sábado, 31 de dezembro de 2022

ENCONTROS

Título Original: Inteurodeoksyeon
Diretor: Hong Sang-soo
Ano: 2021
País de Origem: Coréia do Sul
Duração: 65min
Nota:  9

Sinopse: Um jovem sonha em se tornar ator, mas tem medo de precisar beijar outras mulheres em cena e criar problemas com a namorada. Uma jovem sonha em se tornar estilista, mas tem receio de morar junto da colega, uma pintora famosa e mais bonita do que ela. Ambos se opõem aos planos profissionais de suas mães, que imaginam um futuro diferente para eles.
 
Comentário: Vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim. Eu amo cada vez mais a subjetividade do diretor que aqui alcança um pico mais estratosférico. Como o próprio título original já nos informa (Introdução), a narrativa é entrecortada, serve apenas como introdução para a história real que não nos é apresentada, ou seja, a história não está no filme. Temos vislumbres de meras introduções. Como escritor, isso colocou meu cérebro a mil, tentando preencher lacunas. Cinema de altíssima qualidade nesse sentido narrativo, dando um murro na cara do cinema mastigado de massa. As nuances e pistas permeiam por todas as "introduções". O que é real e imaginado? O que cada personagem carrega em sua alma? Qual a verdadeira história de cada um deles? Se o telespectador souber embarcar na experiência que o diretor se propõe, não irã se decepcionar... mas a proposta não parece ser tão simples assim.


quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

UM TERNO DE CASAMENTO

Título Original: Lebassi Baraye Arossi
Diretor: Abbas Kiarostami
Ano: 1976
País de Origem: Irã
Duração: 59min
Nota:  8

Sinopse: Uma mulher encomenda um terno de um alfaiate para que seu jovem filho possa ir ao casamento da irmã. O aprendiz do alfaiate, junto com dois outros meninos que trabalham no mesmo edifício, bolam um plano para usar o terno durante uma noite e entregá-lo na manhã seguinte sem que ninguém os descubra.

Comentário: Em um Irã pré revolução, temos aqui mais uma vez o olhar de Kiarostami sob a ótica da infância em uma Teerã que não poupa os mais jovens da vida adulta. Há elementos do "Experiência", porém este é mais dinâmico. O diretor trabalha aqui muito bem o ritmo da história, criando suspense e sentimentos diversos. Há um amadurecimento nítido em relação a seus trabalhos anteriores, porém uma conexão muito forte entre eles também. É um fragmento de história, há fatos anteriores e com certeza haverá consequências posteriores, é isto que gosto no diretor.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

OS BANSHEES DE INISHERIN

Título Original: The Banshees of Inisherin
Diretor: Martin McDonagh
Ano: 2022
País de Origem: Irlanda
Duração: 114min
Nota:  10

Sinopse: Dois amigos de longa data se encontram em um impasse quando um deles termina abruptamente o relacionamento, com consequências alarmantes para ambos.
 
Comentário: Indicado ao Leão de Ouro e vencedor do melhor roteiro no Festival de Veneza. O filme é tristíssimo e consegue ter um pouco de tudo em suas entrelinhas, me identifiquei com praticamente todos os personagens (com exceção do policial) que têm muito a dizer. Banshee é uma criatura do folclore irlandês que prenuncia a morte de um membro da família com um grito (eu ouvi esse grito, que provém de um pássaro noturno muito grande que eu vi voando, dias antes da morte da minha irmã). Para mim, um dos melhores filmes do ano, tudo nele funciona, atuações brilhantes de todo o elenco, direção bucólica condizente e um roteiro cheio de nuances brilhantes que exploram a cultura irlandesa hoje já tão esquecida pelos próprios. Definitivamente meu tipo de filme: a frase "Não há como superar certas coisas. E eu acho isso bom." veio para lavar minha alma me dando praticamente um motivo para viver. Filme necessário!

domingo, 25 de dezembro de 2022

ARGENTINA, 1985

Título Original: Argentina, 1985
Diretor: Santiago Mitre
Ano: 2022
País de Origem: Argentina
Duração: 141min
Nota:  9

Sinopse: O filme “Argentina, 1985” relembra o histórico julgamento que condenou, em tempo recorde, vários ditadores que perseguiram, torturaram e mataram os que se opunham ao governo durante o período em que os militares estiveram no poder. Embora seja um filme de ficção, se baseia na história real dos promotores Julio Strassera (Ricardo Darín) e Luis Moreno Ocampo (Peter Lanzani).
 
Comentário: Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza, um filme extremamente necessário nos dias de hoje com o fascismo se inflando não só na América do Sul, mas no mundo. O filme tem aquele ritmo clichê de filme de tribunal hollywoodiano, mas consegue se manter fiel a sua identidade sul-americana. Eu chorei muito em alguns relatos de tortura, eu meio que morro como ser humano toda vez que penso no a espécie é capaz de fazer com outra pessoa, no quão fundo do poço é possível chegar, para no final pensar "podia ser o Brasil", podíamos ter julgado nossos monstros, mas nada fizemos. Foi um carrossel de emoções fortes. Ricardo Darín não precisa provas que é um dos maiores atores de sua geração, mas aqui o faz de novo. Apesar de ser um filme longo, nem senti passar.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

NOSTALGIA

Título Original: Nostalgia
Diretor: Mario Martone
Ano: 2022
País de Origem: Itália
Duração: 117min
Nota:  7

Sinopse: Após 40 anos de ausência, Felice retorna à sua cidade natal: Nápoles. Ele redescobre os lugares, os códigos da cidade e um passado que o corrói.
 
Comentário: Filme indicado a Palma de Ouro em Cannes, com uma direção bastante competente do Martone, mas o que vale realmente é mais uma excelente atuação de Pierfrancesco Favino, provando que é um dos grandes atores italianos da sua geração. A película tem belos momentos, as cenas do personagem principal com a mãe são lindíssimas, o desenvolvimento caminha bem e o desfecho, apesar de não ter me agradado tanto, faz a gente pensar por dias. O que me deixou decepcionado com o filme foi exatamente a falta de aproveitamento narrativo na cena que era para ser a mais importante do filme, onde há o encontro dos personagens antagonistas. O filme é bom, mas faltou entregar algo que poderia ser muito melhor.

sábado, 17 de dezembro de 2022

RODA DO DESTINO

Título Original: Gûzen to Sôzô
Diretor: Ryûsuke Hamaguchi
Ano: 2021
País de Origem: Japão
Duração: 121min
Nota:  10

Sinopse: Um inesperado triângulo amoroso, uma armadilha de sedução fracassada e um encontro que resulta de um mal-entendido são os três episódios, contados em três movimentos para retratar três personagens femininas e traçar a trajetória entre suas escolhas e arrependimentos.
 
Comentário: Vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim. Filme simplesmente maravilhoso, daqueles que toca em algo particular seu a todo momento. Confesso que tive que parar de assistir da primeira vez, pois a primeira história era cheia de gatilhos que me fizeram mal na minha vida, depois enfrentei o filme de novo e foi maravilhoso. Achei alguns artifícios de desfecho na primeira e na segunda história desnecessários, mas segue o baile. Elenco fantástico e direção perfeita. Dizem que o Hamaguchi dirigiu os dois melhores filmes de 2021, achava exagero, mas hoje confesso que acho algo bem palpável.

sábado, 10 de dezembro de 2022

SÃO SEUS OLHOS TRISTES

Título Original: São Seus Olhos Tristes
Diretor: Antônio Rafael
Ano: 2022
País de Origem: Brasil
Duração: 8min
Nota:  9

Sinopse: Filme realizado dentro do curso de Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal de Sergipe, sobre as condições que levaram a avó e a mãe do realizador à morte...
 
Comentário: Que pedrada! É até difícil escrever algo mais além disso... o curta é isso. Direto ao ponto, rápido e direto na jugular onde dói. Pensar que a mãe do diretor era mais nova que eu... enfim, faz a gente pensar em tantas coisas. Mexe com a gente, não sei se com todo mundo é assim, mas comigo mexeu demais em fantasmas que eu tento deixar escondidos de olhares alheios. A depressão me acompanhou toda a vida e hoje a vejo como uma doença do capitalismo, difícil fugir dela quando não vivemos alienados. Achei que já que era para meter o pé na porta e abrir o coração, faltou um pouco mais de tempo para trabalhar isso, de resto o curta é impecável.

sábado, 19 de novembro de 2022

VOCÊ NÃO ESTARÁ SÓ

Título Original: You Won't be Alone
Diretor: Goran Stolevski
Ano: 2022
País de Origem: Macedônia
Duração: 109min
Nota:  9

Sinopse: Em um vilarejo isolado nas montanhas da Macedônia do século XIX, uma jovem bruxa é deixada para se tornar selvagem na floresta. Curiosa sobre a vida humana, ela acidentalmente mata uma camponesa da aldeia, então se transforma nela para ver como é sua vida. Isso acende sua curiosidade profunda em experimentar a vida dentro do corpo de outras pessoas.
 
Comentário: Indicado no Festival de Sundance, achei que em muitos momentos o filme tem um estilo do Malick, então obviamente que eu adorei. Apesar de achar super forçado uma menina criada em uma caverna ter a articulação tão boa de pensamento como ela tinha, é o tipo de coisa que dá para ignorar para deixar o filme fluir, e o filme fluiu muito bem para mim. O filme é poético e reflexivo, lógico que a galera do terror hollywoodiano que assistiu odiou, a direção de arte e as atuações são a cereja no bolo. O filme é claramente um drama com elementos de terror e funciona muito bem assim.

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

BARBARA

Título Original: Barbara
Diretor: Christian Petzold
Ano: 2012
País de Origem: Alemanha
Duração: 105min
Nota:  8

Sinopse: Uma médica da Alemanha Oriental falha ao tentar obter um visto para deixar o país. Para ser punida, é enviada para um pequeno hospital no interior do país. A personagem, então, se vê dividida entre o desejo de escapar e uma crescente atração por um novo colega de profissão.

Comentário: Vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim. O filme é maravilhoso em vários aspectos, principalmente por não ser preto e branco, há criticas tanto ao mundo capitalista do outro lado do muro quanto ao mundo socialista stalinista deste lado do muro. Acho que o desfecho mostra bem o que um pensamento anti-individualista significa, morei em um vilarejo menor que o do filme que pertenceu a Alemanha Oriental e realmente a maneira de se pensar é bem diferente. As atuações e a direção se completam de maneira perfeita. Petzold tem entrado na minha lista de diretores contemporâneos preferidos facilmente. O que incomoda no filme é a contextualização, não estava entendendo exatamente em que período o filme se passava e tive que ir ler a sinopse em busca de auxílio, acho que pecou um pouco em relação a isso, mas sem prejudicar o andamento, só que podia ser melhor neste ponto até para criar um vinculo melhor do telespectador ao começo do filme.

domingo, 13 de novembro de 2022

ALCARRÀS

Título Original: Alcarràs
Diretor: Carla Simón
Ano: 2022
País de Origem: Espanha
Duração: 115min
Nota:  9

Sinopse: Desde quando podem se lembrar, a família Solé passou todo os verões colhendo os pêssegos em seu pomar em Alcarràs, uma pequena vila na região da Catalunha, na Espanha. Mas a colheita deste ano pode muito bem ser a última, pois eles enfrentam despejos. Os novos planos para a terra, que incluem cortar os pessegueiros e instalar painéis solares, causam uma brecha nessa família grande e unida. Pela primeira vez eles enfrentam um futuro incerto e correm o risco de perder mais do que o pomar.
 
Comentário: Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Berlim, achei o filme maravilhoso, apesar de se estender demais em alguns pontos desnecessários. Mostra como as relações familiares estão relacionadas como raízes na terra em que estão vinculadas. Os atores são de famílias rurais da região e conseguem superar qualquer expectativa: Xènia Roset como Mariona rouba todas as cenas em que aparece por pura competência e não tem como não se simpatizar com Albert Bosch como Roger, o jovem esforçado e comprometido. O filme tem raízes que se espalham por vários assuntos, desde o supérfluo aos complicados como política e sociologia. Camadas e mais camadas de cada personagens podem ser extraídas em várias assistidas, provavelmente. Um filme para se ver de novo algum dia. Final arrebatador.

domingo, 16 de outubro de 2022

ISSO NÃO É UM ENTERRO, É UMA RESSURREIÇÃO

Título Original: This Is Not a Burial, It's a Resurrection
Diretor: Lemohang Jeremiah Mosese
Ano: 2019
País de Origem: Lesoto
Duração: 116min
Nota:  10

Sinopse: Quando sua aldeia é ameaçada de realocação forçada devido à construção de um represa, uma viúva de 80 anos encontra uma nova vontade de viver e acende o espírito de resiliência dentro de sua comunidade.
 
Comentário: Que filme! É até difícil falar. Vencedor de dezenas de prêmios em festivais e com provavelmente a melhor atuação do ano, Mary Twala simplesmente leva o filme nas costas... e olha que nem precisava, porque a película tem uma condução digna de um Bergman ou Tarkovski. O filme é o mais necessário impossível em uma sociedade capitalista agressiva como vivemos hoje e nos bombardeia com discussões profundas em vários sentidos diferentes. O início é meio inebriante, um ritmo que te hipnotiza, você acha que não vai entrar na vibe do filme e quando vê já está lá no Lesoto. Paralelos com o Brasil são extensos, país de terceiro mundo explorado por europeus parecem sofrer da mesma sina. Um filme que quero revisitar no futuro, mas que não é para quem está acostumado a somente Hollywood.

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

O OUTRO LADO DO RIO

Título Original: Aliyê Din Ê Çem
Diretor: Antonia Kilian
Ano: 2021
País de Origem: Curdistão
Duração: 91min
Nota:  8

Sinopse: Hala, de 19 anos, escapa de Minbij, no norte da Síria, atravessando o Eufrates e acaba no exército curdo. Após seu treinamento, ela retorna à sua cidade natal como policial com a intenção de salvar suas irmãs mais novas do fundamentalismo religioso.

Comentário: O filme é um documentário e mostra de maneira crua e descompromissada o dia a dia de uma garota que faz parte da resistência curda contra o Estado Islâmico e o Governo Fascista Turco. Meu foco de estudo na faculdade de economia foi a teoria do confederalismo democrático de Abdullah Öcalan que foi responsável pela revolução curda em Rojava. Portanto qualquer coisa sobre o assunto tem prioridade para mim. Achei o documentário muito bom, pois não tenta servir como marketing, nos coloca frente a frente com a realidade, inclusive apontado alguns erros em como algumas coisas são feitas por lá. Acredito que a revolução curda é uma das coisas mais importantes do mundo contemporâneo atual, é preciso ser discutido, mas a mídia parece fazer de tudo para abafar o que está acontecendo por lá. Um documentário essencial para quem quer se manter informado ou para que sirva de porta de entrada para a revolução, que para mim, é a mais importante da história humana recente.

domingo, 18 de setembro de 2022

CONCORRÊNCIA OFICIAL

Título Original: Competencia Oficial
Diretor: Mariano Cohn & Gastón Duprat
Ano: 2021
País de Origem: Espanha
Duração: 114min
Nota:  10

Sinopse: Dois atores com trajetórias muito diferentes se chocam durante a preparação de um filme, financiado por um milionário ansioso por notoriedade, e dirigido por uma prestigiosa diretora excêntrica.

Comentário: Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza. Fui assistir ao filme sem esperar nada e me surpreendeu muito positivamente, achei brilhante! Digo que é um dos filmes mais pretensiosos feito de maneira mais despretensiosa possível. Uma crítica ácida ao cinema pipoca que dominou a grande mídia nos dias atuais, sem perder o bom humor. Provando que é possível fazer um bom cinema sem cair no pseudocult. As atuações são mero detalhe que enchem os olhos do espectador e a direção é extremamente competente. É estranho ver um filme, que até certo ponto é comercial demais, com tanto conteúdo. É uma espécie de filme em extinção que antes nos era tão comum. Um dos melhores filmes do ano de 2021 com certeza.

sábado, 17 de setembro de 2022

O PERDÃO

Título Original: Ghasideyeh Gave Sefid
Diretor: Behtash Sanaeeha & Maryam Moghaddam
Ano: 2020
País de Origem: Irã
Duração: 105min
Nota:  7

Sinopse: A vida de Mina é virada do avesso quando descobre que o marido Babak estava inocente do crime pelo qual foi executado. As autoridades pedem desculpa pelo erro e oferecem a hipótese de compensação financeira. Mina inicia uma batalha silenciosa contra um sistema cínico por ela e pela sua filha. Um olhar magistral sobre a vida de uma mulher iraniana.
 
Comentário: Indicado ao Urso de Ouro no Festival de Berlim. O filme é bem interessante e bem conduzido, mas o grande trunfo é a atuação de Maryam Moghadam, personagem principal da história, e sua filha interpretada por Avin Poor Raoufi (não sei se ela é surda na vida real) que rouba as cenas com suas linguagens de sinais por todo o filme. As críticas ao sistema cheio de falhas no Irã, ao machismo inerente (onde uma viúva tem dificuldades até de alugar um imóvel por não ter um marido) e a culpa dos erros deste sistema que consome o personagem de Reza colidem na cara do telespectador sem filtros. Toda a simbologia em torno da Vaca (que tem relação a uma passagem do alcorão que religiosos utilizam para justificar a pena de morte) permeiam o filme. O que mais me desagradou foi o desfecho, é forte, porém esperava mais.

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

DECISÃO DE PARTIR

Título Original: Heojil Kyolshim
Diretor: Park Chan-wook
Ano: 2022
País de Origem: Coréia do Sul
Duração: 138min
Nota:  10

Sinopse: Um detetive (Park Hye-il) se apaixona por uma misteriosa viúva (Tang Wei) após ela se tornar a principal suspeita em seu último caso que investiga um homicídio.

Comentário: Indicado ao Palma de Ouro e vencedor do prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cannes. É o tipo de filme que ou te pega ou não, e me pegou em cheio. Fiquei maravilhado! Daqueles que mesmo que você ame não indica para ninguém, porque é cheio de particularidades que você sabe que não caem no gosto de todo mundo. A direção é incrível, achei a condução muito boa, mesmo que fique estranha as vezes, com cortes nada convencionais. Há detalhes que se conectam de maneira imperceptíveis a outros. "Você não deixa de amar alguém porque ela casou" ou "Apesar de eu ter sofrido bastante por tua causa, minha vida não foi vazia graças a ti" são frases que me marcaram na alma, que fazem do filme ter essa força devastadora que me atinge. O elenco está perfeito, o final é catártico. Os detalhes fazem o filme. A minha nota 10 talvez seja exagerada, mas é porque me arrebatou mesmo, acho que no fundo sou exatamente como o detetive que não consegue dormir e tenta esquecer alguém.

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

O CORRETOR

Título Original: Beurokeo
Diretor: Hirokazu Koreeda
Ano: 2022
País de Origem: Coréia do Sul
Duração: 129min
Nota:  8

Sinopse: Uma caixa de bebê é um pequeno espaço onde os pais podem deixar seus bebês anonimamente. E é em torno desta caixa que o relacionamento das pessoas será explorado.

Comentário: Indicado a Palma de Ouro e vencedor do prêmio de Melhor Ator para Song Kang-ho no Festival de Cannes. Achei que o diretor tentou beber demais na própria fonte de seu filme Assunto de Família, criando uma nova família disfuncional, mas daí fica difícil assistir sem estabelecer comparações, e Assunto de Família é um filme imbatível em quase todos os aspectos. Achei que o filme se estende demais e tem um corte de edição meio esquisito as vezes, fica confuso, a gente não sabe exatamente o que o diretor quer passar. Um final apressado demais pelo todo desenrolar do filme, mas apesar das reclamações o saldo é bem positivo. Há momentos lindos, os atores se entregam, há química em todo o conjunto. Koreeda é foda, e isso por si só já segura muito bem o filme. Baita direção. Fui assistir ao filme achando que era japonês e me surpreendi em ver o diretor fazendo um filme sul coreano.

quarta-feira, 31 de agosto de 2022

ME LEVE PARA UM LUGAR LEGAL

Título Original: Take Me Somewhere Nice
Diretor: Ena Sendijarevic
Ano: 2019
País de Origem: Bósnia e Herzegovina
Duração: 91min
Nota:  7

Sinopse: No começo da vida adulta, Alma (Sara Luna Zoric) deixa a casa da mãe na Holanda e viaja para sua terra natal, a Bósnia, para encontrar o pai que nunca conheceu. Mas desde o início, nada corre como planejado. Seu primo Emir (Ernad Prnjavorac) não é receptivo e zomba da vida fácil da jovem na Holanda. Ao mesmo tempo, uma forte atração sexual leva a jovem a se relacionar com o melhor amigo de Emir, o problemático Denis (Lazar Dragojevic). À medida que os obstáculos aumentam, Alma segue determinada a achar o pai. Ela só precisará conhecer a si mesma antes.
 
Comentário: O filme é pseudocult? É! Tem inúmeras incongruências narrativas? Têm! Mas dizer que o filme é vazio e chato acho exagero. A estética é linda, mas é óbvio que foi feito pensando em um público acostumado a filmes mais americanizados de festival (Não a toa o título original é em inglês ou a fita cassete no carro de um cara que mora isolado em uma área rural da Bósnia vai ter Sonic Youth gravado). Mas é um filme bem interessante do ponto de vista sobre a imigração, já que se trata de um país dentro da Europa, portanto de europeus, que vivem à parte por não serem integrantes do bloco econômico da União Europeia. Alma provavelmente tem uma vida de merda na Holanda, sem identidade, uma europeia imigrante dentro da Europa, conheço vários assim por aqui (vivo no Reino Unido). O diálogo onde o motorista diz "O que a Holanda fez por nós?" e continuam com várias perguntas apontando outros países é sensacional, demonstra bem esses países abandonados a própria sorte no mesmo continente. Há inúmeras cenas como essa em conta gotas durante toda a película. Um filme sobre a identidade, acho que tem muito mais força para quem vive como imigrante. O final é interessante, pois remete a um diálogo no filme (não quero dar spoiler), mas deixa um pouco a desejar. Achei acima da média de um modo geral e apreciei bastante.

domingo, 28 de agosto de 2022

A PASTORA E AS SETE CANÇÕES

Título Original: Laila Aur Satt Geet
Diretor: Pushpendra Singh
Ano: 2020
País de Origem: Índia
Duração: 98min
Nota:  8

Sinopse: Com o conflito na Caxemira como pano de fundo, o longa conta a história da pastora nômade Laila. Embora ela se torne a esposa de Tanvir, a jovem atrai a atenção de toda a tribo, especialmente do policial Mushtaq, que está determinado a conquistá-la. Em meio à deslumbrante paisagem do Himalaia, onde a polícia e os militares monitoram rigorosamente cada movimento em todas as fronteiras, os dois trocam réplicas amorosas que fogem do controle. Inspirado na poesia de Lalleshwari, místico da Caxemira do século XIV.

Comentário: Selecionado no Festival de Berlim em uma das premiações paralelas, este filme me surpreendeu muito positivamente, principalmente pelos seus alívios cômicos. Esses filmes indianos tendem, muitas vezes, a cair no dramalhão. As imagens são lindas e a direção nos pega de surpresa por se tratar de um estreante. O final me tirou o fôlego e me espantou bastante pela ousadia, sem medo de seguir caminhos diferentes (experimentais talvez?). Achei que o filme é de uma sensibilidade com a figura feminina que muitas vezes é ignorada por culturas predominantemente machista. A divisão do filme entre as "sete canções" ajuda muito no ritmo em que a história é contada e vamos aos poucos pegando uma simpatia pelo personagem Mushtaq, muito bem interpretado por Shahnawaz Bhat. Cheguei até a pensar que os atores eram de vilarejos da Caxemira utilizados pelo diretor, mas  vi que são atores mesmo com outros trabalhos anteriores. Navjot Randhawa, que interpreta Laila, tem talento de sobra, espero que ganhe mais papéis de destaque no futuro, pois merece.

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

OS MISERÁVEIS

Título Original: Les Misérables
Diretor: Ladj Ly
Ano: 2019
País de Origem: França
Duração: 104min
Nota:  9

Sinopse: Stéphane (Damien Bonnard) é um jovem que acaba de se mudar para Montfermeil e se junta ao esquadrão anti-crime da comuna. Colocado no mesmo time de Chris (Alexis Manenti) e Gwada (Djibril Zonga), dois homens de métodos pouco convencionais, ele logo se vê envolvido na tensão entre as diferentes gangues do local.
 
Comentário: Vencedor do Prêmio do Juri no Festival de Cannes, dividindo-o com Bacurau. O filme parece não trazer nada de novo até certo ponto, até dar uma guinada completa nos eventos que levam ao incrível desfecho simplesmente arrebatador. O tanto de discussões que ele escancara com um murro direto na cara do espectador são incontáveis, o próprio policial novato que somos levados de maneira muito bem conduzida a nos identificar, não passa de um passador de pano em linhas gerais. O problema da imigração para a Europa é tratada aqui da maneira crua como é, pois de quem é a culpa da pobreza na África se não dos próprios europeus? Quem melhor para pagar esta conta agora? Sem tirar o mérito do filme brasileiro com o qual dividiu o prêmio, achei este mais direto ao ponto, mais visceral e bem construído, mas o mais interessante é como os dois filmes dialogam muito bem entre si, fazendo deles quase irmãos separados por diferentes continentes. Vale muito a assistida... e que final! QUE FINAL!

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

A MÃO DE DEUS

Título Original: È Stata La Mano di Dio
Diretor: Paolo Sorrentino
Ano: 2021
País de Origem: Itália
Duração: 130min
Nota:  10

Sinopse: Ambientada na tumultuada Nápoles da década de 1980, “A Mão de Deus” é uma narrativa repleta de alegrias inesperadas, como a chegada da lenda do futebol Diego Maradona. Mas também não faltam tragédias. O destino faz a sua parte, misturando alegrias e tristezas, e o futuro de Fabietto está em jogo. Sorrentino volta à cidade onde nasceu para contar uma história muito pessoal sobre destino, família, esportes, cinema, amores e perdas.

Comentário: Vencedor do Leão de Prata no Festival em Veneza. Achei o filme maravilhoso, porque é exatamente o tipo de filme que eu gosto, cheio de sentimentos, que vão do luto à alegria e que desemboca em uma lição de vida sem ser piegas. A coragem do diretor em contar sua história com esta crueza de detalhes foi realmente algo brilhante. Para mim, tudo no filme funcionou, não há nada que eu consiga criticar, inclusive daria o Leão de Ouro fácil para ele. Gosto de filmes sobre crescimento, onde não há necessariamente a fórmula pronta da jornada do herói de Joseph Campbell, onde o personagem é algo completamente diferente no final do filme do que ele era no começo, mas mostrado da maneira como a vida age, sem rodeios. É uma fábula realista. Lindo!

domingo, 31 de julho de 2022

LITTLE JOE

Título Original: Little Joe
Diretor: Jessica Hausner
Ano: 2019
País de Origem: Inglaterra
Duração: 105min
Nota:  7

Sinopse: Uma planta geneticamente modificada espalha suas sementes e parece causar mudanças incomuns nas criaturas vivas. Os aflitos parecem estranhos, como se fossem substituídos - especialmente para aqueles que estão próximos a eles. Ou é tudo apenas imaginação?
 
Comentário: Filme indicado a Palma de Ouro e que deu o prêmio de melhor atriz para Emily Beecham no Festival de Cannes. Não tem como assistir e não comparar com o Invasores de Corpos, e quando comparamos não tem como não enxergar que o filme está abaixo, mas isso não tira os méritos do mesmo. Há conveniências demais no roteiro, mas é interessante a estética e algumas discussões que aborda. se fossemos feliz deixaríamos de ser quem somos? O filme peca em ficar em cima do muro quando não deveria e de descer do muro quando deveria ficar lá em cima. Acho que podiam ter deixado mais aberto o lance do "será que tudo isso é real ou ela está ficando louca?", mas acho também que o filme devia ter decidido mais se queria ser um drama ou suspense. Falando assim, parece que o filme tem mais defeitos que acertos, mas também não é bem assim. Quanto ao prêmio de melhor atriz em Cannes, eu ainda acho que Noémie Merlant merecia mais naquele ano. A mensagem que fica é: muita coisa se resolveria melhor na vida com um coquetel molotov.

sexta-feira, 29 de julho de 2022

GATO AMARELO

Título Original: Sary Mysyq
Diretor: Adilkhan Yerzhanov
Ano: 2020
País de Origem: Cazaquistão
Duração: 89min
Nota:  8

Sinopse: O ex-condenado Kermek e sua amada Eva querem deixar para trás suas vidas criminosas nos estepes do Cazaquistão. Ele tem um sonho: construir um cinema nas montanhas. O amor de Kermek por Alain Delon será forte o suficiente para mantê-los longe das garras violentas da máfia?

Comentário: Indicado para uma das premiações dentro do festival de Veneza, este filme conseguiu me cativar, talvez porque me remeteu em vários momentos ao filme Amor à Queima Roupa de Tony Scott. Há inúmeras referências, inclusive a trilha sonora composta por Ivan Sintsov e Alim Zairov serve como memória afetiva para quem cresceu vendo o filme americano, como eu. Mas engana-se quem achar que é um plágio simplesmente, o filme serve tanto como paródia como denúncia para a realidade no Cazaquistão, e vai se desenrolando com uma crueza e uma fábula que parece até dirigida por Terry Gilliam. Não vou dar spoiler, mas após ponderar dias sobre o desfecho, acho que foi bem satisfatório para a mensagem que o diretor queria passar. Talvez se o personagem principal não fosse tão lesado o filme renderia diálogos mais interessantes, mas as imagens compensam, e muito, esse deficit.

terça-feira, 26 de julho de 2022

EXPERIÊNCIA

Título Original: Tadjrebeh
Diretor: Abbas Kiarostami
Ano: 1973
País de Origem: Irã
Duração: 53min
Nota:  8

Sinopse: Mamad, um orfão de 14 anos, trabalha e dorme numa loja de fotografias, onde tem um patrão austero. Ele se apaixona por uma estudante mais velha de uma família de classe média, quando a vê na porta de casa.

Comentário: Alguns consideram este o primeiro filme de Kiarostami, porém é um média metragem segundo a classificação de outros países que consideram O Viajante. O fato é que Experiência trás vários elementos que estariam presentes neste período de formação do cineasta, que já havíamos visto em seus dois curtas anteriores (O Pão e o Beco / O Recreio) e que veríamos de novo como por exemplo no filme "Onde Fica a Casa do Meu Amigo?", a infância e a visão do diretor sobre ela. Acho que este é o filme mais sombrio e triste nesse aspecto, nosso coração é partido em vários momentos e a realidade crua como nos é jogada incomoda de maneira proposital. Abbas Kiarostami era mestre, aqui não é diferente, Experiência não chega a ser algo essencial em sua filmografia, mas serve como peça inicial para aqueles que querem ampliar seu entendimento sobre o diretor.

domingo, 24 de julho de 2022

SOBRE A ETERNIDADE

Título Original: Om Det Oändliga
Diretor: Roy Andersson
Ano: 2019
País de Origem: Suécia
Duração: 76min
Nota:  9

Sinopse: Uma reflexão sobre a vida em toda sua beleza e crueldade, seu esplendor e banalidade. Entre um caleidoscópio da condição humana, o filme mistura o presente com o passado e nos conduz por diferentes histórias por meio de uma narração.
 
Comentário: Vencedor do Leão de Prata no Festival de Veneza. Acho que por estar mais acostumado ao estilo do diretor, pude aproveitar muito mais este filme do que o seu anterior (Um Pombo Pousou Num Galho Refletindo Sobre A Existência) que me pegou de surpresa. Adorei, consegui sentir diferentes sentimentos e reflexões ao longo do filme, que mantém a estética asséptica e extraordinária do diretor, como quadros em movimento que vamos assistindo em uma galeria de arte. Lógico que no meio de um turbilhão de histórias, vamos nos identificando mais com umas do que com outras, mas a genialidade do diretor vai até na duração do filme, que deixa o espectador com um gostinho de queria mais ao invés de adentrar em um clima cansativo. Teve momentos que ri muito, outros fiquei abalado, outros são lindos demais.

sexta-feira, 22 de julho de 2022

MÃES PARALELAS

Título Original: Madres Paralelas
Diretor: Pedro Almodóvar
Ano: 2021
País de Origem: Espanha
Duração: 123min
Nota:  9

Sinopse: Em Madri, Espanha, duas mães dão à luz no mesmo dia. O longa segue suas vidas paralelas ao longo do primeiro e do segundo ano de criação dos filhos.

Comentário: Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza, onde rendeu um prêmio de melhor atriz para Penélope Cruz. Achei o filme maravilhoso, pois consegue tratar de um tema meio batido em novelas latinas de um jeito como só o diretor consegue e ainda por cima fazendo um amaranhado de conexões com os fantasmas da Guerra Civil Espanhola. Penélope está mais linda do que nunca, essa mulher é que nem vinho, não é possível. Há um corte abrupto na resolução das coisas para o final que me incomodou um pouco, mas nada que a cena final não tenha arrumado, pois é de arrepiar a força dela. O filme teve um aspecto emocional sobre mim, pois um primo é o desaparecido político até hoje da ditadura militar brasileira e vi seus pais morrerem sem um desfecho, os irmãos o procuram até hoje. Almodóvar vem se revolucionando e se tornando cada vez mais necessário no cinema.

segunda-feira, 27 de junho de 2022

O QUE ARDE

Título Original: O Que Arde
Diretor: Oliver Laxe
Ano: 2019
País de Origem: Espanha
Duração: 82min
Nota:  7

Sinopse: Amador foi condenado à prisão por ter provocado um incêndio. Após cumprir a pena, ele sai da cadeia, mas não há ninguém à sua espera. Amador volta à sua cidade natal, uma pequena vila nas montanhas da Galícia, para morar com a mãe e três vacas. O cotidiano se arrasta, acompanhando o ritmo da natureza. Até que, em uma noite, um incêndio começa a devastar a região.
 
Comentário: Vencedor do prêmio do juri na categoria Um Certo Olhar no Festival de Cannes. Filmado na região da Galícia da Espanha e inteiro falado em galego, o filme é lindíssimo de se ver, gostei de como ele passa pela tela de maneira bucólica e hipnótica sem se tornar massante. A senhora que faz o papel da mãe é de uma ternura de se ver na tela. Mas apesar de tudo falta algo, não sei bem dizer o que, mas o desenvolvimento do personagem ou até completar o destino na cachorra, mas o filme termina com um sentimento de que ficou devendo algo mais. Para mim valeu muito a assistida, mas entendo que não deva funcionar para uma grande maioria. Ainda assim, achei bem acima da média e trouxe reflexões ótimas.

sábado, 25 de junho de 2022

CRIMES DO FUTURO

Título Original: Crimes Of The Future
Diretor: David Cronenberg
Ano: 2022
País de Origem: Canadá
Duração: 107min
Nota: 10

Sinopse: A história se passa em um futuro próximo em que os humanos evoluíram para se adaptar aos elementos sintéticos que os cercam. Essa adaptação leva um artista a ganhar órgãos a mais e a ficar famoso com performances de remoção dessas partes extras. Ao atrair olhares do governo e do público, ele começa a planejar sua apresentação mais ambiciosa.

Comentário: Indicado ao Palma de Ouro no Festival de Cannes. Fazia oito anos que o diretor não nos presenteava com nenhum longa metragem e volta em grande estilo, Cronenberg se reinventa inspirado por ele mesmo e nos bombardeia com esta obra que não deixa de ser extremamente inovadora, mas revisita grande obras do diretor como Videodrome, Mistérios e Paixões, eXistenZ e até o mais recente Cosmopolis. A crítica à sociedade atual é gigantesca, desde a nossa apatia frente a lives do Instagram, quanto ao enorme esforço de grandes corporações para impedir que a humanidade evolua. "Viva a nova Carne!" nunca fez tanto sentido. A cena do dançarino cheio de orelhas que não servem para escutar é outra crítica que pode ser interpretada de várias maneiras diferentes. O filme é um enorme manifesto, simplesmente incrível e uma porrada no nosso estômago. Cada detalhe é planejado, não há nada que não tenha um sentido, uma ideia, uma crítica e uma anticrítica junto. Já coloco este trabalho como um dos melhores em uma carreira cheia de obras perfeitas do diretor. Cronenberg prova aqui que nunca foi tão necessário dentro de uma indústria de filmes que se torna cada vez mais apática.

sexta-feira, 24 de junho de 2022

EMA

Título Original: Ema
Diretor: Pablo Larraín
Ano: 2019
País de Origem: Chile
Duração: 107min
Nota:  9

Sinopse: Ema é uma dançarina magnética e impulsiva em um grupo de reggaeton. Seu casamento tóxico com o coreógrafo Gastón acaba depois que ambos decidiram desistir do filho adotivo Polo. A missão de Ema é recuperar Polo, sem se importar com quem terá que enfrentar, seduzir ou destruir.

Comentário: Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza, chega a ser até patético terem dado o prêmio para o Coringa, mas esse festival tem dessas. Confesso que apesar de ter outros três filmes do Larraín aqui na fila para assistir, este foi o meu primeiro do diretor, e simplesmente amei. Mariana Di Girólamo consegue ofuscar qualquer outro ator que está no filme, e não é tarefa fácil frente a Gael García Bernal e Santiago Cabrera (este último mais conhecido para os fãs de Star Trek como eu como o Capitão Rios). O filme tem um ritmo excelente, parte técnica excepcional e até as músicas (que eu não gosto) caíram de forma perfeita. O discurso sobre reggaeton que o personagem de Bernal faz em um momento do filme é exatamente minha opinião e eu ri muito dessa minha conexão com o personagem. O desfecho é fantástico e bizarro, das coisas que faz a gente ficar pensando.

quinta-feira, 23 de junho de 2022

MARINHEIRO DAS MONTANHAS

Título Original: Marinheiro das Montanhas
Diretor: Karim Aïnouz
Ano: 2021
País de Origem: Brasil
Duração: 98min
Nota:  10

Sinopse: Ainouz se baseou na história de seus pais, Iracema, uma brasileira, e Majid, um argelino, que se conheceram nos Estados Unidos. Eles se separaram em 1965, quando ele retornou à Argélia e ela, ao Brasil, grávida. Karim só conheceu o pai aos 18 anos. O filme é um inventário afetivo dessa relação.

Comentário: Karim Aïnouz foi galgando posições até se tornar meu diretor nacional favorito e neste filme ele só se firmou ainda mais nesta posição. É um filme extremamente pessoal, uma espécie de documentário com doses de Malick. Me atingiu em cheio os diálogos com a mãe falecida, a construção de memórias e sonhos, as imagens lindíssimas e hipnóticas e também os paralelos que se formam entre o Brasil e a Argélia, fizeram deste filme uma tremenda experiência sensorial e intima. Não é um filme fácil, não há um fio narrativo ou um ápice, nem sequer há uma história, portanto entendo os inúmeros espectadores que não se sentiram conectados com a película, acho que vai da experiência de vida de cada um, mas para mim funcionou perfeitamente, me atingiu em cheio e me vi com os olhos úmidos durante praticamente toda a sessão.

quinta-feira, 16 de junho de 2022

O JOVEM AHMED

Título Original: Le Jeune Ahmed
Diretor: Jean-Pierre Dardenne & Luc Dardenne
Ano: 2019
País de Origem: Bélgica
Duração: 84min
Nota:  9

Sinopse: Ahmed (Idir Ben Addi) é um menino muçulmano de 13 anos de idade que vive na Bélgica. Quando ele interpreta de maneira radical o Alcorão, o livro sagrado do islamismo, ele começa a montar um plano para assassinar seu professor.

Comentário: Ganhador do prêmio de melhor direção no Festival de Cannes, acho que ele é bem mal interpretado por quem o assiste. Vejo pessoas falando que é sobre como surge um extremista e outros dizem que o filme pegou leve com o islamismo. O filme não é sobre nada disso, é sobre a raiva que surge da perda da própria identidade e do preconceito que essas pessoas, na maioria das vezes obrigadas a sair de seus países por políticas predatórias de países de primeiro mundo, tem que enfrentar. Moro na Europa e vejo isso todos os dias, jovens negros, por exemplo, de família nigeriana que nasceram na Inglaterra, cresceram na Inglaterra, tem como a língua única e exclusivamente o inglês, mas são vistos como nigerianos. O filme é sobre essas pessoas e a busca constante por suas identidades, um garoto que nasceu na Bélgica, de família árabe e que é visto como um árabe. Ele busca então se identificar com sua cultura, porém sofre esse desrespeito em vários momentos do filme. Ao ser obrigado a cumprimentar tocando a professora, por exemplo, poucos veem o enorme desrespeito cultural (tendem a ver somente o machismo dessa cultura) e tudo entra em uma espiral de sentimentos da nossa cultura ocidental julgando outra. O filme é excelente neste aspecto, uma pena que poucos conseguiram ver por essa ótica.

sexta-feira, 3 de junho de 2022

O SOUVENIR

Título Original: The Souvenir
Diretor: Joanna Hogg
Ano: 2019
País de Origem: Inglaterra
Duração: 119min
Nota:  5

Sinopse: Situado nos anos 80, o longa conta a história de uma jovem estudante de cinema, que se envolve em seu primeiro caso de amor sério e tenta separar os fatos da ficção no relacionamento com um homem complicado e pouco confiável.

Comentário: Filme premiado no Festival de Sundance, mas que não caiu muito no meu gosto não. Por um lado o filme é perfeito, se contarmos só a parte técnica. Direção, trilha sonora, cada tomada é uma obra de arte, ótimas atuações... enfim, perfeição! Daí a gente pode até entender o prêmio, mas quando o assunto é o roteiro e o decorrer do filme, daí eu não consegui salvar muita coisa. Até agora eu não consegui entender se no começo do filme os personagens já são namorados ou isso acontece durante a película, porque não há nenhum tipo de conexão emocional entre eles por praticamente todo o filme. Tudo bem que o inglês é um povo esquisito, mas assim já é demais. A cena em que ela descobre que o namorado usa heroína é patética, tipo, quantos anos ela tem no filme? Sete? Uma estudante de arte que discute filmes franceses nunca ouviu falar de furos no braço pelo uso de heroína? Na faculdade de arte em plenos anos oitenta? O livro Junkie do Burroughs já era super conhecido há mais de vinte anos nessa época. Achei superestimado, achei inclusive que a diretora tenta pagar de cult de uma maneira meio enfadonha superintelectualizada que estraga a experiência. Confesso que foi difícil ficar acordado.

quinta-feira, 19 de maio de 2022

A MULHER QUE FUGIU

Título Original: Domangchin Yeoja
Diretor: Hong Sang-soo
Ano: 2020
País de Origem: Coréia do Sul
Duração: 77min
Nota:  8

Sinopse: Enquanto o marido está em viagem de negócios, Gam-hee conhece três mulheres nos arredores de Seul. Ela primeiro visita duas amigas íntimas em suas casas; a terceira, uma conhecida mais velha, ela encontra por acaso em um cinema independente.

Comentário: Vencedor, bem merecido, do prêmio de melhor diretor do Festival de Berlim. É um belo filme, que apesar de transmitir diferentes tipos de sentimentos e de que quando acaba você não tem certeza do que achou sobre ele, merece demais a assistida. Houve todo um "barraco" sobre a traição da atriz com o diretor deste filme que influenciou na realização do mesmo, mas não vou entrar nesse âmbito de fofoca, quem tiver curiosidade usa o Google aí. É um filme de diálogos, onde cada frase é uma navalha de sentimentos cortando alguma parte do nosso subconsciente. E é profundo. Será que o marido de Gam-hee está em viagem de negócios mesmo ou ela simplesmente fugiu dele? Há perguntas sem respostas por toda a película. É a vida... pura e simplesmente. Tudo é sutil e tudo é poesia. Uma cena bem forçada, que achei bem forçada é a carne queimando na frigideira depois de um tempão de conversa, já era para tudo estar esfumaçado muito tempo antes. Hong Sang-soo é meu diretor sul coreano preferido, este filme só fortaleceu sua posição. Só não dei uma nota maior porque sou chato.

quinta-feira, 12 de maio de 2022

O TRAIDOR

Título Original: Il Traditore
Diretor: Marco Bellocchio
Ano: 2019
País de Origem: Itália
Duração: 151min
Nota: 9

Sinopse: No início dos anos 80, uma guerra generalizada eclode entre os chefes da Máfia Siciliana pelo controle do tráfico de heroína. Tommaso Buscetta, um integrante de alto escalão, foge para se esconder no Brasil. Na Itália, os acertos de contas acontecem enquanto Buscetta assiste de longe seus filhos e irmãos sendo assassinados em Palermo, sabendo que poderá ser o próximo. Preso pela polícia brasileira e extraditado para a Itália, Buscetta toma uma decisão que irá mudar os rumos da máfia italiana: ele decide se encontrar com o Juiz Giovanni Falcone e trair o voto eterno que fez à Cosa Nostra.

Comentário: Lembro de crescer (em meio a uma família italiana) ouvindo falar sobre Tommaso Buscetta em almoços de família, mas nunca soube exatamente a importância dele nos rumos da Itália. Hoje, para quem não sabe, a Cosa Nostra é praticamente extinta no país, salvo na região de Nápoles onde ainda desfruta de alguma influência, mas o mais importante é ver como a própria organização criminosa deu corda para se enforcar pela ganância ao abraçar o comércio de drogas. Qualquer pessoa que assistiu o Poderoso Chefão sabe que as drogas foi uma divisão de águas dentro dela, pois muitos mafiosos não aceitaram o estrago que ela vinha fazendo dentro da sociedade. O filme é longo, mas não achei nem um pouco cansativo, Favino leva nas costas com sua excelente atuação. Uma das melhores cenas para mim, que talvez muita gente vai ficar perdida por não falar italiano é a cena em que Salvatore Contorno começa a falar em dialeto siciliano durante o julgamento, não me aguentei de rir. As cenas no Brasil ficaram com um áudio ruim, provavelmente devido a mudança de equipamento. Maria Fernanda sempre linda. Um filme que vale a assistida.

domingo, 1 de maio de 2022

POSTAIS MORTÍFEROS

Título Original: The Postcard Killings
Diretor: Danis Tanovic
Ano: 2020
País de Origem: Inglaterra
Duração: 104min
Nota:  6

Sinopse: Um nova-iorquino tem sua vida conturbada quando descobre que sua filha recém-casada foi brutalmente assassinada. Ao esmiuçar o caso, crimes semelhantes são relatados por toda a Europa com cada morte acompanhada por um cartão postal enviado a um jornalista local. Quando ele segue a trilha das pistas, uma jovem repórter recebe o próximo cartão postal.
 
Comentário: É um filme do Tanovic, então obviamente se espera muito mais do que ele entrega tentando ser uma espécie de Seven europeu. O filme até certo ponto funciona bem. O Jeffrey Dean Morgan se esforça bem e para mim convenceu bem no papel. A produção inglesa passa por vários países da Europa e consegue surpreender em um interessante plot twist pela metade do filme, mas é isso. Se perde em vários pontos depois, cenas forçadas do cinema americano permeiam a película (um homem pode ser arremessado do carro e continuar segurando sua arma? É, acho que não). É triste ver Famke Janssen irreconhecível por cirurgias plásticas e devemos pensar no que as mulheres se submetem para tentar continuar dentro de padrões que são exigidos delas pela indústria. O final não funciona e talvez aí seja onde o filme pisa em ovos. Como um todo, não é um filme ruim, peca nos detalhes. O que eu mais gostei foram das cenas do personagem principal com o policial alemão, muito bem interpretado por Joachim Król.

quarta-feira, 6 de abril de 2022

O OFICIAL E O ESPIÃO

Título Original: J'Accuse
Diretor: Roman Polanski
Ano: 2019
País de Origem: França
Duração: 131min
Nota:  9

Sinopse: Paris, final do século XIX. O capitão francês Alfred Dreyfus (Louis Garrel) é um dos poucos judeus que faz parte do exército. No dia 22 de dezembro de 1884, seus inimigos alcançam seu objetivo: conseguem fazer com que Dreyfus seja acusado de alta traição. Pelo crime, julgado à portas fechadas, o capitão é sentenciado à prisão perpétua no exílio. Intrigado com a evolução do caso, o investigador Picquart (Jean Dujardin) decide seguir as pistas para desvendar o mistério por trás da condenação de Dreyfus.

Comentário: Fui assistir sem saber nada sobre o filme, queria ver porque era um Polanski, mas me surpreendi que fosse sobre o caso Dreyfuss, já que eu estava pesquisando a vida de Paty de Clam para um conto que estou escrevendo. No filme ele quase não aparece, pois foi personagem central de eventos que ocorrem antes dos eventos aqui narrados. O filme é muito bem orquestrado, de uma qualidade típica do diretor. Achei todo o desenrolar muito bom, galera que reclama que o ritmo é lento tem algum problema de deficit de atenção (essa geração digital é um porre!). Talvez peque por ser um filme muito didático, com um padrão até meio hollywoodiano de filmes desse gênero. Mas achei que se destaca mesmo em comparação. O final é cru, como uma navalha. Não é o melhor Polanski, mas está bem acima do mediano.