sexta-feira, 29 de março de 2024

SIDERAL

Título Original: Sideral
Diretor: Carlos Segundo
Ano: 2021
País de Origem: Brasil
Duração: 15min
Nota: 7

Sinopse: Em Natal, no litoral brasileiro, o país se prepara para lançar seu primeiro foguete espacial tripulado ao espaço. Um casal mora com filhos perto do centro espacial, ela é faxineira e ele mecânico, mas ela sonha com outros horizontes.
 
Comentário: Indicado para Melhor Curta Metragem tanto no Festival de Cannes quanto no Festival de Berlim, onde neste último ganhou Menção Especial. Acho sempre difícil dar uma nota para um curta, porque na maioria dos casos acabam sendo histórias que podiam ser muito mais bem desenvolvidas em um filme, este é o caso deste curta, adorei toda a premissa, mas você acaba não se aprofundando nos personagens que são riquíssimos em várias camadas. O elenco trabalha tão bem que merecia muito mais tempo em tela. Fiquei pensando na grana que dava para ganhar com um processo ou em como as condições sociais evidentes escancaram as divisões de classes quando o sujeito diz "mas ela vai continuar fazendo a limpeza lá". Um curta que tinha muito mais a dizer se tivesse o tempo necessário.

quinta-feira, 28 de março de 2024

A TERRA E A SOMBRA

Título Original: La Tierra y la Sombra
Diretor: César Augusto Acevedo
Ano: 2015
País de Origem: Colômbia
Duração: 97min
Nota: 10

Sinopse: Um humilde trabalhador canavieiro retorna para casa para encontrar seu neto e lidar com as dificuldades em que sua família está passando.
 
Comentário: Vencedor do Câmera de Ouro e mais outros três prêmios no Festival de Cannes. Que filmaço! Nível de perfeição que fica até difícil falar, direção excelente e um elenco fantástico que pelo que fui pesquisar não achei nenhuma informação sobre eles, fico pensando se não são pessoas comuns do campo. O garotinho José Felipe Cárdenas dá um show de interpretação e Haimer Leal que interpreta o avô é de uma simpatia ímpar. Uma realidade que é tão similar ao Brasil, impossível não se emocionar. Há tantas cenas brilhantes, de detalhes tão importantes, aquele final deslumbrante. Um filme para favoritar, quem reclama de que ele é lento não merece o que está assistindo, vá ver as bobagens de Hollywood. Estou viciado em ouvir o Dueto Remembranzas.

quarta-feira, 27 de março de 2024

POBRES CRIATURAS

Título Original: Poor Things
Diretor: Yorgos Lanthimos
Ano: 2023
País de Origem: EUA
Duração: 141min
Nota: 8

Sinopse: A história de amor e escândalo de Bella Baxter, uma bela mulher que é trazida de volta dos mortos por um excêntrico cientista na era vitoriana.
 
Comentário: Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza. Para mim é um "O que aconteceria se Roger Corman ou William Castle ainda dirigissem filmes em 2023 com um alto orçamento". O roteiro é típico de horror fantástico dos anos 60, tu pode até colocar o Vincent Price no lugar do Willem Dafoe. O filme entretêm mais do que eu esperava, dei boa risadas. O que chama realmente a atenção são os figurinos, cenários e a estética que remete ao horror clássico de Mary Shelley. A interpretação de Emma Stone também merece ser comentada, foi uma bela entrega ao papel. O filme funciona muito bem, estava com medo de ser tenso como em outros do Lanthimos, mas terminei a sessão bem leve. Podia ser mais curto, perde muito tempo com algumas redundâncias.

terça-feira, 26 de março de 2024

CORDÃO DA VIDA

Título Original: Qi Dai
Diretor: Sixue Qiao
Ano: 2022
País de Origem: China
Duração: 95min
Nota: 9

Sinopse: O músico Alus decide levar a mãe com Alzheimer de volta à terra natal em busca do lar que ela tem na memória. Para que a mãe não se perca, ele amarra-se a ela com uma corda em volta da cintura. Essa conexão, semelhante a um cordão umbilical, estabelece uma relação de inversão entre mãe e filho.
 
Comentário: Um filme que me pegou de surpresa, não esperava que fosse tão bom, entrou para a minha lista de preferidos do ano de 2022. Um filme simples e cheio de significados, há beleza na simplicidade e uma direção primorosa. Os atores estão ótimos, cada um deles entregam muito, dos principais aos coadjuvantes. Teve momentos que parecia que eu estava lá na China, vivenciando aquelas coisas. Depois de um roteiro muito bem construído, com uma história muito bem amarrada vem os 15 minutos finais que é arrebatador, sério, das cenas mais bonitas que vi nos últimos anos (e olha que considero que assisto bastante filmes). Pensei muito na minha história, na minha família e na história da minha família. Com certeza um filme que vai ficar martelando na minha cabeça por um tempo. Grandioso pelos pequenos detalhes. Beleza pura.

segunda-feira, 25 de março de 2024

MONSTRO

Título Original: Kaibutsu
Diretor: Hirokazu Koreeda
Ano: 2023
País de Origem: Japão
Duração: 121min
Nota: 9

Sinopse: Depois de descobrir que um professor é responsável pela súbita mudança de comportamento de seu filho, uma mãe invade a escola exigindo saber o que está acontecendo. À medida que a história se desenrola através dos olhos da mãe, do professor e da criança, a verdade surge gradualmente.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro e vencedor de Melhor Roteiro no Festival de Cannes. Koreeda em sua melhor forma, não tem como assistir e não traçar um paralelo com Closer, apesar de existir um abismo entre as narrativas também. Este é um filme claramente sobre homossexualismo, e para quem torceu o nariz dizendo que são crianças, a infância é uma fase de desenvolvimento e descobertas onde isto ocorre todos os dias. Alguns tentam comparar o filme somente no aspecto do Japão, mas o comportamento violento do pai não difere em nada de um evangélico raiz brasileiro, o filme é válido para todo lugar do planeta. A maneira em que tudo é construído em partes, com uma narrativa quebrada, é perfeito para tudo ir se encaixando aos poucos e brincar com o julgamento que fazemos dos personagens. Filme obrigatório.

domingo, 24 de março de 2024

A FLAUTA MÁGICA

Título Original: Trollflöjten
Diretor: Ingmar Bergman
Ano: 1975
País de Origem: Suécia
Duração: 138min
Nota: 8

Sinopse: A história do príncipe Tamino e seu entusiasmado companheiro Papageno, que são enviados em uma missão para salvar uma linda princesa das garras do mal.
 
Comentário: Indicado ao Oscar por Melhor Figurino e ao Globo de Ouro como Melhor Filme Estrangeiro. Depois de rodar O Misantropo no teatro na Dinamarca, Bergman parece ter tomado gosto e realiza esta obra grandiosa. Baseado na obra de Emanuel Schikaneder para a qual Mozart compôs as músicas e se tornaria o marco que é até hoje. A montagem é impressionante, realmente muito bom, toda a parte técnica é o ápice do diretor até aqui. A história hoje é um tanto quanto cliché, mas ainda funciona, achei um tanto quanto demorado, fui cansando aos poucos, mas o elenco não deixa a peteca cair e segura muito bem o filme junto com as pitadas de comédias de Papageno. A cena entre os atos com os atores agindo normalmente com o figurino é uma das cenas mais deslumbrantes de toda a carreira do Bergman. Fiquei pensando se a peça foi realmente encenada, porque são tantos cenários e tantos detalhes que me parece quase impossível. No fim, o relacionamento do casal hétero sobrevive ao passeio na câmera escura de uma casa de swing e o amor prevalece (hahahaha).

sábado, 23 de março de 2024

SCRAPPER

Título Original: Scrapper
Diretora: Charlotte Regan
Ano: 2023
País de Origem: Inglaterra
Duração: 84min
Nota: 8

Sinopse: Georgie, uma menina sonhadora de 12 anos, vive aparentemente feliz e sozinha em seu apartamento nos arredores de Londres após a morte da mãe, enchendo-o de fantasia. De repente, seu pai distante aparece e a força a confrontar a realidade.
 
Comentário: Vencedor de Melhor Filme Mundial no Festival de Sundance. Adoro esses filmes independentes que não precisam gastar uma fortuna para fazer um bom filme. E o filme é muito bom. Uma história simples, que a diretora consegue condensar muito bem em menor de uma hora e meia. Personagens que funcionam, reais, que emocionam. A cena deles inventando diálogos para estranhos na rua é muito boa. Há toda uma química entre os atores que acontece, e mesmo todos os clichês que existem na película parecem se encaixar muito bem. Uma história simples, daquelas que já foram contadas centenas de vezes no cinema, mas que ainda funciona se contada da maneira correta. Vale a pena a assistida. Uma história sobre como a vida tem seus tropeços e como tentamos dar o nosso melhor mesmo sem saber exatamente como na maioria das vezes.

segunda-feira, 18 de março de 2024

ANATOMIA DE UMA QUEDA

Título Original: Anatomie D'Une Chute
Diretor: Justine Triet
Ano: 2023
País de Origem: França
Duração: 151min
Nota: 9

Sinopse: Uma mulher é suspeita de assassinato após a morte do marido; seu filho meio cego enfrenta um dilema moral como testemunha principal.
 
Comentário: Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes. Demorei mais de uma semana para escrever sobre o filme porque é realmente interessante como ele faz a gente pensar. O roteiro é maravilhoso, me remeteu ao Dom Casmurro de Machado. Não sei o que pensar se Sandra é culpada ou inocente. A cena da discussão do casal é o ponto alto de todo o filme e mostra o controle absoluto do roteiro na caracterização dos personagens. Único defeito, para mim, foi a duração do filme que acho que se estende demais sem uma necessidade disso. Há muita enrolação e alguns artifícios que cansam, como o advogado de acusação extremamente caricato. O filme mereceu o prêmio, mesmo não sendo o meu favorito do ano, e precisa ser visto porque é realmente muito acima da média e melhor que qualquer coisa no circuito comercial.

segunda-feira, 11 de março de 2024

PROFISSÃO: REPÓRTER

Título Original: Professione: Reporter
Diretor: Michelangelo Antonioni
Ano: 1975
País de Origem: Espanha
Duração: 126min
Nota: 10

Sinopse: Um correspondente de guerra frustrado, incapaz de encontrar na guerra o que lhe foi pedido para cobrir, toma o caminho arriscado de apropriar-se da identidade de um conhecido traficante de armas morto.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Pensa em um cara que amava a vida que tinha (hahahahaha) e não foi deixado em paz pela mulher nem depois de morto. Assisti este filme quando era um adolescente em uma coleção de VHS lançado por um jornal. Já havia amado (é, eu era um garoto estranho) e agora acho que amei mais ainda. Um filme com personagens completamente perdidos, rumo a lugar nenhum em uma Espanha em seus últimos momentos da ditadura franquista. Talvez o movimento sem sentido de todos os personagens represente a falta de sentido na guerra. Adoro o ritmo que a película toma depois que Maria Schneider aparece, ao contrário de muitos críticos. Antonioni é mestre, sei que não é o tipo de filme para todo mundo, mas eu acho incrível. A cena final então, nem preciso falar, né?  Talvez meu filme preferido com Nicholson.

Nota: Registrei o filme como espanhol, já que se passa a sua maior parte na Espanha. Não vi sentido em cadastrar como italiano, mesmo sendo uma produção italiana e tendo o diretor italiano, já que não tem nenhuma cena na Itália e nem um diálogo em italiano.

domingo, 10 de março de 2024

AQUI É O MEU LUGAR

Título Original: This Must Be The Place
Diretor: Paolo Sorrentino
Ano: 2011
País de Origem: EUA
Duração: 118min
Nota: 8

Sinopse: Cheyenne, um astro do rock aposentado vivendo de seus royalties em Dublin, retorna a Nova York para encontrar o homem responsável pela humilhação sofrida por seu pai, recentemente falecido, durante a Segunda Guerra Mundial.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro e vencedor do Juri Ecumênico no Festival de Cannes. Confesso que apesar do filme ser muito bom, preferi os trinta minutos iniciais que se passam em Dublin, derrepente toda a história muda, muita coisa que eu estava adorando é deixada para trás e ele passa a caçar um nazista nos EUA. Não gostei muito da atuação do Sean Penn aqui também, tem horas que ele parece um retardado lesado por drogas, mas quando o roteiro convém ele está mais espertinho. Mas o filme não decepciona, talvez por conta de toda a genialidade de Sorrentino que sabe muito bem o que está fazendo. O diálogo entre Penn e David Byrne (sério que tem gente que não sabe quem é David Byrne?) é das melhores coisas de todo o filme, há tanto ali. O filme não chega a ter o peso de outros trabalhos do diretor, mas consegue ser uma produção americana de alto nível, mas acho que Sorrentino funciona melhor no cinema italiano.

O MELHOR ESTÁ POR VIR

Título Original: Il Sol Dell'Avvenire
Diretor: Nanni Moretti
Ano: 2023
País de Origem: Itália
Duração: 95min
Nota: 10

Sinopse: Um cineasta tenta terminar um filme ambientado em Roma, na década de 1950, sobre comunistas italianos. Mas uma série de obstáculos se interpõe em seu caminho. Sempre no limite, ele terá que acreditar que o melhor está por vir.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Eu simplesmente amei este filme, tem tanto de mim que chega até a ser constrangedor em alguns momentos. Tenho que admitir que sou chato igualzinho o personagem. Toda as metáforas que o filme tem, os personagens, os conflitos, os atores e todo o paralelo com um discurso trotskista funcionaram demais comigo. A cena que é um tapa na cara não só do Netflix, mas de toda a industria cinematográfica que não enxerga o cinema como arte e sim como produto, foi maravilhoso de assistir. Nanni Moretti é um diretor que por completo relapso meu nunca havia assistido nada, lembro que eu morava na Itália quando seu O Crocodilo foi lançado e queria muito ir ver, tenho 7 filmes do diretor na minha coleção e sempre foi ficando para depois, chegou a hora de dar mais atenção ao diretor.

quinta-feira, 7 de março de 2024

SUL

Título Original: Süden
Diretor: Christian Petzold
Ano: 1990
País de Origem: Alemanha
Duração: 10min
Nota: 4

Sinopse: Um carro solitário. O vento sopra. A porta de um edifício indefinido se abre: é uma casa de férias, um barracão ou uma ruína? Uma mulher está à janela, talvez devido ao calor. Sul: um lugar de nostalgia.
 
Comentário: Petzold é um dos meus diretores favoritos da atualidade, então fui assistir este curta do diretor com uma certa expectativa muito alta que não fez jus a obra. São 10 minutos de imagens do sul da Alemanha, mas que não me disseram muito, não me conectaram muito. Vivi um curto período de tempo na Alemanha e amo o país, mas nem esse meu apego emocional me vinculou a obra. Achei meio vazia, talvez tenha sido essa a intenção, talvez um peso niilista, mas isso também não da para ter certeza. Talvez se fossem imagens da região em que morei, no entorno da minuscula e desconhecida Wittstock, eu teria amado.

quarta-feira, 6 de março de 2024

ROSA ROSAE - UMA ELEGIA DA GUERRA CIVIL ESPANHOLA

Título Original: Rosa Rosae. La Guerra Civil
Diretor: Carlos Saura
Ano: 2021
País de Origem: Espanha
Duração: 5min
Nota: 8

Sinopse: Saura cria e recupera mais de trinta imagens, desenhos e fotografias que imprime, manipula, brinca e posteriormente filma, para produzir uma história que, ao mesmo tempo que recria a Guerra Civil Espanhola, pode também reflectir os horrores do conflito universal, vistos através dos olhos de uma criança e seu entorno.
 
Comentário: É muito lindo de assistir e seu grande defeito é que acaba muito rápido, é praticamente um videoclip musical da música Rosa Rosae interpretada pelo cantor José Antonio Labordeta. As imagens recuperadas por Saura e a maneira que são manipuladas para se transformarem em uma obra de arte em movimento é de encher os olhos de tão lindo que é. Hipnótico e avassalador são as melhores palavras que definem. Poderia ter tido pelo menos o dobro do tempo que eu ia amar continuar assistindo. Carlos Saura foi um dos maiores diretores espanhóis e mostra aqui, mesmo que em míseros cinco minutos, toda a sua força artística ainda relevante no século XXI.