domingo, 12 de maio de 2024

BOM TRABALHO

Título Original: Beau Travail
Diretor:  Claire Denis
Ano: 1999
País de Origem: França
Duração: 93min
Nota: 7

Sinopse: Em um campo de treinamento da Legião Francesa, no nordeste da costa africana, vemos a história de devoção do sargento Galoup ao enigmático comandante Bruno. Enquanto tentar entender seus conflituosos sentimentos, Galoup tem sua vida virada de cabeça para baixo com a chegada do novo recruta Guilles Sentain.
 
Comentário: Vencedor de um prêmio fora da competição principal no Festival de Berlim. O filme deve ser encarado como um espetáculo de dança, pois é assim que ele funciona melhor. Há cenas maravilhosas, um elenco competente e todo o paralelo do roteiro, baseado em Billy Budd de Herman Melville, funciona muito bem. O que mais me decepcionou no filme foi o mal aproveitamento do personagem Bruno Forrestier (agora comandante), interpretado novamente pelo ator Michel Subor mais de 35 anos depois dele ter vivido o papel pela primeira vez em O Pequeno Soldado dirigido por Jean-Luc Godard. Esperei pelo menos um momento de verborragia do personagem ou um diálogo mais consistente, ou mesmo algum fanservice que justificasse a presença dele no filme. Houve alguns momentos que não consegui me conectar muito à película, mas no geral foi uma experiência gratificante.

sábado, 11 de maio de 2024

HOUVE UMA VEZ DOIS VERÕES

Título Original: Houve uma Vez Dois Verões
Diretor:  Jorge Furtado
Ano: 2002
País de Origem: Brasil
Duração: 73min
Nota: 10

Sinopse: Uma comédia dramática sobre o amadurecimento, onde o efeito que dois verões têm na vida de vários adolescentes. A história de Chico que se apaixona por Roza (com Z) ao se conhecerem em uma praia num verão no sul do Brasil. Eles se reencontram no verão seguinte.

 
Comentário: Assisti no cinema na época do lançamento e lembro que havia gostado muito, uma época em que o cinema nacional estava retomando alguma relevância depois de anos de falta de investimento. O diretor aqui prova que não precisa de orçamento milionário para se fazer um ótimo filme. Nessa época eu estava namorando pela primeira vez e descobrindo a sexualidade, assim como os garotos no filme, lembro inclusive que este foi um dos primeiros filmes que vimos juntos no cinema. Adorei mais ainda nessa reassistida, me vi de volta no tempo, a história é tão boa e podemos analisar como pensávamos de maneira diferente. Fazia tempo que não assistia algo que me tirava um riso gostoso do rosto, que me trouxesse uma saudades não só da minha vida daquela época, mas também do mundo daquela época. A trilha sonora é maravilhosa, inclusive o poster do The Pogues no quarto do guri eu já tinha aquele CD na época, o elenco funciona tri bem. Que saudade, que saudade, que saudade...

segunda-feira, 6 de maio de 2024

A FONTE DAS MULHERES

Título Original: La Source des Femmes
Diretor: Radu Mihaileanu
Ano: 2011
País de Origem: Marrocos
Duração: 119min
Nota: 6

Sinopse: Uma comédia/drama ambientado em uma vila e centrado em uma batalha de sexos, em que mulheres ameaçam negar favores sexuais se seus homens se recusarem a buscar água em um poço remoto.

 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. O filme funciona, acho que este é um ponto principal, a atriz principal (Leïla Bekhti) tem uma presença tão forte em todo momento que aparece que digo sem dúvida nenhuma que o filme é dela, o que funciona mais é por conta dela. Agora se analisarmos friamente alguns pontos o filme vai ladeira abaixo: Um filme tipicamente que deveria ser dirigido por uma mulher, falta a compreensão do universo feminino ao diretor para o que ele quer passar. Para mim é claramente visível se compararmos este com o Colméia, por exemplo. Além disso, o fato de um europeu-judeu ser o diretor me deixou com o pé atrás com algumas caracterizações estereotipadas do povo árabe. Porque não fazer o filme em um vilarejo judeu ortodoxo? Porque tentar mostrar os homens muçulmanos como retrógrados, machistas e folgados? Trabalho com vários árabes e coisa que não posso dizer de nenhum deles é de que são folgados, são pessoas que jamais deixariam as mulheres passarem por situações como mostradas no filme. Me incomodou demais esta visão euro centrista. Até onde percebo, pois trabalho com muitos romenos também, é de que o filme poderia passar em um vilarejo na própria Romênia, nacionalidade do diretor, pois são mais machistas e rigorosos em muitos pontos que o povo árabe. Já deu essa tentativa do ocidente de tentar difamar outros povos assim.

PS: Apesar de ser uma produção francesa, o filme se passa no Marrocos, é falado em árabe, não possui nem um diálogo em francês ou mesmo um diretor francês. De francês tem só o dinheiro mesmo, achei mais fiel cadastrá-lo como um filme marroquino.

sábado, 4 de maio de 2024

A QUIMERA

Título Original: La Chimera
Diretora: Alice Rohrwacher
Ano: 2023
País de Origem: Itália
Duração: 131min
Nota: 9

Sinopse: Arthur é um jovem arqueólogo que se envolve com um grupo de ladrões de túmulos repletos de relíquias da era etrusca, que se dedicam à venda desses objetos ao mercado negro. Para este grupo, Quimera é o desejo pelo dinheiro fácil, já para Arthur se parece com a mulher que ele perdeu, Beniamina. Para encontrá-la, ele desafia o invisível e procura por toda parte em busca de um caminho mitológico para a vida após a morte.

 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Alice Rohrwacher entrega aqui, talvez, seu melhor filme (preciso rever o As Maravilhas de novo, pois faz muito tempo que vi, e amei demais também). A densidade e camadas que o filme tem são mais do que pude contar. Fala-se sobre o sagrado, sobre o passado, como também se fala do profano e do presente, mas também vislumbramos sobre a esperança que é o futuro também. Os atores estão ótimos, Carol Duarte simplesmente rouba a cena em todo momento que aparece, se já estava encantado depois do "A Vida Invisível", agora estou apaixonado. O final é espetacular, diz tanto sobre quem somos, sobre o que sentimos. Difícil me expressar em palavras sobre este filme, é uma experiência que vai te atingir dependendo da sua vivência, das experiências que teve na vida. Arrebatador!

sexta-feira, 3 de maio de 2024

DOR DE DENTE

Título Original: Behdasht-e Dandan
Diretor: Abbas Kiarostami
Ano: 1980
País de Origem: Irã
Duração: 26min
Nota: 7

Sinopse: O jovem Mohammad-Reza é vítima de problemas de cárie dentária - e Kiarostami aproveita seu infortúnio documentando o trauma da consulta odontológica subsequente - elaborando um retrato humorístico que desperta empatia por um jovem em uma situação preocupante familiar para muitos.

 
Comentário: Muito gostoso de assistir, é outro curta realizado pelo diretor para o Instituto para Desenvolvimento Intelectual de Crianças e Jovens Adultos. Serve para educar ao mesmo tempo em que este acaba divertindo mais, você fica com dó do Mohammad-Reza ao mesmo tempo em que pensa "viu? Bem feito!". A cena em que o dentista explica sobre escovação enquanto o garotinho murmura de dor ao fundo é brilhante, chega a dar uma agonia. No Brasil temos uma cultura de cuidar mais dos dentes que países da Europa, por exemplo, a maioria dos europeus que trabalham comigo aqui tem dentes faltando. Não sei como é a maioria das pessoas no Irã, minha mulher tem essa preocupação, mas não sei se é geral, talvez o Kiarostami tenha ajudado uma geração futura com isto aqui.

quarta-feira, 1 de maio de 2024

ERVAS SECAS

Título Original: Kuru Otlar Üstüne
Diretor: Nuri Bilge Ceylan
Ano: 2023
País de Origem: Turquia
Duração: 197min
Nota: 10

Sinopse: Um professor espera ser transferido para Istambul após quatro anos de serviço obrigatório em um vilarejo remoto, mas é acusado de contato inadequado por duas alunas. Após perder a esperança, uma colega lhe apresenta novas perspectivas.

 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro e vencedor de Melhor Atriz no Festival de Cannes para Merve Dizdar que está muito bem no filme e tem os olhos exatamente iguais da minha companheira. É um filme maravilhoso, com várias camadas sobre a sociedade de um modo geral. Samet é mesquinho, egoísta, mas não é de todo sem coração: representa o produto padronizado da sociedade capitalista que o produziu. Kenan tem um coração mais puro e Nuray tenta se descobrir depois do trauma que passou. É complicado quando se tenta comparar o trabalho do diretor com o Sono de Inverno, que acho que talvez seja o melhor filme deste século, mas se deixarmos de lado as comparações o filme merece uma nota máxima. O final é lindo, faz a gente pensar em várias experiências de nossas próprias vidas, os erros e os acertos também. É o tipo de filme que eu gosto, fotografia linda, o pé na realidade e conceitos que colocam o seu cérebro para pensar em vários níveis diferentes sobre coisas diversas. Ece Bagci, que faz a aluna Sevim, também merece aplausos.