domingo, 31 de dezembro de 2023

AZOR

Título Original: Azor
Diretor: Andreas Fontana
Ano: 2021
País de Origem: Argentina
Duração: 100min
Nota: 8

Sinopse: Yvan De Wiel, banqueiro privado de Genebra, vai para a Argentina em meio a uma ditadura para substituir seu parceiro, objeto de rumores preocupantes, que desapareceu da noite para o dia.
 
Comentário: Indicado a uma premiação paralela no Festival de Berlim. Um filme muito bom, que talvez tenha um ritmo difícil para a maioria. Eu gostei bastante da construção da narrativa que lembrou a um livro de Graham Greene. O diretor, neto de um banqueiro como o do filme, quis revirar os porões indigestos familiares sem que fosse um filme biográfico e entrevistou muitas pessoas que ele classificou como abomináveis para que o filme fosse feito, quis mostrar o lado das pessoas vis desse passado terrível da Argentina. Para mim funcionou muito bem, mesmo que fique perdido sem saber de tudo o que está acontecendo, é exatamente isto que deixa o filme interessante. A direção, de um estreante, é competente até demais. Um filme para entender a vilania do capitalismo e como se constrói a falácia da meritocracia.

sábado, 30 de dezembro de 2023

AMOR PLENO

Título Original: To The Wonder
Diretor: Terrence Malick
Ano: 2012
País de Origem: EUA
Duração: 112min
Nota: 10

Sinopse: Depois de se apaixonarem em Paris, Marina e Neil chegam a Oklahoma, onde surgem problemas. O pastor espanhol de sua igreja luta com sua fé, enquanto Neil reencontra uma mulher de sua infância.
 
Comentário: Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza. Eu amo o Malick, é o meu diretor de cinema americano preferido, confesso que quando assisti ao filme em seu lançamento no cinema ele tenha me arrebatado mais do que nesta segunda vez que o assisti, porém não lembro se na época toda a minha euforia pelo filme tenha vindo depois de uns dias de assistir como agora. Fiquei pensando que apesar de ouvirmos os pensamentos dos personagens por todo o filme, no fundo não sabemos o que eles estão pensando em seu íntimo. Tudo é exteriorização. O que os move, o que os faz sofrer, o que eles estão pensando e escondendo um dos outros continua intacto dentro deles e isso é sublime. Bem, não preciso falar da direção de arte do Emmanuel Lubezki, né? Não existe no cinema dupla mais perfeita que Malick/Lubezki. Impressionante o desenrolar lento (coisa que a geração TikTok tem pavor) com cenas tão curtas. Olga Kurylenko brilha em cada segundo que aparece e apesar do personagem do Bardem parecer deslocado, é dele as melhores reflexões. Continua lindo e nota máxima para mim. Considero este a primeira parte de uma trilogia nesse estilo do diretor, seguido pelo Cavaleiro de Copas e do De Canção em Canção.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

A HORA DO AMOR

Título Original: Beröringen
Diretor: Ingmar Bergman
Ano: 1971
País de Origem: Suécia
Duração: 115min
Nota: 4

Sinopse: Arqueólogo americano, trabalhando na Suécia, se apaixona pela mulher do médico local e os dois mantém um caso de amor. Ela fica sem saber se prefere a liberdade ou a segurança do casamento.
 
Comentário: Eita filminho ruim do Bergman, hein? Não acho que consegue ser pior do que o "Isto Não Aconteceria Aqui", mas para mim ficou na segunda posição do pior filme que vi do diretor. A cena inicial no quarto de hospital é linda, também há lances de câmera e coisas que funcionam. Cenas em que Bibi Andersson está sozinha (ela escolhendo a roupa para sair, por exemplo) ou algumas ponderações do personagem de Von Sydow. De resto, o filme é sofrível, uma relação que não faz o menor sentido, nunca vi alguém se apaixonar depois daquele sexo ruim. O personagem do Elliott Gould é um escroto babaca e não há em todo filme uma cena em que eles realmente pareçam apaixonados, não há um diálogo marcante, não é uma relação. O final abrupto dá um tom de filme inacabado. Só vale pela direção do Bergman mesmo, há tomadas lindíssimas. Tive que assistir em duas partes de tão ruim que estava fluindo. Um filme ruinzinho, como diz a música "Sexo Ruim" da banda Tropical Nada: "Uau, pouca coisa boa"

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

FECHAR OS OLHOS

Título Original: Cerrar los Ojos
Diretor: Víctor Erice
Ano: 2023
País de Origem: Espanha
Duração: 162min
Nota: 10

Sinopse: Um ator espanhol desaparece durante as filmagens de um filme. Embora seu corpo nunca tenha sido encontrado, a polícia conclui que ele sofreu um acidente à beira de um penhasco. Muitos anos depois, o mistério retorna aos dias atuais.
 
Comentário: Filme que teve sua estreia no Festival de Cannes fora de competições. Começando agora a assistir aos filmes do ano de 2023 já posso dizer que este conseguiu superar o Céu Vermelho do Petzold na primeira posição. Que filmaço! Amei tudo, que roteiro bem escrito, cheio de detalhes (a epígrafe do Paul Nizan no livro do personagem principal praticamente preenche um monte de lacunas). Um amigo me indicou o filme dizendo que lembrou de mim por toda a película, fui correndo assistir e realmente minha identificação com o personagem do diretor é fulminante, até o cachorro dele remete ao meu falecido Truffaut. O filme simplesmente me arrebatou e digo que foi uma das melhores coisas que assisti nos últimos anos. É o que o cinema contemporâneo tem de melhor, por isso que jamais concordarei com o Greenaway de que o cinema está morto. Não conhecia o diretor e já quero assistir tudo dele. Não vou dar mais detalhes senão estrago o filme para quem for assistir.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

A MORTE DO CINEMA E DO MEU PAI TAMBÉM

Título Original: Moto Shel Hakolnoa Ve Shel Aba Sheli Gam
Diretor: Dani Rosenberg
Ano: 2020
País de Origem: Israel
Duração: 105min
Nota: 8

Sinopse: Um pai e um filho tentam congelar o tempo através do cinema, mas a doença do pai ameaça interromper o processo.
 
Comentário: Um dos indicados a Palma de Ouro no Festival de Cannes que não ocorreu devido a pandemia. O filme é muito bom, adoro esses diálogos metalinguísticos no cinema, a edição do filme funciona muito bem entre o que é o filme dentro do filme com o que é real. Diria até que talvez merecesse até uma nota melhor, mas eu não consigo ignorar o fato de ser um filme que mostra um povo vivendo de boa sob o governo sionista, não dá para não pensar que ali do lado os palestinos mal tem energia elétrica e água potável enquanto os israelenses vivem suas vidas burguesas. Tentando ignorar este fato e me focando no filme, a atuação de Marek Rozenbaum como Yoel é estupenda e merecia ser premiada, dá um show. O filme cria um diálogo muito interessante sobre o tempo, o envelhecimento e a família. Merecia mais destaque, o diretor é competente, vi um tom de crítica ao clima alarmista e histérico que deve ser viver em Israel quando ele trata de uma suposta guerra com o Irã, mas é tudo muito sutil. Um belo filme, mas que seria muito melhor com as críticas ao sionismo do diretor Nadav Lapid, por exemplo, porque espaço tinha de sobra para isso. Apesar de tudo, gostei bastante, e me emocionou.

domingo, 24 de dezembro de 2023

ANDARILHOS DO DESERTO

Título Original: Al Haimoune
Diretor: Nacer Khemir
Ano: 1984
País de Origem: Tunísia
Duração: 96min
Nota: 9

Sinopse: Um professor é designado para uma vila remota no deserto, obcecada por um misterioso tesouro enterrado e cujos filhos são amaldiçoados a vagar pelo deserto.
 
Comentário: Que filme! Parecia que eu estava lendo algo do Italo Calvino. Tudo no filme que não funciona é fruto de nossa ignorância e desconhecimento total da cultura árabe. É um filme de referências, cheio de lendas e fáculas daquele povo que para nós parece tão distante. O filme tem uma fotografia ímpar e constrói dentro de si mesmo outras fábulas que conversam com o mundo contemporâneo e que servem tanto como críticas como análises. Os andarilhos do deserto do filme são tão diferentes dos filhos que precisam migrar para outras terras para conseguir sustento nos dias de hoje? Acho que não. Depois de ver este filme ler As Mil e uma Noites subiu para o topo das minhas prioridades.

sábado, 23 de dezembro de 2023

A DUPLA VIDA DE VÉRONIQUE

Título Original: La double vie de Véronique
Diretor: Krzysztof Kieślowski
Ano: 1991
País de Origem: França
Duração: 97min
Nota: 10

Sinopse: Duas histórias paralelas sobre duas mulheres idênticas; uma morando na Polônia e outra na França. Elas não se conhecem, mas suas vidas estão profundamente conectadas.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro e vencedor dos prêmios de Melhor Atriz e do Prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema no Festival de Cannes. Para mim é um pecado muito grande terem dado a Palma de Ouro para o Barton Fink, este filme é muito superior e parece ter envelhecido como vinho. É um filme sensorial, muito mais do que narrativo, apesar da narrativa estar ali presente, como coadjuvante. É tudo tão real e ao mesmo tempo tão fantástico que é difícil descrever. Apesar da referência para o Amélie Poulain ser real, também não acho tanto assim. Acho que não deve agradar uma geração Netflix acostumada a filmes mastigados enfiados em catálogos pré-fabricados diretos em seus cérebros. Tudo no filme funcionou para mim, da fotografia à música, do elenco (Irène Jacob é uma das mulheres mais maravilhosas do mundo) ao roteiro e, principalmente, o sentimento doce e amargo que fica.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

ARCA RUSSA

Título Original: Russkiy Kovcheg
Diretor: Aleksandr Sokurov
Ano: 2002
País de Origem: Rússia
Duração: 99min
Nota: 8

Sinopse: Um aristocrata francês do século XIX, conhecido por suas memórias contundentes da vida na Rússia, viaja pelo Museu Hermitage de São Petersburgo e encontra figuras históricas dos últimos 200 anos.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. O filme impressiona em vários aspectos, e por mais que deixe a gente boiando por não conhecer tão bem as personalidades históricas russas, é preciso tirar o chapéu para toda a ideia do filme. Fiquei imaginando um filme assim com personagens da literatura russa, que sou fã, o deleite que não seria. O fato de ser todo filmado em plano sequência é um dos pontos que fazem o filme crescer bastante, há momentos que funcionam melhores que outros, mas a grandiosidade do filme ofusca qualquer defeito. Com certeza é um filme que vai melhor muito em uma segunda assistida depois de um estudo histórico sobre o período em que se passa. O Hermitage é um personagem a mais e vai ganhando espaço conforme o filme vai se desenrolando. É uma experiência bem diferente, acho que vale a pena nem se for só para contemplar, esquecer a parte narrativa.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

BELFAST

Título Original: Belfast
Diretor: Kenneth Branagh
Ano: 2021
País de Origem: Irlanda do Norte
Duração: 98min
Nota: 4

Sinopse: Escrito e dirigido por Kenneth Branagh, este filme semiautobiográfico traça a infância de um menino durante o tumultuado final dos anos 1960, na capital da Irlanda do Norte.
 
Comentário: Eu fico imaginando se daqui há alguns anos a gente vai ver um filme sobre uma família de judeus vivendo em Israel que discutem se devem partir pela violência que anda o país com seu povo atacando os palestinos. Pois é exatamente este o plot deste filme, sem aprofundamento nenhum sobre as razões que levaram aos conflitos que já existiam antes e que só foram parar em 1998, naquilo que os irlandeses chamam de "A Guerra que a Inglaterra Não Ganhou". A família central do filme são de família inglesa, que apoiam a ocupação do trono inglês em território irlandês, que tem trabalho e proposta boa para partir para a Inglaterra, enquanto os católicos nativos da ilha são os colonizados. Estamos vendo de novo esta história, tinha até o I.R.A. que era taxado de grupo terrorista pela mídia ocidental. O filme é cheio de vazios, um protagonista bonitinho com uma história para lá de clichê. A frase de efeito no final chega a ser um tapa na cara dos "irlandeses que ficaram", como se eles tivessem para onde ir ou como se tivessem escolha com o que a Inglaterra fez com eles. Achei o filme de um mal gosto tremendo. Não é ruim de assistir, passa até que gostoso o tempo, mas quando analisamos friamente é um filme bem ruinzinho.

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

FÅRÖ 1969

Título Original: Fårö Dokument
Diretor: Ingmar Bergman
Ano: 1970
País de Origem: Suécia
Duração: 58min
Nota: 7

Sinopse: Primeiro documentário de Ingmar Bergman, realizado em 1969 após construir sua casa na Ilha de Farö, no Mar Báltico. Produzido para a TV sueca, investiga o cotidiano dos moradores da ilha e as razões políticas e sociais de seu despovoamento.
 
Comentário: O documentário é bom, é interessante como Bergman consegue nos apresentar a vida local amaranhada com a história do local. Hoje, Fårö, tem ainda menos habitantes do que na época, e acho que é compreensível, porque eu realmente não entendo a pessoa querer morar em um local com um clima tão ruim. Moro na Inglaterra e não vejo a hora de nunca mais ter que encarar as condições climáticas daqui, Fårö parece ser ainda pior. A gente fica curioso sobre o destino de personagens apresentados, o diretor fez outro documentário sobre o local 10 anos depois e irei conferir com certeza. Morei na Alemanha em uma fazenda aonde tinha abate de animais, virei vegetariano desde então, confesso que as cenas apresentadas aqui me incomodaram. Tem que ter estômago.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

DAS PROFUNDEZAS

Título Original: Il Buco
Diretor: Michelangelo Frammartino
Ano: 2021
País de Origem: Itália
Duração: 93min
Nota: 8

Sinopse: Em agosto de 1961, um grupo de espeleólogos se dirigiu ao sul da Itália para explorar cavernas desconhecidas pelo homem e descobre a segunda mais profunda do mundo.
 
Comentário: Vencedor do Prêmio Especial do Juri no Festival de Veneza. É um filme contemplativo, não há um fio narrativo, então acho que tem que estar no clima. Confesso que teve momentos que senti que não funcionou comigo, mas quando terminou fiquei pensando em várias maneiras diferentes de se ver o filme e fui gostando mais e mais dele. Acho que não estava preparado para o que ia ver e me deixou meio dividido, porém devo assistir de novo no futuro e acredito que vai funcionar mais, já que depois de ter assistido parece que o filme foi crescendo dentro de mim, criando reflexões que foram surgindo como a cada novo nível da caverna do filme. É bem interessante, valeu a assistida, mas é daqueles que não recomendo para qualquer um, é daqueles que é preciso um nível de entrega que pouquíssimas pessoas tem, por estarem acostumadas com um cinema mais feijão com arroz.

domingo, 10 de dezembro de 2023

GAZA MON AMOUR

Título Original: Gaza Mon Amour
Diretores: Arab Nasser & Tarzan Nasser
Ano: 2020
País de Origem: Palestina
Duração: 87min
Nota: 8

Sinopse: Após encontrar uma antiga estátua de Apolo em suas redes, um pescador de 60 anos começa a se sentir mais confiante para se aproximar de Siham, uma mulher que trabalha com sua filha no mercado por quem nutre um amor secreto.
 
Comentário: Indicado em uma das premiações paralelas no Festival de Veneza. Um filme gostoso de assistir, mas sem deixar de lado as críticas sociais que a Palestina vive hoje por conta do cerco imposto pelo estado terrorista de Israel. Mesmo com toda a aura de apartheid que vivem, a vida segue e é isto o que o filme tenta mostrar. Há situações cômicas envolvendo a estátua de Apolo, assim como há o romance tímido entre os protagonistas, os personagens vão se desenvolvendo de maneira muito simples, mas eficiente durante o filme. Acho que no geral entrega o que propõe, não é um filme que tenta ser grandioso, mas sim entreter sem ser vazio. Há cenas tão pequenas, que parecem sem importância, mas que carregam muito significado. Vale a conferida.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

QUO VADIS, AIDA?

Título Original: Quo Vadis, Aida?
Diretor: Jasmila Zbanic
Ano: 2020
País de Origem: Bósnia e Herzegovina
Duração: 104min
Nota: 10

Sinopse: Aida é tradutora da ONU na pequena cidade de Srebrenica durante a guerra que assolou os Balcãs na década de 90. Quando o exército dos sérvios invadem a cidade, sua família está entre os milhares de cidadãos que buscam refúgio.
 
Comentário: Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza, na minha opinião merecia o prêmio, mas o assunto é algo que o mundo europeu cristão quer fingir que não ocorreu. Sou um grande crítico da ONU e neste filme é possível ter um gostinho a respeito deste assunto, apesar do filme não explicar o porque nada foi feito contra os sérvios, que eram a esperança americana contra a Iugoslávia, último reduto socialista na Europa depois da queda da União Soviética. Não vou me estender de como a ONU vem desde sua criação seguindo uma agenda dos EUA e seus aliados. O filme é construído de uma maneira muito foda, o desenrolar é espetacular e o elenco é só a cereja no bolo. O filme te deixa mal, te deixa pensando por semanas, meses e quem sabe até anos. Uma história que é só um pequeno detalhe do horror que foi o massacre de assolou os Balcãs na década de 90. Um filme necessário, que o mundo ocidental tenta varrer para baixo do tapete (vide o prêmio Nobel de literatura dado em 2019 para o Peter Handke que finge que exatamente o genocídio mostrado neste filme nunca aconteceu). Srebrenica não deve ser esquecida, é só mais um genocídio na conta da sociedade ocidental eurocentrista cristã do bem.

sábado, 2 de dezembro de 2023

O RELATÓRIO

Título Original: Gozaresh
Diretor: Abbas Kiarostami
Ano: 1977
País de Origem: Irã
Duração: 109min
Nota: 6

Sinopse: A vida de um cobrador de impostos que é acusado de aceitar subornos, e também tem de lidar com outros problemas em casa.
 
Comentário: Um filme menor e diria até que meio fora da curva do diretor, onde o personagem principal só me deixou com asco. O cara simplesmente não vale nada e é só um desses babacas que orbitam o mundo masculino de uma forma geral até hoje. O filme não tem uma narrativa que te prenda, mas é feito de momentos e tem alguns diálogos excelentes que valem a pena, que é onde você o percebe como uma obra do Kiarostami. Fiquei com dó da criança que é largada no carro no frio, leva uma mala na cara e é deixada de lado toda hora. Fiquei apreensivo. Shohreh Aghdashloo novinha de tudo, linda demais e é quem carrega o filme de certa maneira.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

AS OITO MONTANHAS

Título Original: Le Otto Montagne
Diretores: Felix van Groeningen & Charlotte Vandermeersch
Ano: 2022
País de Origem: Itália
Duração: 147min
Nota: 9

Sinopse: Uma jornada épica de amizade e autodescoberta nos incríveis Alpes italianos, As Oito Montanhas segue ao longo de quatro décadas o profundo e complexo relacionamento entre Pietro e Bruno.
 
Comentário: Vencedor do Prêmio do Juri no Festival de Cannes. O filme é bem gostoso de assistir, o tempo vai passando e você se envolve com a história. O diretor podia deixar um pouco mais claro os períodos temporais, a cena em que o pai escuta uma partida de futebol do Juventus no carro eu identifiquei que se passa entre 2004 à 2006 porque o Cannavaro estava no time. Então provavelmente até o final do filme vemos bastante os destroços de uma Itália pós-crise de 2008. Há cenas lindíssimas e o filme consegue segurar o emocional sem cair no pedantismo. Um filme que merece ser visto e que deve agradar um público amplo. Direção e elenco espetaculares. Mesmo muita coisa não seguindo como a gente gostaria durante todo o filme, acho que emula bem a vida, que nem sempre segue nossos planos.

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

CÉU VERMELHO

Título Original: Roter Himmel
Diretor: Christian Petzold
Ano: 2023
País de Origem: Alemanha
Duração: 102min
Nota: 10

Sinopse: Uma casa de férias junto ao mar Báltico. Os dias estão quentes e não chove há semanas. Quatro jovens se reúnem, velhos e novos amigos. À medida que as florestas secas ao redor deles começam a pegar fogo, o mesmo acontece com suas emoções.
 
Comentário: Vencedor do Grande Prêmio do Juri no Festival de Berlim. Estreando os filmes de 2023 aqui no blog com provavelmente o melhor filme do ano. Petzold consegue fazer outra obra prima que me despedaçou completamente, poucos diretores conseguem mexer tanto comigo quanto este. A premissa é a das mais simples possíveis, mas como tudo é orquestrado, como os personagens são construídos e a sucessão de fatos vai levando ao desfecho avassalador é coisa de gênio. É o tipo de história que me encanta, o tipo de coisa que eu procuro conseguir escrever um dia como escritor. O título em inglês é ridículo, "Céu Vermelho" como no original faz muito mais sentido. Que elenco! Que direção! Que filmaço!

sábado, 25 de novembro de 2023

CAROS CAMARADAS - TRABALHADORES EM LUTA

Título Original: Dorogie Tovarishchi
Diretor: Andrey Konchalovskiy
Ano: 2020
País de Origem: Rússia
Duração: 120min
Nota: 8

Sinopse: Quando o governo comunista aumentou os preços dos alimentos em 1962, os trabalhadores de uma fábrica na cidade russa de Novocherkassk entram em greve. O massacre que se segue é visto pelos olhos de uma devota ativista do partido.
 
Comentário: Vencedor do Prêmio Especial do Juri no Festival de Veneza. Yuliya Vysotskaya se entrega demais como a personagem principal, acho que pertence a ela o maior mérito no que funciona no filme. O diretor até tenta manter uma certa neutralidade, mas não funciona no filme todo, há momentos que parece panfletagem ocidental (vale lembrar que Konchalovskiy era um exilado trabalhando para Hollywood onde fez até o Tango e Cash), mas isso não ocorre na maior parte do filme. A história flui muito bem e o reflexo de uma Rússia de Stalin contraposta de uma Rússia de Khrushchev é a melhor parte da história. Entender (mesmo eu sendo marxista e extremamente opositor a Stalin) como a figura dele era importante para o país e como muita coisa foi se esfacelando depois de sua morte, é poético demais.

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

ANTES DA CHUVA

Título Original: Pred Dozhdot
Diretor: Milcho Manchevski
Ano: 1994
País de Origem: Macedônia
Duração: 113min
Nota: 10

Sinopse: Uma Macedônia dilacerada pela guerra serve como pano de fundo para três narrativas: 'Palavras', na qual monge se apaixona por garota refugiada; 'Rostos', em que fotógrafa se vê dividida entre marido e amante; e 'Imagens', que mostra o retorno do premiado fotógrafo Aleksander à sua nativa Macedônia.
 
Comentário: O filme saiu do Festival de Veneza levando nada menos que 12 prêmios, incluindo o Leão de Ouro e Melhor Ator para Rade Serbedzija. Um dos filmes que mais me marcaram na minha adolescência e que fazia umas duas décadas que não revisitava. Grata surpresa ver que ele não envelheceu mal, e triste surpresa constatar que ele continua tão atual. A fórmula usada para contar histórias que se interligam separadas em diferentes capítulos, mudando seus protagonistas e usando o tempo como personagem principal de todo o filme é de uma genialidade incrível, principalmente se pensarmos que "o tempo nunca morre e o ciclo nunca se completa". Não importa quanto tempo passe, parece que a humanidade continua e continuará sempre dentro deste ciclo sem fim de barbárie. Elenco maravilhoso e confesso que Labina Mitevska era a minha crush quando moleque... e no fim acabei me envolvendo com uma garota da Macedônia em Dublin que não acreditou quando disse que amava este filme. Filme dos mais obrigatórios deste blog. Continua entre meus favoritos.

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

NARDJES A.

Título Original: Nardjes A.
Diretor: Karim Aïnouz
Ano: 2021
País de Origem: Argélia
Duração: 81min
Nota: 7

Sinopse: Acompanhando a ativista Nardjes com a sua câmara, Karim Aïnouz capta a fotografia de uma jovem que sai com confiança para as ruas por um futuro democrático para a Argélia, o país por cuja independência os seus pais e avós lutaram.
 
Comentário: Filmado todo com um celular durante uma das manifestações do Hirak que tomaram as ruas da Argélia de 2019 até 2000 todas as sextas-feiras. É muito impressionante comparar as manifestações da Argélia com as Jornadas de Junho de 2013 no Brasil, pois fica mais que provado que todo levante popular sem um projeto político está fadado ao fracasso, protestar contra o status quo imposto sem apresentar uma via de solução só ajuda a extrema direita a se fortalecer. Este ano de 2023, em setembro, um especialista de direitos humanos da ONU pressionou o país a perdoar manifestantes condenados durante o Hirak, por mais que o primeiro ministro tenha renunciado em 2 de abril de 2019 (a manifestação do filme ocorre no dia 8 de março de 2019), o atual presidente era um ministro do governo anterior e o país continua tomado pelos militares. Nenhuma mudança veio com o Hirak, talvez tenha ficado até pior, portanto essencial fazermos uma analise. O filme podia focar um pouco mais na Argélia do que ficar só na manifestação por tanto tempo, tem uma tia gritando que lembra uma bolsonarista brasileira. O diretor, apesar de brasileiro, é descendente argelino por parte de pai e durante esse período na Argélia, além deste filme, fez o excelente Marinheiro das Montanhas.

terça-feira, 14 de novembro de 2023

CRIANÇAS DO SOL

Título Original: Khorshid
Diretor: Majid Majidi
Ano: 2020
País de Origem: Irã
Duração: 98min
Nota: 7

Sinopse: Ali e seus três amigos trabalham duro para sobreviver e sustentar suas famílias. Em uma reviravolta que parece milagrosa, Ali é encarregado de encontrar um tesouro escondido.
 
Comentário: Indicado ao Leão de Ouro e vencedor de dois prêmios em premiações paralelas no Festival de Veneza. Acho que há muito no filme que funciona muito bem, principalmente no que tange a escola onde a maior parte da ação se passa. O diretor abre mão de se aprofundar nos garotos coadjuvantes e os descarta muito facilmente para se aprofundar em um melodrama desnecessário. Poderia ter trabalhado mais as relações e menos a busca incessante pelo tesouro. Não vejo problema em usar uma narrativa mais comercial, típica do cinema ocidental, afinal de contas funcionou muito bem em O Carcereiro, mas talvez aqui não funciona tão bem. Mas vale bastante a assistida, há mais acertos do que erros, não quero parecer tão crítico ao filme. Elenco está excelente e a narrativa prende bem o telespectador.

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

DIRIJA MEU CARRO

Título Original: Doraibu Mai Kâ
Diretor: Ryûsuke Hamaguchi
Ano: 2021
País de Origem: Japão
Duração: 179min
Nota: 8

Sinopse: Um renomado ator e diretor de teatro tem que aprender a lidar com uma grande perda pessoal, quando recebe uma oferta para dirigir uma produção teatral de Tchécov em Hiroshima.
 
Comentário: Vencedor dos prêmios de Melhor Roteiro e da Federação Internacional de Críticos de Cinema no Festival de Cannes. O filme é muito bem construído, há uma certa meticulosidade em todos os cantos onde o diretor mostra toda sua capacidade técnica e narrativa. Os atores também dão um show, a coadjuvante muda é a cereja no bolo de todo o elenco. Apesar da duração extensa, o filme passa relativamente bem rápido e emociona, mas nem tudo são flores. Há uma mensagem que ficou entalada na minha garganta, com um gosto bem amargo, me pareceu que há uma certa romantização e até uma certa passada de pano para relacionamentos tóxicos (me machuca, mas me ama) que me deixou com o pé atrás. Faz a gente pensar bastante na cultura japonesa que é permeada de machismos, sexismos e misoginia, daí parece que o filme coloca uma mulher no papel típico de homem e tenta achar tudo bonito. Preferi o Roda do Destino.

domingo, 12 de novembro de 2023

AMONITA

Título Original: Ammonite
Diretor: Francis Lee
Ano: 2020
País de Origem: Inglaterra
Duração: 117min
Nota: 7

Sinopse: Na Inglaterra de 1840, a aclamada, mas ignorada caçadora de fósseis, Mary Anning e uma jovem enviada para convalescer à beira do mar desenvolvem um relacionamento intenso, que altera suas vidas para sempre..
 
Comentário: Um dos filmes selecionados para a Palma de Ouro no Festival de Cannes no ano em que não ocorreu devido a pandemia. O filme é bom, achei a entrega das atrizes as personagens bem intenso, o diretor também é competente na parte técnica e o desfecho da cena final é arrebatador. Estive no Museu de História Natural em Londres em março deste ano de 2023, apesar de morar na Inglaterra fui para Londres pouquíssimas vezes, estando lá me indignei com o destrato dado ao Alfred Russel Wallace, mas me chamou a atenção um mural contando toda a história de Mary Anning (que não conhecia) e pesquisei sobre ela na época. Meu espanto ao ir assistir esse filme sem saber nada a respeito e ver que era sobre esta escavadora de fósseis, porém o filme me causou certa indignação. Explico. Não tenho problema nenhum do diretor ter inventado fatos para contar uma história, acho até legal isso, mas me incomoda quando uma pessoa real é retratado com uma personalidade completamente diferente: Anning não era uma pessoa reclusa e retraída, muito pelo contrário, era atuante em sua comunidade e rodeada de pessoas no âmbito social. Acho que mudar quem uma pessoa foi um certo desrespeito, por isso perdeu um pouco de nota.

sábado, 11 de novembro de 2023

COMPARTIMENTO Nº6

Título Original: Hytti Nro 6
Diretor: Juho Kuosmanen
Ano: 2021
País de Origem: Finlândia
Duração: 108min
Nota: 8

Sinopse: Enquanto um trem segue seu caminho até o círculo ártico, dois estranhos compartilham uma jornada que mudará suas maneiras de encarar a vida.
 
Comentário: Vencedor do Grand Prix no Festival de Cannes. Um filme bem gostoso de assistir, você vai se envolvendo na relação que vai sendo construída, o personagem Ljoha permanece um enigma em vários aspectos, você quer desvendá-lo e não consegue. Grande acerto do diretor. A personagem principal também tem seu carisma que funciona muito bem. O filme se passar aparentemente no final dos anos 90 (com certeza de 1997 para depois) também foi outra escolha acertada, existe toda uma áurea de nostalgia para pessoas como eu que viveram e sentem saudades de um mundo mais analógico sem a febre do celular. O final é ótimo, as pontas soltas são ótimas, a experiência que fica do filme também é ótima. Enfim, um filme que eu indicaria para todo mundo, mesmo sabendo que tem uns que torceram o nariz. Apesar do filme se passar todo na Rússia, é uma produção finlandesa, inclusive foi a escolha do país para competir no Oscar.

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

SUOR

Título Original: Sweat
Diretor: Magnus von Horn
Ano: 2020
País de Origem: Polônia
Duração: 106min
Nota: 8

Sinopse: Três dias na vida da motivadora do fitness Sylwia Zajac, cuja presença nas mídias sociais a tornou uma celebridade. Embora ela tenha centenas de milhares de seguidores, seja cercada por funcionários leais e admirada por conhecidos, o que ela realmente procura é a verdadeira intimidade.
 
Comentário: Mais um dos filmes que foram selecionados para a Palma de Ouro no Festival de Cannes que não ocorreu por conta da pandemia. O filme é muito bom, levanta várias questões interessantes e a maneira como tudo é mostrado também acaba dando uma carga para o filme que poderia muito bem ter ido por um caminho mais fácil. A relação entre a personagem e sua mãe tem várias camadas, o machismo e a misoginia transbordam e a falsidade da vida através de um celular acaba sendo o principal. A atriz está ótima no papel, merecedora de um prêmio de melhor atriz em Cannes caso o festival tivesse sido realizado. Um filme que parece raso se você assistir sem prestar atenção, mas muito profundo. Para uma discussão mais apurada seria necessário spoilers.

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

GAZA

Título Original: Gaza
Diretores: Garry Keane & Andrew McConnell
Ano: 2019
País de Origem: Palestina
Duração: 91min
Nota: 9

Sinopse: Um belo retrato dos cidadãos de Gaza, levando vidas significativas além dos escombros de conflitos perenes.
 
Comentário: Indicado para melhor documentário do Festival de Sundance. Avassalador é a melhor palavra para descrever o sentimento de ver essas vidas passando pela nossa tela, tentar entender como é que é possível a humanidade chegar nesse ponto. Mesmo tendo cenas nitidamente ensaiadas (como quando o taxista vai comprar um café, por exemplo) a essência do que realmente importa está ali e não é nem um pouco parte de um script. O comércio local destruído pela falta de energia elétrica, a dificuldade de acesso a água e a condições dignas de sobrevivência. Há quem possa apontar o dedo para o sujeito pobre com 3 esposas e 40 filhos, mas é as mazelas da pobreza não tão diferente do Brasil. As cenas com o enfermeiro e os relatos dele são os melhores e achei os mais autênticos. Um filme necessário neste momento de genocídio que vivemos. Fico pensando quais personagens conseguiram permanecer vivos depois desse cerco de Israel. PS: cadastrei o filme como palestino, apesar de ser uma produção irlandesa, porque não achei que faria sentido um filme cadastrado aqui como irlandês que se passa inteiro em Gaza.

domingo, 5 de novembro de 2023

TRIBUTO AOS PROFESSORES

Título Original: Bozorgdasht-e mo'Allem Ra
Diretor: Abbas Kiarostami
Ano: 1977
País de Origem: Irã
Duração: 17min
Nota: 6

Sinopse: Neste breve curta do início da carreira de Kiarostami, ele entrevistou professores no Irã para prestar homenagem ao papel da educação na sociedade daquele país.
 
Comentário: Interessante o curta, e triste ao mesmo tempo. É possível ver as raízes conservadoras religiosas intrincadas na educação, assim como ocorre no Brasil hoje, e mostra muito bem alguns pontos importantes do cenário em que ocorreu a ascensão da República Islâmica naquele país com a Revolução de 79, apenas dois anos depois deste filme e que perdura até hoje. Também é possível comparar como a educação é colocada de escanteio em países de terceiro mundo, com má remuneração e a velha história de "ser professor é uma profissão honrada, não para ganhar dinheiro". Como é bom hoje conseguir ler farsi, a grafia do título original está toda errada no IMDB quanto no Filmow (faltando o "Ra" no final que quase não altera o significado).

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

JOYLAND

Título Original: Joyland
Diretor: Saim Sadiq
Ano: 2022
País de Origem: Paquistão
Duração: 127min
Nota: 10

Sinopse: O filho caçula de uma tradicional família paquistanesa consegue um emprego como dançarino de apoio em um burlesco à la Bollywood e rapidamente se apaixona pela obstinada mulher trans que comanda o show.
 
Comentário: Vencedor do Prêmio do Juri da competição Um Certo Olhar no Festival de Cannes. Por mim podia ter dado a Palma de Ouro fácil para este aqui, confesso que o começo do filme não me prendeu muito, é o desenrolar e o desfecho que despedaça a gente por dentro que faz o filme ter a força que tem. Definitivamente não é um filme sobre um romance queer, é um filme sobre responsabilidade emocional (fator tão em falta na sociedade de hoje), como afetamos as pessoas a nossa volta, como as conexões se estendem entre as pessoas e a fronteira entre o egoísmo, responsabilidade e tantas outras coisas que fazem parte de pessoas e relacionamentos. Um filme complexo, que diz tanta coisa com uma história até que simples, o final martela na cabeça por muito tempo. Sarwat Gilani (a cunhada) é linda demais e dá um show. Ali Junejo e Alina Khan (o casal principal) dão um verdadeiro show, funcionam como tinham que funcionar, mas é Rasti Farooq (como Mumtaz) que rouba o filme inteiro. Diria que em um ano que teve muito, mas muito filme foda mesmo, este aqui talvez seja o melhor. (2022 foi uma surpresa de tanto filme bom).

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

NILSON, FILHO DO CAMPEÃO

Título Original: Nilson, Filho do Campeão
Diretor: Diego Tafarel
Ano: 2021
País de Origem: Brasil
Duração: 16min
Nota: 6

Sinopse:

A vida animal em tempos de trabalhos e afetos precarizados.

 
Comentário: É um curta metragem onde tem muita coisa que funciona e muita coisa que não. Achei o personagem meio creepy, o ator está muito bem no papel. A situação da festa de aniversário é muito boa, mesmo não fazendo o menor sentido um cara fantasiado de bichinho ir animar uma festa de um marmanjo (só faz sentido se o amigo dele for o maior filho da puta da história), mas todo o clímax do que poderia acontecer depois não acontece ou não é desenvolvido na história. A própria situação do personagem, quem é que vive em uma casa tipo a dele sozinho vestido de bicho fazendo propaganda na rua? Este tipo de trabalho é bico de quem faz outra coisa, eu já fiz e tive uma namorada que fazia (é triste demais). Acho que faltou um pé no realismo das condições de muita coisa, mas não é ruim de assistir por isso, cumpre o papel de maneira satisfatória, mas poderia ter sido bem melhor. Não entendi nada o título.

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

ESTE É O MEU DESEJO

Título Original: Eyimofe
Diretores: Arie Esiri & Chuko Esiri
Ano: 2020
País de Origem: Nigéria
Duração: 116min
Nota: 7

Sinopse: Em Lagos, Nigéria, a tragédia e o destino intervêm quando duas pessoas tentam melhorar a vida de suas famílias.
 
Comentário: Indicado em uma seleção paralela no Festival de Berlim. O título original é uma palavra em iorubá que significa um indivíduo atencioso e amoroso que coloca a necessidade dos outros antes da sua, portanto o título nacional que acabou sendo traduzido direto do título em inglês acaba não tendo o mesmo sentido. A estreia dos irmãos gêmeos é bastante competente e fico no aguardo para futuros filmes deles, o elenco também dão um show. Me espanta um pouco a passividade do povo nigeriano, por mais que eles estejam na merda eles não perdem o controle, não se revoltam, não gritam, não explodem... e isso é um aspecto cultural que pude perceber nos últimos anos, trabalho com vários e dois deles são relativamente bem próximos de mim, sempre me espanto com isso e neste filme pude ver muito disso. Uma triste realidade que chega a ser até um pouco indigesta de assistir. Temiloluwa Ami-Williams que interpreta Rosa está deslumbrante.

terça-feira, 31 de outubro de 2023

O JOELHO DE AHED

Título Original: Ha'berech
Diretor: Nadav Lapid
Ano: 2021
País de Origem: Israel
Duração: 111min
Nota: 10

Sinopse: Um cineasta israelense enfrenta duas batalhas condenadas ao fracasso: uma contra a morte da liberdade, outra contra a morte de uma mãe.
 
Comentário: Vencedor do Prêmio do Juri no Festival de Cannes. Confesso que tinha um pé atrás com o diretor porque nunca consegui me conectar muito bem com seu filme Sinônimos apesar de reconhecê-lo como um filme muito bom. Este porém acabou entrando na minha lista de melhores do ano, senão O melhor. Amei! Tipo de filme que eu gosto, com toda a metalinguagem e crítica ácida (ao estado terrorista de Israel, ao sistema capitalista, a cultura de guerra, a normalização de uma realidade orwelliana ou tantas outras coisas). Nadav Lapid se faz tão necessário e talvez um dos maiores diretores da atualidade. A parte técnica é simplesmente maravilhosa e toda a construção da história com a explosão verborrágica em uma das cenas mais emblemáticas dos últimos anos. Certo, confesso que não é um filme que vá agradar uma grande maioria, mas é daqueles filmes que me conquistam.

LIMBO

Título Original: Limbo
Diretor: Ben Sharrock
Ano: 2020
País de Origem: Escócia
Duração: 104min
Nota: 10

Sinopse: Omar é um jovem músico promissor. Separado de sua família síria, ele está confinado em uma remota ilha escocesa aguardando o destino de seu pedido de asilo.
 
Comentário: Um dos filmes que estava na seleção do Festival de Cannes para a Palma de Ouro do ano que não ocorreu devido a pandemia. Fui assistir sem saber quase nada do filme, sabia que se passava em uma ilha remota da Escócia e só, fui pego completamente de surpresa com um dos melhores filmes daquele ano. Ele é tão simples e ao mesmo tão complexo, tão sério e ao mesmo tempo tão leve, tão deliciosamente fantástico e ao mesmo tempo tão cruelmente real. Eu que moro no Reino Unido não pude deixar de rir com os personagens locais estereotipados, porque é exatamente assim. Tenho estudado árabe neste último ano com um exilado sírio e não pude deixar de me comover com a história. O ator Vikash Bhai, apesar de ser indiano e interpretar um afegão, consegue contagiar em todo momento que aparece em tela e está irreconhecível no papel. Tudo no filme funciona tão bem e acho que é daqueles que dá para indicar para todo mundo. ASSISTAM!

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

COMO APROVEITAR NOSSO TEMPO DE LAZER?

Título Original: Az Oghat-e Faraghat-e Khod Chegouneh Estefadeh Konim?
Diretor: Abbas Kiarostami
Ano: 1977
País de Origem: Irã
Duração: 18min
Nota: 6

Sinopse: Dois irmãos ociosos são ensinados sobre o processo de pintura para a restauração de uma velha porta. Diante de todos os passos do processo, reflete-se o interesse de Kiarostami pela marcenaria e os trabalhos manuais.
 
Comentário: Outro curta feito para o Instituto para Desenvolvimento Intelectual de Crianças e Jovens Adultos. Acaba sendo um pouco mais do mesmo que os outros curtas, sem trazer muito nada de novo, como sempre há imagens interessantes, mas foca um pouco mais nos dois irmãos e em técnicas sobre pintura, portanto há menos imagens aleatórias de um Irã pré revolução, que é o que acho que deixa os outros curtas mais interessantes pelo aspecto histórico como um todo. Portando achei este o menos interessante até aqui. Logicamente que há o brilhantismo da técnica narrativa do diretor, que nunca decepciona.