domingo, 28 de novembro de 2021

RETRATO DE UMA JOVEM EM CHAMAS

Título Original: Portrait De La Jeune Fille En Feu
Diretor: Céline Sciamma
Ano: 2019
País de Origem: França
Duração: 121min
Nota: 10

Sinopse: Na França do século XVIII, Marianne (Noémie Merlant) é uma jovem pintora que recebe a tarefa de pintar um retrato de Héloïse (Adèle Haenel) para seu casamento sem que ela saiba. Passando seus dias observando Héloïse e as noites pintando, Marianne se vê cada vez mais próxima de sua modelo conforme os últimos dias de liberdade dela antes do iminente casamento se veem prestes a acabar.

Comentário: Vencedor do prêmio de Melhor Roteiro e da Palma Queer no Festival de Cannes, também foi indicado para a Palma de Ouro, prêmio que poderiam ter dado fácil para ele, mesmo tendo adorado Parasita. Pensa em um filme perfeito, pensa em um filme lindo, pensa em um filme. O desfecho me remeteu aos livros do Hemingway, a construção de todo o enredo, por mais simples que seja, é magistral. O filme não cai nas armadilhas que poderia cair, não é um novelão, não é apelativo... tudo é de uma sutileza tão linda que parece um quadro. Terminei a sessão apaixonado pela Noémie Merlant. O final foi catártico para mim. A direção é sublime, quanta cena linda. Ah... não tem nada, absolutamente nada para falar mal desse filme. E eu recomendo para qualquer um. Lindeza absoluta!

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

PATTAKI

Título Original: Pattaki
Diretor: Everlane Moraes
Ano: 2019
País de Origem: Cuba
Duração: 21min
Nota: 6

Sinopse: Na noite densa, quando a lua sobe a maré, seres presos no cotidiano da escassez de água ficam hipnotizados pelos poderes de Iemanjá, a deusa do mar.
 
Comentário: Poucas pessoas imaginam, mas eu tenho uma obsessão por peixes. Já escrevi vários contos sobre e sempre tive aquários, portanto não teve como ignorar de assistir este curta ao me deparar com este pôster magnífico. Confesso que me senti completamente perdido, imagens lindas e imagens esquisitas permeiam o curta. Ao mesmo tempo que ele agrada e desagrada. É uma experiência esquisita e creio que seja única para cada um. Mas a arte é assim, né? Considerando que a nota é a mesma que dei para um dos curtas do Kiarostami, acho que está valendo. Gostaria de acompanhar próximos trabalhos dessa diretora, que é brasileira (sergipana para ser mais preciso), mas que deve ter feito este trabalho em Cuba, já que pelas pesquisas que fiz aparece como um curta cubano. O curta foi indicado no Festival de Sundance.

terça-feira, 23 de novembro de 2021

A VOZ HUMANA

Título Original: The Human Voice
Diretor: Pedro Almodóvar
Ano: 2020
País de Origem: Inglaterra
Duração: 30min
Nota: 9

Sinopse: Uma mulher vê o tempo passar ao lado das malas de seu ex-amante (que deveria vir buscá-las, mas nunca chega) e de um cão inquieto que não entende que seu dono o abandonou. Dois seres vivos enfrentando o abandono.

Comentário: Apesar de ter um diretor espanhol e ter sido filmado na Espanha, não vi motivo para cadastrar o filme como espanhol já que é falado em língua inglesa, com uma atriz britânica e com o título em inglês. Cadastrei então pela origem da Tilda Swinton, para mim fez mais sentido. Deixando às formalidades de lado, adorei este curta metragem (ou média dentro do padrão brasileiro), não conheço o texto integral do genial Jean Cocteau, mas a adaptação feita por Almodóvar ficou ótima, o filme tem o tempo certo sem cair no enfadonho, a atuação de Tilda é fantástica (como sempre), mas o que chama realmente a atenção é o cenário, cores, detalhes, e o ar teatral (o apartamento ficar dentro de um galpão é só um dos detalhes maravilhosos). É lindo de se ver em vários aspectos. É arte pura e simples. Me impressiona como Almodóvar amadureceu bem e como é cada vez mais relevante para o cinema.

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

RECREIO

Título Original: Zang-e Tafrih
Diretor: Abbas Kiarostami
Ano:1972
País de Origem: Irã
Duração: 14min
Nota: 6

Sinopse: Na hora do recreio, Dara joga bola com seu amigo e, acidentalmente ao quebrar uma janela, fica de castigo. Ao final do dia, quando volta para casa, envolve-se em mais confusões. Kiarostami, com este segundo filme de sua carreira, revela uma vez mais a sensibilidade e delicadeza na abordagem do universo infantil que caracterizará a sua obra.

Comentário: Não há como não comparar este curta com o anterior, O Pão e o Beco, achei este bastante inferior, principalmente se levarmos em consideração que Kiarostami teve quatro minutos a mais para trabalhar em uma história que acaba não acontecendo. Faltou algo, não me perguntem o que, mas quem sou eu para dizer isso do mestre iraniano, né? Só sei que não consegui adentrar tão bem neste curta como no outro, não me prendeu, e a obra do diretor costuma me prender como poucas. Então fiquei com este sentimento esquisito... mas faz parte.

sábado, 20 de novembro de 2021

O LADRÃO DE LUZ

Título Original: Svet-Ake
Diretor: Aktan Arym Kubat
Ano: 2010
País de Origem: Quirguistão
Duração: 76min
Nota: 7

Sinopse: Um homem, conhecido como "Senhor Luz", vive em um minúsculo vilarejo nas montanhas do Quirguistão. Além de tentar levar a eletricidade a todas as pessoas, ele escuta os problemas de cada morador, dá conselhos e tenta acalmar as brigas conjugais. Este homem sonha em abastecer o vilarejo com energia eólica, mas para isso ele deve enfrentar a resistência de homens poderosos e corruptos.
 
Comentário: O filme reflete bastante os momentos políticos conturbados que o Quirguistão vivia naquele ano de 2010, ou seja, o filme deve ter sido feito de maneira bem rápida para realizar seu lançamento no mesmo ano dos embates políticos do país. O filme tem um ritmo meio esquisito, já que tem horas que parece desenrolar bem e tem horas que é o oposto. Reflexões sobre temas universais do capitalismo como um todo, onde um homem pobre, de uma vila pobre, tenta fazer a diferença entre os seus iguais. Uma competente direção e produção, vale a pena como curiosidade cinematográfica de um país para nós tão desconhecido.

domingo, 14 de novembro de 2021

DOR E GLÓRIA

Título Original: Dolor y Gloria
Diretor: Pedro Almodóvar
Ano: 2020
País de Origem: Espanha
Duração: 113min
Nota: 10

Sinopse: Salvador Mallo (Antonio Banderas) é um melancólico cineasta em declínio que se vê obrigado a pensar sobre as escolhas que fez na vida quando seu passado retorna. Entre lembranças e reencontros, ele reflete sobre sua infância na década de 1960, seu processo de imigração para a Espanha, seu primeiro amor maduro e sua relação com a escrita e com o cinema.

Comentário: Filme que deu o prêmio de melhor ator para Antonio Banderas no Festival de Cannes. Não via um filme do Almodóvar desde Volver, e não me perguntem porque, adorei ambos. Este filme é simplesmente maravilhoso. Eu quebrei a coluna há cinco anos atrás, ver ele interpretando um homem com dores nas costas foi impressionante para mim, os movimentos são realmente iguaizinhos. Almodóvar acerta muito a mão ao tratar de sentimentos, me emocionei no filme praticamente em tudo. Como dizia Philip Roth, envelhecer é um massacre, e este filme consegue refletir muitas coisas sobre isso. É um filme sobre várias histórias sobre o personagem principal e que brinca com uma certa metalinguagem em determinado ponto. Vale muito a pena assistir.

sábado, 6 de novembro de 2021

CIRKUS COLUMBIA

Título Original: Cirkus Columbia
Diretor: Danis Tanovic
Ano: 2010
País de Origem: Bósnia e Herzegovina
Duração: 106min
Nota: 9

Sinopse: Após anos sob o regime comunista, as coisas parecem ter se aquietado em uma cidadezinha ao sul de Herzegovina, onde Lucija e seu filho Martin vivem uma vida pacata. Isso até Divko, seu marido sumido por vinte anos, reaparecer na cidade com um brilhante Mercedes, uma namorada jovem e sexy, muito dinheiro e um gato preto asqueroso chamado Bonny. Após ir para a Alemanha, Divko está de volta e procura marcar alguns pontos neste satírico jogo dos sexos. Analisando o fim de um casamento e o começo de uma nova era nos Bálcãs, o filme mostra o crescimento do nacionalismo e do fascismo e o surgimento do amor e do perdão.

Comentário: Um filme sobre guerra e família, dois assuntos complicados que poucos diretores conseguiram juntar muito bem como Danis Tanovic aqui. O filme não parece tudo isso em uma primeira impressão, mas o desfecho é uma das coisas mais lindas que eu me lembro de ter visto no cinema. Tudo muito amarrado, a carga emocional trabalhada durante todo o filme fica nas entrelinhas para o telespectador montar a história, entender os personagens. Lindo! Mira Furlan, atriz mais conhecida pela carreira americana em séries como Babylon 5 e Lost (e que infelizmente nos deixou no começo deste ano de 2021), emociona na interpretação assim como todo o elenco. Há carisma, há um "quê" humano de gente como a gente completamente afundados em seus mundinhos que não conseguem ver os sinais da guerra eminente que está porvir... guerra que foi e sempre será um dos episódios mais lamentáveis da recente história humana. O título é uma referência ao parque de diversões abandonado no vilarejo.

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

O MEDO DO GOLEIRO DIANTE DO PENÁLTI

Título Original: Die Angst des Tormanns beim Elfmeter
Diretor: Wim Wenders
Ano:1972
País de Origem: Alemanha
Duração: 100min
Nota: 7

Sinopse: Depois de permitir um gol fácil, o experiente goleiro alemão Josef Bloch se envolve em uma discussão acirrada com o árbitro. Momentos depois, Josef é mandado embora, embala suas coisas em uma pequena bolsa e pega o primeiro bonde para Viena, para vagar sem rumo de seu hotel barato ao cinema local. Em pouco tempo, Gloria, a caixa educada do cinema, chama a atenção de Josef. Ela parece disposta a ouvi-lo; no entanto, ela pode fornecer um meio catártico de fuga?

Comentário: Baseado em um livro do escritor Peter Handke, ganhador do Nobel de Literatura em 2019. Um escritor que tenho o pé bem atrás pelas posições políticas em apoio ao Slobodan Milosevic e um tremendo negacionista do massacre dos muçulmanos bósnios. É um escritor importante na obra de Wenders, a parceria entre os dois foi retomada nos filmes Movimento em Falso de 1975, na obra prima Asas do Desejo de 1987 e mais recentemente no Os Belos Dias de Aranjuez de 2016. Este filme tem seus momentos, mas está longe de apresentar o que seria o diretor em filmes seguintes (Wim Wenders é o diretor do meu filme favorito) que etão em um patamar muito acima. Mas já podemos ver o cinema das entrelinhas, do vazio existencialista, do contemplativo... Nada é dado mastigado para o telespectador que tem que tirar aquilo que consegue das cenas. É um tipo de cinema que está quase morto, mas que faz muito mais sentido para mim. Achei que a obra meio que conversa com o filme anterior do diretor: Verão na Cidade. Mas senti um gostinho de que faltou algo, não no começo e nem no final, mas no meio do filme. Parece que o filme ficou anos sem poder ser exibido por alguma treta de direitos autorais de músicas que o diretor teve que editar.

terça-feira, 2 de novembro de 2021

O SAL DAS LÁGRIMAS

Título Original: Le Sel des Larmes
Diretor: Philippe Garrel
Ano: 2020
País de Origem: França
Duração: 96min
Nota: 9

Sinopse: Jovem marceneiro viaja a Paris para se aperfeiçoar na escola que fora o sonho de seu próprio pai. Durante os exames, apaixona-se por uma garota com quem não consuma o amor, mas jamais deixará de habitar seus pensamentos. Entre o retorno à Província e o início dos estudos, ele também lidará com os aprendizados do amor, primeiramente em uma relação com a namorada de sua adolescência, depois em uma experiência aberta com outro casal. Perdido em seus sentimentos, o que ele tenta encontrar de fato é algo para basear a motivação de seus dias.

Comentário: Não sou um conhecedor da obra de Garrel, falha minha. Fui assistir ao filme pensando que era uma coisa, no fim era outra completamente diferente, mas passou longe de decepcionar. Garrel cria aqui um mundo exclusivamente dele, e não é uma falha, que se passa em 2019, temos pouquíssimas cenas tecnológicas com celulares, uma sintonia meio anos 60... todo esse amálgama funciona perfeitamente. Luc é o típico gato cafajeste se olharmos para ele de maneira superficial, mas talvez estejamos completamente equivocados... ou não. É esta coisa ambígua que permeia o filme que fez eu gostar dele, nem tudo é preto no branco como a fotografia lindíssima. Adoro filmes com finais abertos, que não nos dão tudo de bandeja, este é um deles. Fica martelando durante dias e dias e dias depois. Indicado ao Urso de Ouro no Festival de Berlim, mas naquele ano o páreo estava duro.