quinta-feira, 29 de outubro de 2020

CACHORROS

Título Original: Los Perros
Diretor: Marcela Said
Ano: 2017
País de Origem: Chile
Duração: 95min
Nota: 8

Sinopse: Mariana, uma mulher de quarenta e dois anos e de classe alta, desenvolve uma amizade com seu instrutor de equitação, que vive coberto por um passado sombrio.

Comentário: O filme é muito bem construído e reflete tudo o que países que sofreram com a ditadura tem de problemáticos hoje como cicatrizes que se recusam a sarar. Podíamos transferir facilmente a história para o Brasil (Ah, mas no Brasil os militares não foram presos, né? Então não dá... porque o Brasil foi bunda mole até na hora de lidar com isso). A personagem principal é a típica elite podre que representa tudo de tosco da sociedade, cercada de personagens mais toscos ainda. O filme é uma ode pitoresca desse reflexo de dinossauros da ditadura e suas crias e perpetuações contínuas. Achei bem interessante os paralelos e as profundidades nas entrelinhas. Apesar de dar a mesma nota, prefiro o filme anterior da diretora (O Verão dos Peixes-Voadores), achei mais poético e com uma personagem que dava para se identificar. Não é um filme que sairia indicando por aí, é muito de nicho, mas eu gostei.

terça-feira, 27 de outubro de 2020

CHONGQING BLUES

Título Original: Rizhao Chongqing
Diretor: Xiaoshuai Wang
Ano: 2010
País de Origem: China
Duração: 114min
Nota: 8

Sinopse: Lin, capitão de um barco, volta a casa após 6 meses no mar e é informado da morte do filho de 25 anos, Lin Bo, morto pela polícia. Volta a Chongqing, cidade onde vivia antigamente, para descobrir o que se passou e percebe-se de que quase não conhecia o filho. Compreende então a que ponto a sua ausência pesou na vida do filho.

Comentário: O filme foi indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes e me surpreendeu muito positivamente. Um filme com uma narrativa bem simples, mas que é muito bom na forma de contar sua história. Em nenhum momento senti muita empatia pelo personagem principal, muito bem interpretado por Xueqi Wang, que nada mais foi que um covarde filho da puta que abandonou a família. Mas é neste ponto que o filme coloca o dedo na ferida, para pensarmos o quanto tudo não poderia ter sido responsabilidade dele. Um filme sobre a pancada que a vida da na gente quando erramos feio em nosso passado e é impossível reparar os danos que causamos. Achei que o filme podia enrolar um pouco menos, mas no geral ele funciona muito bem. Direção competente e profundo como as Fossas Marianas.

terça-feira, 20 de outubro de 2020

NÃO HÁ MAL ALGUM

Título Original: Sheytan Vojud Nadarad
Diretor: Mohammad Rasoulof
Ano:2020
País de Origem: Irã
Duração: 150min
Nota: 10

Sinopse: Quatro histórias que são variações dos temas cruciais da força moral e da pena de morte, que perguntam até que ponto a liberdade individual pode ser expressa sob um regime despótico e suas ameaças aparentemente inevitáveis.

Comentário: Vencedor mais do que merecido do Festival de Berlim, afirmo aqui sem sombra de dúvida de que este é o melhor filme de 2020. Depois do seu bom Um Homem Íntegro, Rasoulof volta a nos brindar com uma verdadeira obra de arte do cinema, não me sentia em êxtase com um filme desde que assisti Os Campos Brancos (do mesmo diretor). São quatro histórias sobre o mesmo tema e é difícil eleger uma melhor. A primeira é um impacto mais pesado que um murro na cara, a segunda trabalha sua tensão, a terceira acerta a consciência e a última é quase um poema lírico que só o diretor sabe fazer. Tudo no filme funciona, a direção é fantástica e chama muito a atenção já que o diretor está proibido de realizar filmes no Irã e até onde sei cumpre pena domiciliar desde que lançou Os Campos Brancos. O filme é uma demonstração da força e da luta contra o governo totalitário do país. Belas atuações e destaque para a cena em que o marido pinta o cabelo da esposa (No Irã as mulheres não podem mostrar o cabelo, então essa cena aparecer no filme foi um baque para mim). Não vou comentar mais para não estragar a experiência. ASSISTAM! Filme mais do que obrigatório!

terça-feira, 6 de outubro de 2020

O APARTAMENTO

Título Original: Forushande
Diretor: Asghar Farhadi
Ano: 2016
País de Origem: Irã
Duração: 123min
Nota: 8

Sinopse: Forçado a sair de seu apartamento devido a trabalhos perigosos em um prédio vizinho, Emad e Rana se mudam para um novo apartamento no centro de Teerã. Um incidente ligado ao anterior inquilino vai mudar drasticamente a vida do jovem casal.

Comentário: Depois de faturar o Oscar por A Separação pela categoria de melhor filme estrangeiro, Asghar Farhadi conquistou aqui a segunda estatueta para o Irã (Sim, foi a primeira e a segunda premiação iraniana na história do Oscar respectivamente). O ator, Shahab Hosseini, faturou aqui também o prêmio de melhor ator em Cannes. O filme é muito bom, mas me deixou muito nervoso, como de costume em qualquer dos filmes do Farhadi, mas esse foi o mais incômodo. O amálgama do filme com a peça teatral de Arthur Miller (A Morte do Caixeiro Viajante) é enorme e acho que eu teria aproveitado muito mais se tivesse lido o livro antes de assistir este filme, não que seja obrigatório a leitura, mas faz uma diferença com certeza. É o terceiro filme que assisto do diretor, e apesar deste ser bem acima da média, confesso que preferi os outros dois. A atriz, Taraneh Alidoosti, também esbanja talento. As discussões e o final aberto a inúmeras possibilidades são o de praxe do diretor, ou seja, mais profundo que as Fossas Marianas. Uma curiosidade é que o diretor começou a filmar este filme na Espanha com a atriz Penelope Cruz (que fizeram juntos depois o excelente Todos Já Sabem), mas resolveu voltar para o Irã para realizá-lo em seu país natal.

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

ALÉM DA LINHA VERMELHA

Título Original: The Thin Red Line
Diretor: Terrence Malick
Ano: 1998
País de Origem: EUA
Duração: 170min
Nota: 10

Sinopse: Durante a Segunda Guerra Mundial, fica claro que o resultado da batalha de Guadalcanal influenciará fortemente o avanço japonês no Pacífico. Assim, um grupo de jovens soldados é enviado para lá, trazendo alívio para as esgotadas unidades da marinha. Lá os recém-chegados conhecem um terror que nem imaginavam, mas no meio deste desespero surgem fortes laços de amor e amizade.

Comentário: Difícil escrever sobre este filme que muito provavelmente é o meu filme americano preferido de todos os tempos. Vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim e completamente menosprezado pelo Oscar para O Resgate do Soldado Ryan (que é legal, mas não chega nem na sujeira da unha deste). Além da Linha Vermelha é o melhor filme de guerra já realizado para mim, seguido de Apocalipse Now. Um filme que simplesmente desmembra em detalhes tudo o que precisamos saber sobre o ser humano com uma das melhores fotografias já feita (Realizada por John Toll). Acho que é daqueles filmes que ou você ama ou você odeia, sem muito meio termo, onde o personagem principal é a guerra e não algum ator específico. Tive o privilégio de assistir no cinema quando estreou, e esta semana assisti pela 4ª vez. Um filme de quase três horas de duração que passa como um raio para mim, nem um pouco cansativo.

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

SE EU QUISER ASSOBIAR, EU ASSOBIO

Título Original: Eu Când Vreau să Fluier, Fluier
Diretor: Florin Serban
Ano: 2010
País de Origem: Romênia
Duração: 89min
Nota: 7

Sinopse: Silviu, um jovem de 18 anos, está a duas semanas da liberdade, e precisa evitar problemas com outros presos no reformatório onde cumpre pena. Ao saber que sua mãe reapareceu, e pretende levar seu irmão mais novo para morar com ela na Itália, Silviu se desespera e aguarda ansioso o momento de ir embora. Além disso, ele se apaixona por uma estagiária de serviços sociais que trabalha na prisão. Silviu precisa manter o bom comportamento, ou suas chances de salvar sua família e sua paixão serão totalmente destruídas.

Comentário: Ganhador do Grande Prêmio do Juri no Festival de Berlim. O filme cumpre o seu papel e é até acima da média, mas mesmo tendo um excelente momento de plot twist nos seus trinta minutos finais, acaba perdendo um pouco na irrealidade da situação. Os motivos e a maneira de solucionar seus problemas me pareceu um tanto quanto inocente e simplista demais. A direção e o resultado final do filme com um orçamento bem modesto mostra que não é preciso obras superfaturadas para se chegar a um bom filme. As atuações também estão ótimas e transmitem uma naturalidade espontânea. Acho que podiam ter explorado melhor algumas situações para dar mais credibilidade sobre as ações do personagem.  É difícil falar mais sobre o filme sem dar nenhum spoiler, é algo que o telespectador tem que decidir por si mesmo.

terça-feira, 15 de setembro de 2020

TERRA DE MINAS

Título Original: Under Sandet
Diretor: Martin Zandvliet
Ano: 2015
País de Origem: Dinamarca
Duração: 101min
Nota: 9

Sinopse: Um grupo de jovens prisioneiros de guerra alemães, outrora combatentes nazistas, recebem uma nova tarefa ao fim da Segunda Guerra Mundial: precisam escavar e remover com as próprias mãos 2 milhões de minas terrestres em "terras inimigas", mesmo que alguns deles não tivessem sequer experiência na guerra, para compensar sua contribuição com o regime de Hitler.

Comentário: O filme começa com um erro grosseiro de continuidade, onde o general dinamarquês arranca a bandeira de seu país das mãos de um alemão, durante a ação a bandeira desaparece das suas mãos, para milagrosamente aparecer de novo e sumir mais uma vez e assim sucessivamente. Imaginei que ia assistir a um filme mal feito, mas estava completamente enganado, os erros do filme pararam por ali. O filme foi indicado para o Oscar de melhor filme estrangeiro. A fotografia é muito bonita, mas é o roteiro que é poderoso, uma história onde nada é preto no branco, cheia de áreas cinzentas sobre a moralidade da guerra. Há vários clichês ao longo do filme, mas o roteirista consegue usar eles ao seu favor. O personagem do general dinamarquês vivido pelo ator Roland Møller cresce muito durante o filme e nos coloca em situações de identificação mesmo quando não está sendo bonzinho. O ator Louis Hofmann, mais conhecido como o Jonas da série Dark, consegue mostrar que tem potencial como um bom ator, coisa que a série não conseguiu aproveitar. Um excelente filme para entendermos que nem todo alemão era um monstro nazista e que a maioria dos soldados estavam apenas em um fogo cruzado sem entender muito bem porque. Conseguiu me emocionar.

terça-feira, 8 de setembro de 2020

SEBBE

Título Original: Sebbe
Diretor: Babak Najafi
Ano: 2010
País de Origem: Suécia
Duração: 79min
Nota: 6

Sinopse: A história do jovem de 15 anos Sebastian (Sebbe), que passa suas horas vagas catando lixo e componentes eletrônicos, e com esses detritos ele habilmente constrói novos objetos, inclusive um motor para a sua velha bicicleta. É um garoto tímido e constantemente intimidado pelos seus colegas de classe, quando não pelo seu vizinho que também o agride sexualmente, além da convivência com a sua mãe bipolar, que em certos momentos lhe dá carinho e em outros o insulta.

Comentário: Primeiro longa metragem do diretor iraniano que muito provavelmente vive em exílio na Europa. As atuações são bem interpretadas e toda a parte técnica é muito bem conduzida, mas para por aí. O filme parece forçar situações ao extremo para tentar chocar o espectador sem convencer muito nelas. Me custa a acreditar que o serviço social da Suécia é tão omisso ou que algumas situações de abuso ficariam por isso mesmo. É legal o levantamento da questão bullying no filme, eu mesmo vivi ou assisti situações bem similares na escola, mas o comportamento do personagem de até tentar uma aproximação do agressor foi bem patética. Um filme feito de momentos, mas que não me agradou de forma geral.

domingo, 23 de agosto de 2020

VENTOS DE AGOSTO

Título Original: Ventos de Agosto
Diretor: Gabriel Mascaro
Ano: 2014
País de Origem: Brasil
Duração: 75min
Nota: 6

Sinopse: Um estranho pesquisador de som de ventos alísios chega numa pequena vila costeira. Agosto trás o mar revolto e os ventos fortes. Sua chegada tem impacto na relação de dois jovens habitantes da vila, Shirley e Jeison. O filme narra um sutil duelo entre a vida e a morte, a perda e a memória, o vento e o mar.

Comentário: Acho que fui assistir esperando demais do filme, mas confesso que decepcionou um pouco. O filme é um primor na qualidade técnica, fotografia, direção e até mesmo as atuações se destacam. Parece que estamos vendo mais um documentário sobre o local do que um filme onde atores interpretam, pelo menos em parte. Dandara de Morais é de uma beleza tão natural que já nos conquista já no começo, mas que é muito mal aproveitada pelo roteiro sem um fio narrativo que podia fazer muita mais pelo filme do que fez. Acho que é exatamente o roteiro o ponto fraco do filme, este tipo de roteiro muito aberto e abstrato funciona em alguns filmes, mas neste, para o tipo de lugar e personagens acaba tropeçando. Gostei de assistir, mas tinha um potencial muito maior.

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

UM QUARTO EM ROMA

Título Original: Habitación en Roma
Diretor: Julio Medem
Ano: 2010
País de Origem: Espanha
Duração: 107min
Nota: 10

Sinopse: Depois de se conhecerem em um bar em Roma, Natasha e Alba passam a noite juntas. As intensas experiências que conhecerão naquela noite passarão da luxúria à descoberta do amor, em jogos de mentiras, verdades e revelações, tudo em uma belíssima plástica construída pelo diretor Julio Medem.

Comentário: Um filme extremamente real e que me tirou lágrimas, o Julio Medem está virando especialista em fazer isso comigo. Acho que só vai entender o filme, ou sentir o filme, quem já viveu um amor assim. Existem, já vivi amores que duraram anos e já vivi amores que duraram dias... e é bem isso que o filme mostra. É como Robert Jones nos diz em Por Quem os Sinos Dobram, escrito por Ernest Hemingway, "há vidas que duram dias". A certeza de que você vai ir embora e toda aquela lembrança vai ficar lá, em algum lugar perdido neste mundão e no nosso coração para sempre... e a gente ainda sonha que poderia ter durado para sempre. Se você nunca viveu um amor assim, não acho que vá entender o filme, e sinto pena por você. Achei que o filme deveria ter terminado no café da manhã, mas nada que tenha estragado a experiência. Toda a bagagem histórica nas entrelinhas é fantástica, deixa o filme muito mais interessante. O jogo de mentiras e verdades entre elas da um excelente pano para manga para deixar as personagens mais reais, desenvolver os diálogos muito bem. A parte erótica é um mero detalhe no filme, que achei bem delicada, não existe uma apelação ao meu ver. Uma experiência visceral.

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

TANGERINAS

Título Original: Mandariinid
Diretor: Zaza Urushadze
Ano: 2013
País de Origem: Estônia
Duração: 83min
Nota: 10

Sinopse: A história de Ivo (Lembit Ulfsak), que com a ajuda do produtor de tangerinas Margus (Elmo Nüganen) e o médico Juhan (Raivo Trass), salva a vida do checheno Ahmed (Giorgi Nakashidze) e do georgiano Niko (Misha Meskhi), em um povoado estoniano da Abecásia no meio da guerra de 1992.

Comentário: Um enredo simples e com atuações marcantes que conseguem de maneira muito sutil desconstruir qualquer tipo de guerra. Um desses filmes que não conseguimos explicar muito bem porque é tão bom, porque tocam não em um sentimento individual, mas em algo que pertence a qualquer ser humano. Como se compartilhássemos  algo como espécie que foi esquecido a muito tempo atrás. O filme foi indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro como Melhor Filme Estrangeiro, mas no ano em que concorreu só tinha filme foda. Destaque para o ator Giorgi Nakashidze, que interpreta Ahmed, o cara conseguiu passar um carisma como poucos atores conseguem. Tão bom quanto um livro de Hemingway sobre a inutilidade da guerra.

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

O PORTÃO DE PARTIDA

Título Original: The Gate of Departure
Diretor: Karim Hanafy
Ano: 2014
País de Origem: Egito
Duração: 66min
Nota: 6

Sinopse: Uma meditação sobre tristeza, morte e aprisionamento psicológico que dispensa diálogo e narrativa para uma experiência visual que quebra as convenções.

Comentário: É um filme experimental que foge completamente do tipo de narrativa que as pessoas estão habituadas. Me remeteu um pouco da experimentação do filme Cartas Para Paul Morrissey, mas o filme escorrega na falta de um fio condutor na narrativa e isto atrapalha bastante o telespectador. O filme se mostra bastante pessoal para o diretor, que aborda o tema do suicídio da mãe em uma espécie de caleidoscópio de sentimentos auto-biográficos e esta entrega que ele faz vale a assistida. Há momentos poéticos que me lembraram O Espelho do Tarkovski, mas o geral da obra fica bem aquém do mestre russo. É um filme de cenas e sentimento, onde é possível se emocionar em pequenos detalhes. Gostei bastante da parte técnica, assistiria outro filme do diretor para ver sua evolução.

terça-feira, 4 de agosto de 2020

ENTRE DOIS MARES

Título Original: Between Two Seas
Diretor: Anas Tolba
Ano: 2019
País de Origem: Egito
Duração: 87min
Nota: 8

Sinopse: Uma família de uma área rural no Egito é dividida após um trágico acidente. A busca de uma mãe por redenção, vingança e esperança define os eventos dessa história dramática de uma sociedade esquecida.

Comentário: Primeiro longa metragem do diretor Anas Tolba e vencedor dos prêmios de melhor roteiro e filme narrativo no festival de cinema do Brooklyn. O filme é carregado de uma sensibilidade ímpar, sobre mulheres que são tratadas como mercadorias em uma sociedade machista e doente. A direção é espetacular, o diretor é extremamente talentoso e sabe muito bem aproveitar suas qualidades técnicas. As interpretações também são impecáveis. A narrativa do filme foge bastante do que a galera está acostumada, mas ao mesmo tempo tenta não ser uma narrativa difícil para quem nunca assistiu este tipo de filme sobre uma ótica de um povo completamente diferente de nós. Um filme de esperança, de tragédia, de sentimentos que muitas vezes não conseguimos controlar. O filme foi feito em colaboração com o Conselho Nacional das Mulheres do Egito e da UN Women. Impossível assistir e não ser inundado por vários tipos de sentimentos diferentes. A mensagem religiosa geral é a única coisa realmente que não me desce, mas é a cultura deles, mas existe uma crítica bem construída de algumas pessoas religiosas que é muito boa também.

terça-feira, 28 de julho de 2020

POESIA

Título Original: Shi
Diretor: Chang-dong Lee
Ano: 2010
País de Origem: Coréia do Sul
Duração: 139min
Nota: 9

Sinopse: Mija vive com seu neto em uma cidade localizada nas encostas do rio Han. Por acaso, ela acaba entrando em uma "aula de poesia" e é desafiada pela primeira vez em sua vida a escrever um poema. Mija nasce novamente. Como uma criança que se surpreende com a vida, ela parece estar vendo tudo como se fosse a primeira vez, mas quando a realidade cruel chega, ela acaba tendo que retornar e ver que o mundo não é tão bonito quanto ela imaginava.

Comentário: Um filme muito bem arquitetado e vencedor do prêmio de melhor roteiro em Cannes. A atriz, Jeong-hie Yun, é talvez o principal motivo do filme funcionar tão bem, ela leva o filme nas costas fácil fácil. Ela era uma atriz que fez muitos filmes desde a década de 60 no país e que estava aposentada das telas desde 1994, voltou a ativa apenas para fazer este filme desde então, o filme merece ser assistido nem que seja para ver sua atuação. O filme é bem sútil, mesmo quando aborda assuntos pesados, e pode parecer que não vai chegar a lugar nenhum em determinado momento, mas o desfecho vale muito toda a experiência, diria até que tem um toque de Machado de Assis, simplesmente brilhante. Acho que tanto este filme como o Cópia Fiel mereciam muito mais ganhar o Palma de Ouro naquele ano. Tecnicamente o filme é bastante competente e nos apresenta um dos melhores filmes daquele ano.

terça-feira, 21 de julho de 2020

UMA VIDA OCULTA

Título Original: A Hidden Life
Diretor: Terrence Malick
Ano: 2019
País de Origem: EUA
Duração: 174min
Nota: 9

Sinopse: Santa Radegunda, Áustria, 1939. Franz e Fani levam uma vida feliz em uma casa no campo, até serem surpreendidos com a convocação dele para servir ao exército de Adolf Hitler, que acabara de invadir o país. Contrário aos ideais nazistas, Franz se recusa a atender ao chamado. Com o tempo, ele e sua esposa passam a sofrer preconceito dentro da própria comunidade em que vivem.

Comentário: Malick é um dos meus diretores favoritos de todos os tempos, aqui ele não nos decepciona com mais um filme com suas características mais marcantes. Poético e reflexivo. Eu não consigo pensar em ninguém que apoie a decisão do personagem, que para mim não fez aquilo que acreditava baseado no que era certo ou errado, mas sim baseado em sua religião. Temos exemplos durante toda a guerra do lado alemão de pessoas que não acreditavam nos ideais de Hitler, mas fizeram o necessário para proteger suas famílias e ainda de quebra tentar mostrar de maneira firme suas posições contrárias, como é o caso de August Landmesser e do famoso escritor Ernst Jünger. Acredito que o filme sirva também para criticar a religião e o caminho de fé cega que as pessoas trilham nela. Tirando o fato de querermos bater no personagem com as cagadas de atitude que toma, o filme é maravilhoso e nos coloca em várias discussões de valores morais em praticamente toda as quase três horas de sua duração. A trilha sonora é fantástica e fico imaginando o trabalhão que deve dar editar um filme desse, que merecia fácil qualquer prêmio de edição e fotografia em que concorresse. Coração aperta com a última atuação de Bruno Ganz, que faz uma pequena participação. O que realmente me irritou no filme é ver um filme que se passa na Áustria, com todo o elenco alemão ou austríaco falando em inglês e em algumas partes em alemão, acho que o Malick pecou pela primeira vez em um filme ao americanizar o que não precisava.

domingo, 19 de julho de 2020

O ÚLTIMO POEMA DO RINOCERONTE

Título Original: Fasle Kargadan
Diretor: Bahman Ghobadi
Ano: 2012
País de Origem: Irã
Duração: 88min
Nota: 8

Sinopse: O poeta curdo-iraniano Sahel acaba de receber uma sentença de 30 anos de prisão no Irã. Agora a única coisa que vai mantê-lo com vontade de continuar vivendo é o pensamento de reencontrar sua esposa que pensa que ele está morto há mais de 20 anos.

Comentário: Apesar do filme ser feito no Iraque e Turquia, classifico-o como um filme iraniano, já que sua não realização no país foi devido as perseguições políticas de seus realizadores. Fazia seis anos que estava com este filme aqui para ver e chega a ser uma coincidência que tenha assistido depois de ver Incêndios, que tem vários pontos similares a trama, mas preferi este. O filme de Ghobadi é mais poético, não tem medo de mostrar sua crítica aos reais motivos à revolução iraniana de 1979 e também é mais pé no chão ao contar o que se propõe. O filme tem lá seus tropeços, mas consegue um bom resultado e possui uma fotografia belíssima. É interessante entendermos também a força do filme para a própria população iraniana ao ter Behrouz Vossoughi no papel principal, desde 1979 o ator nunca havia feito um filme iraniano, por recusa pelo exílio imposto, mas aceitou devido ao papel que diz muito sobre tudo isso, ele é muito querido pelo público no Irã. Também é fácil entender o porque a escolha de uma atriz não iraniana no papel que é de Monica Bellucci, já que poderia trazer graves consequências a uma atriz que não usaria o hijab e fizesse cenas de nudez e sexo. Vemos aqui também o homem com a pior lábia para conquistar uma mulher na história do cinema. As cenas com leitura de poesia me remeteram ao filme O Espelho de Tarkovski. Um filme que pode passar batido se a pessoa não tem muita afinidade com toda a merda que acontece no Irã nas últimas décadas.

sexta-feira, 17 de julho de 2020

INCÊNDIOS

Título Original: Incendies
Diretor: Denis Villeneuve
Ano: 2010
País de Origem: Canadá
Duração: 130min
Nota: 6

Sinopse: Na leitura do testamento de sua mãe Nawal, os gêmeos Simon e Jeanne descobrem que eles tem um irmão e que o pai, que os dois achavam que havia falecido, estava vivo. Dentre muitos outros desconfortáveis pedidos, o seu final é de que eles achem tanto seu irmão quanto seu pai e lhe entreguem duas cartas que lhes são entregadas seladas. Nawal sempre foi um mistério para seus dois filhos, e a relação entre eles sempre foi muito difícil. Simon fica com raiva e resiste, mas Jeanne se sente no dever de respeitar o desejo de sua mãe.

Comentário: Todo mundo falava deste filme, fui assistir agora e apesar de ser um bom filme o achei superestimado. Existem vários pontos que me incomodaram, o fato de não revelar onde a ação se passa é quase como colocar todo o Oriente Médio ou país muçulmano no mesmo barco, uma visão muito limitada que o pessoal tem do ocidente. A violência, em muitos momentos, gratuita parece tentar chocar o telespectador, sem tratar dos assuntos de maneira mais esclarecida, pois já que o lugar é meio que fictício, tudo o que está acontecendo no país é tratado de maneira rasa, inclusive para não identificar o lugar. Chega a ser ridículo imaginar que uma mulher fique em uma prisão daquela por quinze anos e é estuprada apenas uma vez (infelizmente a realidade é outra). Mas o pior de tudo foi o plot twist alá Shyamalan do final, completamente desnecessário, eu não entendo essa mania de querer fazer algo mirabolante no final, o filme estava indo muito bem sem nada daquilo. A direção do Villeneuve é ótima, acho que é um diretor que se destaca mais pela parte técnica do que pelos seus filmes: A Chegada é um filme legal, mas acho que por ter lido o conto em que se baseia antes, o filme ficou muito aquém. Blade Runner 2049 é uma porcaria, mas no quesito direção, todos eles tem uma qualidade técnica indiscutível. De resto o filme é bom, a trama que vai se construindo com pedaços do passado se sobrepondo a busca de Jeanne pela verdade é muito bem construída. Se o filme fugisse do padrãozinho hollywoodiano e tentasse algo mais profundo, seria um filme muito melhor. Lógico que para a galera acostumada com filme americano, quando bate de cara com este, parece um filme incrível, dá para entender todo o hype entorno dele.

quarta-feira, 8 de julho de 2020

ELENA

Título Original: Elena
Diretor: Andrey Zvyagintsev
Ano: 2011
País de Origem: Rússia
Duração: 109min
Nota: 7

Sinopse: Quando uma doença súbita e uma reunião inesperada ameaçam a possível herança da dona de casa obediente, Elena, ela deve traçar um plano desesperado ...

Comentário: Filme vencedor do Prêmio Especial do Juri da premiação Um Certo Olhar. O prêmio é merecido já que o filme é tecnicamente perfeito, e bota perfeição nisso. Zvyagintsev mostra aqui toda a competência como diretor, desde a iluminação, fotografia, trilha sonora, atuações, enfim... tudo é perfeito, mas ao mesmo tempo ele nos entrega um filme hermético, frio demais, sem muito sentimento. Acredito que tudo foi milimetricamente pensado, já que a história combina com esse "jeito" de fazer o filme, mas por outro lado tem a experiência do telespectador que poderia ser um pouco melhor. Eu não me senti em nenhum momento ligado emocionalmente aos personagens ou ao filme de maneira geral, fui um mero observador, e isto foi estranho.

terça-feira, 7 de julho de 2020

BIUTIFUL

Título Original: Biutiful
Diretor: Alejandro González Iñárritu
Ano: 2010
País de Origem: Espanha
Duração: 148min
Nota: 7

Sinopse: Esta é a história de um homem que vive uma queda livre emocional. Em sua viagem em busca de redenção, a escuridão ilumina o seu caminho. Conectado ao outro mundo, Uxbal é um trágico herói e pai de dois filhos que, ao sentir o perigo iminente da morte, batalha contra uma dura realidade e um destino que o impede de perdoar, perdoar-se, por amor e para sempre.

Comentário: Filme que deu o prêmio de melhor ator em Cannes para Javier Bardem, merecido, já que é ele que segura o filme aqui. Não foi um filme que me agradou muito, a narrativa é muito caótica e se estende demais sem focar em muita coisa. O filme é profundo sem se aprofundar em nenhum dos assuntos que nos apresenta, o que não é ruim necessariamente, foi o estilo que o diretor escolheu seguir, mas ao meu ver tornou o filme um pouco longo demais e arrastado. Teve horas que tive que parar para brincar com meu cachorro para tirar o peso que o filme carrega. Um filme que tem seus momentos, mas prefiro outros do diretor. O filme concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro pelo México, mas é um filme todo feito na Espanha com atores espanhóis, classifico o filme mais como espanhol do que como mexicano. A trilha sonora é um espetáculo a parte.

segunda-feira, 6 de julho de 2020

O CORPO

Título Original: El Cuerpo
Diretor: Oriol Paulo
Ano: 2012
País de Origem: Espanha
Duração: 111min
Nota: 10

Sinopse: O corpo de uma mulher desaparece misteriosamente do necrotério sem deixar qualquer vestígio. O Inspetor Jaime Peña investiga o estranho acontecimento com a ajuda de Alex Ulloa, o viúvo da mulher desaparecida.

Comentário: O diretor já havia me conquistado com o excelente Um Contratempo, mas este filme anterior é ainda melhor. Com uma trama bem amarrada e um ritmo frenético, que virou uma espécie de marca registrada do diretor, O Corpo merece ser visto e revisto com toda a atenção nos detalhes. Um filme de mistério que nos deixa ligado nos 220V do começo ao fim. Quando o filme termina você percebe quase que uma genialidade em tudo que o diretor (que também é o escritor) fez até ali. Não fica devendo em nada para nenhum filme policial americano, na verdade é até muito melhor que a maioria, já que não sou muito fã de filme americano. Há um remake indiano deste filme no Netflix com o nome Um Corpo Desaparecido, não vi, mas sempre priorizo assistir a obra original. Não comentar mais nada para não dar spoiler, vai correndo assistir isso aqui!

sábado, 4 de julho de 2020

O CAVALO DE TURIM

Título Original: A Torinói Ló
Diretores: Béla Tarr & Ágnes Hranitzky
Ano: 2011
País de Origem: Hungria
Duração: 155min
Nota: 9

Sinopse: Uma voz conta, sem imagens, que em Turim, no dia 3 de janeiro de 1889, Friedrich Nietzsche saiu pela porta do número 6 da Via Carlo Alberto para caminhar ou para buscar suas correspondências nos Correios. “Não muito longe, aliás, bastante longe dele, um cocheiro estava tendo problemas com o seu teimoso cavalo”, conta o narrador. Apesar de todos os esforços do cocheiro, o animal se recusava a mover-se. O dono do cavalo perdeu a paciência e começou a chicoteá-lo. Nietzsche teria surgido no meio da “multidão” e interrompe a sessão de tortura ao colocar os braços ao redor do pescoço do cavalo, para a ira do cocheiro. Levado por um vizinho para casa, ele teria ficado dois dias silencioso no sofá, até que teria dito: “Mãe, eu sou um tolo”. Segundo o narrador, Nietzsche teria vivido mais 10 anos, calmo e louco, aos cuidados da mãe e das irmãs. Mas sobre o cavalo, não se soube mais nada. A partir daí, mergulhamos na história de um cavalo castigado, seu dono e filha. Uma história silenciosa e louca, que reflete o “fim do mundo” ou, pelo menos, da “Humanidade”.

Comentário: Filme vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim. O que dizer desse filme? Eu não indicaria para ninguém, pois ele não é um filme fácil que agradaria qualquer pessoa. O filme é tecnicamente perfeito, a fotografia, atuações, direção de arte, iluminação... enfim, tudo é perfeito. O filme é longo e aparenta não acontecer nada, como o próprio diretor já disse: "É uma anti-história". Mas é impressionante como ele nos diz tanto, em cada detalhe há a futilidade de nossa existência. O diálogo da obra com Nietzsche é enorme. Não há muito o que dizer, mas ao mesmo tempo há tanto. Uma resenha difícil de fazer já que acredito que os significados e percepções da película são exclusivas de cada um que a assista. Para mim há uma certa referência a diretores como Ingmar Bergman (Principalmente ao filme O Sétimo Selo) e Victor Sjöström. Para mim valeu demais a experiência, não sei para você.

quinta-feira, 2 de julho de 2020

A AUSÊNCIA DE DAMASCOS

Título Original: The Absence of Apricots
Diretor: Daniel Asadi Faezi
Ano: 2018
País de Origem: Paquistão
Duração: 48min
Nota: 6

Sinopse: Uma aldeia nas montanhas do norte do Paquistão. Certo dia, um deslizamento de terra bloqueou o rio. Milhares de casas e campos foram inundados. Aldeias desapareceram. O que resta são as pessoas e suas histórias, transmitidas de uma geração para outra. E os fantasmas, que ainda estão vagando pela região.

Comentário: O diretor alemão, descendente de iranianos, faz aqui um filme parte documentário e parte experimental no Paquistão. O filme vale mais pelas imagens lindas do que pela sua narrativa em si. Ele filma o dia a dia de pessoas que moram em um lugar remoto que foi destruído por uma enchente e amarra tudo isso narrando tudo com uma lenda antiga local. O lugar é lindo, é até difícil conceber uma paisagem assim dentro da nossa realidade, mas ao mesmo tempo a realidade da vida das pessoas que vivem lá não é tão bonito como o cenário. Essa dicotomia é interessante, mas não há muito mais do que isso no filme. Acho que ele se perde ao não se posicionar como documentário, nem como uma narração da lenda que se propõe a contar.

domingo, 28 de junho de 2020

VIDEODROME: A SÍNDROME DO VÍDEO

Título Original: Videodrome
Diretor: David Cronenberg
Ano: 1983
País de Origem: Canadá
Duração: 89min
Nota: 10

Sinopse: O dono de uma pequena emissora de TV (James Woods) resolve ir atrás de uma atração mais subversiva para atrair audiência, quando conhece uma nova filosofia de programa: o Videodrome, cujos criadores possuem idéias bizarras e não-usuais para seu público.

Comentário: É possível um filme ser datado e atual ao mesmo tempo? A resposta é "SIM!", em um dos melhores filmes de David Cronenberg. Praticamente tudo o que o filme profetiza se torna realidade no mundo em que vivemos hoje, com a diferença que o controle mental não veio do vídeo e sim da Internet que surgiria depois de alguns anos. Um filme subversivo até mesmo para os padrões de hoje em dia, tudo no filme funciona, um roteiro rocambolótico que funciona como em qualquer livro de William Burroughs. Faz o telespectador pensar, coisa que está faltando em qualquer filme comercial nos dias de hoje. Acredito ainda que hoje, em pleno 2020, seria difícil achar astros do escalão de James Woods ou Debbie Harry para embarcar em uma ideia desta. Assistindo de novo recentemente depois de anos, diria que ele está ainda mais assustados agora. É meu amigos, demos passos demais para trás. Morte ao Videodrome! Viva a nova carne!

sábado, 27 de junho de 2020

APÓCRIFA

Título Original: Apocrypha
Diretor: Andrey Zvyagintsev
Ano: 2009
País de Origem: Rússia
Duração: 13min
Nota: 8

Sinopse: Um garoto pega a câmera do pai, com a qual filma acidentalmente o fim de um relacionamento amoroso.

Comentário: Curta excluído do filme Nova York, Eu Te Amo, onde os diretores de diferentes nacionalidades tiveram 24 horas para filmes e uma semana para editar. Apesar de ser em Nova York, o curta (que quase não tem diálogos) tem mais falas em russo do que inglês, talvez por isso foi um dos cortados do filme, americano não gosta de ler legenda. Eu gostei muito do curta, nunca tinha assistido nada do Zvyagintsev e me surpreendeu muito positivamente. Carla Gugino sempre linda, mesmo de longe. Só quem já teve o fim de um relacionamento doloroso entende o significado de sentir a tristeza ao ver aquela foto dentro do livro. Gostei da qualidade técnica, simples e usando vários artifícios, como a tela da câmera. Não vi ao filme Nova York, Eu Te Amo, mas por alguns minutos a mais não deveriam ter cortado este segmento.

sexta-feira, 26 de junho de 2020

PERDÃO DE SANGUE

Título Original: Falja e Gjakut
Diretor: Joshua Marston
Ano: 2011
País de Origem: Albânia
Duração: 109min
Nota: 9

Sinopse: Uma família Albanesa é virada de cabeça para baixo por um assassinato, resultando numa dívida de sangue que transforma Nik e sua irmã Rudina em alvos. Forçados a saírem da escola e permanecerem para cuidar dos assuntos e negócios da família.

Comentário: Ganhador do prêmio de melhor roteiro e do juri ecumênico no Festival de Berlin. Joshua Marston, o diretor do filme, é americano com mestrado em ciências políticas e graduado em ciências sociais por Berkeley, fala francês, italiano, espanhol, tcheco, alemão e albanês... tudo isso para dizer que o filme é simplesmente uma aula em forma de filme. E que aula! Achei simplesmente fantástico, como existem culturas tão diferentes em pleno século XXI dentro da Europa que nem fazemos ideia. A direção, atuação, roteiro, desfecho, tudo funciona muito bem. Galera que reclama do filme ser lento tem mais é que ir assistir Velozes e Furiosos. Acho que o único ponto em que o filme peca é não explorar mais a relação de Nik com alguns membros da família. Nesta época de pandemia, em plena quarentena, é um filme extremamente válido, já que o personagem é obrigado a ficar preso em casa e vai perdendo o controle emocional aos poucos por isso. Recomendadíssimo!

quarta-feira, 24 de junho de 2020

TIO BOONMEE, QUE PODE RECORDAR SUAS VIDAS PASSADAS

Título Original: Loong Boonmee Raleuk Chat
Diretor: Apichatpong Weerasethakul
Ano: 2010
País de Origem: Tailândia
Duração: 108min
Nota: 7

Sinopse: Sofrendo de insuficiência renal, Tio Boonmee resolveu passar os últimos dias de sua vida recolhido em uma casa perto da floresta e ao lado de entes queridos. Durante um jantar com a família, o espírito de sua esposa falecida aparece para ajudá-lo em sua jornada final.

Comentário: O filme ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes, e parando para pensar agora, acho que foi o ano mais fraco do festival. Não que o filme seja ruim, mas eu daria o prêmio para o Cópia Fiel do Kiarostami fácil naquele ano. A cena do jantar com a esposa e o filho no começo do filme é a melhor coisa que o filme tem, há outras boas cenas, mas ele queima o melhor já no começo, depois o filme vai decaindo. Ao meu ver faltou um fio condutor para amarrar melhor tudo, que ficou muito esparso, sem algo que conecte o telespectador ao filme. A parte técnica é excelente e algumas sacadas também, mas no fundo fica um gosto de "podia ser melhor", principalmente por ter ganho a Palma de Ouro. Até o filho macaco, que é genial, foi subaproveitado. Ainda não vi Poesia, do Chang-dong Lee, mas dizem que é excelente e poderia ter sido premiado no lugar deste também.

terça-feira, 23 de junho de 2020

UMA CARTA PARA O TIO BOONMEE

Título Original: A Letter to Uncle Boonmee
Diretor: Apichatpong Weerasethakul
Ano: 2009
País de Origem: Tailândia
Duração: 18min
Nota: 5

Sinopse: De dentro de uma cabana, numa aldeia qualquer do país, passa-se a ver o mundo exterior com o olhar sempre particular do diretor e de seus “espíritos” (prontos a reencarnar, como reza a tradição de sua religião). Nesse contexto, uma carta pessoal do diretor descreve a cidade de Nabua para seu tio Boonmee. Uma câmera em lento movimento desliza pelas casas desertas. As vozes de três rapazes são ouvidas. Conforme a noite se aproxima, o céu escurece.

Comentário: Não consegui entrar muito na vibe do curta, que é arrastado e não serve nem como introdução a algo do filme, Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas, como algumas pessoas dizem. O único ponto positivo é as imagens da natureza que o diretor consegue captar, ele realmente é muito bom nisso. O diretor ganhou a Palma de Ouro em Cannes com o filme que se seguiu e citado acima, acho que poderiam utilizar o personagem do Tio Boonmee melhor neste curta, trazer mais informações para servir como um gancho e deixar o telespectador com aquele gostinho de "quero mais", mas ele serve como o oposto, depois de assistir fiquei pensando "ok, será que eu devo assistir a um filme com mais de uma hora e meia de duração que vai ficar igual esse curta?"

segunda-feira, 22 de junho de 2020

UMA NOITE TRANQUILA

Título Original: Xiao Cheng Er Yue
Diretor: Qiu Yang
Ano: 2017
País de Origem: China
Duração: 15min
Nota: 8

Sinopse: Em uma pequena cidade chinesa sem nome, uma mãe angustiada tenta desesperadamente encontrar sua filha adolescente desaparecida durante toda a noite.

Comentário: O filme ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes como melhor curta metragem. O diretor teve um outro filme premiado no festival em 2019. Aqui temos uma história bem simples, mas que já na primeira cena podemos ver vários sentimentos da relação familiar nas entrelinhas. O filme é muito bem feito e o sentimento de desamparo e angústia da mãe é muito bem passado pela câmera. Sempre acho difícil de dar uma nota ou de fazer uma análise de um curta devido ao curto espaço de tempo para contar uma história. Acho que aqui o diretor consegue aquilo que queria, logicamente poderia trabalhar muito mais coisas, mas acho que foi satisfatório, principalmente o final, acho que se o final fosse diferente acabaria caindo em algum tipo de clichê.

sábado, 20 de junho de 2020

TRAMA FANTASMA

Título Original: Phantom Thread
Diretor: Paul Thomas Anderson
Ano: 2017
País de Origem: Inglaterra
Duração: 130min
Nota: 10

Sinopse: Década de 1950. Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis) é um renomado e confiante estilista que trabalha ao lado da irmã, Cyril (Lesley Manville), para vestir grandes nomes da realeza e da elite britânica. Sua inspiração surge através das mulheres que, constantemente, entram e saem de sua vida. Mas tudo muda quando ele conhece a forte e inteligente Alma (Vicky Krieps), que vira sua musa e amante.

Comentário: P.T. Anderson volta com tudo depois do seu regular Vício Inerente, com um trabalho técnico que virou o sinônimo de perfeição, imagens lindas e uma história muito bem construída. O filme é um amaranhado de significados, enquanto temos a parte bonita da elegância, da riqueza, da costura, também temos a parte imperfeita dos relacionamentos, a parte humana cheia de falhas. Woodcock é uma pessoa que cria relacionamentos tóxicos com todos a sua volta (sua falecida mãe, sua irmã, sua namorada), mas nos faz pensar o que não seria um relacionamento tóxico? Daí fica a grande questão, é possível fazer dar certo um relacionamento tóxico? É tudo bem bizarro e escrito de maneira magnífica. Eu recomendo fácil. Sem contar que é o último trabalho de Daniel Day-Lewis, o melhor ator de sua geração com certeza. Primeiro trabalho do diretor fora dos EUA.

domingo, 14 de junho de 2020

14 ESTAÇÕES DE MARIA

Título Original: Kreuzweg
Diretor: Dietrich Brüggemann
Ano: 2014
País de Origem: Alemanha
Duração: 110min
Nota: 10

Sinopse: Maria, uma garota de 14 anos, é uma católica fundamentalista, que vive sua vida de um jeito moderno, porém seu coração pertence a Jesus. Ela quer se tornar santa e alcançar o paraíso. Ninguém, nem mesmo um garoto pelo qual se interessa, conseguirá convencê-la do contrário.

Comentário: Vencedor do Urso de Prata e do Juri Ecumênico no Festival de Berlin. O filme mostra uma família que segue a fictícia ordem Fraternidade Sacerdotal São Paulo, que na verdade nada mais é do que a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, o diretor provavelmente mudou o nome para não ter problema com eles. O filme é maravilhoso, mostra didaticamente como a religião é uma coisa tóxica e autodestrutiva do ser humano. Em pensar que muitas pessoas ainda vivem isso em pleno século XXI, quando já era para termos nos desprendidos destas velhas crendices sem embasamento nenhum em nada. Não é um filme fácil de ver, dá uma certa angústia, são 14 cenas que traça o paralelo entre cenas cotidianas de Maria com momentos da crucificação de Cristo. O filme é de uma genialidade tremenda, qualidade técnica impecável e que nos faz refletir sobre muitas coisas sobre o assunto. Filme obrigatório neste momento em que evangélicos deitam e rolam no nosso país.

sexta-feira, 12 de junho de 2020

TURNO DA NOITE

Título Original: Night Shift
Diretora: Zia Mandviwalla
Ano: 2012
País de Origem: Nova Zelândia
Duração: 14min
Nota: 8

Sinopse: Uma mulher por volta dos quarenta anos de idade prepara-se para iniciar seu turno como faxineira de um aeroporto à noite. Ao passar por um colega, este lhe pergunta “fazendo turno duplo de novo?”. E aos poucos os indícios de que ela vive no aeroporto se acumulam.

Comentário: O curta metragem foi indicado em Cannes, bem curtinho e com poucos diálogos, pode ser encontrado no YouTube. Uma história que ao mesmo tempo que é simples também é bem pesada. O final corta o coração e nos faz pensar no abandono geral que uma grande parte da população se sente. Criamos máquinas de trabalhar que não vivem mais, que estão tão ocupadas em sobreviver que não conseguem nem sequer ter uma chance para sair do buraco, pois a sociedade coloca ela cada vez mais fundo. É interessante como a diretora brinca com os pré-julgamentos tão comuns hoje em dia nessa sociedade Facebook pronta para apontar o dedo na cara de todo mundo. Curta bastante competente nos quesitos técnicos e ótima atuação da atriz Anapela Polataivao

quinta-feira, 11 de junho de 2020

OS CAMPOS BRANCOS

Título Original: Keshtzar Haye Sepid
Diretor: Mohammad Rasoulof
Ano: 2009
País de Origem: Irã
Duração: 93min
Nota: 10

Sinopse: O Lago Urmia, no Irã, é o terceiro maior lago de água salgada da Terra. Cada uma das ilhas que o circundam é composta de sal, que baniu toda a vegetação crescente e seus habitantes foram drenados de vitalidade e, talvez, da esperança. O barqueiro Rahmat tem uma missão. Ele vai, em seu barco, de ilha em ilha e recolhe as lágrimas das pessoas. As lágrimas são coletadas num recipiente limpo e límpido, mas ninguém sabe o destino que o barqueiro lhes reserva.

Comentário: O filme é uma enorme alegoria, o diretor faz um trabalho magistral ao misturar a cultura do sul do Irã com uma espécie de fábula. Rasoulof foi preso depois de realizar este filme que é uma crítica disfarçada ao sistema político de seu país, e porque não do próprio sistema capitalista do mundo inteiro? É como uma Ilíada persa, mas que desconstrói o mito, onde os personagens estão ali para por o dedo na ferida e fazer o telespectador pensar a respeito do mundo em que vivem. Um filme brilhante, o melhor que assisti até agora do diretor. Imagens belíssimas e fortes costuram as histórias que parecem contos dentro de um grande livro.

quarta-feira, 10 de junho de 2020

MAGNÓLIA

Título Original: Magnolia
Diretor: Paul Thomas Anderson
Ano: 1999
País de Origem: EUA
Duração: 188min
Nota: 10

Sinopse: Um dia em San Fernando Valley, na Califórnia, nos arredores da rua Magnólia, as vidas de nove personagens são interligadas através de um programa de televisão onde um grupo de três crianças desafia três adultos. O filme acompanha um pai à beira da morte, uma jovem esposa, um enfermeiro, um filho perdido, um policial apaixonado, um menino gênio, um ex-gênio, o apresentador do programa e uma filha afastada, cujas histórias se cruzam por coincidências do destino.

Comentário: A ideia é não colocar filmes americanos no blog, salvo exceções. Magnólia tinha que ser uma delas. Filme vencedor do Urso de Ouro em Berlin e para mim o melhor filme americano já feito (Mas o Além da Linha Vermelha ainda é meu preferido). Todo o tipo de sentimento ou conhecimento importante do ser humano está aí, representado de alguma forma, em algum momento. O filme é rápido, dinâmico, não dá muito tempo para respirar, como a vida que passa em um sopro. O filme é poesia, é fé e ciência, amor e tudo o que vem com ele no pacote. Já assisti várias vezes e toda vez um tipo diferente de sentimento vem a tona. O filme discute sobre coincidência e destino, este último ao meu ver é o caminho que ele segue, brincando com religião onde podemos ver o número 82 em vários lugares (referência bíblica a Êxodus capítulo 8, versículo 2 - como bem destacado em uma placa em meio a multidão no programa de TV), procurem, aparece o tempo todo. Como o narrador, não posso acreditar que seja tudo uma coincidência, que seja uma daquelas coisas. O final do filme, que não darei spoilers, está ligado com a passagem bíblica relatada do número 82, mas não acredito que o diretor tenha tentado passar alguma mensagem religiosa e sim que existe uma coisa que podemos chamar de Universo que nos conecta a todos, que nos coloca em rota de colisão, podemos chamar de Destino ou Deus, não importa. Um filme obrigatório! Direção, atuação, as músicas da Aimee Mann... tudo no filme é perfeito.

terça-feira, 9 de junho de 2020

A TARTARUGA VERMELHA

Título Original: La Tortue Rouge
Diretor: Michael Dudok de Wit
Ano: 2016
País de Origem: Holanda
Duração: 80min
Nota: 9

Sinopse: O filme conta a história de um homem perdido em uma ilha e sua luta por sobrevivência, até o encontro com uma tartaruga gigante que muda suas perspectivas.

Comentário: Ganhador do Prêmio Especial do Juri da premiação Um Certo Olhar em Cannes, foi a única animação selecionada para o festival naquele ano de 2016. O filme é coproduzido pelos Estúdio Ghibli, de Hayao Miyazaki, e tem a mesma qualidade das animações produzidas no Japão. O filme representa a busca da humanidade pelo amor, pelo sentimento de pertencer a algum lugar, do significado de família e de entender o passar do tempo. Sem nenhum diálogo, o filme consegue dizer muito mais do que muitas animações que existem por aí. Os desenhos são impressionantes, com muitos detalhes, mas é o roteiro que nos brinda com uma história simples, mas que é trabalhada de maneira tão delicada e verdadeira para qualquer pessoa viva. Assistam!

segunda-feira, 8 de junho de 2020

VERMELHO COMO O CÉU

Título Original: Rosso Come Il Cielo
Diretor: Cristiano Bortone
Ano: 2006
País de Origem: Itália
Duração: 96min
Nota: 10

Sinopse: Anos 70. Mirco (Luca Capriotti) é um garoto toscano de 10 anos que é apaixonado pelo cinema. Entretanto, após um acidente, ele perde a visão. Rejeitado pela escola pública, que não o considera uma criança normal, ele é enviado a um instituto de deficientes visuais em Gênova. Lá descobre um velho gravador, com o qual passa a criar histórias sonoras.

Comentário: Baseado na história real de Mirco Mencacci, premiado editor de som do cinema italiano, e vencedor de todos os 19 prêmios a que foi indicado. A película é das coisas mais doces que eu já assisti, apesar dos problemas técnicos de continuidade do filme (Em uma cena Francesca está usando saias, que se transformam em calças e que voltam a ser uma saia quase que de maneira sobrenatural), o filme é de uma leveza e tão simples que é até estranho a forma que ele consegue nos emocionar. O diretor não enrola, conta de maneira rápida tudo aquilo que tem para contar, um filme direto, mas que consegue fazer tudo sem nenhum orçamento exorbitante de Hollywood. As crianças trabalham maravilhosamente bem e a cena final é de tirar uma lágrima. Trilha sonora excelente.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

DEPOIS DA VIDA

Título Original: Wandafuru Raifu
Diretor: Hirokazu Koreeda
Ano: 1998
País de Origem: Japão
Duração: 119min
Nota: 8

Sinopse: Aclamado por crítica e público em todo o mundo, Depois da Vida é um filme original e tocante sobre a vida após a morte. A direção é do renomado cineasta japonês Kirokazu Kore-eda. Num local, entre o Céu e a Terra, pessoas que acabaram de morrer são apresentadas aos seus guias espirituais. Durante os três dias seguintes, eles auxiliam os mortos a vasculhar suas memórias em busca de um momento inesquecível de suas vidas. O momento escolhido será recriado num filme, que será uma espécie de lembrança a ser levada para o paraíso.

Comentário: Um filme com uma ideia bem original, para não dizer louca, mas que consegue nos envolver com diferentes sentimentos. Não achei um filme profundo e cheio de existencialismo, ele é leve, consegue tratar de diferentes assuntos como amor, morte, solidão, nostalgia, e tantas outras coisas de uma forma tranquila, sem cair no melodrama. Koreeda ainda estava no começo da carreira, mas já demonstrava para que veio, a competência técnica e a delicadeza intelectual são os ingredientes principais deste que é um excelente artista, pois é isto que seus filmes são: obras de arte. O filme talvez se estenda demais, se arraste em alguns momentos, mas dá aquela sensação de limbo, que é onde os personagens meio que estão. O filme merece e muito ser assistido.

sábado, 23 de maio de 2020

3 FACES

Título Original: Se Rokh
Diretor: Jafar Panahi
Ano: 2018
País de Origem: Irã
Duração: 101min
Nota: 8

Sinopse: Uma famosa atriz iraniana recebe um vídeo perturbador de uma garota implorando por ajuda para escapar de sua família conservadora. Ela então pede a seu amigo, o diretor Jafar Panahi, para descobrir se o vídeo é real ou uma manipulação. Juntos, eles seguem o caminho para a aldeia da menina nas remotas montanhas do norte, onde as tradições ancestrais continuam a ditar a vida local.

Comentário: Filme vencedor de melhor roteiro em Cannes, foi lançado no festival, por isso não tem um pôster em farsi. O filme é uma brincadeira em metalinguagem, onde o diretor tenta fazer o telespectador acreditar que está vendo quase que um documentário, mas ao mesmo tempo é um documentário mesmo em que brinca que o telespectador está assistindo a um filme. O filme se passa em uma vila rural do Irã, onde a população tem um pensamento atrasado, que ao mesmo tempo reflete o próprio país que luta contra um República Islâmica que arrasta o Irã para o buraco em vários sentidos. As 3 Faces do título é o choque entre as três gerações de mulheres que aparecem no filme: Shahrzad, a antiga atriz que representa o Irã pré revolução de 79, que nos dias de hoje vive escondida, não mostra seu rosto na película, geração de liberdade que hoje é um passado que a República Islâmica quer que o povo esqueça. Jafari, representa aquela geração pós revolução de 79, a geração que acreditou na República Islâmica e que hoje percebe a cagada que fez, uma mulher da cidade grande que tem que viver com as condições impostas pelo governo. E por último temos Marziyeh, a nova geração, a geração que sonha com um futuro melhor em um país que impede que os sonhos se realizem, a geração que pensa diferente e é imposta em uma vida de regras ridículas que não funcionam mais. O filme abre as entranhas do país se o analisarmos com cuidado. Vale a experiência. Direção sempre competente de Panahi.