segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

DUSTIN

Título Original: Dustin
Diretor: Naïla Guiguet
Ano: 2020
País de Origem: Holanda
Duração: 20min
Nota:  7

Sinopse: Num galpão abandonado, uma multidão dança como se fosse uma pessoa só ao som de um tecno 145 BPM. Entre eles está Dustin, uma jovem transgênero e sua turma: Felix, Raya e Juan. Conforme a noite avança, a histeria coletiva se transforma numa doce melancolia.
 
Comentário: Curta que foi selecionado para o Festival de Cannes que nunca ocorreu devido a pandemia. Esse ambiente de rave e drogas não é minha vibe e acho que acaba estigmatizando muito a história. Por outro lado não deixa de ser uma realidade de hoje, então é válido e super necessário, mas realmente não me é interessante. Achei legal e de longa discussão o comportamento do namorado, Félix, que aparenta a todo momento gostar mais de homens e acaba namorando uma mulher trans pelas convenções sociais (afinal ela parece uma mulher e não serei tão julgado como se estivesse com um cara). Daí Dustin acaba sendo uma muleta para ele, imagino quantos relacionamentos assim não existam por aí. É triste, mas a frase que Dustin diz e que faz ligação com o final dá o peso necessário para o curta subir bastante em qualquer classificação. O sujeito sem visto morando ilegalmente no país tinha que ser brasileiro, eu ri.

domingo, 26 de fevereiro de 2023

NUNCA, RARAMENTE, ÀS VEZES, SEMPRE

Título Original: Never Rarely Sometimes Always
Diretor: Eliza Hittman
Ano: 2020
País de Origem: EUA
Duração: 101min
Nota:  8

Sinopse: Um retrato íntimo de duas adolescentes na zona rural da Pensilvânia. Diante de uma gravidez indesejada e da falta de apoio local, Autumn e sua prima Skylar embarcam em uma jornada até a cidade de Nova York.

Comentário: Nem sempre um filme americano aparece por aqui, mas acontece raramente, não às vezes, pois dizer nunca é exagero. Parando com o trocadilho, o filme venceu o Festival de Sundance e ganhou o Grande Prêmio do Juri no Festival de Berlim entre outros. O universo feminino pela lente da diretora é magistral e angustiante. Não tem como um homem fazer algo assim, os detalhes, as linhas que os personagens cruzam, as situações. Um filme que jamais poderia ser realizado por um homem. O silêncio me incomodou um pouco, afinal são duas primas adolescentes juntas e mais diálogos entre elas traria mais veracidade a película. Há cumplicidade, há uma ligação, muito amor entre elas, mas que achei desperdiçada pelo silêncio entre elas em alguns momentos. A cena do título é a melhor de todo o filme, maravilhosa! As atrizes dão um show a parte. Você fica querendo continuar acompanhando elas, mas o filme acaba. Não é fácil de assistir, incomoda. Filme super necessário.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

OS FAMOSOS E OS DUENDES DA MORTE

Título Original: Os Famosos e os Duendes da Morte
Diretor: Esmir Filho
Ano: 2010
País de Origem: Brasil
Duração: 101min
Nota:  6

Sinopse: Um garoto de 16 anos, fã de Bob Dylan, tem acesso ao restante do mundo apenas por meio da internet, enquanto vê os dias passarem em uma pequena cidade rural de colonização alemã, no sul do Brasil. Sua existência pacata passa a ser perturbada por uma figura misteriosa, que o faz mergulhar em lembranças obscuras e num mundo além da realidade.
 
Comentário: O filme teve uma certa badalação no meio cinematográfico nacional, ganhou prêmios nos festivais Guarani, SESC e do Rio de Janeiro. Queria ver desde que saiu, mas fui deixando. Achei que o filme tinha um potencial enorme que foi inteiramente desperdiçado na sala de edição, a montagem dele atrapalhou todo o desenrolar. Há cenas extremamente supérfluas que não contribuem em nada para a narrativa, dava para cortar uns vinte minutos quase: o momento de masturbação é patético, o encontro com os avós constrangedor. Você só vai entender o que está acontecendo quase uma hora depois de filme, o que atrapalha a conexão do espectador com o enredo. Uma das melhores cenas é a do rapaz bebendo vinho com a mãe, faltou explorar mais a relação ali. Enfim, no fim, ficou aquele sentimento de desperdício, de algo que poderia ter sido muito melhor. Não achei ruim, mas decepciona no geral por conta desse sentimento. Trilha sonora espetacular, mas com Dylan fica fácil.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

ESTRADA PERDIDA

Título Original: Lost Highway
Diretor: David Lynch
Ano: 1997
País de Origem: EUA
Duração: 134min
Nota:  10

Sinopse: Quando o saxofonista Fred Madison (Bill Pullman) começa a desconfiar que está sendo traído pela esposa Renee (Patricia Arquette), estranhas fitas de vídeo começam a ser enviadas para sua residência, indicando que tudo ao seu redor está sendo filmado. De repente tudo mundo quando aparentemente sua mulher foi supostamente assassinada, e ele é acusado do crime.
 
Comentário: Quando adentrei a sessão de cinema em meados do ano de 1997 minha vida mudou completamente, o garoto menor de idade que saiu daquela sessão não era o mesmo que entrou praticamente plagiando o personagem principal. Hollywood com seu cinema pipoca morria ali para mim, minha busca por esse tipo de arte cinematográfica se tornou uma certa obsessão. Assisti umas duas vezes depois em VHS, mas fazia mais de 20 anos que não revisitava este filme. Para a minha surpresa é um outro filme, completamente diferente daquele que assisti em 1997. O filme interage de acordo com a vivência do telespectador e pode tomar formas diferentes de acordo com as experiências vividas. Hoje é muito mais um filme sobre aquele amor que dói, o ciúmes doentio que cresce e as mudanças que tudo isso trás na vida depois disso. A cena em que Patricia Arquette diz "Você nunca mais vai me ter" fez lágrimas brotarem nos meus olhos. Pura arte! Lynch é um gênio e nunca vou me cansar de dizer isso, o filme está muito melhor do que quando o assisti pela primeira vez e continua figurando entre meus favoritos. O ser misterioso, que gerava imensos debates como foco principal entre amigos naquela época, hoje é uma figura diminuída como a representação do 'ciúmes', sem interferir na magnanimidade que é o filme. Perfeito!

domingo, 12 de fevereiro de 2023

O INIMIGO DO POVO

Título Original: Ganashatru
Diretor: Satyajit Ray
Ano: 1989
País de Origem: Índia
Duração: 95min
Nota:  8

Sinopse: Nesta adaptação da peça teatral de Ibsen, um médico idealista descobre que as águas do templo da cidade estão perigosamente contaminadas. Mas com a comunidade contando com a atração sagrada para os dólares dos turistas, seus avisos são ignorados.

Comentário: Outro filme muito competente de Satyajit Ray, não decepciona. Sempre um crítico ferrenho da fé cega, o diretor volta a alfinetar a sociedade conservadora do seu país usando de uma maneira muito bem orquestrada a peça teatral do escritor norueguês adaptando para a Índia. O elenco é ótimo, Dhritiman Chatterjee interpreta um vilão bem canastrão como o irmão rico do doutor e que nunca troca de lenço. Mamata Shankar como a filha tira suspiros. Só achei que faltou maior embate entre o casal principal, já que ela aparentemente é uma pessoa religiosa e seu marido não, poderia ter tido diálogos excelentes daí. Assusta as coincidências com o mundo de hoje, parece que estagnamos lá atrás.

sábado, 11 de fevereiro de 2023

OLLA

Título Original: Olla
Diretor: Ariane Labed
Ano: 2019
País de Origem: França
Duração: 27min
Nota:  7

Sinopse: Uma romancista visita uma livraria administrada por uma jovem colega que não tem mais contato há algum tempo e depois caminha com um diretor de cinema e sua esposa. Ela conhece uma atriz e tenta convencê-la para que façam um filme juntas.
 
Comentário: Concorreu em festivais como Cannes e Sundance. A diretora é casada com Yorgos Lanthimos e mostra, que pelo menos no quesito técnico, não deixa em nada devendo para o marido. Apesar da história que cativa, mais propriamente pelo carisma da atriz Romanna Lobach que está muito bem no papel, parece que o filme demandava mais tempo para conectar o espectador. Falta algo de essencial e a romantização do empoderamento da prostituição feminina não ajuda. Mas o curta tem mais qualidades do que defeitos. Os enquadramentos são dignos de um Wes Anderson.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

A CASA E O MUNDO

Título Original: Ghare-Baire
Diretor: Satyajit Ray
Ano:1984
País de Origem: Índia
Duração: 132min
Nota:  9

Sinopse: Um fazendeiro rico convence sua esposa a romper com a tradição hindu e deixar os aposentos das mulheres para conhecer um de seus melhores amigos. A tensão aumenta quando ela se apaixona por ele e seus ideais políticos opostos ao do marido.

Comentário: Indicado a Palma de Ouro em Cannes, mas no ano do 'Paris, Texas' não tinha para ninguém. Adorei o filme, a dinâmica, a construção dos personagens, direção e condução. Talvez se estenda um pouco, mas no geral foi um dos melhores filmes do diretor que assisti. Me apaixonei pelo Nikhilesh, que maridão! Acho que as pessoas julgam meio mal o Sandip, não consigo enxergá-lo como um vilão, mas sim como um alienado hipócrita que não percebe que é raso e fútil. Bimala é o reflexo da opressão machista. Há tantas camadas no filme, que por mais que não dê para trabalhar tudo, está tudo lá de alguma maneira. Algumas coisas mais aparentes e outras não. O filme dá pano pra manga para se refletir sobre muita coisa, isso que é o grande acerto. Baseado na obra de Rabindranath Tagore, ganhador do Nobel de literatura. Recomendo muito! Interessante tentar entender o contexto da Índia pré Primeira Guerra Mundial.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

KOBANÊ

Título Original: Kobanî
Diretor: Özlem Yasar
Ano: 2022
País de Origem: Curdistão
Duração: 158min
Nota:  10

Sinopse: Apesar de estar em desvantagem numérica e sem armas suficientes, uma lutadora curda guia seus companheiros revolucionários do YPG para defender sua cidade, Kobanê, da ameaça mortal do ISIS. Uma história real de guerra, sacrifício, amor e esperança.
 
Comentário: Eu odeio a palavra "terrorismo", acho ela sempre muito mal utilizada, mas fica difícil classificar o ISIS como alguma outra coisa. Não quero deixar o comentário aqui como um texto político enaltecendo meu amor e ligações com Apo e o YPG, portanto vou tentar me ater a película. O filme, realizado até onde eu sei, em Rojava impressiona pela qualidade enorme, tanto técnica, elenco, efeitos, simplesmente tudo. Sabendo dos recursos mínimos que eles têm perto de uma produção americana, é simplesmente maravilhoso de assistir.  Emociona e aquece o coração de qualquer um que acredita na revolução. Achei ótimo o desfecho enaltecendo a luta curda e desconstruindo a vitória sob condições da ajuda internacional aérea (que foi importante sim, mas veio tardia). Os olhos encheram de lágrimas nas cenas reais finais mostrando os companheiros martirizados e Heval Masîro que continua a luta. Um filme que se faz necessário para levar a luta curda, que eu considero a revolução mais importante em curso hoje no planeta, para as pessoas que a desconhecem. A virada começou logo ali, em Kobanê.

O filme foi colocado inteiro com legendas no YouTube por pessoas ligadas a organizações da luta curda: LINK AQUI!

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

SOBRE O AMOR

Título Original: About Love
Diretor: Archana Phadke
Ano: 2019
País de Origem: Índia
Duração: 91min
Nota:  8

Sinopse: Três gerações da família Phadke vivem juntas em sua casa em Mumbai. Cruel e cômico em igual medida, mostra os caprichos do afeto entre as gerações desta família, unidos por algo mais estranho que o amor.

Comentário: O filme é bem legal e flui de maneira agradável, mas obviamente deve ter um peso muito maior para a diretora do que para qualquer outro telespectador. O filme é uma carta de amor dela para com a família e isto é a força que existe em cada cena filmada. O avô incomoda e confesso que o jeito chato dele cansou em determinado momento. Mas quando chegamos no final parece que há uma integração entre o telespectador e a família. Queremos incentivar a mãe que gosta de escrever, queremos desejar felicidades a Rohan e Gurbani e pedir para Sagarika largar a porra do celular. Não assisto muito documentários, acabei assistindo este porque ia sair do catálogo do Mubi, não me arrependi.

domingo, 5 de fevereiro de 2023

BENEDETTA

Título Original: Benedetta
Diretor: Paul Verhoeven
Ano: 2021
País de Origem: França
Duração: 131min
Nota:  8

Sinopse: No século XVII, uma freira italiana faz parte de um convento na Toscana desde quando era criança. Ela sofre de um distúrbio e tem perturbações e visões religiosas e eróticas. Assistida por uma companheira, a relação entre as duas acabam se tornando um romance amoroso.

Comentário: Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. O filme tem uma narrativa típica de um filme dos anos 90, em uma época que Hollywood não era tão pudica, Verhoeven é o cara que consegue trazer a força que o filme acaba tendo, na simplicidade da história que conta cheia de clichês, é ele que consegue manter a atmosfera de tantos gêneros convergindo de maneira muito bem orquestrada na película. Há suspense, romance, religião e até comédia, porque não? A nudez flui natural no filme, sem necessidade de chocar telespectadores ou render imagens icônicas para a história do cinema. O filme é bom por sem simples, por quase seguir uma cartilha meio que já esquecida, mas que pelas mãos do diretor certo consegue atingir o alvo que queria. Elenco também ajuda.

sábado, 4 de fevereiro de 2023

RABIYE KURNAZ VERSUS GEORGE W. BUSH

Título Original: Rabiye Kurnaz Gegen George W. Bush
Diretor: Andreas Dresen
Ano: 2022
País de Origem: Alemanha
Duração: 118min
Nota:  9

Sinopse: Em 2002, Murat Kurnaz foi preso pelos norte-americanos no Afeganistão, acusado de terrorismo, e enviado a Guantánamo. Sua mãe, Rabiye Kurnaz, inicia uma verdadeira epopeia jurídica e midiática para conquistar atenção ao caso e pressionar o governo norte-americano pela libertação do garoto.

Comentário: Vencedor dos prêmios de Melhor Roteiro e Melhor Performance Principal para a atriz Meltem Kaptan. É nela que o filme se segura, interpretação fantástica e merecedora do prêmio. Interessante como o filme consegue trazer a tona um assunto tão sério e entreter ao mesmo tempo, mais difícil ainda se tratando de um filme sobre tribunais e entraves jurídicos internacionais. O ator Alexander Scheer, no papel do advogado, também está ótimo e consegue servir de contraponto com a personagem principal a todo momento com uma química perfeita. Acho que os cortes bruscos no final atrapalham um pouquinho, mas a experiência final como um todo é muito mais que satisfatória. Filme extremamente necessário em um mundo onde países imperialistas fazem o que querem. Deu vontade de experimentar as comidinhas da Rabiye.