quarta-feira, 29 de setembro de 2021

A NOSSA VIDA

Título Original: La Nostra Vita
Diretor: Daniele Luchetti
Ano: 2010
País de Origem: Itália
Duração: 96min
Nota: 8

Sinopse: Claudio, operário da construção civil, trabalha numa obra na periferia de Roma. Ele ama a sua mulher, grávida do terceiro filho de ambos. Um drama inesperado vai desordenar bruscamente a indolência desta vida simples e feliz. Para sobreviver, Claudio irá afrontar com raiva a injustiça social que o toca no seu íntimo. O apoio da sua família, dos seus amigos e o amor dos seus filhos ajudarão Claudio a realizar o desafio da que é a vida.

Comentário: Que paulada! Filme que deu o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes para Elio Germano, que teve uma atuação monstro aqui. Ele dividiu o prêmio com ninguém menos do que Javier Bardem em Biutiful, mas confesso que preferi o italiano neste filme aqui. A história é simples, tem suas falhas, umas mensagens meio estranhas que não sei se entendi muito bem, mas no geral emociona, comove e traz reflexão. A cena do personagem principal cantando enquanto passa por um momento difícil me arrepia só de lembrar. Estou perdidamente apaixonado pela Isabella Ragonese. O personagem é racista, mas confia somente em uma negra para cuidar de seus filhos. É preconceituoso e conservador, mas seu único amigo é um traficante de drogas. É o retrato desconexo de uma grande maioria dos italianos, só quem já morou lá vai entender o que estou falando. Algumas mensagens são claras, outras nem tanto, mas o que mais marca é de como a vida tem que continuar. A música Anima Fragile do cantor Vasco Rossi caiu como uma luva no filme.

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

ROMA

Título Original: Roma
Diretor: Alfonso Cuarón
Ano: 2018
País de Origem: México
Duração: 135min
Nota: 8

Sinopse: Cidade do México, 1970. A rotina de uma família de classe média é controlada de maneira silenciosa por uma mulher (Yalitza Aparicio), que trabalha como babá e empregada doméstica. Durante um ano, diversos acontecimentos inesperados começam a afetar a vida de todos os moradores da casa, dando origem a uma série de mudanças, coletivas e pessoais.

Comentário: Vencedor de três Oscars, dois Globos de Ouro e do Leão de Ouro no Festival de Veneza, Roma é um filme bem peculiar e não é para muitos, mas é inteiramente conduzido com uma maestria que eu não via faz tempo em filmes atuais. É um filme lento, que talvez pudesse ser encurtado, com tomadas de cenas espetaculares colocando o diretor, de quem sou fã desde que assisti no cinema Grandes Esperanças, em um seleto grupo.As duas atrizes, ambas indicadas ao Oscar, dão um show de interpretação. O pano de fundo se passa em uma família de classe média alta no distrito de Roma na cidade do Novo México em um momento de turbulência quando o governo realizou o Massacre de Tlatelolco, o maior massacre da história do país, contra movimentos estudantis na véspera das Olimpíadas a ser sediada no país (O presidente que realizou isto era tio do famoso ator Roberto Bolaños), o governo seguinte continuou as perseguições aos estudantes como mostrado no filme gerando este clima tenso na população. Me identifiquei muito, pois cresci em uma família assim, com irmãs e rodeado de empregadas que acabavam sendo parte da família. Existe a crítica social, mas ao mesmo tempo existe o vínculo que se cria a partir da convivência e é nisso que o filme acerta em cheio no alvo. O clima é lento e bucólico, mas é tenso e carregado de sentimentos ao mesmo tempo.

domingo, 19 de setembro de 2021

ERA UMA VEZ EM... HOLLYWOOD

Título Original: Once Upon a Time in... Hollywood
Diretor: Quentin Tarantino
Ano: 2019
País de Origem: EUA
Duração: 161min
Nota: 9

Sinopse: "Era Uma Vez em... Hollywood" revisita a Los Angeles de 1969 onde tudo estava em transformação, através da história do astro de TV Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) e seu dublê de longa data Cliff Booth (Brad Pitt) que traçam seu caminho em meio à uma indústria que eles nem mesmo reconhecem mais.

Comentário: Não costumo colocar filmes americanos no blog, salvo exceções... e esta tinha que ser uma. Devo estar muito velho para demorar tanto tempo para assistir um Tarantino. Estava com o pé atrás e caí do cavalo. Sou um fã de filmes dos anos 60, não é por menos que tenho o blog Oráculo Alcoólico que é praticamente 90% só de filmes dessa década. Algumas piadas como "Sergio Corbucci, o segundo melhor diretor de faroeste italiano" ou "Você pensa que está onde? Em algum set do Andrew McLaglen?" me fizeram rir alto. O filme é uma enorme homenagem ao cinema dos anos 60 e é referência o tempo todo, mas é completamente possível assistir e se envolver sem essas referências, mas garanto que não vai aproveitar tanto. Detalhes e mais detalhes que devem passar batido para o telespectador desavisado (como quando o narrador diz que o ator não gostava de gravar na Itália por ser uma Torre de Babel: os atores falavam em seus próprios idiomas durante as gravações naquele época e depois eram dublados na sala de edição, muitos atores nem eram dublados por sua própria voz). Galera que reclamou do ritmo "lento" do filme tem que parar de assistir Velozes e Furiosos e companhia porque o seu cérebro está derretendo. Teve duas coisas que me incomodou: o final e o fato de praticamente não ter um Charles Manson no filme, queria ver um Manson alá Tarantino. Ver a Sharon Tate em um quarto de bebê foi uma das coisas mais pesadas que já vi na história do cinema, acho que faltou tato ao Tarantino em algumas coisas (como a polêmica com o Bruce Lee), mas tato é uma coisa que ele nunca teve. O fato do filme desvirtuar a história real é respondida no próprio título: Era uma vez em... Hollywood, a fábrica de mentiras, o mundo de fantasia, o faz de conta. O filme é isso, sem contar todas as homenagens a fatos reais misturados com a magia tarantinesca. Eu gostei bastante do filme, não esperava que fosse gostar tanto. PS: Onde foi que a humanidade se desvirtuou e começou a fazer as bostas de músicas da atualidade que fazem sucesso, pega a trilha desse filme e vai descobrir o que é música.

domingo, 12 de setembro de 2021

SUBMARINO

Título Original: Submarino
Diretor: Thomas Vinterberg
Ano: 2010
País de Origem: Dinamarca
Duração: 110min
Nota: 7

Sinopse: Uma história sobre dois irmãos separados, marcada por uma infância sombria. Eles foram separados um do outro quando eram jovens depois de uma tragédia que dividiu a família. Hoje, a vida de Nick está encharcada de álcool e atormentada pela violência, enquanto seu irmão mais novo, um pai solteiro, luta como um viciado para dar a seu filho uma vida melhor. Seus caminhos se cruzam, tornando o confronto inevitável, mas a redenção ainda é possível?

Comentário: Filme indicado ao Urso de Ouro no Festival de Berlim. Não sou um grande conhecedor dos filmes do Vinterberg, falha minha, mas lembro de assistir o seu cultuado Festa de Família lá no final dos anos noventa e lembro que foi um filme que mexeu bastante comigo. Este não foi diferente no quesito mexer comigo, mas está longe de chegar perto da obra prima do diretor. O decorrer é lento e de em alguns momentos parece que o filme não nos leva a lugar nenhum e tenta ficar nos chocando com situações que talvez não precisasse, mas o final foi catártico para mim por puro motivo pessoal mesmo. Lágrimas brotaram do meus olhos meio que de maneira inconsciente, de um jeito diferente que de outros filmes. Talvez haja algumas falhas na narrativa, lacunas que poderiam ser mais exploradas, mas o resultado final é acima da média, com excelentes atuações que revezam o protagonismo e com a direção competente do Vinterberg que é a cereja no bolo. As ligações de eventos que se entrelaçam nas duas histórias foi uma sacada muito boa, dá pra ir construindo a linha do tempo das coisas. Talvez o fato de estar morando na Europa e ver tanto usuário de drogas pesadas e injetáveis, que parece ser comum por aqui, tenha me aproximado mais do filme.

domingo, 5 de setembro de 2021

EM PEDAÇOS

Título Original: Aus Dem Nichts
Diretor: Fatih Akin
Ano: 2017
País de Origem: Alemanha
Duração: 106min
Nota: 9

Sinopse: Katia Sekerci é uma alemã que leva uma vida normal ao lado do marido turco Nuri, e do filho de 7 anos. Um dia, ela é surpreendida ao descobrir que ambos morreram devido a uma bomba colocada no escritório do marido. Desesperada, Katia decide lutar por justiça ao descobrir que os responsáveis foram integrantes de um grupo neonazista.

Comentário: Vencedor dos prêmios de melhor filme estrangeiro no Globo de Ouro e de melhor atriz no Festival de Cannes, Diane Kruger dá um show aqui de interpretação. Um filme que vale a pena ser visto pelo dedo na ferida que cutuca sobre o racismo velado que ainda existe na Alemanha, se atentem a relação entre a personagem principal e a mãe em algumas cenas, por exemplo. Para um mundo que vê se tornando cada vez mais dividido de novo por questões étnicas e políticas, este filme se torna extremamente necessário, pois são as vidas de inocentes que sempre estarão na linha de frente. Há algumas conveniências para o roteiro chegar onde quer, acho que podiam ter trabalhado mais nisso para o filme merecer um dez. São detalhes que durante o filme não faz a menor diferença, vale muito a assistida e preparem o psicológico. PS: fogo nos fascistas!

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

O PÃO E O BECO

Título Original: Nan va Koutcheh
Diretor: Abbas Kiarostami
Ano: 1970
País de Origem: Irã
Duração: 10min
Nota: 8

Sinopse: A caminho para casa, de volta da aula, um garoto se depara com um cão nada amigável que impede a sua passagem por um beco. Primeiro filme de Abbas Kiarostami, este curta já mostra, com graça e poesia, a sensibilidade do autor para com os temas que exploraria mais tarde em profundidade.

Comentário: Kiarostami era um gênio! Já no primeiro trabalho ele mostra isso. Um curta simples, com a história mais batida e simples possível, mas ainda assim um verdadeiro deleite para os sentidos. O mundo infantil, onde ele mostraria toda a sua maestria no filme "Onde Fica a Casa do Meu Amigo?", nos é introduzido aqui como um aperitivo. Em dez minutos ele consegue nos passar suspense, apreensão, companheirismo, simplicidade, risos... e o que mais estiver disposto a extrair. A vida cíclica, Ouroboros: a serpente que come o próprio rabo, o infinito. Detalhe para a mulher que passa rapidamente com a tradicional vestimenta muçulmana em um Irã pré-revolução, mostrando que a religião está enraizada nas entranhas do país já antes do desastre que foi 1979.