quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

VOCÊ NÃO ESTAVA AQUI

Título Original: Sorry We Missed You
Diretor: Ken Loach
Ano: 2019
País de Origem: Inglaterra
Duração: 101min
Nota: 4

Sinopse: Após a crise financeira de 2008, Ricky e sua família se encontram em situação financeira precária. Ele decide adquirir uma pequena van, na intenção de trabalhar com entregas, enquanto sua esposa luta para manter a profissão de cuidadora. No entanto, o trabalho informal não traz a recompensa prometida, e aos poucos os membros da família passam a ser jogados uns contra os outros.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes, é o filme com a nota mais baixa até agora aqui no blog e talvez o texto fique comprido para eu explicar porque. Primeiramente, eu adoro o Ken Loach, mas este entrou para o único filme que assisti dele que não gostei. A nota não é mais baixa pela parte técnica e pelo elenco que se entrega muito bem a proposta, também é válida a discussão que abre contra o neoliberalismo que vem destruindo a forma de trabalho de um modo geral. Se o filme fosse nos Estados Unidos até dava para acreditar em alguma coisa, mas eu moro na Inglaterra, tenho uma merda de emprego de 60 horas semanais em uma empresa multibilionária que eu não vou falar o nome. São tantas coisas no filme que são exageradas, que são forçadas em um dramalhão completamente inexistente que não sei nem por onde começar. No filme vemos uma empresa de entrega cheio de britânicos trabalhando, a equipe que eu trabalho (não é na entrega, mas na expedição de pedido) não tem praticamente nenhum britânico (romenos, lituanos, brasileiros e paquistaneses são uma grande maioria, seguidos de africanos e poloneses), até no quadro de gerentes os nativos são minoria. Dependendo do estado que o funcionário vai trabalhar a empresa seria fechada na hora, sem importar se é a pica das galáxias, as leis trabalhistas são duras aqui. Eu tenho o trabalho que ganha menos e consigo pagar minha dívida no banco no Brasil, todas as contas aqui (aluguel, energia, água, internet, impostos, alimentação e mais um livro que compro por semana) e todas as contas da minha esposa que está em Teerã. Isso tudo com só eu trabalhando, fico imaginando um casal, isso sem contar toda a ajuda que o governo dá para as crianças. Com a minha experiência por aqui não teve como levar o filme a sério, como uma obra realista como muita gente disse em comentários, não passa de um novelão mexicano tipo Maria do Bairro.

domingo, 5 de dezembro de 2021

TITANE

Título Original: Titane
Diretor: Julia Ducournau
Ano: 2021
País de Origem: França    
Duração: 108min
Nota: 9

Sinopse: Um jovem com o rosto machucado é descoberto em um aeroporto. Ele afirma que seu nome é Adrien Legrand - uma criança que desapareceu há dez anos. Quando ele finalmente se reencontra com seu pai, assassinatos horríveis estão se acumulando na região.

Comentário: Grande vencedor do Palma de Ouro do ano, para mim o filme foi uma espécie de David Cronenberg se encontra com O Bebê de Rosemary. Tinha como sair algo de ruim daí? O filme superou minhas expectativas. Existem algumas cenas forçadas, mas elas são de fácil digestão, já que estamos vendo uma mulher que engravidou de um carro, ou seja, não da pra levar tudo ao pé da letra. As camadas psicológicas e de tensão dão o tom certo para o filme. Um prêmio merecido, já que não é algo muito premiado nos meios cinematográficos. Como disse a diretora ao ganhar a Palma de Ouro: "Deixem os esquisitos participarem da festa!"... ou algo assim. Apesar da incrível interpretação da Agathe Rousselle, foi o personagem do Vincent Lindon que me prendeu mais ao filme. Que dupla!

domingo, 28 de novembro de 2021

RETRATO DE UMA JOVEM EM CHAMAS

Título Original: Portrait De La Jeune Fille En Feu
Diretor: Céline Sciamma
Ano: 2019
País de Origem: França
Duração: 121min
Nota: 10

Sinopse: Na França do século XVIII, Marianne (Noémie Merlant) é uma jovem pintora que recebe a tarefa de pintar um retrato de Héloïse (Adèle Haenel) para seu casamento sem que ela saiba. Passando seus dias observando Héloïse e as noites pintando, Marianne se vê cada vez mais próxima de sua modelo conforme os últimos dias de liberdade dela antes do iminente casamento se veem prestes a acabar.

Comentário: Vencedor do prêmio de Melhor Roteiro e da Palma Queer no Festival de Cannes, também foi indicado para a Palma de Ouro, prêmio que poderiam ter dado fácil para ele, mesmo tendo adorado Parasita. Pensa em um filme perfeito, pensa em um filme lindo, pensa em um filme. O desfecho me remeteu aos livros do Hemingway, a construção de todo o enredo, por mais simples que seja, é magistral. O filme não cai nas armadilhas que poderia cair, não é um novelão, não é apelativo... tudo é de uma sutileza tão linda que parece um quadro. Terminei a sessão apaixonado pela Noémie Merlant. O final foi catártico para mim. A direção é sublime, quanta cena linda. Ah... não tem nada, absolutamente nada para falar mal desse filme. E eu recomendo para qualquer um. Lindeza absoluta!

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

PATTAKI

Título Original: Pattaki
Diretor: Everlane Moraes
Ano: 2019
País de Origem: Cuba
Duração: 21min
Nota: 6

Sinopse: Na noite densa, quando a lua sobe a maré, seres presos no cotidiano da escassez de água ficam hipnotizados pelos poderes de Iemanjá, a deusa do mar.
 
Comentário: Poucas pessoas imaginam, mas eu tenho uma obsessão por peixes. Já escrevi vários contos sobre e sempre tive aquários, portanto não teve como ignorar de assistir este curta ao me deparar com este pôster magnífico. Confesso que me senti completamente perdido, imagens lindas e imagens esquisitas permeiam o curta. Ao mesmo tempo que ele agrada e desagrada. É uma experiência esquisita e creio que seja única para cada um. Mas a arte é assim, né? Considerando que a nota é a mesma que dei para um dos curtas do Kiarostami, acho que está valendo. Gostaria de acompanhar próximos trabalhos dessa diretora, que é brasileira (sergipana para ser mais preciso), mas que deve ter feito este trabalho em Cuba, já que pelas pesquisas que fiz aparece como um curta cubano. O curta foi indicado no Festival de Sundance.

terça-feira, 23 de novembro de 2021

A VOZ HUMANA

Título Original: The Human Voice
Diretor: Pedro Almodóvar
Ano: 2020
País de Origem: Inglaterra
Duração: 30min
Nota: 9

Sinopse: Uma mulher vê o tempo passar ao lado das malas de seu ex-amante (que deveria vir buscá-las, mas nunca chega) e de um cão inquieto que não entende que seu dono o abandonou. Dois seres vivos enfrentando o abandono.

Comentário: Apesar de ter um diretor espanhol e ter sido filmado na Espanha, não vi motivo para cadastrar o filme como espanhol já que é falado em língua inglesa, com uma atriz britânica e com o título em inglês. Cadastrei então pela origem da Tilda Swinton, para mim fez mais sentido. Deixando às formalidades de lado, adorei este curta metragem (ou média dentro do padrão brasileiro), não conheço o texto integral do genial Jean Cocteau, mas a adaptação feita por Almodóvar ficou ótima, o filme tem o tempo certo sem cair no enfadonho, a atuação de Tilda é fantástica (como sempre), mas o que chama realmente a atenção é o cenário, cores, detalhes, e o ar teatral (o apartamento ficar dentro de um galpão é só um dos detalhes maravilhosos). É lindo de se ver em vários aspectos. É arte pura e simples. Me impressiona como Almodóvar amadureceu bem e como é cada vez mais relevante para o cinema.

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

RECREIO

Título Original: Zang-e Tafrih
Diretor: Abbas Kiarostami
Ano:1972
País de Origem: Irã
Duração: 14min
Nota: 6

Sinopse: Na hora do recreio, Dara joga bola com seu amigo e, acidentalmente ao quebrar uma janela, fica de castigo. Ao final do dia, quando volta para casa, envolve-se em mais confusões. Kiarostami, com este segundo filme de sua carreira, revela uma vez mais a sensibilidade e delicadeza na abordagem do universo infantil que caracterizará a sua obra.

Comentário: Não há como não comparar este curta com o anterior, O Pão e o Beco, achei este bastante inferior, principalmente se levarmos em consideração que Kiarostami teve quatro minutos a mais para trabalhar em uma história que acaba não acontecendo. Faltou algo, não me perguntem o que, mas quem sou eu para dizer isso do mestre iraniano, né? Só sei que não consegui adentrar tão bem neste curta como no outro, não me prendeu, e a obra do diretor costuma me prender como poucas. Então fiquei com este sentimento esquisito... mas faz parte.

sábado, 20 de novembro de 2021

O LADRÃO DE LUZ

Título Original: Svet-Ake
Diretor: Aktan Arym Kubat
Ano: 2010
País de Origem: Quirguistão
Duração: 76min
Nota: 7

Sinopse: Um homem, conhecido como "Senhor Luz", vive em um minúsculo vilarejo nas montanhas do Quirguistão. Além de tentar levar a eletricidade a todas as pessoas, ele escuta os problemas de cada morador, dá conselhos e tenta acalmar as brigas conjugais. Este homem sonha em abastecer o vilarejo com energia eólica, mas para isso ele deve enfrentar a resistência de homens poderosos e corruptos.
 
Comentário: O filme reflete bastante os momentos políticos conturbados que o Quirguistão vivia naquele ano de 2010, ou seja, o filme deve ter sido feito de maneira bem rápida para realizar seu lançamento no mesmo ano dos embates políticos do país. O filme tem um ritmo meio esquisito, já que tem horas que parece desenrolar bem e tem horas que é o oposto. Reflexões sobre temas universais do capitalismo como um todo, onde um homem pobre, de uma vila pobre, tenta fazer a diferença entre os seus iguais. Uma competente direção e produção, vale a pena como curiosidade cinematográfica de um país para nós tão desconhecido.

domingo, 14 de novembro de 2021

DOR E GLÓRIA

Título Original: Dolor y Gloria
Diretor: Pedro Almodóvar
Ano: 2020
País de Origem: Espanha
Duração: 113min
Nota: 10

Sinopse: Salvador Mallo (Antonio Banderas) é um melancólico cineasta em declínio que se vê obrigado a pensar sobre as escolhas que fez na vida quando seu passado retorna. Entre lembranças e reencontros, ele reflete sobre sua infância na década de 1960, seu processo de imigração para a Espanha, seu primeiro amor maduro e sua relação com a escrita e com o cinema.

Comentário: Filme que deu o prêmio de melhor ator para Antonio Banderas no Festival de Cannes. Não via um filme do Almodóvar desde Volver, e não me perguntem porque, adorei ambos. Este filme é simplesmente maravilhoso. Eu quebrei a coluna há cinco anos atrás, ver ele interpretando um homem com dores nas costas foi impressionante para mim, os movimentos são realmente iguaizinhos. Almodóvar acerta muito a mão ao tratar de sentimentos, me emocionei no filme praticamente em tudo. Como dizia Philip Roth, envelhecer é um massacre, e este filme consegue refletir muitas coisas sobre isso. É um filme sobre várias histórias sobre o personagem principal e que brinca com uma certa metalinguagem em determinado ponto. Vale muito a pena assistir.

sábado, 6 de novembro de 2021

CIRKUS COLUMBIA

Título Original: Cirkus Columbia
Diretor: Danis Tanovic
Ano: 2010
País de Origem: Bósnia e Herzegovina
Duração: 106min
Nota: 9

Sinopse: Após anos sob o regime comunista, as coisas parecem ter se aquietado em uma cidadezinha ao sul de Herzegovina, onde Lucija e seu filho Martin vivem uma vida pacata. Isso até Divko, seu marido sumido por vinte anos, reaparecer na cidade com um brilhante Mercedes, uma namorada jovem e sexy, muito dinheiro e um gato preto asqueroso chamado Bonny. Após ir para a Alemanha, Divko está de volta e procura marcar alguns pontos neste satírico jogo dos sexos. Analisando o fim de um casamento e o começo de uma nova era nos Bálcãs, o filme mostra o crescimento do nacionalismo e do fascismo e o surgimento do amor e do perdão.

Comentário: Um filme sobre guerra e família, dois assuntos complicados que poucos diretores conseguiram juntar muito bem como Danis Tanovic aqui. O filme não parece tudo isso em uma primeira impressão, mas o desfecho é uma das coisas mais lindas que eu me lembro de ter visto no cinema. Tudo muito amarrado, a carga emocional trabalhada durante todo o filme fica nas entrelinhas para o telespectador montar a história, entender os personagens. Lindo! Mira Furlan, atriz mais conhecida pela carreira americana em séries como Babylon 5 e Lost (e que infelizmente nos deixou no começo deste ano de 2021), emociona na interpretação assim como todo o elenco. Há carisma, há um "quê" humano de gente como a gente completamente afundados em seus mundinhos que não conseguem ver os sinais da guerra eminente que está porvir... guerra que foi e sempre será um dos episódios mais lamentáveis da recente história humana. O título é uma referência ao parque de diversões abandonado no vilarejo.

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

O MEDO DO GOLEIRO DIANTE DO PENÁLTI

Título Original: Die Angst des Tormanns beim Elfmeter
Diretor: Wim Wenders
Ano:1972
País de Origem: Alemanha
Duração: 100min
Nota: 7

Sinopse: Depois de permitir um gol fácil, o experiente goleiro alemão Josef Bloch se envolve em uma discussão acirrada com o árbitro. Momentos depois, Josef é mandado embora, embala suas coisas em uma pequena bolsa e pega o primeiro bonde para Viena, para vagar sem rumo de seu hotel barato ao cinema local. Em pouco tempo, Gloria, a caixa educada do cinema, chama a atenção de Josef. Ela parece disposta a ouvi-lo; no entanto, ela pode fornecer um meio catártico de fuga?

Comentário: Baseado em um livro do escritor Peter Handke, ganhador do Nobel de Literatura em 2019. Um escritor que tenho o pé bem atrás pelas posições políticas em apoio ao Slobodan Milosevic e um tremendo negacionista do massacre dos muçulmanos bósnios. É um escritor importante na obra de Wenders, a parceria entre os dois foi retomada nos filmes Movimento em Falso de 1975, na obra prima Asas do Desejo de 1987 e mais recentemente no Os Belos Dias de Aranjuez de 2016. Este filme tem seus momentos, mas está longe de apresentar o que seria o diretor em filmes seguintes (Wim Wenders é o diretor do meu filme favorito) que etão em um patamar muito acima. Mas já podemos ver o cinema das entrelinhas, do vazio existencialista, do contemplativo... Nada é dado mastigado para o telespectador que tem que tirar aquilo que consegue das cenas. É um tipo de cinema que está quase morto, mas que faz muito mais sentido para mim. Achei que a obra meio que conversa com o filme anterior do diretor: Verão na Cidade. Mas senti um gostinho de que faltou algo, não no começo e nem no final, mas no meio do filme. Parece que o filme ficou anos sem poder ser exibido por alguma treta de direitos autorais de músicas que o diretor teve que editar.

terça-feira, 2 de novembro de 2021

O SAL DAS LÁGRIMAS

Título Original: Le Sel des Larmes
Diretor: Philippe Garrel
Ano: 2020
País de Origem: França
Duração: 96min
Nota: 9

Sinopse: Jovem marceneiro viaja a Paris para se aperfeiçoar na escola que fora o sonho de seu próprio pai. Durante os exames, apaixona-se por uma garota com quem não consuma o amor, mas jamais deixará de habitar seus pensamentos. Entre o retorno à Província e o início dos estudos, ele também lidará com os aprendizados do amor, primeiramente em uma relação com a namorada de sua adolescência, depois em uma experiência aberta com outro casal. Perdido em seus sentimentos, o que ele tenta encontrar de fato é algo para basear a motivação de seus dias.

Comentário: Não sou um conhecedor da obra de Garrel, falha minha. Fui assistir ao filme pensando que era uma coisa, no fim era outra completamente diferente, mas passou longe de decepcionar. Garrel cria aqui um mundo exclusivamente dele, e não é uma falha, que se passa em 2019, temos pouquíssimas cenas tecnológicas com celulares, uma sintonia meio anos 60... todo esse amálgama funciona perfeitamente. Luc é o típico gato cafajeste se olharmos para ele de maneira superficial, mas talvez estejamos completamente equivocados... ou não. É esta coisa ambígua que permeia o filme que fez eu gostar dele, nem tudo é preto no branco como a fotografia lindíssima. Adoro filmes com finais abertos, que não nos dão tudo de bandeja, este é um deles. Fica martelando durante dias e dias e dias depois. Indicado ao Urso de Ouro no Festival de Berlim, mas naquele ano o páreo estava duro.

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

ALMAS SILENCIOSAS

Título Original: Ovsyanki
Diretor: Aleksei Fedorchenko
Ano: 2010
País de Origem: Rússia
Duração: 77min
Nota: 8

Sinopse: Quando sua querida mulher Tanya morre, Miron pede a seu melhor amigo Aist que o ajude a despedir-se dela de acordo com os rituais da cultura Merja, uma antiga tribo do Lago Nero, localizado no centro-oeste da Rússia. Apesar de a civilização Merja ter sido assimilada no século 17, seus ritos e tradições ainda estão presentes na vida de seus descendentes. Os dois homens partem em uma viagem pelas terras sem fim, levando com eles dois pequenos pássaros em uma gaiola. Pelo caminho, como de costume para os Merjas, Miron divide com o amigo memórias íntimas de sua vida conjugal.

Comentário: Mas que filme belíssimo, de uma simplicidade poética ímpar. Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza e ganhador de mais quatro prêmios fora do circuito principal do festival. Daqueles filmes que eu não indico para ninguém porque é bem fora do que o pessoal está acostumado, mas que eu curto. Cheio de simbolismos, paisagens bonitas (Adoro Road Movie), diálogos abertos a interpretações e tantas outras coisas. Existe também o aspecto antropológico sobre o povo Merja que é fantástico, imaginar como culturas tão diferentes surgem e desaparecem na inexorabilidade do tempo. Adorei a interpretação dos atores e da relação tão próxima e tão distante entre eles. O filme é curto, direto, sem muitos rodeios. Apresenta aquilo que propõe e te deixa pensando por semanas em aspectos sobre várias coisas insignificantes sobre ele.

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

A VIDA INVISÍVEL

Título Original: A Vida Invisível
Diretor: Karim Aïnouz
Ano: 2019
País de Origem: Brasil
Duração: 140min
Nota: 10

Sinopse: Década de 1940. Eurídice (Carol Duarte) é uma jovem talentosa, mas bastante introvertida. Guida (Julia Stockler) é sua irmã mais velha, e o oposto de seu temperamento em relação ao convívio social. Ambas vivem em um rígido regime patriarcal, o que faz com que trilhem caminhos distintos: Guida decide fugir de casa com o namorado, enquanto Eurídice se esforça para se tornar uma musicista, ao mesmo tempo em que precisa lidar com as responsabilidades da vida adulta e um casamento sem amor.

Comentário: Vencedor do prêmio Um Certo Olhar no Festival de Cannes, achei superior a qualquer filme do festival que assisti daquele ano e acho que poderiam fácil ter dado a Palma de Ouro para este aqui. Está muito, muito acima de Bacurau e se tornou o meu filme brasileiro favorito, desbancando o Abril Despedaçado que permanecia neste posto desde que foi lançado no cinema há uns vinte anos atrás. O filme é perfeito mesmo com umas bagunças cronológicas (tem um momento que a narrativa de Guida da um pulo para 1956 enquanto a personagem de Eurídice está anos atrás na primeira gravidez), mas não é nada que comprometa o filme. Karim se firma aqui como meu diretor nacional preferido, que qualidade técnica é essa? Não deve em nada para nenhum cinema do mundo. E o elenco então? Carol Duarte e Julia Stockler parecem que são irmãs na vida real, não saberia escolher uma se tivesse só um prêmio para dar. Um filme forte, emocionante e que me desmanchou em lágrimas no final. Indico para qualquer pessoa... é triste pensar em quantas Eurídices não viveram ou vivem ainda por aí.

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

A NOSSA VIDA

Título Original: La Nostra Vita
Diretor: Daniele Luchetti
Ano: 2010
País de Origem: Itália
Duração: 96min
Nota: 8

Sinopse: Claudio, operário da construção civil, trabalha numa obra na periferia de Roma. Ele ama a sua mulher, grávida do terceiro filho de ambos. Um drama inesperado vai desordenar bruscamente a indolência desta vida simples e feliz. Para sobreviver, Claudio irá afrontar com raiva a injustiça social que o toca no seu íntimo. O apoio da sua família, dos seus amigos e o amor dos seus filhos ajudarão Claudio a realizar o desafio da que é a vida.

Comentário: Que paulada! Filme que deu o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes para Elio Germano, que teve uma atuação monstro aqui. Ele dividiu o prêmio com ninguém menos do que Javier Bardem em Biutiful, mas confesso que preferi o italiano neste filme aqui. A história é simples, tem suas falhas, umas mensagens meio estranhas que não sei se entendi muito bem, mas no geral emociona, comove e traz reflexão. A cena do personagem principal cantando enquanto passa por um momento difícil me arrepia só de lembrar. Estou perdidamente apaixonado pela Isabella Ragonese. O personagem é racista, mas confia somente em uma negra para cuidar de seus filhos. É preconceituoso e conservador, mas seu único amigo é um traficante de drogas. É o retrato desconexo de uma grande maioria dos italianos, só quem já morou lá vai entender o que estou falando. Algumas mensagens são claras, outras nem tanto, mas o que mais marca é de como a vida tem que continuar. A música Anima Fragile do cantor Vasco Rossi caiu como uma luva no filme.

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

ROMA

Título Original: Roma
Diretor: Alfonso Cuarón
Ano: 2018
País de Origem: México
Duração: 135min
Nota: 8

Sinopse: Cidade do México, 1970. A rotina de uma família de classe média é controlada de maneira silenciosa por uma mulher (Yalitza Aparicio), que trabalha como babá e empregada doméstica. Durante um ano, diversos acontecimentos inesperados começam a afetar a vida de todos os moradores da casa, dando origem a uma série de mudanças, coletivas e pessoais.

Comentário: Vencedor de três Oscars, dois Globos de Ouro e do Leão de Ouro no Festival de Veneza, Roma é um filme bem peculiar e não é para muitos, mas é inteiramente conduzido com uma maestria que eu não via faz tempo em filmes atuais. É um filme lento, que talvez pudesse ser encurtado, com tomadas de cenas espetaculares colocando o diretor, de quem sou fã desde que assisti no cinema Grandes Esperanças, em um seleto grupo.As duas atrizes, ambas indicadas ao Oscar, dão um show de interpretação. O pano de fundo se passa em uma família de classe média alta no distrito de Roma na cidade do Novo México em um momento de turbulência quando o governo realizou o Massacre de Tlatelolco, o maior massacre da história do país, contra movimentos estudantis na véspera das Olimpíadas a ser sediada no país (O presidente que realizou isto era tio do famoso ator Roberto Bolaños), o governo seguinte continuou as perseguições aos estudantes como mostrado no filme gerando este clima tenso na população. Me identifiquei muito, pois cresci em uma família assim, com irmãs e rodeado de empregadas que acabavam sendo parte da família. Existe a crítica social, mas ao mesmo tempo existe o vínculo que se cria a partir da convivência e é nisso que o filme acerta em cheio no alvo. O clima é lento e bucólico, mas é tenso e carregado de sentimentos ao mesmo tempo.

domingo, 19 de setembro de 2021

ERA UMA VEZ EM... HOLLYWOOD

Título Original: Once Upon a Time in... Hollywood
Diretor: Quentin Tarantino
Ano: 2019
País de Origem: EUA
Duração: 161min
Nota: 9

Sinopse: "Era Uma Vez em... Hollywood" revisita a Los Angeles de 1969 onde tudo estava em transformação, através da história do astro de TV Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) e seu dublê de longa data Cliff Booth (Brad Pitt) que traçam seu caminho em meio à uma indústria que eles nem mesmo reconhecem mais.

Comentário: Não costumo colocar filmes americanos no blog, salvo exceções... e esta tinha que ser uma. Devo estar muito velho para demorar tanto tempo para assistir um Tarantino. Estava com o pé atrás e caí do cavalo. Sou um fã de filmes dos anos 60, não é por menos que tenho o blog Oráculo Alcoólico que é praticamente 90% só de filmes dessa década. Algumas piadas como "Sergio Corbucci, o segundo melhor diretor de faroeste italiano" ou "Você pensa que está onde? Em algum set do Andrew McLaglen?" me fizeram rir alto. O filme é uma enorme homenagem ao cinema dos anos 60 e é referência o tempo todo, mas é completamente possível assistir e se envolver sem essas referências, mas garanto que não vai aproveitar tanto. Detalhes e mais detalhes que devem passar batido para o telespectador desavisado (como quando o narrador diz que o ator não gostava de gravar na Itália por ser uma Torre de Babel: os atores falavam em seus próprios idiomas durante as gravações naquele época e depois eram dublados na sala de edição, muitos atores nem eram dublados por sua própria voz). Galera que reclamou do ritmo "lento" do filme tem que parar de assistir Velozes e Furiosos e companhia porque o seu cérebro está derretendo. Teve duas coisas que me incomodou: o final e o fato de praticamente não ter um Charles Manson no filme, queria ver um Manson alá Tarantino. Ver a Sharon Tate em um quarto de bebê foi uma das coisas mais pesadas que já vi na história do cinema, acho que faltou tato ao Tarantino em algumas coisas (como a polêmica com o Bruce Lee), mas tato é uma coisa que ele nunca teve. O fato do filme desvirtuar a história real é respondida no próprio título: Era uma vez em... Hollywood, a fábrica de mentiras, o mundo de fantasia, o faz de conta. O filme é isso, sem contar todas as homenagens a fatos reais misturados com a magia tarantinesca. Eu gostei bastante do filme, não esperava que fosse gostar tanto. PS: Onde foi que a humanidade se desvirtuou e começou a fazer as bostas de músicas da atualidade que fazem sucesso, pega a trilha desse filme e vai descobrir o que é música.

domingo, 12 de setembro de 2021

SUBMARINO

Título Original: Submarino
Diretor: Thomas Vinterberg
Ano: 2010
País de Origem: Dinamarca
Duração: 110min
Nota: 7

Sinopse: Uma história sobre dois irmãos separados, marcada por uma infância sombria. Eles foram separados um do outro quando eram jovens depois de uma tragédia que dividiu a família. Hoje, a vida de Nick está encharcada de álcool e atormentada pela violência, enquanto seu irmão mais novo, um pai solteiro, luta como um viciado para dar a seu filho uma vida melhor. Seus caminhos se cruzam, tornando o confronto inevitável, mas a redenção ainda é possível?

Comentário: Filme indicado ao Urso de Ouro no Festival de Berlim. Não sou um grande conhecedor dos filmes do Vinterberg, falha minha, mas lembro de assistir o seu cultuado Festa de Família lá no final dos anos noventa e lembro que foi um filme que mexeu bastante comigo. Este não foi diferente no quesito mexer comigo, mas está longe de chegar perto da obra prima do diretor. O decorrer é lento e de em alguns momentos parece que o filme não nos leva a lugar nenhum e tenta ficar nos chocando com situações que talvez não precisasse, mas o final foi catártico para mim por puro motivo pessoal mesmo. Lágrimas brotaram do meus olhos meio que de maneira inconsciente, de um jeito diferente que de outros filmes. Talvez haja algumas falhas na narrativa, lacunas que poderiam ser mais exploradas, mas o resultado final é acima da média, com excelentes atuações que revezam o protagonismo e com a direção competente do Vinterberg que é a cereja no bolo. As ligações de eventos que se entrelaçam nas duas histórias foi uma sacada muito boa, dá pra ir construindo a linha do tempo das coisas. Talvez o fato de estar morando na Europa e ver tanto usuário de drogas pesadas e injetáveis, que parece ser comum por aqui, tenha me aproximado mais do filme.

domingo, 5 de setembro de 2021

EM PEDAÇOS

Título Original: Aus Dem Nichts
Diretor: Fatih Akin
Ano: 2017
País de Origem: Alemanha
Duração: 106min
Nota: 9

Sinopse: Katia Sekerci é uma alemã que leva uma vida normal ao lado do marido turco Nuri, e do filho de 7 anos. Um dia, ela é surpreendida ao descobrir que ambos morreram devido a uma bomba colocada no escritório do marido. Desesperada, Katia decide lutar por justiça ao descobrir que os responsáveis foram integrantes de um grupo neonazista.

Comentário: Vencedor dos prêmios de melhor filme estrangeiro no Globo de Ouro e de melhor atriz no Festival de Cannes, Diane Kruger dá um show aqui de interpretação. Um filme que vale a pena ser visto pelo dedo na ferida que cutuca sobre o racismo velado que ainda existe na Alemanha, se atentem a relação entre a personagem principal e a mãe em algumas cenas, por exemplo. Para um mundo que vê se tornando cada vez mais dividido de novo por questões étnicas e políticas, este filme se torna extremamente necessário, pois são as vidas de inocentes que sempre estarão na linha de frente. Há algumas conveniências para o roteiro chegar onde quer, acho que podiam ter trabalhado mais nisso para o filme merecer um dez. São detalhes que durante o filme não faz a menor diferença, vale muito a assistida e preparem o psicológico. PS: fogo nos fascistas!

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

O PÃO E O BECO

Título Original: Nan va Koutcheh
Diretor: Abbas Kiarostami
Ano: 1970
País de Origem: Irã
Duração: 10min
Nota: 8

Sinopse: A caminho para casa, de volta da aula, um garoto se depara com um cão nada amigável que impede a sua passagem por um beco. Primeiro filme de Abbas Kiarostami, este curta já mostra, com graça e poesia, a sensibilidade do autor para com os temas que exploraria mais tarde em profundidade.

Comentário: Kiarostami era um gênio! Já no primeiro trabalho ele mostra isso. Um curta simples, com a história mais batida e simples possível, mas ainda assim um verdadeiro deleite para os sentidos. O mundo infantil, onde ele mostraria toda a sua maestria no filme "Onde Fica a Casa do Meu Amigo?", nos é introduzido aqui como um aperitivo. Em dez minutos ele consegue nos passar suspense, apreensão, companheirismo, simplicidade, risos... e o que mais estiver disposto a extrair. A vida cíclica, Ouroboros: a serpente que come o próprio rabo, o infinito. Detalhe para a mulher que passa rapidamente com a tradicional vestimenta muçulmana em um Irã pré-revolução, mostrando que a religião está enraizada nas entranhas do país já antes do desastre que foi 1979.

terça-feira, 31 de agosto de 2021

VERÃO NA CIDADE

Título Original: Summer in the City
Diretor: Wim Wenders
Ano: 1971
País de Origem: Alemanha
Duração: 113min
Nota: 7

Sinopse: O filme de estreia raramente exibido de Wenders e seu projeto de final de curso para a Universidade de Televisão e Cinema de Munique, anuncia a promessa de um verdadeiro autor. Batizado com o nome de uma canção da banda Lovin 'Spoonful e dedicado a The Kinks, o filme de Wenders observa um forasteiro solitário, um ex-presidiário, despejado sem cerimônia em uma sociedade que parece responder com indiferença fria. Enquanto ele vagueia de Munique a Berlim, Wenders observa, “o caminho do herói é uma rota de fuga, impulsionado pela esperança de encontrar um caminho de volta para si mesmo por meio do mero movimento da viagem”.

Comentário: Talvez não tenha todo o brilhantismo do Wenders, mas é o seu primeiro trabalho e já mostra algumas genialidades principalmente na parte técnica. Há tomadas de câmera maravilhosas por todo o filme, a trilha sonora é absurdamente boa e a narrativa tem seus pontos altos. Achei que o filme se estende demais, poderia ter tido alguns desenvolvimentos melhores, mas no geral é um bom filme. Hanns Zischler consegue entrar bem no papel do ex-presidiário calado em constante fuga do seu passado ao mesmo tempo em que o revisita. É interessante por ser meio que um road-movie urbano. Só não entendi que espécie de sinuca era aquela que ele aparece jogando com o próprio diretor. Recomendo só para quem é fã do diretor e quer conhecer toda sua obra.

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

MAIS UM ANO

Título Original: Another Year
Diretor: Mike Leigh
Ano: 2010
País de Origem: Inglaterra
Duração: 129min
Nota: 8

Sinopse: Primavera, Verão, Outono e Inverno. É assim que a vida pacata de um casal de meia idade passa calmamente ao sabor dos anos. São felizes e de bem com a vida, contrastando com a frustração de amigos e parentes que os cercam. Mike Leigh encanta de novo, pois retrata com maestria tanto os bem sucedidos, unidos, esperançosos, tanto quanto os fracassados, solitários, sem esperança alguma de felicidade. Mike Leigh faz filme para poucos, àqueles que gostam de se maravilhar com um pouco das banalidades e sutilezas da vida.

Comentário: Uau! indicado ao Palma de Ouro em Cannes, onde faturou o prêmio do juri ecumênico, é com certeza um dos melhores filmes daquele ano e vale muito a assistida. É um filme sobre a vida, sobre as banalidades, sobre as alegrias e tristezas que vem com ela. Personagens completos e outros completamente despedaçados. A vida não trata todo mundo de maneira igual, para alguns ela vem em um nível hard demais. Leslie Manville rouba a cena, mas por mais que seja uma personagem insuportável, há momentos em que dá vontade de abraçá-la e dizer que tudo vai ficar bem, mesmo que seja mentira. A piada interna, que talvez só quem tenha morado na Inglaterra tenha entendido, de que o casal cozinha sua própria comida (acho que isso não existe por aqui) e todo mundo faz questão de comentar. A comida na Inglaterra é horrível, e até hoje não conheci um inglês que cozinhe sua própria comida, é um povo que vive de delivery. Os personagens são profundos demais, mesmo quando não tem muito tempo em tela. Filme acima da média.

sábado, 14 de agosto de 2021

ELLE

Título Original: Elle
Diretor: Paul Verhoeven
Ano: 2016
País de Origem: França
Duração: 130min
Nota: 10

Sinopse: Michèle (Isabelle Huppert) é a executiva-chefe de uma empresa de videogames, a qual administra do mesmo jeito que administra sua vida amorosa e sentimental: com mão de ferro, organizando tudo de maneira precisa e ordenada. Sua rotina é quebrada quando ela é atacada por um desconhecido, dentro de sua própria casa. No entanto, ela decide não deixar que isso a abale. O problema é que o agressor misterioso ainda não desistiu dela.

Comentário: Filme indicado ao Palma de Ouro e ganhador do Globo de Ouro nas categorias de Melhor Atriz e Melhor Filme Estrangeiro. Fazia tempo que eu não ficava nervoso assim em um filme... PeloamordeDeus!!!! Já começa pesado e depois vai virando um mergulho profundo na sociopatia humana. Teve momentos que me remeteu ao Trama Fantasma, pela relação doentia que os personagens vão criando entre si. Isabelle Huppert é rainha, então nem preciso falar que ela está foda demais no papel. Verhoeven é realmente um diretor de altos e baixos, faz umas coisas maravilhosas e outras desgraças que é melhor esquecer, arrisco a dizer que esta película é sua Magnum opus. O clima de suspense é muito bem construído, ando tentando evitar filmes que me deixam comendo as unhas, mas este valeu cada segundo.

sexta-feira, 30 de julho de 2021

REFLEXÕES DE UM LIQUIDIFICADOR

Título Original: Reflexões de um Liquidificador
Diretor: André Klotzel
Ano: 2010
País de Origem: Brasil
Duração: 80min
Nota: 7

Sinopse: Um filosófico liquidificador nos conta de sua amizade com Elvira, uma dona de casa que passa por um momento agitado em sua vida. Seu marido, Onofre, desapareceu há alguns dias, e ela decide ir à policia dar queixa do sumiço. Em meio a reflexões sobre a vida e as diferenças entre os objetos e os seres humanos, o liquidificador nos conta como tudo começou.

Comentário: Um filme bizarro que no mínimo merece a assistida. Ana Lúcia Torre da um show de atuação e a voz de Selton Mello caiu como uma luva para o liquidificador, o roteiro parece um livro perdido da autora Vanessa Bárbara com tiradas cômicas e diálogos inteligentes. Aos poucos alguns elementos estranhos vão sendo inseridos na história que vai mudando o rumo sem que você realmente perceba até o desfecho chocante (não é spoiler) que desde o começo você sabe que vai acontecer,  mas consegue te chocar mesmo assim. Parece aquele tipo de filme que pode assistir com sua avó em uma Sessão da Tarde, mas não se engane, não é. Direção competente que prova que não se fazem bons filmes só com orçamentos milionários.

sexta-feira, 23 de julho de 2021

ABSOLUTAMENTE IMPOSSÍVEL

Título Original: Absolutely Anything
Diretor: Terry Jones
Ano: 2015
País de Origem: Inglaterra
Duração: 85min
Nota: 6

Sinopse: Neil (Simon Pegg), um professor desiludido com a vida, vê sua vida mudar após ser atropelado por uma van e ser atingido por um raio alienígena que lhe dá poderes mágicos. Com eles, Neil pode fazer tudo que quiser: desde calar a boca de seus alunos até ressuscitar pessoas! O problema é saber utilizar as palavras certas para conseguir o que ele quer. O uso dessas novas habilidades vai gerar uma série de confusões.

Comentário: Último filme do mestre Terry Jones (ele chegou a fazer um documentário depois desse antes de falecer em 2020). Esta película passa longe de fazer jus a um dos emblemáticos membros do Monty Python, acho que o humor do Douglas Adams (escritor) só funciona na escrita, nenhum de seus textos, que são maravilhosos e engraçados, funcionaram para mim quando transpostos para a tela. A química do casal é forçada e não funciona, a personagem da Kate Beckinsale é a típica vizinha gostosa que o nerd merece possuir pelo simples fato de ser o protagonista e a história ser escrita pelo nerd que quer uma vizinha gostosa. Seria bom pra variar se o nerd caísse na real e desse um chega pra lá nela no final. O que funciona é a relação dele com o cachorro (dublado por Robin Williams em seu último papel) e a convenção de alienígenas (dublados pelos membros remanescentes do Monty Python, juntos uma última vez). O filme, como podem notar, serve mais como nostalgia de um tempo em que a comédia era mais engraçada. Simon Pegg (que as pessoas insistem que é a minha cara) continua tendo um carisma como poucos e faz o filme funcionar.

quinta-feira, 8 de julho de 2021

EM UM MUNDO MELHOR

Título Original: Hævnen
Diretor: Susanne Bier
Ano: 2010
País de Origem: Dinamarca
Duração: 117min
Nota: 9

Sinopse: Anton (Mikael Persbrandt) é um médico que trabalha em um campo de refugiados em um lugar qualquer da África. Na Dinamarca, seu país natal, estão sua mulher Marianne (Trine Dyrholm) e seus dois filhos, Elias (Markus Rygaard) e Morten (Toke Lars Bjarke). Paralelamente, acompanhamos a história do garoto Christian (William Jøhnk Nielsen) que emigra para a Dinamarca, ao lado de seu pai Claus (Ulrich Thomsem) logo após a morte da mãe. Dois mundos distintos que irão se cruzar.

Comentário: Vencedor do Oscar e do Globo de Ouro como Melhor Filme Estrangeiro, um prêmio que acho merecidíssimo. Dos filmes deste ano, achei este o melhor entre todos eles, porque mesmo com uma linguagem mais comercial, consegue abranger uma infinidade de coisas pertinentes para a história e para o espectador: luto, bullying, comportamento social, guerra, vingança, sociopatia, até onde o ser humano chega para romper com seus princípios, e por aí vai... é tanta coisa que o filme passa que posso escrever um texto de páginas. Cópia Fiel, do Kiarostami, por exemplo, tem um roteiro bem mais elaborado em alguns aspectos, mas não conseguiu me atingir como este. E que soco no queixo que é este filme. Ulrich Thomsen, em um papel menor, consegue mostrar o quão gigante é fazendo qualquer coisa. Uma pena que a diretora, que fez recentemente o Caixa de Pássaros para o Netflix, tenha se rendido aos filmes comerciais americanos, podia ter tido uma carreira mais interessante. Um filme forte, pesado e que cumpre muito bem o que propõe. Recomendo.

quarta-feira, 7 de julho de 2021

JIMMY'S HALL

Título Original: Jimmy's Hall
Diretor: Ken Loach
Ano: 2014
País de Origem: Irlanda
Duração: 109min
Nota: 8

Sinopse: A história de Jimmy Gralton, figura-chave do Grupo de Trabalhadores Revolucionários que deu origem ao atual Partido Comunista Irlandês. Gralton gerou discórdia ao inaugurar um espaço para as pessoas debaterem, aprenderem e sobretudo, dançarem. A trama retoma o período em que o rapaz volta a seu país natal, após ter passado dez anos em Nova York.

Comentário: O filme foi indicado a Palma de Ouro em Cannes, mas chega a ser quase um filme esquecido do Loach, talvez por estar entre os mais reconhecidos Ventos da Liberdade e Eu, Daniel Blake. Temos aqui uma espécie de Footloose na Irlanda dos anos 30, e baseado em fatos reais. Achei que o roteiro se acovarda um pouco ao retratar Jimmy Gralton, que pra quem assiste ao filme não fica muito claro suas convicções políticas. [início da piada] O filme chega a ser extremamente fantasioso ao mostrar uma chuva na Irlanda só pra parte final (quem já morou naquela ilha de lama sabe do que eu estou falando) [fim da piada]. De resto, o filme não trás nada de muito novo, mas críticas e pensamentos que sempre são muito pertinentes, já que a humanidade parece não querer enxergar essas obviedades. Em linhas gerais, como a religião e o pensamento conservador servem como freios para a evolução do próprio ser humano como espécie. Mais um filme denúncia de Loach, quase um Chomsky da sétima arte. PS: Odeio quando não traduzem os títulos, obviamente a película tinha que chamar O Salão de Jimmy, sim!

domingo, 27 de junho de 2021

MINHA FELICIDADE

Título Original: Schastye Moe
Diretor: Sergey Loznitsa
Ano: 2010
País de Origem: Ucrânia
Duração: 123min
Nota: 8

Sinopse: Tensa radiografia da Rússia de hoje por meio de um inspirado road movie. A fita enfoca o destino de um caminhoneiro em contato com jovens prostitutas e policiais rodoviários que abusam do poder no interior daquele país.

Comentário: O que falar deste filme? Um esquisito indicado ao Palma de Ouro em Cannes. Longe de ser um filme fácil. A primeira uma hora de filme acompanhamos uma história para que sejamos jogados para outra na outra metade do filme, mas onde uma história se liga na outra. É preciso ter um olhar atento para que não nos percamos no caminho, tanto para o destino do personagem que estávamos acompanhando, para entender quem é o personagem que acompanharemos daqui em diante. Uma crítica ferrenha a condições sociais na Ucrânia, e porque não, no mundo em geral? Uma direção extremamente competente e um roteiro estranho com gente e situações esquisitas, mas que me agradou no conjunto da obra como um todo. Definitivamente não é um filme que indicaria para qualquer pessoa. O começo parece quase uma fábula moderna, enquanto o final é um mergulho total no caos.

terça-feira, 15 de junho de 2021

A PELE DE VÊNUS

Título Original: La Vénus à la Fourrure
Diretor: Roman Polanski
Ano: 2013
País de Origem: França
Duração: 96min
Nota: 10

Sinopse: Adaptação para o cinema da peça teatral homônima, que apresenta a história de Thomas, um jovem dramaturgo que se desespera para encontrar uma atriz principal para sua nova peça. Uma jovem atriz chamada Vanda atende o chamado no último momento e logo os dois se envolvem em uma relação de dominação e submissão.

Comentário: Deixando a polêmica acerca do Polanski de lado, não da pra negar que ele é hoje um dos poucos diretores da velha guarda ainda na ativa, e mais importante, ainda relevante. Para mim, tudo no filme funciona, e olha que não é fácil não deixar a peteca cair com apenas dois atores em cena em um único cenário, mas com um elenco desses. Mathieu Amalric tem experiência na direção, o que deve facilitar a vida de qualquer diretor, mas é um ator excepcional. Emmanuelle Seigner é a grande diva do filme, rouba o coração, brilha em cena, parece comandar tudo e todos com essa que é uma das melhores atuações do ano, com certeza. Toda a metalinguagem da história com o autor Leopold von Sacher-Masoch só acrescenta mais força a película. Polanski mostra aqui sua força nos dias atuais e prova, com o desfecho nada convencional, que não tem medo de polêmicas. Daqueles filmes que amei, mas não indicaria para qualquer pessoa.

domingo, 9 de maio de 2021

O CAÇADOR

Título Original: Shekarchi
Diretor: Rafi Pitts
Ano: 2010
País de Origem: Irã
Duração: 88min
Nota: 7

Sinopse: Ali saiu recentemente da prisão e busca aproveitar seu retorno à sociedade, entre expectativas a respeito das próximas eleições e promessas de mudança. Apesar de trabalhar à noite, ele tenta passar a maior parte do tempo com a mulher e a filha de seis anos. Para escapar do stress da vida urbana, ele se isola numa floresta no norte da cidade para praticar seu passatempo favorito: caçar. Até que sua mulher, Sara, é morta acidentalmente em um tiroteio da polícia contra manifestantes. Depois de uma espera longa e frustrante na delegacia, ele resolve procurar sozinho sua filha desaparecida. A busca toma rumos trágicos e leva-o a tomar atitudes extremas.

Comentário: Indicado ao prêmio Urso de Ouro no Festival de Berlim, o filme passa longe do que aparenta ser: uma espécie de filme de vingança alá Charles Bronson. Tanto a sinopse ou o trailer passa essa falsa impressão. É um filme profundo que trata tanto sobre os dramas do personagem quanto sobre a situação do país nas entrelinhas, como quase todo filme iraniano. É a parte final que o filme realmente cresce, e fica tão difícil de digerir o desfecho por conta das relações do Irã que são mimetizadas e pode parecer sem sentido para um telespectador desavisado. Desconfiança, frustração, abuso de poder, apatia... tudo isso e muito mais tem feito parte constante do país nos últimos anos, e isso o filme consegue transmitir muito bem. O diretor faz o papel principal, ele não queria, mas não achou um ator que conseguisse passar esse clima de apatia que queria para o personagem.

sexta-feira, 7 de maio de 2021

HOLY MOTORS

Título Original: Holy Motors
Diretor: Leos Carax
Ano: 2012
País de Origem: França
Duração: 115min
Nota: 10

Sinopse: Oscar (Denis Lavant) transita solitário em vidas paralelas, atuando como chefe, assassino, mendigo, monstro, pai… Mergulha profundamente em cada um dos papéis e é transportado por Paris e arredores em uma luxuosa limusine, comandada pela loira Céline (Edith Scob). Ele é um homem em busca da beleza do movimento, da força motriz, das mulheres e dos fantasmas de sua vida.

Comentário: Filme estranho com gente esquisita... meu tipo de filme. Indicado ao Palma de Ouro em Cannes, o filme é uma enorme homenagem ao ator enquanto ao mesmo tempo é um enorme exercício de discussão sobre a vida e suas infinitas possibilidades. Não procure um sentido na película, assim como na vida, apenas deixe o amaranhado de experiências e conexões fazerem o trabalho. O filme é das coisas mais originais que eu assisti nos últimos anos, só me arrependo de não ter assistido antes. Acho que todos os detalhes vão tocar as pessoas de formas completamente diferentes e únicas, o que seria estúpido da minha parte querer analisar qualquer uma delas. Uma bela obra de arte, merece ser vista.

sexta-feira, 30 de abril de 2021

REINO ANIMAL

Título Original:Animal Kingdom
Diretor: David Michôd
Ano: 2010
País de Origem: Austrália
Duração: 113min
Nota: 8

Sinopse: Animal Kingdom é um filme australiano que venceu o Festival de Sundance desse ano. Escrito e dirigido pelo estreante David Michôd, a trama, passada em Melbourne, segue um garoto de dezessete anos e seus conflitos enquanto pertencente a uma família de criminosos e a sua relação com um detetive que pensa que pode salvá-lo.

Comentário: Filme vencedor do Festival de Sundance e com uma indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante para Jacki Weaver, que interpreta a matriarca da família criminosa. O filme me surpreendeu muito positivamente em quase todos os aspectos, acho que ele pesa a mão demais saindo um pouco da realidade na reta final, mas não deixa de ter um excelente desfecho costurando muito bem tudo que nos foi apresentado até ali. A apatia do personagem principal e a atuação excelente de James Frecheville nos apresenta um garoto com traços quase autistas que nos deixa com mais agonia em determinados momentos. A cena dele no banheiro é uma catarse. Alguns personagens poderiam ser melhores aproveitados, mas o filme é muito bem orquestrado no geral. Há uma série baseada no filme, mas não tenho ideia de como seja.

domingo, 25 de abril de 2021

CORPO CELESTE

Título Original: Corpo Celeste
Diretor: Alice Rohrwacher
Ano: 2011
País de Origem: Itália
Duração: 99min
Nota: 7

Sinopse: Marta é uma adolescente de 13 anos que retorna ao sul da Itália depois de passar dez anos na Suíça. Com dificuldades para se adaptar à nova vida ela passa horas observando o que está a seu redor. Ao mesmo tempo, enquanto se prepara para sua crisma, questiona a moralidade da comunidade católica local. A partir de acontecimentos importantes para ela, como a primeira menstruação e a decisão de cortar o próprio cabelo, Marta começa a tomar controle da sua vida pela primeira vez desde que chegou à Itália.

Comentário: Indicado ao prêmio Câmera de Ouro no Festival de Cannes, era  o único filme que não havia assistido da diretora do excelente As Maravilhas e do Feliz Como Lázaro. Acho que a sinopse exagera quando diz que a personagem principal questiona a moralidade da comunidade católica local, quem faz isso é a própria diretora com o decorrer do filme, a personagem está apenas perdida em meio ao caos social e religioso que é sua vida, acho inclusive que faltou um pouco mais de ação na personagem que é bem apática, magistralmente interpretada pela atriz Yle Vianello, pois conseguimos ver que Marta é uma menina de 13 anos com vários problemas psicológicos de se expressar ou de confrontar o mundo exterior. Isso deu uma carga realista impressionante, mas ao mesmo tempo deixou o filme um pouco desinteressante de assistir, pois ela quase não fala e quase não toma atitudes em relação a nada. Um filme difícil, mas que mostra que a diretora é uma das mais importantes da nova safra do cinema italiano, provou isso já no segundo filme quando faturou o prêmio do juri em Cannes.

quinta-feira, 22 de abril de 2021

FILHO TERNO: O PROJETO FRANKENSTEIN

Título Original: Szelíd teremtés - A Frankenstein-terv
Diretor: Kornél Mundruczó
Ano: 2010
País de Origem: Hungria
Duração: 105min
Nota: 7

Sinopse: Rudi, um adolescente de 17 anos que sai de um reformatório, após anos de prisão. Ele resolve ir até sua casa, em busca do conforto de sua mãe. Mas ela o rejeita. Acidentalmente, Rudi vai parar em um teste de elenco para um filme, que acontece no mesmo prédio aonde sua mãe mora. O diretor solicita apenas amadores para o teste de elenco, em busca de realismo e naturalismo nas interpretações. E Rudi é escolhido.

Comentário: Indicado ao Palma de Ouro no Festival de Cannes. O filme é inspirado pelo livro Frankenstein de Marry Shelley, o que leva as pessoas a chamarem o filme de pretensioso. Achei que o filme é bem fiel ao que propõe e as discussões que levanta a respeito da paternidade são bem relevantes. Agora, imaginem se não tivéssemos artistas pretensiosos no mundo, onde estaríamos agora? Desde o mictório de Marcel Duchamp ao surrealismo dos filmes do Lynch... Acho que as pessoas deveriam parar de tachar artista pretensioso como algo negativo. O filme é ótimo? Não, tem seus erros, mas acho que tem mais acertos, principalmente o paralelo que o livro de Shelley faz: Quem é o monstro? O criador ou criatura? Eu achei que valeu a assistida mais do que eu estava esperando.

sábado, 10 de abril de 2021

TRANSTORNO EXPLOSIVO

Título Original:Systemsprenger
Diretor:Nora Fingscheidt
Ano: 2019
País de Origem: Alemanha
Duração: 120min
Nota: 9

Sinopse: Benni, de nove anos, é pequena, mas perigosa. Ela já se tornou o que os serviços de proteção infantil chamam de "destruidora de sistemas" e não pensa em mudar. Benni tem um único objetivo: voltar para casa e ficar ao lado de sua mãe, mas Bianca tem medo da própria filha. A única esperança da menina, é Micha, um especialista em controle de raiva.

Comentário: Filme vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim e simplesmente arrebatadora. É o primeiro longa da diretora, que conduz tudo como uma verdadeira veterana, a atuação da pequena Helena Zengel é de tirar o fogo e com certeza o maior trunfo de todo o filme. A capacidade da história mudar em questão de minutos tira o espectador da zona de conforto o tempo todo e trás reflexões que culminam em um desfecho maravilhoso. Algumas cenas exageradas não atrapalham em nada a experiência e a química de Benni com todo o elenco de maneira individual é tocante. Qualquer história de crianças em rota de colisão auto destrutiva é assustadora, esta não é diferente, mas as questões sociais que ela levanta vale discussões em mesas de bares. Uma pena que não é o tipo de filme que a galera vê em peso, porque merecia.

domingo, 28 de março de 2021

ANO BISSEXTO

Título Original: Año Bisiesto
Diretor: Michael Rowe
Ano: 2010
País de Origem: México
Duração: 88min
Nota: 8

Sinopse: Laura é uma jornalista solteira de 25 anos que vive em um pequeno apartamento na Cidade do México. Depois de uma série de casos amorosos, ela conhece Arturo. Na primeira vez que fazem amor, ela sente algo diferente e fica completamente dominada e envolvida. Eles iniciam então um romance de grande intensidadepassional e sexual, em que prazer, dor e amor se misturam. Com o passar dos dias que ela cuidadosamente marca em seu calendário, os segredos de seu passado vem à tona, levando Arturo aos extremos.

Comentário: Vencedor do prêmio Câmera de Ouro no Festival de Cannes. Pensa em um filme pesado. É claustrofóbico, angustiante e aos poucos vamos entendendo qual o plano da protagonista. Vi algumas pessoas comentando que o filme vale pelas cenas "picantes", mas acho que talvez essas pessoas estejam precisando de um psicólogo. É tudo bem cru, sem trilha sonora, retrata as pessoas como se fossem reais. Mónica Del Carmen, a atriz principal se entrega completamente ao papel em uma das melhores atuações que devo ter visto nos últimos anos. O filme é aquilo que compromete a ser, não é fácil de assistir e não é o tipo de coisa que eu saio indicando por aí, mas para mim valeu a assistida e a reflexão. Acho que há uma história muito bem contada sobre ela e o pai nas entrelinhas, mas só para quem for atento a detalhes.

sábado, 27 de março de 2021

A ÁRVORE DOS FRUTOS SELVAGENS

Título Original: Ahlat Ağaci
Diretor: Nuri Bilge Ceylan
Ano: 2018
País de Origem: Turquia
Duração: 188min
Nota: 10

Sinopse: Sinan (Doğu Demirkol) é um jovem apaixonado por literatura que sempre sonhou em se tornar um grande escritor. Ao retornar para o vilarejo em que nasceu, ele faz de tudo para conseguir juntar dinheiro e investir na sua primeira publicação. O problema é que seu pai deixou uma dívida que atrapalhará os seus planos.

Comentário: Oscar Wilde disse: "No início, os filhos amam os pais. Depois de um certo tempo, passam a julgá-los. Raramente ou quase nunca os perdoam". Este filme vai bem por este caminho, com personagens dostoiéveskos. Sinan é quase um Raskólnikov, odiei o personagem, seu ego, sua moral, as coisas que pensa e faz (um típico escritor no início de carreira, já estive lá). Mas é um filme de Ceylan, e como tal, não decepciona. Toda a jornada de Sinan é maravilhosa de assistir, o final arrebatador me tirou lágrimas ao pensar no meu próprio pai. É um filme perfeito, os diálogos sobre religião são de aplaudir de pé. Ainda prefiro Sono de Inverno, mas este é tão grandioso quanto. Para mim, não existe um diretor tão completo e perfeito no mundo contemporâneo quanto Nuri Bilge Ceylan, o cinema nunca esteve tão bem.