domingo, 28 de junho de 2020

VIDEODROME: A SÍNDROME DO VÍDEO

Título Original: Videodrome
Diretor: David Cronenberg
Ano: 1983
País de Origem: Canadá
Duração: 89min
Nota: 10

Sinopse: O dono de uma pequena emissora de TV (James Woods) resolve ir atrás de uma atração mais subversiva para atrair audiência, quando conhece uma nova filosofia de programa: o Videodrome, cujos criadores possuem idéias bizarras e não-usuais para seu público.

Comentário: É possível um filme ser datado e atual ao mesmo tempo? A resposta é "SIM!", em um dos melhores filmes de David Cronenberg. Praticamente tudo o que o filme profetiza se torna realidade no mundo em que vivemos hoje, com a diferença que o controle mental não veio do vídeo e sim da Internet que surgiria depois de alguns anos. Um filme subversivo até mesmo para os padrões de hoje em dia, tudo no filme funciona, um roteiro rocambolótico que funciona como em qualquer livro de William Burroughs. Faz o telespectador pensar, coisa que está faltando em qualquer filme comercial nos dias de hoje. Acredito ainda que hoje, em pleno 2020, seria difícil achar astros do escalão de James Woods ou Debbie Harry para embarcar em uma ideia desta. Assistindo de novo recentemente depois de anos, diria que ele está ainda mais assustados agora. É meu amigos, demos passos demais para trás. Morte ao Videodrome! Viva a nova carne!

sábado, 27 de junho de 2020

APÓCRIFA

Título Original: Apocrypha
Diretor: Andrey Zvyagintsev
Ano: 2009
País de Origem: Rússia
Duração: 13min
Nota: 8

Sinopse: Um garoto pega a câmera do pai, com a qual filma acidentalmente o fim de um relacionamento amoroso.

Comentário: Curta excluído do filme Nova York, Eu Te Amo, onde os diretores de diferentes nacionalidades tiveram 24 horas para filmes e uma semana para editar. Apesar de ser em Nova York, o curta (que quase não tem diálogos) tem mais falas em russo do que inglês, talvez por isso foi um dos cortados do filme, americano não gosta de ler legenda. Eu gostei muito do curta, nunca tinha assistido nada do Zvyagintsev e me surpreendeu muito positivamente. Carla Gugino sempre linda, mesmo de longe. Só quem já teve o fim de um relacionamento doloroso entende o significado de sentir a tristeza ao ver aquela foto dentro do livro. Gostei da qualidade técnica, simples e usando vários artifícios, como a tela da câmera. Não vi ao filme Nova York, Eu Te Amo, mas por alguns minutos a mais não deveriam ter cortado este segmento.

sexta-feira, 26 de junho de 2020

PERDÃO DE SANGUE

Título Original: Falja e Gjakut
Diretor: Joshua Marston
Ano: 2011
País de Origem: Albânia
Duração: 109min
Nota: 9

Sinopse: Uma família Albanesa é virada de cabeça para baixo por um assassinato, resultando numa dívida de sangue que transforma Nik e sua irmã Rudina em alvos. Forçados a saírem da escola e permanecerem para cuidar dos assuntos e negócios da família.

Comentário: Ganhador do prêmio de melhor roteiro e do juri ecumênico no Festival de Berlin. Joshua Marston, o diretor do filme, é americano com mestrado em ciências políticas e graduado em ciências sociais por Berkeley, fala francês, italiano, espanhol, tcheco, alemão e albanês... tudo isso para dizer que o filme é simplesmente uma aula em forma de filme. E que aula! Achei simplesmente fantástico, como existem culturas tão diferentes em pleno século XXI dentro da Europa que nem fazemos ideia. A direção, atuação, roteiro, desfecho, tudo funciona muito bem. Galera que reclama do filme ser lento tem mais é que ir assistir Velozes e Furiosos. Acho que o único ponto em que o filme peca é não explorar mais a relação de Nik com alguns membros da família. Nesta época de pandemia, em plena quarentena, é um filme extremamente válido, já que o personagem é obrigado a ficar preso em casa e vai perdendo o controle emocional aos poucos por isso. Recomendadíssimo!

quarta-feira, 24 de junho de 2020

TIO BOONMEE, QUE PODE RECORDAR SUAS VIDAS PASSADAS

Título Original: Loong Boonmee Raleuk Chat
Diretor: Apichatpong Weerasethakul
Ano: 2010
País de Origem: Tailândia
Duração: 108min
Nota: 7

Sinopse: Sofrendo de insuficiência renal, Tio Boonmee resolveu passar os últimos dias de sua vida recolhido em uma casa perto da floresta e ao lado de entes queridos. Durante um jantar com a família, o espírito de sua esposa falecida aparece para ajudá-lo em sua jornada final.

Comentário: O filme ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes, e parando para pensar agora, acho que foi o ano mais fraco do festival. Não que o filme seja ruim, mas eu daria o prêmio para o Cópia Fiel do Kiarostami fácil naquele ano. A cena do jantar com a esposa e o filho no começo do filme é a melhor coisa que o filme tem, há outras boas cenas, mas ele queima o melhor já no começo, depois o filme vai decaindo. Ao meu ver faltou um fio condutor para amarrar melhor tudo, que ficou muito esparso, sem algo que conecte o telespectador ao filme. A parte técnica é excelente e algumas sacadas também, mas no fundo fica um gosto de "podia ser melhor", principalmente por ter ganho a Palma de Ouro. Até o filho macaco, que é genial, foi subaproveitado. Ainda não vi Poesia, do Chang-dong Lee, mas dizem que é excelente e poderia ter sido premiado no lugar deste também.

terça-feira, 23 de junho de 2020

UMA CARTA PARA O TIO BOONMEE

Título Original: A Letter to Uncle Boonmee
Diretor: Apichatpong Weerasethakul
Ano: 2009
País de Origem: Tailândia
Duração: 18min
Nota: 5

Sinopse: De dentro de uma cabana, numa aldeia qualquer do país, passa-se a ver o mundo exterior com o olhar sempre particular do diretor e de seus “espíritos” (prontos a reencarnar, como reza a tradição de sua religião). Nesse contexto, uma carta pessoal do diretor descreve a cidade de Nabua para seu tio Boonmee. Uma câmera em lento movimento desliza pelas casas desertas. As vozes de três rapazes são ouvidas. Conforme a noite se aproxima, o céu escurece.

Comentário: Não consegui entrar muito na vibe do curta, que é arrastado e não serve nem como introdução a algo do filme, Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas, como algumas pessoas dizem. O único ponto positivo é as imagens da natureza que o diretor consegue captar, ele realmente é muito bom nisso. O diretor ganhou a Palma de Ouro em Cannes com o filme que se seguiu e citado acima, acho que poderiam utilizar o personagem do Tio Boonmee melhor neste curta, trazer mais informações para servir como um gancho e deixar o telespectador com aquele gostinho de "quero mais", mas ele serve como o oposto, depois de assistir fiquei pensando "ok, será que eu devo assistir a um filme com mais de uma hora e meia de duração que vai ficar igual esse curta?"

segunda-feira, 22 de junho de 2020

UMA NOITE TRANQUILA

Título Original: Xiao Cheng Er Yue
Diretor: Qiu Yang
Ano: 2017
País de Origem: China
Duração: 15min
Nota: 8

Sinopse: Em uma pequena cidade chinesa sem nome, uma mãe angustiada tenta desesperadamente encontrar sua filha adolescente desaparecida durante toda a noite.

Comentário: O filme ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes como melhor curta metragem. O diretor teve um outro filme premiado no festival em 2019. Aqui temos uma história bem simples, mas que já na primeira cena podemos ver vários sentimentos da relação familiar nas entrelinhas. O filme é muito bem feito e o sentimento de desamparo e angústia da mãe é muito bem passado pela câmera. Sempre acho difícil de dar uma nota ou de fazer uma análise de um curta devido ao curto espaço de tempo para contar uma história. Acho que aqui o diretor consegue aquilo que queria, logicamente poderia trabalhar muito mais coisas, mas acho que foi satisfatório, principalmente o final, acho que se o final fosse diferente acabaria caindo em algum tipo de clichê.

sábado, 20 de junho de 2020

TRAMA FANTASMA

Título Original: Phantom Thread
Diretor: Paul Thomas Anderson
Ano: 2017
País de Origem: Inglaterra
Duração: 130min
Nota: 10

Sinopse: Década de 1950. Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis) é um renomado e confiante estilista que trabalha ao lado da irmã, Cyril (Lesley Manville), para vestir grandes nomes da realeza e da elite britânica. Sua inspiração surge através das mulheres que, constantemente, entram e saem de sua vida. Mas tudo muda quando ele conhece a forte e inteligente Alma (Vicky Krieps), que vira sua musa e amante.

Comentário: P.T. Anderson volta com tudo depois do seu regular Vício Inerente, com um trabalho técnico que virou o sinônimo de perfeição, imagens lindas e uma história muito bem construída. O filme é um amaranhado de significados, enquanto temos a parte bonita da elegância, da riqueza, da costura, também temos a parte imperfeita dos relacionamentos, a parte humana cheia de falhas. Woodcock é uma pessoa que cria relacionamentos tóxicos com todos a sua volta (sua falecida mãe, sua irmã, sua namorada), mas nos faz pensar o que não seria um relacionamento tóxico? Daí fica a grande questão, é possível fazer dar certo um relacionamento tóxico? É tudo bem bizarro e escrito de maneira magnífica. Eu recomendo fácil. Sem contar que é o último trabalho de Daniel Day-Lewis, o melhor ator de sua geração com certeza. Primeiro trabalho do diretor fora dos EUA.

domingo, 14 de junho de 2020

14 ESTAÇÕES DE MARIA

Título Original: Kreuzweg
Diretor: Dietrich Brüggemann
Ano: 2014
País de Origem: Alemanha
Duração: 110min
Nota: 10

Sinopse: Maria, uma garota de 14 anos, é uma católica fundamentalista, que vive sua vida de um jeito moderno, porém seu coração pertence a Jesus. Ela quer se tornar santa e alcançar o paraíso. Ninguém, nem mesmo um garoto pelo qual se interessa, conseguirá convencê-la do contrário.

Comentário: Vencedor do Urso de Prata e do Juri Ecumênico no Festival de Berlin. O filme mostra uma família que segue a fictícia ordem Fraternidade Sacerdotal São Paulo, que na verdade nada mais é do que a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, o diretor provavelmente mudou o nome para não ter problema com eles. O filme é maravilhoso, mostra didaticamente como a religião é uma coisa tóxica e autodestrutiva do ser humano. Em pensar que muitas pessoas ainda vivem isso em pleno século XXI, quando já era para termos nos desprendidos destas velhas crendices sem embasamento nenhum em nada. Não é um filme fácil de ver, dá uma certa angústia, são 14 cenas que traça o paralelo entre cenas cotidianas de Maria com momentos da crucificação de Cristo. O filme é de uma genialidade tremenda, qualidade técnica impecável e que nos faz refletir sobre muitas coisas sobre o assunto. Filme obrigatório neste momento em que evangélicos deitam e rolam no nosso país.

sexta-feira, 12 de junho de 2020

TURNO DA NOITE

Título Original: Night Shift
Diretora: Zia Mandviwalla
Ano: 2012
País de Origem: Nova Zelândia
Duração: 14min
Nota: 8

Sinopse: Uma mulher por volta dos quarenta anos de idade prepara-se para iniciar seu turno como faxineira de um aeroporto à noite. Ao passar por um colega, este lhe pergunta “fazendo turno duplo de novo?”. E aos poucos os indícios de que ela vive no aeroporto se acumulam.

Comentário: O curta metragem foi indicado em Cannes, bem curtinho e com poucos diálogos, pode ser encontrado no YouTube. Uma história que ao mesmo tempo que é simples também é bem pesada. O final corta o coração e nos faz pensar no abandono geral que uma grande parte da população se sente. Criamos máquinas de trabalhar que não vivem mais, que estão tão ocupadas em sobreviver que não conseguem nem sequer ter uma chance para sair do buraco, pois a sociedade coloca ela cada vez mais fundo. É interessante como a diretora brinca com os pré-julgamentos tão comuns hoje em dia nessa sociedade Facebook pronta para apontar o dedo na cara de todo mundo. Curta bastante competente nos quesitos técnicos e ótima atuação da atriz Anapela Polataivao

quinta-feira, 11 de junho de 2020

OS CAMPOS BRANCOS

Título Original: Keshtzar Haye Sepid
Diretor: Mohammad Rasoulof
Ano: 2009
País de Origem: Irã
Duração: 93min
Nota: 10

Sinopse: O Lago Urmia, no Irã, é o terceiro maior lago de água salgada da Terra. Cada uma das ilhas que o circundam é composta de sal, que baniu toda a vegetação crescente e seus habitantes foram drenados de vitalidade e, talvez, da esperança. O barqueiro Rahmat tem uma missão. Ele vai, em seu barco, de ilha em ilha e recolhe as lágrimas das pessoas. As lágrimas são coletadas num recipiente limpo e límpido, mas ninguém sabe o destino que o barqueiro lhes reserva.

Comentário: O filme é uma enorme alegoria, o diretor faz um trabalho magistral ao misturar a cultura do sul do Irã com uma espécie de fábula. Rasoulof foi preso depois de realizar este filme que é uma crítica disfarçada ao sistema político de seu país, e porque não do próprio sistema capitalista do mundo inteiro? É como uma Ilíada persa, mas que desconstrói o mito, onde os personagens estão ali para por o dedo na ferida e fazer o telespectador pensar a respeito do mundo em que vivem. Um filme brilhante, o melhor que assisti até agora do diretor. Imagens belíssimas e fortes costuram as histórias que parecem contos dentro de um grande livro.

quarta-feira, 10 de junho de 2020

MAGNÓLIA

Título Original: Magnolia
Diretor: Paul Thomas Anderson
Ano: 1999
País de Origem: EUA
Duração: 188min
Nota: 10

Sinopse: Um dia em San Fernando Valley, na Califórnia, nos arredores da rua Magnólia, as vidas de nove personagens são interligadas através de um programa de televisão onde um grupo de três crianças desafia três adultos. O filme acompanha um pai à beira da morte, uma jovem esposa, um enfermeiro, um filho perdido, um policial apaixonado, um menino gênio, um ex-gênio, o apresentador do programa e uma filha afastada, cujas histórias se cruzam por coincidências do destino.

Comentário: A ideia é não colocar filmes americanos no blog, salvo exceções. Magnólia tinha que ser uma delas. Filme vencedor do Urso de Ouro em Berlin e para mim o melhor filme americano já feito (Mas o Além da Linha Vermelha ainda é meu preferido). Todo o tipo de sentimento ou conhecimento importante do ser humano está aí, representado de alguma forma, em algum momento. O filme é rápido, dinâmico, não dá muito tempo para respirar, como a vida que passa em um sopro. O filme é poesia, é fé e ciência, amor e tudo o que vem com ele no pacote. Já assisti várias vezes e toda vez um tipo diferente de sentimento vem a tona. O filme discute sobre coincidência e destino, este último ao meu ver é o caminho que ele segue, brincando com religião onde podemos ver o número 82 em vários lugares (referência bíblica a Êxodus capítulo 8, versículo 2 - como bem destacado em uma placa em meio a multidão no programa de TV), procurem, aparece o tempo todo. Como o narrador, não posso acreditar que seja tudo uma coincidência, que seja uma daquelas coisas. O final do filme, que não darei spoilers, está ligado com a passagem bíblica relatada do número 82, mas não acredito que o diretor tenha tentado passar alguma mensagem religiosa e sim que existe uma coisa que podemos chamar de Universo que nos conecta a todos, que nos coloca em rota de colisão, podemos chamar de Destino ou Deus, não importa. Um filme obrigatório! Direção, atuação, as músicas da Aimee Mann... tudo no filme é perfeito.

terça-feira, 9 de junho de 2020

A TARTARUGA VERMELHA

Título Original: La Tortue Rouge
Diretor: Michael Dudok de Wit
Ano: 2016
País de Origem: Holanda
Duração: 80min
Nota: 9

Sinopse: O filme conta a história de um homem perdido em uma ilha e sua luta por sobrevivência, até o encontro com uma tartaruga gigante que muda suas perspectivas.

Comentário: Ganhador do Prêmio Especial do Juri da premiação Um Certo Olhar em Cannes, foi a única animação selecionada para o festival naquele ano de 2016. O filme é coproduzido pelos Estúdio Ghibli, de Hayao Miyazaki, e tem a mesma qualidade das animações produzidas no Japão. O filme representa a busca da humanidade pelo amor, pelo sentimento de pertencer a algum lugar, do significado de família e de entender o passar do tempo. Sem nenhum diálogo, o filme consegue dizer muito mais do que muitas animações que existem por aí. Os desenhos são impressionantes, com muitos detalhes, mas é o roteiro que nos brinda com uma história simples, mas que é trabalhada de maneira tão delicada e verdadeira para qualquer pessoa viva. Assistam!

segunda-feira, 8 de junho de 2020

VERMELHO COMO O CÉU

Título Original: Rosso Come Il Cielo
Diretor: Cristiano Bortone
Ano: 2006
País de Origem: Itália
Duração: 96min
Nota: 10

Sinopse: Anos 70. Mirco (Luca Capriotti) é um garoto toscano de 10 anos que é apaixonado pelo cinema. Entretanto, após um acidente, ele perde a visão. Rejeitado pela escola pública, que não o considera uma criança normal, ele é enviado a um instituto de deficientes visuais em Gênova. Lá descobre um velho gravador, com o qual passa a criar histórias sonoras.

Comentário: Baseado na história real de Mirco Mencacci, premiado editor de som do cinema italiano, e vencedor de todos os 19 prêmios a que foi indicado. A película é das coisas mais doces que eu já assisti, apesar dos problemas técnicos de continuidade do filme (Em uma cena Francesca está usando saias, que se transformam em calças e que voltam a ser uma saia quase que de maneira sobrenatural), o filme é de uma leveza e tão simples que é até estranho a forma que ele consegue nos emocionar. O diretor não enrola, conta de maneira rápida tudo aquilo que tem para contar, um filme direto, mas que consegue fazer tudo sem nenhum orçamento exorbitante de Hollywood. As crianças trabalham maravilhosamente bem e a cena final é de tirar uma lágrima. Trilha sonora excelente.