segunda-feira, 27 de junho de 2022

O QUE ARDE

Título Original: O Que Arde
Diretor: Oliver Laxe
Ano: 2019
País de Origem: Espanha
Duração: 82min
Nota:  7

Sinopse: Amador foi condenado à prisão por ter provocado um incêndio. Após cumprir a pena, ele sai da cadeia, mas não há ninguém à sua espera. Amador volta à sua cidade natal, uma pequena vila nas montanhas da Galícia, para morar com a mãe e três vacas. O cotidiano se arrasta, acompanhando o ritmo da natureza. Até que, em uma noite, um incêndio começa a devastar a região.
 
Comentário: Vencedor do prêmio do juri na categoria Um Certo Olhar no Festival de Cannes. Filmado na região da Galícia da Espanha e inteiro falado em galego, o filme é lindíssimo de se ver, gostei de como ele passa pela tela de maneira bucólica e hipnótica sem se tornar massante. A senhora que faz o papel da mãe é de uma ternura de se ver na tela. Mas apesar de tudo falta algo, não sei bem dizer o que, mas o desenvolvimento do personagem ou até completar o destino na cachorra, mas o filme termina com um sentimento de que ficou devendo algo mais. Para mim valeu muito a assistida, mas entendo que não deva funcionar para uma grande maioria. Ainda assim, achei bem acima da média e trouxe reflexões ótimas.

sábado, 25 de junho de 2022

CRIMES DO FUTURO

Título Original: Crimes Of The Future
Diretor: David Cronenberg
Ano: 2022
País de Origem: Canadá
Duração: 107min
Nota: 10

Sinopse: A história se passa em um futuro próximo em que os humanos evoluíram para se adaptar aos elementos sintéticos que os cercam. Essa adaptação leva um artista a ganhar órgãos a mais e a ficar famoso com performances de remoção dessas partes extras. Ao atrair olhares do governo e do público, ele começa a planejar sua apresentação mais ambiciosa.

Comentário: Indicado ao Palma de Ouro no Festival de Cannes. Fazia oito anos que o diretor não nos presenteava com nenhum longa metragem e volta em grande estilo, Cronenberg se reinventa inspirado por ele mesmo e nos bombardeia com esta obra que não deixa de ser extremamente inovadora, mas revisita grande obras do diretor como Videodrome, Mistérios e Paixões, eXistenZ e até o mais recente Cosmopolis. A crítica à sociedade atual é gigantesca, desde a nossa apatia frente a lives do Instagram, quanto ao enorme esforço de grandes corporações para impedir que a humanidade evolua. "Viva a nova Carne!" nunca fez tanto sentido. A cena do dançarino cheio de orelhas que não servem para escutar é outra crítica que pode ser interpretada de várias maneiras diferentes. O filme é um enorme manifesto, simplesmente incrível e uma porrada no nosso estômago. Cada detalhe é planejado, não há nada que não tenha um sentido, uma ideia, uma crítica e uma anticrítica junto. Já coloco este trabalho como um dos melhores em uma carreira cheia de obras perfeitas do diretor. Cronenberg prova aqui que nunca foi tão necessário dentro de uma indústria de filmes que se torna cada vez mais apática.

sexta-feira, 24 de junho de 2022

EMA

Título Original: Ema
Diretor: Pablo Larraín
Ano: 2019
País de Origem: Chile
Duração: 107min
Nota:  9

Sinopse: Ema é uma dançarina magnética e impulsiva em um grupo de reggaeton. Seu casamento tóxico com o coreógrafo Gastón acaba depois que ambos decidiram desistir do filho adotivo Polo. A missão de Ema é recuperar Polo, sem se importar com quem terá que enfrentar, seduzir ou destruir.

Comentário: Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza, chega a ser até patético terem dado o prêmio para o Coringa, mas esse festival tem dessas. Confesso que apesar de ter outros três filmes do Larraín aqui na fila para assistir, este foi o meu primeiro do diretor, e simplesmente amei. Mariana Di Girólamo consegue ofuscar qualquer outro ator que está no filme, e não é tarefa fácil frente a Gael García Bernal e Santiago Cabrera (este último mais conhecido para os fãs de Star Trek como eu como o Capitão Rios). O filme tem um ritmo excelente, parte técnica excepcional e até as músicas (que eu não gosto) caíram de forma perfeita. O discurso sobre reggaeton que o personagem de Bernal faz em um momento do filme é exatamente minha opinião e eu ri muito dessa minha conexão com o personagem. O desfecho é fantástico e bizarro, das coisas que faz a gente ficar pensando.

quinta-feira, 23 de junho de 2022

MARINHEIRO DAS MONTANHAS

Título Original: Marinheiro das Montanhas
Diretor: Karim Aïnouz
Ano: 2021
País de Origem: Brasil
Duração: 98min
Nota:  10

Sinopse: Ainouz se baseou na história de seus pais, Iracema, uma brasileira, e Majid, um argelino, que se conheceram nos Estados Unidos. Eles se separaram em 1965, quando ele retornou à Argélia e ela, ao Brasil, grávida. Karim só conheceu o pai aos 18 anos. O filme é um inventário afetivo dessa relação.

Comentário: Karim Aïnouz foi galgando posições até se tornar meu diretor nacional favorito e neste filme ele só se firmou ainda mais nesta posição. É um filme extremamente pessoal, uma espécie de documentário com doses de Malick. Me atingiu em cheio os diálogos com a mãe falecida, a construção de memórias e sonhos, as imagens lindíssimas e hipnóticas e também os paralelos que se formam entre o Brasil e a Argélia, fizeram deste filme uma tremenda experiência sensorial e intima. Não é um filme fácil, não há um fio narrativo ou um ápice, nem sequer há uma história, portanto entendo os inúmeros espectadores que não se sentiram conectados com a película, acho que vai da experiência de vida de cada um, mas para mim funcionou perfeitamente, me atingiu em cheio e me vi com os olhos úmidos durante praticamente toda a sessão.

quinta-feira, 16 de junho de 2022

O JOVEM AHMED

Título Original: Le Jeune Ahmed
Diretor: Jean-Pierre Dardenne & Luc Dardenne
Ano: 2019
País de Origem: Bélgica
Duração: 84min
Nota:  9

Sinopse: Ahmed (Idir Ben Addi) é um menino muçulmano de 13 anos de idade que vive na Bélgica. Quando ele interpreta de maneira radical o Alcorão, o livro sagrado do islamismo, ele começa a montar um plano para assassinar seu professor.

Comentário: Ganhador do prêmio de melhor direção no Festival de Cannes, acho que ele é bem mal interpretado por quem o assiste. Vejo pessoas falando que é sobre como surge um extremista e outros dizem que o filme pegou leve com o islamismo. O filme não é sobre nada disso, é sobre a raiva que surge da perda da própria identidade e do preconceito que essas pessoas, na maioria das vezes obrigadas a sair de seus países por políticas predatórias de países de primeiro mundo, tem que enfrentar. Moro na Europa e vejo isso todos os dias, jovens negros, por exemplo, de família nigeriana que nasceram na Inglaterra, cresceram na Inglaterra, tem como a língua única e exclusivamente o inglês, mas são vistos como nigerianos. O filme é sobre essas pessoas e a busca constante por suas identidades, um garoto que nasceu na Bélgica, de família árabe e que é visto como um árabe. Ele busca então se identificar com sua cultura, porém sofre esse desrespeito em vários momentos do filme. Ao ser obrigado a cumprimentar tocando a professora, por exemplo, poucos veem o enorme desrespeito cultural (tendem a ver somente o machismo dessa cultura) e tudo entra em uma espiral de sentimentos da nossa cultura ocidental julgando outra. O filme é excelente neste aspecto, uma pena que poucos conseguiram ver por essa ótica.

sexta-feira, 3 de junho de 2022

O SOUVENIR

Título Original: The Souvenir
Diretor: Joanna Hogg
Ano: 2019
País de Origem: Inglaterra
Duração: 119min
Nota:  5

Sinopse: Situado nos anos 80, o longa conta a história de uma jovem estudante de cinema, que se envolve em seu primeiro caso de amor sério e tenta separar os fatos da ficção no relacionamento com um homem complicado e pouco confiável.

Comentário: Filme premiado no Festival de Sundance, mas que não caiu muito no meu gosto não. Por um lado o filme é perfeito, se contarmos só a parte técnica. Direção, trilha sonora, cada tomada é uma obra de arte, ótimas atuações... enfim, perfeição! Daí a gente pode até entender o prêmio, mas quando o assunto é o roteiro e o decorrer do filme, daí eu não consegui salvar muita coisa. Até agora eu não consegui entender se no começo do filme os personagens já são namorados ou isso acontece durante a película, porque não há nenhum tipo de conexão emocional entre eles por praticamente todo o filme. Tudo bem que o inglês é um povo esquisito, mas assim já é demais. A cena em que ela descobre que o namorado usa heroína é patética, tipo, quantos anos ela tem no filme? Sete? Uma estudante de arte que discute filmes franceses nunca ouviu falar de furos no braço pelo uso de heroína? Na faculdade de arte em plenos anos oitenta? O livro Junkie do Burroughs já era super conhecido há mais de vinte anos nessa época. Achei superestimado, achei inclusive que a diretora tenta pagar de cult de uma maneira meio enfadonha superintelectualizada que estraga a experiência. Confesso que foi difícil ficar acordado.