas para quem não é do Chile. Os próprios personagens são alegorias fantasmagóricas da sociedade. Um belíssimo filme... e que cena final de tirar o fôlego. Emocionante!

domingo, 1 de janeiro de 2023

SANTA ARANHA

Título Original: Holy Spider
Diretor: Ali Abbasi
Ano: 2022
País de Origem: Irã
Duração: 118min
Nota:  6

Sinopse: Uma jornalista desce ao submundo da cidade sagrada iraniana de Mashhad enquanto investiga os assassinatos em série de profissionais do sexo pelo serial killer conhecido como "Santa Aranha", que acredita estar limpando as ruas dos pecadores.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro e vencedor do prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes. É um filme dinamarquês, dirigido por um iraniano, falado em farsi e que se passa no Irã, então decidi cadastrar como um filme iraniano no blog. Achei um filme abaixo do padrão do cinema iraniano, com um roteiro bem Hollywood que não foge dos padrões convencionais do típico cinema de massa americano, com cenas sem utilidade nenhuma que tentam somente chocar o recatado cinema de lá. O que vale o filme é realmente o trabalho da atriz premiada Zar Amir-Ebrahimi. A história se passa na cidade em que minha companheira nasceu, na época em que ela tinha dez anos de idade e achei que a cena que mais representa o que o povo feminino enfrenta lá é a visita do policial ao apartamento de hotel da jornalista, a intimidação e o medo que figuras de poder masculinas forçam as mulheres (Sejam policiais ou mesmo em qualquer empresa em postos de chefia). Achei muitas das críticas ao governo iraniano vazias nesse filme, críticas que filmes feitos por lá pelas mãos de Panahi, Rasoulof ou mesmo Farhadi foram muito mais sutis e viscerais. Um filme mediano, que vale somente por curiosidade.