sexta-feira, 29 de setembro de 2023

CHICO VENTANA TAMBÉM QUERIA TER UM SUBMARINO

Título Original: Chico Ventana También Quisiera Tener un Submarino
Diretor: Alex Piperno
Ano: 2020
País de Origem: Uruguai
Duração: 84min
Nota: 7

Sinopse: A bordo de um navio de cruzeiro em alto-mar, um jovem marinheiro descobre uma porta que leva misteriosamente a um apartamento em Montevidéu. Enquanto isso, um grupo de agricultores asiáticos encontra um galpão abandonado no vale, atribuindo-lhe poderes sobrenaturais.
 
Comentário: Indicado no Festival de Berlim em uma das competições paralelas. É um filme muito mais sensorial do que narrativo, portanto pode não agradar muita gente pelo seu pé no experimentalismo. Eu achei bem legal de um modo geral, há cenas bem instigantes que nos passam sentimentos muito diferentes, o telespectador precisa estar aberto para a experiência que a película proporciona. Achei que teria sido muito melhor se o diretor tivesse aproveitado mais para desenvolver a relação entre o marinheiro e a mulher do apartamento. As cenas te instigam a prestar atenção no que está acontecendo em tela em alguns cenários meio lynchianos. O tradutor do título no Brasil comeu bola, pois "Chico Ventana" significa "Garoto na Janela" em espanhol e não é o nome do personagem: "Garoto na Janela" faria muito mais sentido no contexto do filme.

terça-feira, 26 de setembro de 2023

UM AMOR NA ALEMANHA

Título Original: Eine Liebe in Deutschland
Diretor: Andrzej Wajda
Ano: 1983
País de Origem: Alemanha
Duração: 96min
Nota: 8

Sinopse: Em maio de 1983, um homem completa 49 anos e, com seu filho de 17, viaja para a vila de Brombach de onde saiu 40 anos antes. Ele quer descobrir a verdade sobre um caso que sua mãe teve com um jovem prisioneiro de guerra polonês.
 
Comentário: Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza. Wajda é sempre acima da média e aqui não é diferente. Hanna Schygulla carrega o filme nas costas, é uma bela interpretação, não à toa merece a fama que a precede. O comportamento dos personagens me incomodou bastante, afinal a mulher tem um filho pequeno que deveria ter alguma prioridade em sua vida, enquanto o polonês age que nem um idiota em determinado momento. Porém não podemos esquecer que se trata do Wajda, portanto o filme é muito mais profundo do que parece, pois tudo não passa de uma alegoria sobre sua Polônia em vários momentos do filme, com vários aspectos políticos entrelinhas. Interessante notar que mesmo sendo um filme feito na Alemanha, as raízes do diretor polonês se sobressaem mais. No final da sessão o que fica é bem mais do que satisfatório.

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

LIBERDADE

Título Original: Libertarias
Diretor: Vicente Aranda
Ano: 1996
País de Origem: Espanha
Duração: 127min
Nota: 4

Sinopse: Catalunha, 19 de julho de 1936. Com a deflagração da Guerra Civil Espanhola, a freira Maria é forçada a fugir de seu convento. Ela encontra refúgio num bordel, até este ser liberado por um grupo de mulheres anarquistas. Maria entra para o grupo e acaba por tomar parte em suas ações. Estas mulheres enfrentam o problema de ter de lutar, não só contra os nacionalistas, bem como de resistir às facções de esquerda que tentam impor uma estrutura militar mais tradicional.
 
Comentário: Um filme que engana muita gente, mas que achei bem ruinzinho. É um filme que teria que ter sido feito por alguém realmente revolucionário e principalmente dirigido por uma mulher, Vicente Aranda simplesmente não tinha ideia do que estava fazendo. É extremamente visível as raízes conservadoras da igreja permeando todo o filme, em nenhum momento há alguma análise ferrenha da mesma no campo ideológico do que foi a Guerra Civil Espanhola, sem contar o fato do diretor ter em seu currículo inúmeros filmes de objetificação feminina. Há até xenofobia na retratação dos árabes, tentando colocar para baixo do tapete o comportamento dos fascistas espanhóis de Franco. Tentar escancarar o apoio que o ditador teve na guerra de outros países europeus também passou bem longe. No final a mensagem que fica é tão estranha que não dá para ter certeza do que o diretor queria com o filme. Podiam mudar o título para "Um diretor em cima do muro". O filme podia ser muito melhor do que é, e eu simplesmente não entendo como muitos pró-revolucionários caem no papo furado dele. A linha narrativa pode até funcionar, você se envolve com alguns personagens, mas no geral o filme é um grande desserviço.

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

MICMACS - UM PLANO COMPLICADO

Título Original: Micmacs à Tire-Larigot
Diretor: Jean-Pierre Jeunet
Ano: 2009
País de Origem: França
Duração: 104min
Nota: 8

Sinopse: O filme centra-se em Bazil (Danny Boon), que vê a sua vida virar do avesso ao ser atingido por um tiro na cabeça. Quando sai do hospital, sem dinheiro e sem casa, acaba por ser acolhido por um excêntrico bando de ex-condenados, que preparam uma vingança contra os fabricantes de armas.
 
Comentário: Um belo filme do Jeunet, mesmo não sendo perfeito como seus trabalhos anteriores (Ladrão de Sonhos e O Fabuloso Destino de Amélie Poulain) a história consegue nos conquistar. Todo o discurso anti empresas armamentistas é o que faz o filme valer mais a pena, mesmo com a visão eurocentrista que não consegue entender a diferença de um grupo terrorista para um grupo revolucionário (o I.R.A. é colocado no mesmo barco em um momento, por exemplo). O elenco funciona muito bem juntos e a parte técnica tem todas as particularidades que fez do diretor ser quem é. Achei que faltou mais articulação do personagem principal, poderia render diálogos melhores.

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

PEGANDO A ESTRADA

Título Original: Jaddeh Khaki
Diretor: Panah Panahi
Ano: 2021
País de Origem: Irã
Duração: 93min
Nota: 9

Sinopse: Segue uma família terna e caótica numa viagem por uma paisagem acidentada, enquanto se preocupam com o cão doente e se enervam uns aos outros. Apenas o misterioso irmão mais velho é silencioso.
 
Comentário: Indicado ao Câmera de Ouro no Festival de Cannes. Excelente estreia de Panah Panahi, filho do já lendário diretor Jafar Panahi, parece que o talento na família transborda. Perdeu o prêmio em Cannes para o filme Murina, que por mais que eu tenha gostado bastante, achei inferior a este aqui. O elenco esbanja talento e quando você menos espera já está completamente imerso no filme. Rayan Sarlak, o garotinho, é de longe um dos maiores talentos mirins da atualidade. A única coisa que me incomodou um pouco foi que o irmão mais velho não foi tão bem aproveitado como todo o resto da família, existe um motivo para isso, mas achei que se ele tivesse seu "momento" o filme poderia ter sido ainda melhor. O filme acaba e você fica querendo acompanhar os personagens por muito mais tempo. A direção técnica também é muito acima da média para um estreante, tudo é conduzido em um nível profissional que impressiona. Eu simplesmente amei!

domingo, 17 de setembro de 2023

HOMILIA CAMPONESA

Título Original: Omelia Contadina
Diretor: Alice Rohrwacher & JR
Ano: 2020
País de Origem: Itália
Duração: 10min
Nota: 10

Sinopse: Uma comunidade camponesa se reúne em um platô na fronteira entre três regiões para celebrar o funeral da agricultura camponesa. Uma ação cinematográfica para evitar o desaparecimento de uma cultura milenar.
 
Comentário: Lindíssimo curta metragem realizado em dupla na direção pela italiana Alice Rohrwacher e pelo francês JR. Homilia, para quem não sabe, é um rito da missa na igreja católica. Combina bastante para o título, já que a declamação do curta parece uma prece, porém são textos proféticos declamados por Pier Paolo Pasolini e outros escritos por Rachel Carson do livro Primavera Silenciosa. O curta foi, inclusive, filmado no dia 2 de novembro de 2019, data que marcava os 44 anos da morte de Pasolini. Tirando esses detalhes técnicos, o curta é um soco no estômago bem dado de todo o "agro pop" que destruiu a forma que lidamos com nossa conexão com a terra e a comida, marca a importância de se repensar os caminhos que o capitalismo nos empurrou para uma vida de consumo que tudo consome. O único defeito é que acaba.

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

VERÃO DE 85

Título Original: Été 85
Diretor: François Ozon
Ano: 2020
País de Origem: França
Duração: 101min
Nota: 7

Sinopse: Enquanto navega, o barco de Alexis se inclina e quase se afoga antes de ser resgatado por David, que consequentemente acaba virando o amigo dos seus sonhos.
 
Comentário: Outro indicado ao Festival de Cannes que não ocorreu devido a pandemia. Confesso que nunca assisti a um filme do Ozon, foi meu primeiro. Disseram que é um filme bem abaixo da média do diretor. Achei bom, quando o romance engrena me convenceu mais do que ao Me Chame Pelo Seu Nome, porém antes de engrenar é meio estranho. O personagem David, interpretado por Benjamin Voisin, é muito creepy, parecia mais um personagem saído de um filme de terror. Achei a condução boa até certo ponto, há alguns anticlímax que não funcionam e no final alguns pontos eu achei meio bobo. Mas o que mais importa para mim é que foi uma película gostosa de assistir na maior parte do tempo. O ator principal, Félix Lefebvre, é um dos pontos altos, convence.

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

A ESPOSA DE TCHAIKOVSKY

Título Original: Zhena Chaikovskogo
Diretor: Kirill Serebrennikov
Ano: 2022
País de Origem: Rússia
Duração: 143min
Nota: 9

Sinopse: Relacionamento tumultuado entre Pyotr Tchaikovsky, o compositor russo mais famoso de todos os tempos, e sua esposa Antonina Miliukova.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Não da para dizer que é um filme fácil, muito menos que seja para qualquer tipo de público, mas achei que para o que o filme se propõe a fazer foi ótimo. O elenco é um primor, o diretor é excelente e a história conforme vai sendo contada é envolvente. Não tinha ideia de nada sobre a vida do compositor e depois de assistir ao filme fui dar uma pesquisada e pude notar que o filme é extremamente fiel a biografia deles segundo pesquisadores. Alguns momentos podem parecer apressados, mas o filme abrange um período onde muita coisa aconteceu, gostei que a película é focada nela, o compositor é um importante coadjuvante. Alyona Mikhailova merecia ser mais aclamada pelo papel. Acho tão enfadonho pessoas reclamando de cenas de nudez masculina enquanto se fosse feminina iriam normalizar. A cena experimental da sequência final é de tirar o fôlego de tão linda. A nota nos créditos que dizem que eles nunca mais se encontraram depois da separação não condiz com algumas pesquisas que dizem que eles se viram sim, para o desgosto de Tchaikovsky, pouquíssimas vezes. Adorei!