domingo, 28 de julho de 2019

HOMENS E DEUSES

Título Original: Des Hommes et Des Dieux
Diretor: Xavier Beauvois
Ano: 2010
País de Origem: França
Duração: 117min
Nota:  8

Sinopse: Em um mosteiro encravado nas montanhas do Norte de África, na década de 1990, oito monges franceses vivem em harmonia com seus irmãos muçulmanos. Quando uma equipe de trabalhadores estrangeiros é massacrada por um grupo islâmico, o terror instaura-se na região.

Comentário: Vencedor do Grande Prêmio do Juri em Cannes e do Cesar de melhor filme, entre outros. Algumas pessoas reclamam que o filme é lento, mas eu achei que é exatamente esta lentidão que dá o clima de tensão ao filme. O clima de guerra eminente vai crescendo conforme o filme vai passando, há cenas belíssimas como a ceia tocando Tchaikovsky ou o conflito de perda de fé do padre Christophe (Olivier Rabourdin). A única coisa que o filme peca é na falta de desenvolvimento individual dos personagens, alguns padres ficam em segundo plano e são subaproveitados, como o padre Jean-Pierre (Loïc Pichon), que era o mais enfático sobre a permanência deles no mosteiro. O filme dá mais ênfase ao clima do que as pessoas, mas acho que podia ter sido melhor balanceado aproveitando as duas coisas. O padre Amédée (Jacques Herlin) é de uma simpatia que dá vontade de abraçar. Uma história real que nos trás o pior sobre a Guerra, sem deixar de alfinetar a própria França e seu processo de colonização da Argélia, grande responsável por tudo de ruim que aconteceu ao país em questão.

sexta-feira, 26 de julho de 2019

OUTUBRO

Título Original: Octubre
Diretores: Daniel Vega Vidal & Diego Vega Vidal
Ano: 2010
País de Origem: Peru
Duração: 83min
Nota:  7

Sinopse: Clemente é um penhorista pouco comunicativo e a nova esperança amorosa de Sofia, vizinha solteira, devota em outubro ao culto do Senhor dos Milagres. A relação deles começa quando Clemente descobre uma menina recém-nascida, fruto da sua relação com uma prostituta que desapareceu. Enquanto Clemente procura a mãe da pequenina, Sofia ocupa-se dela e de fazer a limpeza na casa do penhorista. Com a chegada destes dois seres na sua vida, Clemente terá ocasião de repensar às suas relações com os outros.

Comentário: Como categorizar este filme? Acho que "cru" é a palavra certa. O filme é de uma crueza como nunca tinha visto no cinema antes, talvez isto já faça com que mereça o prêmio Um Certo Olhar que faturou em Cannes. O personagem de Clemente é mesquinho, tosco, antissocial, mas ao mesmo tempo parece transmitir aquele sentimento "Cara, eu te entendo!". A desglamourização da prostituição, o retrato cruel da solidão, o choro irritante do bebê: tudo contribuí para a caracterização do que os diretores querem passar. Os detalhes pequenos que significam muita coisa no filme são facilmente despercebidos por um telespectador desatento. Tudo no filme incomoda, talvez por isso ele pareça ser mais longo do que realmente é, mas ele trás a essência de todo o ser humano, que é a mesma de uma maçaneta quebrada retratada no filme: ninguém permanece o mesmo para sempre.

quarta-feira, 24 de julho de 2019

AS FACES DE TONI ERDMANN

Título Original: Toni Erdmann
Diretora: Maren Ade
Ano: 2016
País de Origem: Alemanha
Duração: 162min
Nota:  8

Sinopse: Winfried (Peter Simonischek) é um senhor que gosta de levar a vida com bom humor, fazendo brincadeiras que proporcionem o riso nas pessoas. Seu jeito extrovertido fez com que se afastasse de sua filha, Ines (Sandra Hüller), sempre sisuda e extremamente dedicada ao trabalho. Percebendo o afastameto, Winfried decide visitar a filha na cidade em que ela mora, Bucareste. A iniciativa não dá certo, resultando em vários enfrentamentos entre pai e filha, o que faz com que ele volte para casa. Tempos depois, Winfried ressurge na vida de Ines sob o alter-ego de Toni Erdmann, especialista em contar mentiras a todos que ela conhece.

Comentário: Definitivamente não é um filme fácil e nem para qualquer um, foi indicado para melhor filme estrangeiro no Oscar, Globo de Ouro e no César, concorreu à Palma de Ouro e saiu de Cannes com o prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema, faturou ainda cinco prêmios no European Film Awards (melhor ator, atriz, diretor, roteiro e filme). O filme é longo e em alguns momentos arrastado, com um ritmo bem longe do que o grande público está acostumado, no meio parece não ir para lugar nenhum e não julgo quem desistiu da película ali, mas na hora final ele cresce assustadoramente tendo um belíssimo ápice. Os momentos finais do filme me lembrou Magnólia, não porque existe uma chuva de sapos, mas porque há uma quebra de tudo que foi estabelecido até ali, a diretora apostou suas fichas em um final que muita gente deve ter ficado sem entender direito, mas que contém toda a essência do que realmente é o filme. O trabalho de construção dos personagens é perfeito e o efeito transitório do telespectador entre "Que mulher chata e carrancuda" e "Que velho sem noção e insuportável" brinca com características básicas da vida cotidiana de todo mundo. Um filme que fica maturando na cabeça e que deve trazer novos significados cada vez que revisitamos ele.

terça-feira, 23 de julho de 2019

CORPO E ALMA

Título Original: Testről és Lélekről
Diretora: Ildikó Enyedi
Ano: 2017
País de Origem: Hungria
Duração: 116min
Nota:  10

Sinopse: Mária trabalha há pouco tempo em um abatedouro, onde é responsável pelo controle de qualidade. No almoço na cantina, a jovem sempre escolhe uma mesa isolada onde fica em silêncio. Ela leva seu trabalho a sério e segue estritamente as regras. Seu chefe, Endre, é um pouco mais velho que ela e também é do tipo silencioso. Aos poucos, eles começam a se conhecer, reconhecer seu parentesco espiritual, e ficam impressionados ao descobrir que têm os mesmos sonhos durante a noite.

Comentário: O que dizer deste filme? Não é pra qualquer um, mas entrou na lista dos meus preferidos e com certeza foi o melhor filme que assisti nos últimos anos. A interpretação de Alexandra Borbély é simplesmente digna de qualquer premiação e vencedora do European Film Awards como melhor atriz. Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro e vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim, fui assistir sem saber que o cenário era um matadouro, justo neste momento que estou virando vegetariano e não como carne há mais de dois meses, pareceu coisa de destino ver as cenas viscerais para firmar minha posição de parar de vez de me alimentar de animais. O filme choca exatamente por isto, tem cenas belíssimas, como no mundo dos sonhos dos personagens, cenas frias e de extrema solidão quando retrata a vida dos personagens e cruas e chocantes quando retrata ações e o matadouro... assim como a vida real. O filme é cheio de metáforas, são personagens completamente quebrados por traumas do mundo exterior como diz a música de Laura Marling que serve como tema no filme, a gente fica pensando como tem gente sofrendo por aí e como a gente não faz a mínima ideia do que essas pessoas passam. A personagem principal é uma gracinha, dá vontade de pegar na mão e tentar dizer que vai ficar tudo bem, mesmo não sendo verdade, ela tem que descobrir um novo mundo que talvez sua psique não esteja preparada para enfrentar, não que ela tenha muita escolha. O personagem masculino interpretado por Géza Morcsányi é mais masculinizado, que apesar de ter seu lado quebrado também, parece estar mais preocupado em fazer sexo do que entender realmente quem é a mulher por quem está se apaixonando. É a vida em um filme, vida de pessoas quebradas e perdidas, que me fez chorar, me chocar, me apaixonar como poucos filmes conseguem fazer.

segunda-feira, 22 de julho de 2019

MULHER MOLHADA AO VENTO

Título Original: Kaze ni Nureta Onna
Diretor: Akihiko Shiota
Ano: 2016
País de Origem: Japão
Duração: 78min
Nota:  6

Sinopse: Kosuke foi, por um bom tempo, um prolífico dramaturgo, mas preferiu abandonar seu antigo trabalho na cidade e viver uma vida tranquila nas montanhas. Shiori tem um trabalho aparentemente inofensivo como garçonete em um café, mas usa seu corpo atraente para manipular seu chefe. Basta um encontro casual no meio da tarde para que Shiori, com seu inesgotável desejo sexual, entre na vida de Kosuke. Ela se envolve fisicamente com pessoas ao redor do escritor até torná-lo sua nova presa.

Comentário: Este filme faz parte de um projeto de cinco filmes para homenagear o estilo "pornochanchada japonês" (Conhecido como Roman Porno ou Pinku Eiga). Os diretores trabalharam sob as mesmas condições: orçamento, uma semana de gravações, duração do filme, títulos e datas de estreias pré estabelecidas. O filme tem alguns pontos legais, deu para dar umas risadas, mas no geral é mais ou menos. Yuki Mamiya no papel de Shiori é o grande ponto alto do filme, a atriz leva o filme nas costas com sua beleza, talento e charme. A cena final de sexo é ótima e vale a pena ser vista, de resto o filme serve como entretenimento, com belas tomadas de fotografia e uma história fraca como toda boa pornochanchada brasileira.

sábado, 20 de julho de 2019

RETOQUE

Título Original: Rutuš
Diretor: Kaveh Mazaheri
Ano: 2017
País de Origem: Irã
Duração 20min
Nota:  9

Sinopse: Uma dona de casa iraniana consegue de maneira diferente ficar livre da repressão imposta pelo patriarcado do país.

Comentário: Um curta/média metragem que não precisa de muito tempo pra contar o que quer, muito bem construído e com uma história simples, consegue mostrar dilemas morais e trazer a tona discussões muito pertinentes sobre machismo e opressão com o silêncio. O filme tem poucos diálogos, as atuações são muito boas e o final tem um gosto doce e amargo ao mesmo tempo. Quase me deu uma pontinha de medo da minha namorada (hahahahahahaha).

segunda-feira, 8 de julho de 2019

GUERRA FRIA

Título Original: Zimna Wojna
Diretor: Pawel Pawlikowski
Ano: 2018
País de Origem: Polônia
Duração: 88min
Nota: 9

Sinopse: Durante a Guerra Fria entre a Polônia stalinista e a Paris boêmia dos anos 50, um músico amante da liberdade e uma jovem cantora com histórias e temperamentos completamente diferentes vivem um amor impossível.

Comentário: Filme indicado a três Oscars e vencedor do prêmio de melhor diretor em Cannes, se o Oscar fosse uma premiação seria daria pelo menos o prêmio de melhor fotografia para ele. Que filme maravilhoso, só não digeri muito bem o final, mas de resto é uma obra prima perfeita. Joanna Kulig está estonteante e mostra que baita atriz ela é. Os cortes secos, criticado por muitos, funciona perfeitamente para quebrar o tempo e cai como uma luva nos saltos temporais que o filme dá a todo momento. A química entre os personagens, a maneira que o telespectador torce por eles só demonstra a maestria do roteiro de Pawlikowski, teve momentos que me vi no filme, pois tive um relacionamento parecido, o que fez do filme algo pessoal para mim. Achei melhor que Ida, filme anterior do diretor, que vem crescendo muito e tomando o lugar de Wajda na Polônia, provando que o cinema polonês ainda é bastante relevante e de uma qualidade única.