terça-feira, 31 de outubro de 2023

O JOELHO DE AHED

Título Original: Ha'berech
Diretor: Nadav Lapid
Ano: 2021
País de Origem: Israel
Duração: 111min
Nota: 10

Sinopse: Um cineasta israelense enfrenta duas batalhas condenadas ao fracasso: uma contra a morte da liberdade, outra contra a morte de uma mãe.
 
Comentário: Vencedor do Prêmio do Juri no Festival de Cannes. Confesso que tinha um pé atrás com o diretor porque nunca consegui me conectar muito bem com seu filme Sinônimos apesar de reconhecê-lo como um filme muito bom. Este porém acabou entrando na minha lista de melhores do ano, senão O melhor. Amei! Tipo de filme que eu gosto, com toda a metalinguagem e crítica ácida (ao estado terrorista de Israel, ao sistema capitalista, a cultura de guerra, a normalização de uma realidade orwelliana ou tantas outras coisas). Nadav Lapid se faz tão necessário e talvez um dos maiores diretores da atualidade. A parte técnica é simplesmente maravilhosa e toda a construção da história com a explosão verborrágica em uma das cenas mais emblemáticas dos últimos anos. Certo, confesso que não é um filme que vá agradar uma grande maioria, mas é daqueles filmes que me conquistam.

LIMBO

Título Original: Limbo
Diretor: Ben Sharrock
Ano: 2020
País de Origem: Escócia
Duração: 104min
Nota: 10

Sinopse: Omar é um jovem músico promissor. Separado de sua família síria, ele está confinado em uma remota ilha escocesa aguardando o destino de seu pedido de asilo.
 
Comentário: Um dos filmes que estava na seleção do Festival de Cannes para a Palma de Ouro do ano que não ocorreu devido a pandemia. Fui assistir sem saber quase nada do filme, sabia que se passava em uma ilha remota da Escócia e só, fui pego completamente de surpresa com um dos melhores filmes daquele ano. Ele é tão simples e ao mesmo tão complexo, tão sério e ao mesmo tempo tão leve, tão deliciosamente fantástico e ao mesmo tempo tão cruelmente real. Eu que moro no Reino Unido não pude deixar de rir com os personagens locais estereotipados, porque é exatamente assim. Tenho estudado árabe neste último ano com um exilado sírio e não pude deixar de me comover com a história. O ator Vikash Bhai, apesar de ser indiano e interpretar um afegão, consegue contagiar em todo momento que aparece em tela e está irreconhecível no papel. Tudo no filme funciona tão bem e acho que é daqueles que dá para indicar para todo mundo. ASSISTAM!

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

COMO APROVEITAR NOSSO TEMPO DE LAZER?

Título Original: Az Oghat-e Faraghat-e Khod Chegouneh Estefadeh Konim?
Diretor: Abbas Kiarostami
Ano: 1977
País de Origem: Irã
Duração: 18min
Nota: 6

Sinopse: Dois irmãos ociosos são ensinados sobre o processo de pintura para a restauração de uma velha porta. Diante de todos os passos do processo, reflete-se o interesse de Kiarostami pela marcenaria e os trabalhos manuais.
 
Comentário: Outro curta feito para o Instituto para Desenvolvimento Intelectual de Crianças e Jovens Adultos. Acaba sendo um pouco mais do mesmo que os outros curtas, sem trazer muito nada de novo, como sempre há imagens interessantes, mas foca um pouco mais nos dois irmãos e em técnicas sobre pintura, portanto há menos imagens aleatórias de um Irã pré revolução, que é o que acho que deixa os outros curtas mais interessantes pelo aspecto histórico como um todo. Portando achei este o menos interessante até aqui. Logicamente que há o brilhantismo da técnica narrativa do diretor, que nunca decepciona.

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

MEDUSA

Título Original: Medusa
Diretor: Anita Rocha da Silveira
Ano: 2021
País de Origem: Brasil
Duração: 128min
Nota: 9

Sinopse: Há muitos e muitos anos, a bela Medusa foi severamente punida por Atena, a deusa virgem, por não ser mais pura. Hoje, a jovem Mariana pertence a um mundo onde deve se esforçar ao máximo para manter a aparência de uma mulher perfeita. Para não caírem em tentação, ela e suas amigas se esforçam ao máximo para controlar tudo e todas à sua volta.
 
Comentário: Quase fiz um curso de roteiro com a diretora deste filme uma vez, não deu certo por conta dos meus horários. Uma pena, pois é exatamente o roteiro que chama a atenção, ao mesmo tempo que ele critica essa onda evangélica que corrói o Brasil, em nenhum momento desumaniza as protagonistas que fazem parte de inúmeros absurdos e é isso que o filme tem de mais forte. As máscaras que todas vestem acabam caindo em determinado momento e o final é maravilhoso, das coisas mais ousadas que vi no cinema nacional nos últimos anos. Mari Oliveira dá um show, linda atriz e muito competente, não conhecia ela e espero que desponte em mais filmes. Lara Tremouroux também tem seus momentos como excelente coadjuvante. Não acho que seja um filme para o grande público, foge do comercial padrão, mas é necessário como reflexo desse Brasil hipócrita que conhecemos tão bem.

domingo, 22 de outubro de 2023

O ACONTECIMENTO

Título Original: L'événement
Diretor: Audrey Diwan
Ano: 2021
País de Origem: França
Duração: 95min
Nota: 8

Sinopse: Uma adaptação do romance homônimo de Annie Ernaux, que lembra sua experiência com o aborto quando ainda era ilegal na França dos anos 60.
 
Comentário: Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza. Ser mulher no patriarcado é uma merda. Um dos filmes mais difíceis que assisti na vida, exatamente por conseguir me colocar no lugar da protagonista com toda a ansiedade e angústia que a situação vai se desenvolvendo para o desfecho avassalador. Anamaria Vartolomei é outro espetáculo à parte, simplesmente um show na atuação. Apesar de ser um filme curto, ele parece se arrastar um pouco, talvez pelo começo que parece ir levando a lugar nenhum, porém o filme cresce e se torna mais dinâmico da metade para o final. Um filme extremamente necessário para se discutir o aborto, a situação de perigo que as mulheres se colocam quando este não é legalizado e a hipocrisia da sociedade machista e religiosa.

sábado, 21 de outubro de 2023

FÁBULAS RUINS

Título Original: Favolacce
Diretores: Damiano D'Innocenzo & Fabio D'Innocenzo
Ano: 2020
País de Origem: Itália
Duração: 100min
Nota: 8

Sinopse: Relata a vida de algumas famílias que vivem nos subúrbios de Roma, onde há tensões que podem explodir a qualquer momento. E são as crianças que provocam o colapso.
 
Comentário: Vencedor do Prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Berlim. Que filme necessário e complexo, os diretores não poupam a verborragia e o lado tosco da cultura italiana para nos presentear com um dos maiores nós no estômago da atualidade. O filme retrata muito da sociedade contemporânea mundial, onde crianças estão expostas a um mundo completamente avesso ao universo infantil obrigando-as a perder suas infâncias em nome da sociedade digital da era da ode ao celular. Elio Germano é um monstro de atuação, cada vez que vejo ele em um filme meu respeito e admiração só cresce. As crianças roubam as cenas (todas elas). É um filme quase como se nos apresentasse contos, pequenas histórias que se ligam, todas acabam trazendo algo ruim, mesmo quando parece que não, de uma realidade crua da nossa sociedade que quase sempre nos recusamos a encarar. Perturbador, no mínimo.

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

VIDA AMOROSA

Título Original: Rabu Raifu
Diretor: Kôji Fukada
Ano: 2022
País de Origem: Japão
Duração: 119min
Nota: 7

Sinopse: Taeko vive uma existência pacífica com seu marido Jiro e o filho Keita. Um trágico acidente traz o pai do menino de volta a sua vida. Taeko se dedica a ajudar esse homem surdo e sem-teto a lidar com a dor e a culpa.
 
Comentário: Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza. Considero que o filme tem duas metades, a primeira que se trata do trágico acidente da sinopse é a melhor, tudo é muito bem arquitetado pelo diretor, os atores estão ótimos e apesar da frieza típica japonesa a cena em que Taeko encontra seu ex-marido é de entortar qualquer nervo de aço do espectador. A metade final eu achei que o filme perde um pouco a força e quase emula, de maneira inferior, o filme Asako I & II. Mas é um filme satisfatório e acima da média em muitos quesitos, mesmo achando que se perde em alguns momentos, podia ser um pouco mais curto para ir direto ao ponto.

sábado, 14 de outubro de 2023

CARTA À MINHA MÃE PARA MEU FILHO

Título Original: Carta a Mi Madre Para Mi Hijo
Diretor: Carla Simón
Ano: 2022
País de Origem: Espanha
Duração: 24min
Nota: 6

Sinopse: Uma jovem viaja dos anos 60 até aos dias de hoje, passando pelos anos 80, cruzando os limiares da feminilidade e da história, até encontrar Carla junto ao céu azul da costa catalã.
 
Comentário: Um curta metragem cheio de qualidade técnica onde a diretora transborda suas percepções sobre a maternidade e sobre sua mãe, já falecida. O filme tem uma carga emocional muito grande para a diretora, mas ao meu ver é essa a dificuldade em se conectar com a proposta. Talvez por eu não ser mulher e consequentemente não ser mãe, mas acho que por ser mais um filme da diretora para ela mesma. O filme passou quase como um sonho para mim, há momentos que não consigo mais nem lembrar direito, ele parece encoberto em névoas oníricas, e isso é um ponto positivo. Na mesma linha, temos um curta metragem brasileiro (São Seus Olhos Tristes) dirigido pelo Antônio Rafael, que conseguiu me emocionar e me prender bem mais com um orçamento e consequentemente técnica bem inferior a este, mostrando que o que vale mais é o sentimento que cria no telespectador.

quinta-feira, 12 de outubro de 2023

OS PIORES

Título Original: Les Pires
Diretores: Lise Akoka & Romane Gueret
Ano: 2022
País de Origem: França
Duração: 96min
Nota: 9

Sinopse: A rodagem do filme terá lugar na cité Picasso, nos subúrbios de Boulogne-Sur-Mer, no norte de França. Durante o casting, quatro adolescentes, Lily, Ryan, Maylis e Jessy são escolhidos para interpretar no filme. Todos no bairro ficam surpresos: por que levar apenas os “piores”?
 
Comentário: Vencedor do Prêmio Um Certo Olhar no Festival de Cannes. Merecido prêmio e excelente filme. Confesso que demorei um pouco para entrar no filme, mas depois que eu estava dentro duto se desenvolve muito bem. Os personagens vão cativando, um vai dando lugar para o outro e sem que percebemos estamos dentro daquele mundo que é o retrato de uma Europa que muitos se recusam a mostrar. Uma sociedade falha com pessoas tão especiais, renegadas muitas vezes por seus semelhantes. Ao mesmo tempo revivi medos e anseios da minha adolescência tão claros ali no filme. A narrativa rápida e crua, que pareceu atrapalhar em um primeiro momento, no fim se mostra necessária e cai como uma luva. No fim queria acompanhar Lily e Ryan por todo o caminho que ainda lhes resta. Atores mirins excepcionais.

terça-feira, 10 de outubro de 2023

FANTASMA NEON

Título Original: Fantasma Neon
Diretor: Leonardo Martinelli
Ano: 2021
País de Origem: Brasil
Duração: 19min
Nota: 8

Sinopse: João é um entregador de aplicativo que sonha em ter uma moto. Disseram a ele que tudo seria como um filme musical.
 
Comentário: Vencedor de Melhor Curta Metragem na Competição Internacional no Festival de Locarno e de vários outros prêmios, tendo saído com cinco premiações no Festival de Gramado. O curta metragem é muito bom, tem uma visão mais apurada e diria até mais focada na experiência de entregadores de aplicativo em uma época de pandemia. Eu já tive essa experiência de ficar dois meses fazendo entrega de aplicativo com uma bicicleta, é um trabalho extremamente pesado, e o que mais me assustava (apesar de ter gostado bastante de alguns pontos) era o fato de não ter nenhuma garantia de direitos trabalhistas em caso de um acidente. A mistura de todo esse cenário com uma narrativa em parte musical casou muito bem. Achei toda a ideia bem ousada do diretor e vale muito a pena a assistida. Aquele papo de "bater a meta do dia" é muito real.

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

ALICE NAS CIDADES

Título Original: Alice in den Städten
Diretor: Wim Wenders
Ano: 1974
País de Origem: Alemanha
Duração: 113min
Nota: 10

Sinopse: O jornalista alemão Philip Winter adquire um bloqueio ao tentar escrever um artigo sobre os Estados Unidos e, então, decide retornar à Alemanha. Ao registrar o voo, encontra-se com uma mulher alemã e sua filha Alice, de nove anos, assim começando uma longa e duradoura amizade.
 
Comentário: Considere todo o meu comentário suspeito, porque este é o meu filme favorito da vida, então obviamente eu não consigo ser imparcial. Assisti pela primeira vez com legenda em espanhol em uma sala de cinema da faculdade que eu fazia de Rádio e TV no ano 2000 e me atingiu que nem um raio. O mais bizarro foi que dois anos depois eu fui viver praticamente todo o filme na minha própria vida, fato este que me faz acreditar que vivemos em uma realidade simulada, pois o número de coincidências são impossíveis. Enfim, eu acho TUDO neste filme lindo, a simplicidade, os diálogos, a relação que vai se criando, o ritmo e como tudo junto funciona tão bem. Um road movie com uma fotografia de tirar o fôlego, com atores afinados ao papel que nos entrega personagens reais. Todo aquele clima de meados dos anos 70 está intrincado ao filme. Quando eu decidi que iria fazer arte de alguma forma, sabia que independente do que fosse, esse filme sempre seria um exemplo a seguir do que eu queria. Hoje, na literatura, espero um dia conseguir escrever um Alice nas Cidades de alguma forma.