domingo, 12 de maio de 2024

BOM TRABALHO

Título Original: Beau Travail
Diretor:  Claire Denis
Ano: 1999
País de Origem: França
Duração: 93min
Nota: 7

Sinopse: Em um campo de treinamento da Legião Francesa, no nordeste da costa africana, vemos a história de devoção do sargento Galoup ao enigmático comandante Bruno. Enquanto tentar entender seus conflituosos sentimentos, Galoup tem sua vida virada de cabeça para baixo com a chegada do novo recruta Guilles Sentain.
 
Comentário: Vencedor de um prêmio fora da competição principal no Festival de Berlim. O filme deve ser encarado como um espetáculo de dança, pois é assim que ele funciona melhor. Há cenas maravilhosas, um elenco competente e todo o paralelo do roteiro, baseado em Billy Budd de Herman Melville, funciona muito bem. O que mais me decepcionou no filme foi o mal aproveitamento do personagem Bruno Forrestier (agora comandante), interpretado novamente pelo ator Michel Subor mais de 35 anos depois dele ter vivido o papel pela primeira vez em O Pequeno Soldado dirigido por Jean-Luc Godard. Esperei pelo menos um momento de verborragia do personagem ou um diálogo mais consistente, ou mesmo algum fanservice que justificasse a presença dele no filme. Houve alguns momentos que não consegui me conectar muito à película, mas no geral foi uma experiência gratificante.

sábado, 11 de maio de 2024

HOUVE UMA VEZ DOIS VERÕES

Título Original: Houve uma Vez Dois Verões
Diretor:  Jorge Furtado
Ano: 2002
País de Origem: Brasil
Duração: 73min
Nota: 10

Sinopse: Uma comédia dramática sobre o amadurecimento, onde o efeito que dois verões têm na vida de vários adolescentes. A história de Chico que se apaixona por Roza (com Z) ao se conhecerem em uma praia num verão no sul do Brasil. Eles se reencontram no verão seguinte.

 
Comentário: Assisti no cinema na época do lançamento e lembro que havia gostado muito, uma época em que o cinema nacional estava retomando alguma relevância depois de anos de falta de investimento. O diretor aqui prova que não precisa de orçamento milionário para se fazer um ótimo filme. Nessa época eu estava namorando pela primeira vez e descobrindo a sexualidade, assim como os garotos no filme, lembro inclusive que este foi um dos primeiros filmes que vimos juntos no cinema. Adorei mais ainda nessa reassistida, me vi de volta no tempo, a história é tão boa e podemos analisar como pensávamos de maneira diferente. Fazia tempo que não assistia algo que me tirava um riso gostoso do rosto, que me trouxesse uma saudades não só da minha vida daquela época, mas também do mundo daquela época. A trilha sonora é maravilhosa, inclusive o poster do The Pogues no quarto do guri eu já tinha aquele CD na época, o elenco funciona tri bem. Que saudade, que saudade, que saudade...

segunda-feira, 6 de maio de 2024

A FONTE DAS MULHERES

Título Original: La Source des Femmes
Diretor: Radu Mihaileanu
Ano: 2011
País de Origem: Marrocos
Duração: 119min
Nota: 6

Sinopse: Uma comédia/drama ambientado em uma vila e centrado em uma batalha de sexos, em que mulheres ameaçam negar favores sexuais se seus homens se recusarem a buscar água em um poço remoto.

 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. O filme funciona, acho que este é um ponto principal, a atriz principal (Leïla Bekhti) tem uma presença tão forte em todo momento que aparece que digo sem dúvida nenhuma que o filme é dela, o que funciona mais é por conta dela. Agora se analisarmos friamente alguns pontos o filme vai ladeira abaixo: Um filme tipicamente que deveria ser dirigido por uma mulher, falta a compreensão do universo feminino ao diretor para o que ele quer passar. Para mim é claramente visível se compararmos este com o Colméia, por exemplo. Além disso, o fato de um europeu-judeu ser o diretor me deixou com o pé atrás com algumas caracterizações estereotipadas do povo árabe. Porque não fazer o filme em um vilarejo judeu ortodoxo? Porque tentar mostrar os homens muçulmanos como retrógrados, machistas e folgados? Trabalho com vários árabes e coisa que não posso dizer de nenhum deles é de que são folgados, são pessoas que jamais deixariam as mulheres passarem por situações como mostradas no filme. Me incomodou demais esta visão euro centrista. Até onde percebo, pois trabalho com muitos romenos também, é de que o filme poderia passar em um vilarejo na própria Romênia, nacionalidade do diretor, pois são mais machistas e rigorosos em muitos pontos que o povo árabe. Já deu essa tentativa do ocidente de tentar difamar outros povos assim.

PS: Apesar de ser uma produção francesa, o filme se passa no Marrocos, é falado em árabe, não possui nem um diálogo em francês ou mesmo um diretor francês. De francês tem só o dinheiro mesmo, achei mais fiel cadastrá-lo como um filme marroquino.

sábado, 4 de maio de 2024

A QUIMERA

Título Original: La Chimera
Diretora: Alice Rohrwacher
Ano: 2023
País de Origem: Itália
Duração: 131min
Nota: 9

Sinopse: Arthur é um jovem arqueólogo que se envolve com um grupo de ladrões de túmulos repletos de relíquias da era etrusca, que se dedicam à venda desses objetos ao mercado negro. Para este grupo, Quimera é o desejo pelo dinheiro fácil, já para Arthur se parece com a mulher que ele perdeu, Beniamina. Para encontrá-la, ele desafia o invisível e procura por toda parte em busca de um caminho mitológico para a vida após a morte.

 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Alice Rohrwacher entrega aqui, talvez, seu melhor filme (preciso rever o As Maravilhas de novo, pois faz muito tempo que vi, e amei demais também). A densidade e camadas que o filme tem são mais do que pude contar. Fala-se sobre o sagrado, sobre o passado, como também se fala do profano e do presente, mas também vislumbramos sobre a esperança que é o futuro também. Os atores estão ótimos, Carol Duarte simplesmente rouba a cena em todo momento que aparece, se já estava encantado depois do "A Vida Invisível", agora estou apaixonado. O final é espetacular, diz tanto sobre quem somos, sobre o que sentimos. Difícil me expressar em palavras sobre este filme, é uma experiência que vai te atingir dependendo da sua vivência, das experiências que teve na vida. Arrebatador!

sexta-feira, 3 de maio de 2024

DOR DE DENTE

Título Original: Behdasht-e Dandan
Diretor: Abbas Kiarostami
Ano: 1980
País de Origem: Irã
Duração: 26min
Nota: 7

Sinopse: O jovem Mohammad-Reza é vítima de problemas de cárie dentária - e Kiarostami aproveita seu infortúnio documentando o trauma da consulta odontológica subsequente - elaborando um retrato humorístico que desperta empatia por um jovem em uma situação preocupante familiar para muitos.

 
Comentário: Muito gostoso de assistir, é outro curta realizado pelo diretor para o Instituto para Desenvolvimento Intelectual de Crianças e Jovens Adultos. Serve para educar ao mesmo tempo em que este acaba divertindo mais, você fica com dó do Mohammad-Reza ao mesmo tempo em que pensa "viu? Bem feito!". A cena em que o dentista explica sobre escovação enquanto o garotinho murmura de dor ao fundo é brilhante, chega a dar uma agonia. No Brasil temos uma cultura de cuidar mais dos dentes que países da Europa, por exemplo, a maioria dos europeus que trabalham comigo aqui tem dentes faltando. Não sei como é a maioria das pessoas no Irã, minha mulher tem essa preocupação, mas não sei se é geral, talvez o Kiarostami tenha ajudado uma geração futura com isto aqui.

quarta-feira, 1 de maio de 2024

ERVAS SECAS

Título Original: Kuru Otlar Üstüne
Diretor: Nuri Bilge Ceylan
Ano: 2023
País de Origem: Turquia
Duração: 197min
Nota: 10

Sinopse: Um professor espera ser transferido para Istambul após quatro anos de serviço obrigatório em um vilarejo remoto, mas é acusado de contato inadequado por duas alunas. Após perder a esperança, uma colega lhe apresenta novas perspectivas.

 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro e vencedor de Melhor Atriz no Festival de Cannes para Merve Dizdar que está muito bem no filme e tem os olhos exatamente iguais da minha companheira. É um filme maravilhoso, com várias camadas sobre a sociedade de um modo geral. Samet é mesquinho, egoísta, mas não é de todo sem coração: representa o produto padronizado da sociedade capitalista que o produziu. Kenan tem um coração mais puro e Nuray tenta se descobrir depois do trauma que passou. É complicado quando se tenta comparar o trabalho do diretor com o Sono de Inverno, que acho que talvez seja o melhor filme deste século, mas se deixarmos de lado as comparações o filme merece uma nota máxima. O final é lindo, faz a gente pensar em várias experiências de nossas próprias vidas, os erros e os acertos também. É o tipo de filme que eu gosto, fotografia linda, o pé na realidade e conceitos que colocam o seu cérebro para pensar em vários níveis diferentes sobre coisas diversas. Ece Bagci, que faz a aluna Sevim, também merece aplausos.

terça-feira, 30 de abril de 2024

O MAL NÃO EXISTE

Título Original: Aku Wa Sonzai Shinai
Diretor: Ryûsuke Hamaguchi
Ano: 2023
País de Origem: Japão
Duração: 106min
Nota: 9

Sinopse: Takumi e sua filha vivem em um vilarejo perto de Tóquio. Um dia, os habitantes da vila descobrem um plano para construir um acampamento perto da casa de Takumi que oferece aos moradores da cidade uma confortável "fuga" para a natureza.
 
Comentário: Vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Veneza e mais outros 3 prêmios fora da competição principal. Que baita filme, o início do filme contemplativo já me ganhou na hora, o resto vai fluindo muito bem. Não entendo quem diz que nada acontece no filme, discordo completamente, há tanta coisa, tantas camadas de discussões. Vemos uma sociedade pós pandêmica e isto está bem incrustado no filme, fala sobre capitalismo, sobre a importância da vida em comunidade e tantas outras coisas. O final é muito "What Tha Fuck!" e confesso que fazia muito muito tempo que um filme não me tirava da zona de conforto assim. Dos filmes que assisti do diretor, o mais badalado Dirija Meu Carro, achei o mais fraco. Parte técnica do filme é impecável, mas ainda prefiro o Roda do Destino.

segunda-feira, 29 de abril de 2024

BAILE DAS INGRATAS

Título Original: De Fördömda Kvinnornas Dans
Diretor: Ingmar Bergman
Ano: 1976
País de Origem: Suécia
Duração: 25min
Nota: 9

Sinopse: O filme mostra quatro mulheres se movimentando em uma sala fechada e apertada ao som da música de Monteverdi representando mulheres que vivem desempenhando um papel que lhes foi transmitido durante gerações.

 
Comentário: Há genialidade em praticamente tudo do Bergman, mas em alguns ele extrapola, este curta é das coisas mais lindas que ele fez, com uma mensagem tão grande e importante, de uma maneira tão sutil e delicada, e sempre vou achar que o diretor funciona muito melhor com a fotografia em preto e branco. O título da música de Monteverdi em italiano é "Il Ballo Delle Ingrate", que acaba dando o tom para a tradução do título do curta para o português que difere um pouco do original que foi mantido para o inglês "Baile das Mulheres Condenadas" que talvez faça mais sentido para o que Bergman queria dizer. Maravilhoso!

domingo, 28 de abril de 2024

LÁ EM CIMA

Título Original: Tab
Diretor: Hong Sang-soo
Ano: 2022
País de Origem: Coréia do Sul
Duração: 97min
Nota: 8

Sinopse: Byungsoo, um diretor de cinema, vai com sua filha Jeongsu, uma aspirante a designer de interiores, para um prédio de propriedade de um velha amiga já estabelecido na área.

 
Comentário: Ignorado por festivais, achei este filme mais legal do que o badalado "O Filme da Escritora" do mesmo ano feito pelo diretor e que ganhou o Grande Prêmio do Júri em Berlim. Parece que quanto menos badalado, melhor o Sang-soo funciona, pelo menos para mim. Esse filme é uma delícia de assistir: os pulos temporais, as relações se esfacelando, vícios e manias se alterando, ciclos que vão se iniciando e outros terminando. Incrível. Os diálogos extensos e corriqueiros dão o tom certo e funcionam melhor do que em vários dos seus outros filmes. Estava com medo de que a fórmula do diretor estivesse se desgastando, mas para mim, aqui ele prova o contrário. Um diretor que tenho tentado assistir mais filmes e não tenho me arrependido.

sábado, 27 de abril de 2024

ASSIM QUE ABRO MEUS OLHOS

Título Original: À Peine J'Ouvre Les Yeux
Diretora: Leyla Bouzid
Ano: 2015
País de Origem: Tunísia
Duração: 102min
Nota: 9

Sinopse: Poucos meses antes da revolução na Tunísia, Farah, de 18 anos, é apaixonada pela vida e canta em uma banda de rock político. Sua mãe, conhecendo os perigos da Tunísia, quer que ela siga a carreira de médica.

 
Comentário: Vencedor de um prêmio fora das competições principais no Festival de Veneza. O filme me surpreendeu muito positivamente, achei lindo demais em tudo. Baya Medhaffar é uma baita atriz, tanto cantando quanto interpretando. Filme com uma das melhores trilhas sonoras que já ouvi na vida, pena que a banda fictícia não gravou mais músicas para o soundtrack do filme. Tem pais que realmente não deveriam ter filhos porque não tem a mínima ideia do que estão fazendo, as atitudes da mãe me irritaram demais mesmo a personagem crescendo muito durante o passar da película. Em pensar que a Revolução de Jasmim alterou completamente a vida naquele país no ano seguinte e conseguiu manter depois, com o partido de esquerda, a garantia de estado laico em um país predominantemente muçulmano, que vem garantindo cada vez mais direitos para as mulheres. Tunísia é um exemplo para todo o mundo árabe. Amei!

domingo, 21 de abril de 2024

CHUVA É CANTORIA NA ALDEIA DOS MORTOS

Título Original: Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos
Diretores: Renée Nader Messora & João Salaviza
Ano: 2018
País de Origem: Brasil
Duração: 114min
Nota: 8

Sinopse: Rodado ao longo de nove meses na aldeia Pedra Branca (Terra Indígena Krahô, no Tocantins), sem equipe técnica e em negativo 16mm, o filme acompanha Ihjãc, um jovem Krahô que, após um encontro com o espírito do seu falecido pai, se vê obrigado a realizar sua festa de fim de luto.

 
Comentário: Vencedor do Prêmio do Júri na premiação Um Certo Olhar no Festival de Cannes. Só pela ideia de se fazer um filme nas condições que foram feitas em uma aldeia indígena já vale a experiência de ser assistido. Interessante ver como o elenco, que não são atores e sim indígenas representando papéis, convencem muito bem dentro da narrativa que está sendo contada. Mas o mais impressionante de tudo são as cenas de interação com a natureza, você fica pensando como o diretor conseguiu filmar isso ou aquilo, como é que aquela arara voou criando aquela cena incrível justo naquele momento? O filme é de encher os olhos, acho que poderia ter alguns artifícios para prender mais a narrativa ao telespectador, não achei um filme fácil de ser assistido em alguns momentos, dispersa de alguma maneira em alguns momentos, mas em linhas gerais é uma grande obra do cinema brasileiro.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

FOLHAS DE OUTONO

Título Original: Kuolleet Lehdet
Diretor: Aki Kaurismäki
Ano: 2023
País de Origem: Finlândia
Duração: 81min
Nota: 8

Sinopse: Em Helsinque, Ansa e Holappa, duas almas solitárias em busca do primeiro amor, conhecem-se por acaso em um bar de karaokê. Porém, o caminho dos dois para a felicidade é cercado por vários obstáculos: de números de telefone perdidos a endereços errados, alcoolismo e uma charmosa cachorrinha de rua.

 
Comentário: Vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes. "Festa estranha com gente esquisita, eu não tô legal, não aguento mais birita" como já cantavam o Legião Urbana... e bota gente estranha nisso. Não sou familiarizado com o cinema do Kaurismäki, este é o primeiro que assisto apesar de ter outros 10 na minha coleção. Apesar de estranho e de ter uma história para lá de clichê, o filme agrada, conquista a gente pela excentricidade dos personagens. Os cenários são lindos, tem todo um toque nostálgico misturado com o mundo moderno atual. Irritou um pouco o lance de ficar batendo na tecla sobre a Guerra da Ucrânia (mas é a Europa e a visão eurocentrista prevalece por aqui sempre), mas serviu para mostrar como ela afetou o fornecimento de energia para os países que embarcaram na conversa fiada estadunidense. No geral o filme é uma graça com um toque agridoce.

domingo, 14 de abril de 2024

FACE A FACE

Título Original: Ansikte Mot Ansikte
Diretor: Ingmar Bergman
Ano: 1976
País de Origem: Suécia
Duração: 130min
Nota: 7

Sinopse: A Dra. Jenny Isaksson é uma psiquiatra casada com outro psiquiatra; ambos são bem-sucedidos em seus empregos, mas lenta e agonizantemente, ela sucumbe a um colapso. Jenny é assombrada por imagens e emoções de seu passado e eventualmente não consegue funcionar, seja como esposa, médica ou indivíduo.

 
Comentário: Vencedor do Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e indicado ao Oscar de Direção e Melhor Atriz. O filme não funcionou muito bem comigo, achei todo o plot central do filme muito forçado e com cenas que não levaram a lugar nenhum. O que vale do filme é a atuação da Liv Ullmann e detalhes pontuais, Bergman flertando com o terror é incrível e Gunnar Björnstrand é um espetáculo de versatilidade. O desfecho chega a ser meio frustrante. As cenas funcionam melhor isoladas do filme, mexem com sentimentos e percepções, mas no geral não achei que a narrativa como um todo nos presenteie com o Bergman em sua melhor forma.

sábado, 13 de abril de 2024

DIAS PERFEITOS

Título Original: Perfect Days
Diretor: Wim Wenders
Ano: 2023
País de Origem: Japão
Duração: 124min
Nota: 8

Sinopse: Hirayama está feliz em sua vida simples como limpador de banheiros em Tóquio. Tirando sua rotina diária muito estruturada, ele cultiva sua paixão pela música, livros e fotografias de árvores. Uma série de encontros inesperados revela gradualmente mais do seu passado.

 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro e vencedor do prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes. Talvez seja um exagero dizer que seja tão bom quanto os trabalhos épicos do diretor, mas é inegável que Wenders volta aqui a ter uma relevância muito interessante para o cinema. É um filme mais sensorial do que narrativo, mas a cena final é sublime demais e me remeteu As Noites de Cabíria de Fellini. Interessante notar também como há vários pontos em que Wenders revisita sua própria obra, desde a musicalidade (The Kinks, Van Morrison ou Lou Reed), passando por uma espécie de road movie por Tóquio para chegar até a complexidade do personagem que permanece submerso como um iceberg em sua totalidade. Koji Yakusho dá um show de talento e carisma. No começo do filme cheguei até a pensar que o personagem era um anjo que abdicou de sua vida angelical como em Asas do Desejo.

terça-feira, 9 de abril de 2024

CÉSAR DEVE MORRER

Título Original: Cesare Deve Morire
Diretores: Paolo Taviani & Vittorio Taviani
Ano: 2012
País de Origem: Itália
Duração: 73min
Nota: 8

Sinopse: O filme, que mistura teatro, documentário e drama, encena uma versão livre da peça "Julius Caesar", de Shakespeare, onde os atores são detentos da ala de segurança máxima da prisão de Rebibbia, na Itália.

 
Comentário: Vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim. O filme é muito bom e só fortaleceu minha convicção contra a prisão perpétua que mantenho desde que assisti O Homem de Alcatraz. Pessoas mudam, evoluem e a frase final deste filme simplesmente me tirou lágrimas. Só achei que o diretor abrir mão de entrar de cabeça na ideia de um documentário empobrece o filme, você fica querendo saber mais sobre os detentos, coisa que poderia ser facilmente proporcionada com pequenas entrevistas ou depoimentos entre cenas da película. O interessante do filme é ver como a arte mudou a vida dos detentos, então nada mais justo que o filme desse mais voz para que eles nos contassem um pouco disso mais diretamente. Gostei bastante, recomendadíssimo! Como é lindo ver Paulo Freire tão vivo na arte, pois acredito que só a educação libertará o ser humano.

segunda-feira, 1 de abril de 2024

PRIMEIRO CASO, SEGUNDO CASO

Título Original: Ghazieh-e Shekl-e Aval, Ghazieh-e Shekl-e Dou Wom
Diretor: Abbas Kiarostami
Ano: 1979
País de Origem: Irã
Duração: 47min
Nota: 9

Sinopse: O primeiro filme do Abbas Kiarostami após a Revolução Islâmica. Na sala de um colégio, enquanto um professor escreve na lousa, um aluno faz barulho de propósito às suas costas. Não sabendo quem era o culpado, o professor resolve expulsar os setes alunos da ultima fila: o culpado é um deles, que não foi denunciado pelos seus colegas. Kirostami projeta essa cena para alguns adultos e pergunta o que acham da situação.

 
Comentário: Simplesmente brilhante, Kiarostami faz uma obra que explica o Irã ontem e hoje e que serve para questionar se os valores do que se tornou o Irã tantos anos depois ainda representa os mesmos valores da Revolução Islâmica no país. Muito interessante o posicionamento e a linha de pensamento de algumas figuras chaves do país naquele momento e o que representavam. Qual seria a diferença do aluno delator para uma polícia da moralidade de hoje? Kiarostami mostra um olhar tão atento e apurado para o momento histórico do que acontecia que chego até a dizer que nenhum outro diretor conseguiu este feito. É possível notar o laço da revolução com a esquerda ainda em alta, e que depois veio a ser criminalizada. Uma obra de arte obrigatória da carreira deste diretor que foi um dos maiores.

sexta-feira, 29 de março de 2024

SIDERAL

Título Original: Sideral
Diretor: Carlos Segundo
Ano: 2021
País de Origem: Brasil
Duração: 15min
Nota: 7

Sinopse: Em Natal, no litoral brasileiro, o país se prepara para lançar seu primeiro foguete espacial tripulado ao espaço. Um casal mora com filhos perto do centro espacial, ela é faxineira e ele mecânico, mas ela sonha com outros horizontes.
 
Comentário: Indicado para Melhor Curta Metragem tanto no Festival de Cannes quanto no Festival de Berlim, onde neste último ganhou Menção Especial. Acho sempre difícil dar uma nota para um curta, porque na maioria dos casos acabam sendo histórias que podiam ser muito mais bem desenvolvidas em um filme, este é o caso deste curta, adorei toda a premissa, mas você acaba não se aprofundando nos personagens que são riquíssimos em várias camadas. O elenco trabalha tão bem que merecia muito mais tempo em tela. Fiquei pensando na grana que dava para ganhar com um processo ou em como as condições sociais evidentes escancaram as divisões de classes quando o sujeito diz "mas ela vai continuar fazendo a limpeza lá". Um curta que tinha muito mais a dizer se tivesse o tempo necessário.

quinta-feira, 28 de março de 2024

A TERRA E A SOMBRA

Título Original: La Tierra y la Sombra
Diretor: César Augusto Acevedo
Ano: 2015
País de Origem: Colômbia
Duração: 97min
Nota: 10

Sinopse: Um humilde trabalhador canavieiro retorna para casa para encontrar seu neto e lidar com as dificuldades em que sua família está passando.
 
Comentário: Vencedor do Câmera de Ouro e mais outros três prêmios no Festival de Cannes. Que filmaço! Nível de perfeição que fica até difícil falar, direção excelente e um elenco fantástico que pelo que fui pesquisar não achei nenhuma informação sobre eles, fico pensando se não são pessoas comuns do campo. O garotinho José Felipe Cárdenas dá um show de interpretação e Haimer Leal que interpreta o avô é de uma simpatia ímpar. Uma realidade que é tão similar ao Brasil, impossível não se emocionar. Há tantas cenas brilhantes, de detalhes tão importantes, aquele final deslumbrante. Um filme para favoritar, quem reclama de que ele é lento não merece o que está assistindo, vá ver as bobagens de Hollywood. Estou viciado em ouvir o Dueto Remembranzas.

quarta-feira, 27 de março de 2024

POBRES CRIATURAS

Título Original: Poor Things
Diretor: Yorgos Lanthimos
Ano: 2023
País de Origem: EUA
Duração: 141min
Nota: 8

Sinopse: A história de amor e escândalo de Bella Baxter, uma bela mulher que é trazida de volta dos mortos por um excêntrico cientista na era vitoriana.
 
Comentário: Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza. Para mim é um "O que aconteceria se Roger Corman ou William Castle ainda dirigissem filmes em 2023 com um alto orçamento". O roteiro é típico de horror fantástico dos anos 60, tu pode até colocar o Vincent Price no lugar do Willem Dafoe. O filme entretêm mais do que eu esperava, dei boa risadas. O que chama realmente a atenção são os figurinos, cenários e a estética que remete ao horror clássico de Mary Shelley. A interpretação de Emma Stone também merece ser comentada, foi uma bela entrega ao papel. O filme funciona muito bem, estava com medo de ser tenso como em outros do Lanthimos, mas terminei a sessão bem leve. Podia ser mais curto, perde muito tempo com algumas redundâncias.

terça-feira, 26 de março de 2024

CORDÃO DA VIDA

Título Original: Qi Dai
Diretor: Sixue Qiao
Ano: 2022
País de Origem: China
Duração: 95min
Nota: 9

Sinopse: O músico Alus decide levar a mãe com Alzheimer de volta à terra natal em busca do lar que ela tem na memória. Para que a mãe não se perca, ele amarra-se a ela com uma corda em volta da cintura. Essa conexão, semelhante a um cordão umbilical, estabelece uma relação de inversão entre mãe e filho.
 
Comentário: Um filme que me pegou de surpresa, não esperava que fosse tão bom, entrou para a minha lista de preferidos do ano de 2022. Um filme simples e cheio de significados, há beleza na simplicidade e uma direção primorosa. Os atores estão ótimos, cada um deles entregam muito, dos principais aos coadjuvantes. Teve momentos que parecia que eu estava lá na China, vivenciando aquelas coisas. Depois de um roteiro muito bem construído, com uma história muito bem amarrada vem os 15 minutos finais que é arrebatador, sério, das cenas mais bonitas que vi nos últimos anos (e olha que considero que assisto bastante filmes). Pensei muito na minha história, na minha família e na história da minha família. Com certeza um filme que vai ficar martelando na minha cabeça por um tempo. Grandioso pelos pequenos detalhes. Beleza pura.

segunda-feira, 25 de março de 2024

MONSTRO

Título Original: Kaibutsu
Diretor: Hirokazu Koreeda
Ano: 2023
País de Origem: Japão
Duração: 121min
Nota: 9

Sinopse: Depois de descobrir que um professor é responsável pela súbita mudança de comportamento de seu filho, uma mãe invade a escola exigindo saber o que está acontecendo. À medida que a história se desenrola através dos olhos da mãe, do professor e da criança, a verdade surge gradualmente.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro e vencedor de Melhor Roteiro no Festival de Cannes. Koreeda em sua melhor forma, não tem como assistir e não traçar um paralelo com Closer, apesar de existir um abismo entre as narrativas também. Este é um filme claramente sobre homossexualismo, e para quem torceu o nariz dizendo que são crianças, a infância é uma fase de desenvolvimento e descobertas onde isto ocorre todos os dias. Alguns tentam comparar o filme somente no aspecto do Japão, mas o comportamento violento do pai não difere em nada de um evangélico raiz brasileiro, o filme é válido para todo lugar do planeta. A maneira em que tudo é construído em partes, com uma narrativa quebrada, é perfeito para tudo ir se encaixando aos poucos e brincar com o julgamento que fazemos dos personagens. Filme obrigatório.

domingo, 24 de março de 2024

A FLAUTA MÁGICA

Título Original: Trollflöjten
Diretor: Ingmar Bergman
Ano: 1975
País de Origem: Suécia
Duração: 138min
Nota: 8

Sinopse: A história do príncipe Tamino e seu entusiasmado companheiro Papageno, que são enviados em uma missão para salvar uma linda princesa das garras do mal.
 
Comentário: Indicado ao Oscar por Melhor Figurino e ao Globo de Ouro como Melhor Filme Estrangeiro. Depois de rodar O Misantropo no teatro na Dinamarca, Bergman parece ter tomado gosto e realiza esta obra grandiosa. Baseado na obra de Emanuel Schikaneder para a qual Mozart compôs as músicas e se tornaria o marco que é até hoje. A montagem é impressionante, realmente muito bom, toda a parte técnica é o ápice do diretor até aqui. A história hoje é um tanto quanto cliché, mas ainda funciona, achei um tanto quanto demorado, fui cansando aos poucos, mas o elenco não deixa a peteca cair e segura muito bem o filme junto com as pitadas de comédias de Papageno. A cena entre os atos com os atores agindo normalmente com o figurino é uma das cenas mais deslumbrantes de toda a carreira do Bergman. Fiquei pensando se a peça foi realmente encenada, porque são tantos cenários e tantos detalhes que me parece quase impossível. No fim, o relacionamento do casal hétero sobrevive ao passeio na câmera escura de uma casa de swing e o amor prevalece (hahahaha).

sábado, 23 de março de 2024

SCRAPPER

Título Original: Scrapper
Diretora: Charlotte Regan
Ano: 2023
País de Origem: Inglaterra
Duração: 84min
Nota: 8

Sinopse: Georgie, uma menina sonhadora de 12 anos, vive aparentemente feliz e sozinha em seu apartamento nos arredores de Londres após a morte da mãe, enchendo-o de fantasia. De repente, seu pai distante aparece e a força a confrontar a realidade.
 
Comentário: Vencedor de Melhor Filme Mundial no Festival de Sundance. Adoro esses filmes independentes que não precisam gastar uma fortuna para fazer um bom filme. E o filme é muito bom. Uma história simples, que a diretora consegue condensar muito bem em menor de uma hora e meia. Personagens que funcionam, reais, que emocionam. A cena deles inventando diálogos para estranhos na rua é muito boa. Há toda uma química entre os atores que acontece, e mesmo todos os clichês que existem na película parecem se encaixar muito bem. Uma história simples, daquelas que já foram contadas centenas de vezes no cinema, mas que ainda funciona se contada da maneira correta. Vale a pena a assistida. Uma história sobre como a vida tem seus tropeços e como tentamos dar o nosso melhor mesmo sem saber exatamente como na maioria das vezes.

segunda-feira, 18 de março de 2024

ANATOMIA DE UMA QUEDA

Título Original: Anatomie D'Une Chute
Diretor: Justine Triet
Ano: 2023
País de Origem: França
Duração: 151min
Nota: 9

Sinopse: Uma mulher é suspeita de assassinato após a morte do marido; seu filho meio cego enfrenta um dilema moral como testemunha principal.
 
Comentário: Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes. Demorei mais de uma semana para escrever sobre o filme porque é realmente interessante como ele faz a gente pensar. O roteiro é maravilhoso, me remeteu ao Dom Casmurro de Machado. Não sei o que pensar se Sandra é culpada ou inocente. A cena da discussão do casal é o ponto alto de todo o filme e mostra o controle absoluto do roteiro na caracterização dos personagens. Único defeito, para mim, foi a duração do filme que acho que se estende demais sem uma necessidade disso. Há muita enrolação e alguns artifícios que cansam, como o advogado de acusação extremamente caricato. O filme mereceu o prêmio, mesmo não sendo o meu favorito do ano, e precisa ser visto porque é realmente muito acima da média e melhor que qualquer coisa no circuito comercial.

segunda-feira, 11 de março de 2024

PROFISSÃO: REPÓRTER

Título Original: Professione: Reporter
Diretor: Michelangelo Antonioni
Ano: 1975
País de Origem: Espanha
Duração: 126min
Nota: 10

Sinopse: Um correspondente de guerra frustrado, incapaz de encontrar na guerra o que lhe foi pedido para cobrir, toma o caminho arriscado de apropriar-se da identidade de um conhecido traficante de armas morto.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Pensa em um cara que amava a vida que tinha (hahahahaha) e não foi deixado em paz pela mulher nem depois de morto. Assisti este filme quando era um adolescente em uma coleção de VHS lançado por um jornal. Já havia amado (é, eu era um garoto estranho) e agora acho que amei mais ainda. Um filme com personagens completamente perdidos, rumo a lugar nenhum em uma Espanha em seus últimos momentos da ditadura franquista. Talvez o movimento sem sentido de todos os personagens represente a falta de sentido na guerra. Adoro o ritmo que a película toma depois que Maria Schneider aparece, ao contrário de muitos críticos. Antonioni é mestre, sei que não é o tipo de filme para todo mundo, mas eu acho incrível. A cena final então, nem preciso falar, né?  Talvez meu filme preferido com Nicholson.

Nota: Registrei o filme como espanhol, já que se passa a sua maior parte na Espanha. Não vi sentido em cadastrar como italiano, mesmo sendo uma produção italiana e tendo o diretor italiano, já que não tem nenhuma cena na Itália e nem um diálogo em italiano.

domingo, 10 de março de 2024

AQUI É O MEU LUGAR

Título Original: This Must Be The Place
Diretor: Paolo Sorrentino
Ano: 2011
País de Origem: EUA
Duração: 118min
Nota: 8

Sinopse: Cheyenne, um astro do rock aposentado vivendo de seus royalties em Dublin, retorna a Nova York para encontrar o homem responsável pela humilhação sofrida por seu pai, recentemente falecido, durante a Segunda Guerra Mundial.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro e vencedor do Juri Ecumênico no Festival de Cannes. Confesso que apesar do filme ser muito bom, preferi os trinta minutos iniciais que se passam em Dublin, derrepente toda a história muda, muita coisa que eu estava adorando é deixada para trás e ele passa a caçar um nazista nos EUA. Não gostei muito da atuação do Sean Penn aqui também, tem horas que ele parece um retardado lesado por drogas, mas quando o roteiro convém ele está mais espertinho. Mas o filme não decepciona, talvez por conta de toda a genialidade de Sorrentino que sabe muito bem o que está fazendo. O diálogo entre Penn e David Byrne (sério que tem gente que não sabe quem é David Byrne?) é das melhores coisas de todo o filme, há tanto ali. O filme não chega a ter o peso de outros trabalhos do diretor, mas consegue ser uma produção americana de alto nível, mas acho que Sorrentino funciona melhor no cinema italiano.

O MELHOR ESTÁ POR VIR

Título Original: Il Sol Dell'Avvenire
Diretor: Nanni Moretti
Ano: 2023
País de Origem: Itália
Duração: 95min
Nota: 10

Sinopse: Um cineasta tenta terminar um filme ambientado em Roma, na década de 1950, sobre comunistas italianos. Mas uma série de obstáculos se interpõe em seu caminho. Sempre no limite, ele terá que acreditar que o melhor está por vir.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Eu simplesmente amei este filme, tem tanto de mim que chega até a ser constrangedor em alguns momentos. Tenho que admitir que sou chato igualzinho o personagem. Toda as metáforas que o filme tem, os personagens, os conflitos, os atores e todo o paralelo com um discurso trotskista funcionaram demais comigo. A cena que é um tapa na cara não só do Netflix, mas de toda a industria cinematográfica que não enxerga o cinema como arte e sim como produto, foi maravilhoso de assistir. Nanni Moretti é um diretor que por completo relapso meu nunca havia assistido nada, lembro que eu morava na Itália quando seu O Crocodilo foi lançado e queria muito ir ver, tenho 7 filmes do diretor na minha coleção e sempre foi ficando para depois, chegou a hora de dar mais atenção ao diretor.

quinta-feira, 7 de março de 2024

SUL

Título Original: Süden
Diretor: Christian Petzold
Ano: 1990
País de Origem: Alemanha
Duração: 10min
Nota: 4

Sinopse: Um carro solitário. O vento sopra. A porta de um edifício indefinido se abre: é uma casa de férias, um barracão ou uma ruína? Uma mulher está à janela, talvez devido ao calor. Sul: um lugar de nostalgia.
 
Comentário: Petzold é um dos meus diretores favoritos da atualidade, então fui assistir este curta do diretor com uma certa expectativa muito alta que não fez jus a obra. São 10 minutos de imagens do sul da Alemanha, mas que não me disseram muito, não me conectaram muito. Vivi um curto período de tempo na Alemanha e amo o país, mas nem esse meu apego emocional me vinculou a obra. Achei meio vazia, talvez tenha sido essa a intenção, talvez um peso niilista, mas isso também não da para ter certeza. Talvez se fossem imagens da região em que morei, no entorno da minuscula e desconhecida Wittstock, eu teria amado.

quarta-feira, 6 de março de 2024

ROSA ROSAE - UMA ELEGIA DA GUERRA CIVIL ESPANHOLA

Título Original: Rosa Rosae. La Guerra Civil
Diretor: Carlos Saura
Ano: 2021
País de Origem: Espanha
Duração: 5min
Nota: 8

Sinopse: Saura cria e recupera mais de trinta imagens, desenhos e fotografias que imprime, manipula, brinca e posteriormente filma, para produzir uma história que, ao mesmo tempo que recria a Guerra Civil Espanhola, pode também reflectir os horrores do conflito universal, vistos através dos olhos de uma criança e seu entorno.
 
Comentário: É muito lindo de assistir e seu grande defeito é que acaba muito rápido, é praticamente um videoclip musical da música Rosa Rosae interpretada pelo cantor José Antonio Labordeta. As imagens recuperadas por Saura e a maneira que são manipuladas para se transformarem em uma obra de arte em movimento é de encher os olhos de tão lindo que é. Hipnótico e avassalador são as melhores palavras que definem. Poderia ter tido pelo menos o dobro do tempo que eu ia amar continuar assistindo. Carlos Saura foi um dos maiores diretores espanhóis e mostra aqui, mesmo que em míseros cinco minutos, toda a sua força artística ainda relevante no século XXI.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

COMO FAZER SEXO

Título Original: How to Have Sex
Diretor: Molly Manning Walker
Ano: 2023
País de Origem: Inglaterra
Duração: 90min
Nota: 7

Sinopse: Três adolescentes britânicas passam um feriado juntas, bebendo, indo a boates e namorando, naquele que deveria ser o melhor verão de suas vidas. Enquanto dançam pelas ruas de Mália, elas se veem navegando pelas complexidades do sexo.
 
Comentário: Vencedor do prêmio Um Certo Olhar no Festival de Cannes. Achei um certo exagero todo o alarde positivo em torno deste filme da crítica especializada, é um bom filme, mas não achei tudo isso. Talvez porque o assunto chato desse mundo adolescente vazio de hoje não me interesse tanto, talvez por viver na Inglaterra e ver que essa galera consegue ser ainda mais chata aqui do que em qualquer outro lugar do mundo. Pior trilha sonora que já ouvi em um filme (mas de novo, é uma realidade com suas particularidades que eu não sou o público alvo). Acho que é um filme que todo adolescente deveria assistir porque acaba abordando muitas coisas relevantes, mesmo que não se aprofundando muito em nada, acho que apesar do vazio existencial dessa geração do celular estar no filme, não transmite o impacto que deveria. Agora vamos aos pontos positivos, a mensagem feminista aqui é forte e é o que me fisgou no filme, como as garotas são empurradas sem estarem prontas para uma sexualidade imposta por um mundo patriarcal tosco. Ver isto no filme foi lindo. A cena final, dos últimos segundos é arrebatadora, maravilhosa e mostrou que a diretora sabia o que estava fazendo. Enfim, para mim um filme necessário sim, acima da média, mas que não achei tão bom tendo a consciência que estou longe do público alvo. Por isso um prêmio merecido em Cannes.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

O MISANTROPO

Título Original: Misantropen
Diretor: Ingmar Bergman
Ano: 1974
País de Origem: Dinamarca
Duração: 102min
Nota: 7

Sinopse: Alceste odeia a humanidade porque há muita hipocrisia, engano e falsa bajulação no mundo. O amor por Éliante vindo em contramão parece prometer piorar a situação. Adaptação da peça escrita por Molière.
 
Comentário: Filme inusitado de Bergman, onde ele filme a peça em que dirige na Dinamarca. Achei que eu não ia gostar muito pela proposta (Não acho que a linguagem do teatro consegue ser passada para se assistir na tela de uma TV tão facilmente), porém a história conseguiu me prender muito bem. Me vi profundamente em Alceste em quase tudo e isso foi meio assustador, me parece que a vida em solidão é a única saída em muitos momentos. Há diálogos ótimos e é interessante como algumas reações da plateia te contagia em momentos pontuais cômicos e isso me remeteu a uma entrevista dada pelo Ken Loach durante o Festival de Berlim este ano de 2024. A direção de Bergman some pela força do elenco que  consegue segurar a atenção do espectador muito bem. Valeu a assistida.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

PESSOAS-PÁSSARO

Título Original: Bird People
Diretor: Pascale Ferran
Ano: 2014
País de Origem: França
Duração: 128min
Nota: 8

Sinopse: Num hotel próximo a um aeroporto de Paris, dois desconhecidos tentam encontrar algum sentido em suas existências. O norte-americano Gary, engenheiro de informática, submetido a fortes pressões profissionais e afetivas, decide mudar radicalmente sua vida. Algumas horas mais tarde, a realidade de Audrey, uma jovem camareira do hotel, é totalmente transformada depois que ela passa por uma estranha experiência.
 
Comentário: Indicado ao prêmio Um Certo Olhar no Festival de Cannes. Um filme relativamente simples, onde pouca coisa acontece, mas é como o diretor orquestra tudo que dá o tom certo para a película e faz com que funcione. As propagandas de várias marcas que vão aparecendo, que incomoda no início, acaba servindo para a narrativa muito bem no sentido de mostrar como os personagens estão presos a uma vida de que não precisam. A fantasia que ocorre na reta final do filme serve para dar o gás que faltava e prende a gente muito bem na tela, se estendesse demais perderia o sentido. Os atores são competentes, a cena da conversa pelo laptop foi uma das coisas que mais gostei, baita diálogo. Achei a cena final um pouco desnecessária, não precisava. Um filme que impregna na cabeça depois de assistido.