quarta-feira, 31 de agosto de 2022

ME LEVE PARA UM LUGAR LEGAL

Título Original: Take Me Somewhere Nice
Diretor: Ena Sendijarevic
Ano: 2019
País de Origem: Bósnia e Herzegovina
Duração: 91min
Nota:  7

Sinopse: No começo da vida adulta, Alma (Sara Luna Zoric) deixa a casa da mãe na Holanda e viaja para sua terra natal, a Bósnia, para encontrar o pai que nunca conheceu. Mas desde o início, nada corre como planejado. Seu primo Emir (Ernad Prnjavorac) não é receptivo e zomba da vida fácil da jovem na Holanda. Ao mesmo tempo, uma forte atração sexual leva a jovem a se relacionar com o melhor amigo de Emir, o problemático Denis (Lazar Dragojevic). À medida que os obstáculos aumentam, Alma segue determinada a achar o pai. Ela só precisará conhecer a si mesma antes.
 
Comentário: O filme é pseudocult? É! Tem inúmeras incongruências narrativas? Têm! Mas dizer que o filme é vazio e chato acho exagero. A estética é linda, mas é óbvio que foi feito pensando em um público acostumado a filmes mais americanizados de festival (Não a toa o título original é em inglês ou a fita cassete no carro de um cara que mora isolado em uma área rural da Bósnia vai ter Sonic Youth gravado). Mas é um filme bem interessante do ponto de vista sobre a imigração, já que se trata de um país dentro da Europa, portanto de europeus, que vivem à parte por não serem integrantes do bloco econômico da União Europeia. Alma provavelmente tem uma vida de merda na Holanda, sem identidade, uma europeia imigrante dentro da Europa, conheço vários assim por aqui (vivo no Reino Unido). O diálogo onde o motorista diz "O que a Holanda fez por nós?" e continuam com várias perguntas apontando outros países é sensacional, demonstra bem esses países abandonados a própria sorte no mesmo continente. Há inúmeras cenas como essa em conta gotas durante toda a película. Um filme sobre a identidade, acho que tem muito mais força para quem vive como imigrante. O final é interessante, pois remete a um diálogo no filme (não quero dar spoiler), mas deixa um pouco a desejar. Achei acima da média de um modo geral e apreciei bastante.

domingo, 28 de agosto de 2022

A PASTORA E AS SETE CANÇÕES

Título Original: Laila Aur Satt Geet
Diretor: Pushpendra Singh
Ano: 2020
País de Origem: Índia
Duração: 98min
Nota:  8

Sinopse: Com o conflito na Caxemira como pano de fundo, o longa conta a história da pastora nômade Laila. Embora ela se torne a esposa de Tanvir, a jovem atrai a atenção de toda a tribo, especialmente do policial Mushtaq, que está determinado a conquistá-la. Em meio à deslumbrante paisagem do Himalaia, onde a polícia e os militares monitoram rigorosamente cada movimento em todas as fronteiras, os dois trocam réplicas amorosas que fogem do controle. Inspirado na poesia de Lalleshwari, místico da Caxemira do século XIV.

Comentário: Selecionado no Festival de Berlim em uma das premiações paralelas, este filme me surpreendeu muito positivamente, principalmente pelos seus alívios cômicos. Esses filmes indianos tendem, muitas vezes, a cair no dramalhão. As imagens são lindas e a direção nos pega de surpresa por se tratar de um estreante. O final me tirou o fôlego e me espantou bastante pela ousadia, sem medo de seguir caminhos diferentes (experimentais talvez?). Achei que o filme é de uma sensibilidade com a figura feminina que muitas vezes é ignorada por culturas predominantemente machista. A divisão do filme entre as "sete canções" ajuda muito no ritmo em que a história é contada e vamos aos poucos pegando uma simpatia pelo personagem Mushtaq, muito bem interpretado por Shahnawaz Bhat. Cheguei até a pensar que os atores eram de vilarejos da Caxemira utilizados pelo diretor, mas  vi que são atores mesmo com outros trabalhos anteriores. Navjot Randhawa, que interpreta Laila, tem talento de sobra, espero que ganhe mais papéis de destaque no futuro, pois merece.

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

OS MISERÁVEIS

Título Original: Les Misérables
Diretor: Ladj Ly
Ano: 2019
País de Origem: França
Duração: 104min
Nota:  9

Sinopse: Stéphane (Damien Bonnard) é um jovem que acaba de se mudar para Montfermeil e se junta ao esquadrão anti-crime da comuna. Colocado no mesmo time de Chris (Alexis Manenti) e Gwada (Djibril Zonga), dois homens de métodos pouco convencionais, ele logo se vê envolvido na tensão entre as diferentes gangues do local.
 
Comentário: Vencedor do Prêmio do Juri no Festival de Cannes, dividindo-o com Bacurau. O filme parece não trazer nada de novo até certo ponto, até dar uma guinada completa nos eventos que levam ao incrível desfecho simplesmente arrebatador. O tanto de discussões que ele escancara com um murro direto na cara do espectador são incontáveis, o próprio policial novato que somos levados de maneira muito bem conduzida a nos identificar, não passa de um passador de pano em linhas gerais. O problema da imigração para a Europa é tratada aqui da maneira crua como é, pois de quem é a culpa da pobreza na África se não dos próprios europeus? Quem melhor para pagar esta conta agora? Sem tirar o mérito do filme brasileiro com o qual dividiu o prêmio, achei este mais direto ao ponto, mais visceral e bem construído, mas o mais interessante é como os dois filmes dialogam muito bem entre si, fazendo deles quase irmãos separados por diferentes continentes. Vale muito a assistida... e que final! QUE FINAL!

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

A MÃO DE DEUS

Título Original: È Stata La Mano di Dio
Diretor: Paolo Sorrentino
Ano: 2021
País de Origem: Itália
Duração: 130min
Nota:  10

Sinopse: Ambientada na tumultuada Nápoles da década de 1980, “A Mão de Deus” é uma narrativa repleta de alegrias inesperadas, como a chegada da lenda do futebol Diego Maradona. Mas também não faltam tragédias. O destino faz a sua parte, misturando alegrias e tristezas, e o futuro de Fabietto está em jogo. Sorrentino volta à cidade onde nasceu para contar uma história muito pessoal sobre destino, família, esportes, cinema, amores e perdas.

Comentário: Vencedor do Leão de Prata no Festival em Veneza. Achei o filme maravilhoso, porque é exatamente o tipo de filme que eu gosto, cheio de sentimentos, que vão do luto à alegria e que desemboca em uma lição de vida sem ser piegas. A coragem do diretor em contar sua história com esta crueza de detalhes foi realmente algo brilhante. Para mim, tudo no filme funcionou, não há nada que eu consiga criticar, inclusive daria o Leão de Ouro fácil para ele. Gosto de filmes sobre crescimento, onde não há necessariamente a fórmula pronta da jornada do herói de Joseph Campbell, onde o personagem é algo completamente diferente no final do filme do que ele era no começo, mas mostrado da maneira como a vida age, sem rodeios. É uma fábula realista. Lindo!