terça-feira, 29 de outubro de 2019

AURORA

Título Original: Aurora
Diretora: Miia Tervo
Ano: 2019
País de Origem: Finlândia
Duração: 106min
Nota: 10

Sinopse: Aurora é uma manicure solteira que adora sair e beber. O sonho dela é se mudar da Finlândia, mas a falta de dinheiro — por causa do alcoolismo e pelo fato de ter sido despejada — faz com que esse objetivo fique distante. O iraniano Darian, por sua vez, sonha em poder continuar morando na Finlândia, mas precisa do visto permanente para ele e a filha de nove anos. Uma noite, os dois se conhecem. ele quer se casar com ela, mas Aurora tem outra ideia: por três mil euros, ela o ajuda a encontrar uma esposa Finlandesa.

Comentário: Que filme lindo! Quem disse que um filme romântico precisa seguir padrões de Hollywood e ser recheado de clichês? Não que aqui não tenha seus clichês, mas cada um deles são perfeitamente encaixados para nossos corações derreterem que nem manteiga. Pelo menos o meu derreteu. A história dos personagens, a direção (delicada, sensível e frenética), as pitadas de comédia e os temas sérios que aborda fazem desta película uma das melhores que assisti neste ano. Ver a falta de tato das pessoas confundindo o personagem iraniano com árabe e achando que seu país vive em guerra fez eu entender a frustração que minha namorada (iraniana) tem sobre esses assuntos quando as pessoas fazem as mesmas coisas. E ver o problema de Aurora com o álcool, mesmo demônio que eu tive que enfrentar por anos da minha vida, fizeram este filme ter um impacto enorme em mim. O copo de cerveja no aeroporto fez meus olhos encherem de lágrimas. A atriz Mimosa Willamo é o grande trunfo do filme, entre as melhores atuações do ano para mim, mas a direção e o emprenho do ator Amir Escandari não ficam muito atrás.

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

NINJA XADREZ

Título Original: Ternet Ninja
Diretores: Thorbjørn Christoffersen & Anders Matthesen
Ano: 2018
País de Origem: Dinamarca
Duração: 82min
Nota: 5

Sinopse: Alex é um jovem que cursa o oitavo ano do colégio e que precisa lidar com dramas comuns aos adolescentes: o relacionamento com o irmão postiço e o padrasto, a paixão pela colega Jessica e o bullying que sofre de Glenn na escola. Um dia, Alex ganha um presente curioso de seu tio, que viajou à Tailândia: um boneco ninja com roupa xadrez. Logo, ele descobre que o boneco está vivo, e o brinquedo o ajuda a resolver seus problemas cotidianos. mas tudo piora quando o garoto nota que o boneco, na verdade, está possuído por um espírito antigo do japão e que tem a missão tenebrosa de se vingar de Phillip Eppermint, responsável pela morte de uma criança na Tailândia.

Comentário: O filme começa muito bem e vai decaindo conforme vai chegando ao fim, não que ele não cative, mas a história vai ficando mirabolante demais sem necessidade nenhuma. Os diálogos durante os créditos são de péssimo gosto que me deixaram com um sentimento de "WTF?!?!". O começo choca, escancara o problema do trabalho infantil em regimes de escravidão que existe por todo o mundo e é explorado por países ricos, daí você pensa que o filme vai ser assim, cru, de um jeito que te pega meio de guarda baixa... mas chega ao ápice do nonsense na conversa do tio ensinando o moleque a comprar drogas ou o nerd se dando bem com a menina idiota chata pra caralho. Um filme que fica dentro da média, mas que poderia ser muito melhor, tinha um baita potencial, pelo menos.

domingo, 27 de outubro de 2019

GAROTO ENCONTRA ARMA

Título Original: Boy Meets Gun
Diretor: Joost van Hezik
Ano: 2019
País de Origem: Holanda
Duração: 86min
Nota: 8

Sinopse: Maarten sente que está levando a vida em modo automático: seu casamento é apenas suportável, seus filhos são saudáveis, seu emprego como professor em uma universidade deixou de ser desafiador. Um dia, Maarten está no mercado e o local é assaltado. De alguma forma, ele termina em posse da arma do assaltante e a leva para casa. Só o fato de ter um armamento ali dá a Maarten a coragem que ele precisa para enfrentar os problemas. Porém, viciado nesse poder, o homem logo começa a carregar o revólver com ele. Tudo piora quando o verdadeiro dono da arma o encontra.

Comentário: Uma bela comédia de humor negro de estreia do diretor que demonstra uma extraordinária competência, com um excelente elenco (o protagonista vivido pelo ator Eelco Smits merece uma menção a mais) e um bem elaborado roteiro escrito por Williem Bosch (que está mais acostumado a roteirizar séries para a TV). Quando o filme parece ir para um caminho fácil, ele nos tira da zona de conforto e vai por outro. A ideia da narrativa vir do ponto de vista da arma ajuda bastante no tom. Mas são as cenas da transformação do homem comum para algo mais que reside a verdadeira base filosófica e de ampla discussão que o filme se propõe. Ele não é apenas mais um filme qualquer de humor negro, não, ele vem como um tijolo na nossa cabeça sobre várias questões fundamentais sobre nossa sociedade, que como os estudiosos da evolução citados no filme, tenta fazer-nos refletir para onde vamos a partir daqui.

sábado, 26 de outubro de 2019

A FANTÁSTICA VIAGEM DE MARONA

Título Original: L'Extraordinaire Voyage de Marona
Diretora: Anca Damian
Ano: 2019
País de Origem: França
Duração: 92min
Nota: 9

Sinopse: Vítima de um acidente, uma cachorrinha se lembra dos diferentes tutores que amou incondicionalmente. Com sua empatia infalível, Marona trouxe leveza e inocência a cada um dos lares em que viveu.

Comentário: Que animação maravilhosa! Fiquei sem palavras, da aquele nó no coração por cada minuto que não dei atenção para meus cachorros na vida. Quase tudo no filme é perfeito, até passa a carga um pouco alta de melodrama, mas ver o mundo e a própria animação em si pelos olhos de um cachorro (ops, desculpe... uma cachorrinha maravilhosa que acaba trocando de lares devido a várias circunstâncias da vida) fez valer o meu final de semana. A estética do desenho é de encher os olhos e das coisas mais lindas que já vi no quesito animação. Provando que não precisamos só de filmes 3D produzidos pela Pixar e companhia. Os movimentos do malabarista são arte pura! Assistam!

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

UMA MULHER ALTA

Título Original: Dylda
Diretor: Kantemir Balagov
Ano: 2019
País de Origem: Rússia
Duração: 136min
Nota: 7

Sinopse: Na Leningrado de 1945, Iya e Masha são duas jovens mulheres em busca de esperança e significado em meios aos destroços deixados na Rússia após a Segunda Guerra Mundial. O cerco de Leningrado, um dos mais brutais da história, chegou ao fim, mas reconstruir suas vidas permanece uma situação cercada de morte e trauma.

Comentário: Um filme estranho, ganhador do Prêmio Um Certo Olhar em Cannes em 2019. Os filmes dessa premiação costumam me agradar bastante, não que este tenha me desagradado, mas incomoda demais, acho que se prolonga demais também, falta um pouco de síntese. O clima pós-guerra, com traumas, com fantasmas, reconstrução em meio ao caos é o grande trunfo do filme e isso faz com que o prêmio seja mais do que merecido. Não consigo pensar em nenhum filme que retrate o pós-guerra tão bem assim, a narrativa abre uma ferida como um livro de Andreas Latzko. A história em si é muito boa, as atuações são bem foda, consegue te pegar no fundo da alma em sentimentos de piedade e raiva, mas o que o filme tem de melhor são os cenários e sua paleta de cores, simplesmente perfeito, parece que estamos a contemplar uma aquarela.

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

O CARCEREIRO

Título Original: The Warden
Diretor: Nima Javidi
Ano: 2019
País de Origem: Irã
Duração: 90min
Nota: 9

Sinopse: Em 1966, uma prisão no sul do Irã precisa ser avacuada porque um novo aeroporto está sendo construído perto dali. Jahed, o carcereiro do local, está encarregado pela transferência dos presos para uma nova penitenciária, mas ele logo é avisado que um detento sentenciado à morte desapareceu.

Comentário: Minha namorada havia assistido a este filme no Irã e havia me falado maravilhas, então era o que mais tinha interesse na 43ª Mostra de Cinema de São Paulo. O filme cumpriu o que prometia e sanou todas as minhas expectativas. Há cenas maravilhosas, as atuações estão ótimas e a história é muito bem amarrada e conduzida pelo diretor. O conflito do carcereiro pode não ter o mesmo peso para algumas pessoas, digo que essas pessoas estão bem distantes do que significa ser um ser humano. Condenar um homem que você sabe ser inocente à morte em prol da sua carreira deve ser uma das piores coisas da vida, e a cultura iraniana ainda se coloca bastante no lugar do outro, coisa que vem se perdendo gradualmente com o passar do tempo, mas ainda assim é mais forte do que a nossa sociedade ocidentalizada. Este foi o primeiro filme iraniano a utilizar algumas técnicas de filmes americanos, mas não vemos em nenhum momento a perda de identidade iraniana nele. Única coisa que me incomodou é que parece que não existe um título em farsi com o nosso alfabeto para o filme e ele foi lançado com o título original em inglês mesmo. A cena em que a fumaça do gás lacrimogênio invade o presídio é arte pura.

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

CARTAS PARA PAUL MORRISSEY

Título Original: Letters to Paul Morrissey
Diretores: Armand Rovira & Saida Benzal
Ano: 2018
País de Origem: Espanha
Duração: 78min
Nota: 8

Sinopse: A narrativa é composta pelas histórias de diferentes personagens: um símbolo sexual do cinema underground, dois amantes amaldiçoados, um homem que busca salvação, uma atriz malsucedida e uma japonesa com uma misteriosa doença. embora diversas, todas essas histórias têm algo em comum, o cineasta Paul Morrissey.

Comentário: Fazia tempo que eu não via um filme com uma pegada assim no cinema, teve momentos que me lembrou o começo da carreira de David Lynch, mas com uma pegada autoral, sem ser uma cópia. O filme brinca entre ficção e realidade, já que os personagens parecem reais, mas em sua maioria não são. Tirando a pequena participação de Joe Dallesandro, todos os outros personagens não existiram na vida de Paul Morrissey, mas acabam brincando com a realidade, já que não tem como não ligar a personagem de Olena Wood com a Nico e tantas outras da Factory de Andy Warhol. Seria o escritor Udo Strauss uma contraparte de Ronald Tavel? Nada disso vem ao caso, tudo é muito metafórico, não é um filme para racionalizar em sua totalidade, é um filme mais para "sentir" emoções e sensações, do jeitinho que o Lynch gosta. A direção de Armand Rovira é detalhista e perfeita e isso vale demais o filme, as imagens em preto e branco mais as divisões de imagens sem simetria mostrando versões da mesma cena dão um toque único ao filme, na sequência da quarta carta há algumas cenas dirigidas por Saida Benzal (por isso ela também é creditada como diretora). As imagens prendem o espectador até o final dos créditos em um caleidoscópio de referências sessentistas. Apesar do filme ser uma produção espanhola, ele é falado em várias línguas diferentes.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

VIÚVA DO SILÊNCIO

Título Original: Widow of Silence
Diretor: Praveen Morchhale
Ano: 2018
País de Origem: Índia
Duração: 85min
Nota:  7

Sinopse: Na Caxemira em conflito, uma viúva muçulmana, responsável por sua filha de 11 anos e uma sogra doente, encontra-se em apuros. Incapaz de obter o atestado de óbito de seu marido desaparecido do governo, ela deve encontrar forças para superar essa situação absurda.

Comentário: O filme é lento e arrastado em alguns momentos, mas ao mesmo tempo contemplativo e cheio de detalhes que a competente direção de Morchhale segura muito bem. O filme mostra a dualidade entre a podridão do ser humano, onde um funcionário do governo se torna um monstro escancarando o quanto a humanidade é um projeto que deu errado, mas ao mesmo tempo temos a figura da enfermeira que abdica de seus ganhos pessoais para tentar dar algum conforto em um momento de desespero a colega, mostrando que talvez eu esteja errado sobre a humanidade. As imagens da Caxemira são como pinturas que me lembraram um pouco o estilo do diretor turco de Nuri Bilge Ceylan. O personagem do motorista, interpretado por Bilal Ahmad, é de longe a melhor coisa do filme. No final tudo fica um pouco kafkaniano e o desfecho é exatamente o que eu esperava, mas que se fosse de outro modo estragava o filme. Só indico para quem realmente está acostumado com este tipo de filme.

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

UMA COLÔNIA

Título Original: Une Colonie
Diretora: Geneviève Dulude-De Celles
Ano: 2018
País de Origem: Canadá
Duração: 102min
Nota:  10

Sinopse: Mylia é uma garota de 12 anos que atravessa a zona cinzenta e incômoda da adolescência, constantemente se sentindo inadequada em relação aos colegas da escola. Ela encontra dificuldades no processo de construir sua própria identidade, até que conhece Jimmy, um jovem audacioso que mora em uma reserva vizinha e a encoraja a sair de sua zona de conforto em direção a experiências extraordinárias.

Comentário: Filme vencedor do Urso de Cristal no Festival de Berlin de 2019 e que me tocou profundamente. A diretora é minimalista e já havia ganho dois prêmios pelo seu curta metragem O Corte no Festival de Sundance em 2014. A película é de encher os olhos e fez eu voltar no tempo na minha época de adolescência, mas diferente de todas as minhas outras visitas a este meu passado remoto, desta vez não foi tão ruim. Assim como Mylia, eu nunca me encaixei, assim como ela, eu participava de festas para assistir aos outros se divertirem enquanto eu me perguntava o que diabos eu estava fazendo ali. As metáforas utilizadas para o filme são simplesmente espetaculares, o desfecho é brilhante e fez com que pela primeira vez na minha vida eu agradecesse por ser quem eu sou. O filme teve um enorme impacto em mim, ao sair da sala ouvi uma senhora dizendo que o filme glamorizava a adolescência (coitada!), não entendeu ao filme, porque ele faz exatamente o oposto. Ao longo da minha vida, vi pessoas tão "esquisitas" como eu cair no padrão do mundo comum, se entregar a massa, tentar se encaixar... eu continuo sendo o esquisito e depois desse filme eu agradeço cada segundo da minha história até aqui. Obrigado à diretora, vou continuar pintando fora das linhas.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

PARASITA

Título Original: Gisaengchung
Diretor: Joon-ho Bong
Ano: 2019
País de Origem: Coréia do Sul
Duração: 132min
Nota:  10

Sinopse: Toda a família de Ki-taek está desempregada, vivendo num porão sujo e apertado. Uma obra do acaso faz com que o filho adolescente da família comece a dar aulas de inglês à garota de uma família rica. Fascinados com a vida luxuosa destas pessoas, pai, mãe, filho e filha bolam um plano para se infiltrarem também na família burguesa, um a um. No entanto, os segredos e mentiras necessários à ascensão social custarão caro a todos.

Comentário: Grande ganhador da Palma de Ouro do ano de 2019, o filme é excelente. O que impressiona é a leveza com que ele consegue passar de uma quase comédia na sua primeira hora para um suspense que me fez roer as unhas de nervoso para o seu final, mas servindo para criticar de maneira sublime os problemas gerados pela diferença de classe no mundo capitalista globalizado. O filme nos induz a torcer para os vilões? Será que os vilões não são os outros? Ou será que não existem vilões e são todos vítimas de suas classes sociais de uma sociedade falida? A direção e o roteira são sintonizados em uma cadência de eventos que fazem com que o telespectador fique extremamente imerso no filme. A cereja no bolo é o diálogo do pai com o filho onde ele divaga sobre "fazer planos" e como tudo isso se conecta o final, que para meio entendedor, é desesperador.