quinta-feira, 31 de agosto de 2023

UMA LIÇÃO DE ESPERANÇA

Título Original: Persischstunden
Diretor: Vadim Perelman
Ano: 2020
País de Origem: Belarus
Duração: 127min
Nota: 7

Sinopse: Em uma área remota no Afeganistão, histórias da vida de uma jovem pastora que encontra algo que não devia, um garoto que vive em um tanque e uma professora de luto estão entrelaçadas pelas feridas da guerra que ainda estão sangrando.
 
Comentário: O filme funciona, mas apenas como uma peça de ficção. Não que algo parecido não possa ter acontecido, o cérebro consegue trabalhar como mostrado no filme, inclusive muitos contadores de cartas que tentam burlar cassinos trabalham de forma parecida, mas esta história jamais poderia ter acontecido com o idioma farsi e explico porque. Em 1936 Hitler declarou os persas imunes as Leis de Nuremberg por serem considerados arianos puros, pesquiso a relação de Hitler com os persas já há alguns anos e moro na cidade em que Abdol Hossein Sardari viveu seus últimos anos e veio a falecer. Sardari era consul iraniano em Paris em 1942, que além de brigar pela liberação de muitos judeus persas concedeu o passaporte persa de forma ilegal para outros judeus salvando um incalculável número de pessoas, foi homenageado por várias associações judaicas. Achei que o filme era sobre um homem tentando provar que era persa para ser liberado, mas para a minha surpresa não era bem isso. O elenco está muito bem e apesar do filme se estender demais é muito interessante como constrói toda a sua narrativa. A direção é estupenda e a construção do idioma é fabulosa. Engraçado como há algumas palavras reais, como "anta" que ele diz que é "mãe", e que no árabe significa "você" usado na forma masculina. O final emociona. O idiota que traduziu este título para o português deve ser o mesmo do Vida de Campeã, né? Só pode! "Lições Persas", como o original, era um título muito melhor.

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

OS CÃES NÃO DORMIRAM ONTEM À NOITE

Título Original: Sag-ha Dishab Na-khabidand
Diretor: Ramin Rasouli
Ano: 2020
País de Origem: Afeganistão
Duração: 91min
Nota: 8

Sinopse: Em uma área remota no Afeganistão, histórias da vida de uma jovem pastora que encontra algo que não devia, um garoto que vive em um tanque e uma professora de luto estão entrelaçadas pelas feridas da guerra que ainda estão sangrando.
 
Comentário: Um dos indicados em nova direção no nosso Festival de São Paulo, apesar do diretor já ter realizado o filme Lina em 2017. Achei o filme muito bom, claramente filmado com recursos bem limitados no Afeganistão e que consegue, brincando com a não linearidade do roteiro, contar uma história coesa com uma narrativa bem agradável de ir acompanhando. Quando termina você quer mais, quer acompanhar coisas que ficam no ar, chega a se preocupar com personagens. Daí me acendeu um alerta: comecei a me preocupar com os atores que o realizaram depois da retomada do país pelas forças do Talibã. A película, em linhas gerais, pode parecer que não tem nada demais, mas o brilhantismo está nas entrelinhas, é preciso estar atento. A cena maravilhosa em que a lindíssima Atefeh Amini, que interpreta a professora, está lendo um livro do Gabriel García Marquez fiquei curioso em descobrir qual era, mas as letras em alfabeto árabe estão muito pequenas e não consegui ler.

terça-feira, 22 de agosto de 2023

O NEON ATRAVÉS DO OCEANO

Título Original: The Neon Across the Ocean
Diretor: Matthew Victor Pastor
Ano: 2020
País de Origem: Austrália
Duração: 91min
Nota: 7

Sinopse: Situada em um futuro não muito distante, após a crise mundial de 2020, Mandy é uma filipina australiana de 17 anos. Em seu último ano do ensino médio e lidando com o divórcio iminente de seus pais, ela navega em um mundo impulsionado por um novo normal de isolamento e medo. Além disso, ela tem uma queda por sua tutora Serena. Enquanto isso, uma jovem das ruas secundárias de Manila conta sua história.
 
Comentário: Gostei do filme em linhas gerais, acho que há muitas coisas que poderiam ter um desenvolvimento melhor, principalmente a figura do pai, mas também a do irmão e do tio que achei personagens bem interessantes. É gostoso de acompanhar como o diretor resolve contar sua história em um ritmo meio quebrado, delicado e com várias situações que servem de anticlímax. Definitivamente não é um filme para todo mundo, tem um ritmo bem diferente. Fiquei muito interessado em acompanhar outros trabalhos do diretor. Waiyee Rivera, a atriz principal, leva o filme muito bem em um protagonismo que pareceu-me exigir bastante dela. O reflexo do mundo pós-pandêmico é bem evidenciado aqui, mas no mundo real parece que já nem existiu.

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

AS CORES

Título Original: Rangha
Diretor: Abbas Kiarostami
Ano: 1976
País de Origem: Irã
Duração: 16min
Nota: 8

Sinopse: Um vibrante ensaio que explora a gama de tons que colorem nosso mundo, introduzindo criativamente os valores das cores para crianças pequenas, enquanto o narrador descreve onde cada uma aparece na natureza ou em objetos manufaturados - apresentando imagens da cultura de consumo no Irã antes da Revolução Iraniana de 1979.
 
Comentário: Mais um curta metragem feito sob encomenda para o Instituto para Desenvolvimento Intelectual de Crianças e Jovens Adultos. É interessante que este dura um pouco mais que os outros, há cenas muito interessantes que servem pelo valor histórico de um Irã que foi apagado depois da Revolução Islâmica. Kiarostami demonstra seu controle maravilhoso sobre as imagens e a narrativa que pretende apresentar por mais simples que seja. Funciona muito bem para o que se propõe, gostoso de assistir.

domingo, 20 de agosto de 2023

CASA DE ANTIGUIDADES

Título Original: Casa de Antiguidades
Diretor: João Paulo Miranda Maria
Ano: 2020
País de Origem: Brasil
Duração: 93min
Nota: 4

Sinopse: Cristovam sai do interior do Brasil em busca de melhores condições de trabalho no sul. Mas o contraste cultural e étnico da nova morada em relação à sua terra natal provoca no vaqueiro um processo de solidão e perda de identidade. O ambiente tradicionalista, conservador e violento o distancia da própria realidade. Sem saída, em um processo espiritual, ele renasce para enfrentar o presente.
 
Comentário: Mais um dos filmes selecionados para o Festival de Cannes que não ocorreu devido a pandemia. Achei o filme todo errado, há os pontos interessantes, parece que vai para um lado, daí para outro e no fim fica completamente perdido. Antonio Pitanga está excelente, há cenas maravilhosas e Ana Flávia Cavalcanti está deslumbrante e é isso. A personagem Jennifer parece que vai dar o gás que o filme precisava, mas acaba não servindo para absolutamente nada, parece ter sido colocada ali por puro enfeite. O filme cai naquilo que odiei do filme Coringa, por exemplo, será que qualquer coisa se justifica pela degradação social? Fazer mal a uma criança, sem entrar em detalhes de que era um filha da puta, mas era uma criança... se justifica? Daí o filme também tenta justificar o racismo dos sulistas? (já que a figura que eles descarregam seu ódio se prega a fazer tudo aquilo que eles temem). Tem horas que o filme realmente parece que vai engrenar, mas não engrena. Achei bem decepcionante. Há cenas descartáveis, outras muito subaproveitadas na narrativa e ainda outras deslumbrantes. Um filme com um enorme potencial desperdiçado na minha opinião.

sábado, 19 de agosto de 2023

O HOMEM IDEAL

Título Original: Ich Bin Dein Mensch
Diretor: Maria Schrader
Ano: 2021
País de Origem: Alemanha
Duração: 104min
Nota: 9

Sinopse: Para obter fundos de pesquisa para seus estudos, uma cientista aceita a oferta de participar de um experimento extraordinário: durante três semanas, ela viverá com um robô humanóide, criado para fazê-la feliz.
 
Comentário: Indicado ao Urso de Ouro e vencedor do Prêmio de Melhor Atuação para Maren Eggert no Festival de Berlim. Adorei o filme, estava com a expectativa lá embaixo, mas me surpreendeu bastante positivamente. As questões que levantam são ótimas e mesmo o desfecho tendo uma excelente escolha de lado, é possível defender um outro. O filme me remeteu bastante ao episódio 9 da segunda temporada de Star Trek: A Nova Geração intitulado The Measure Of A Man onde há uma discussão se o androide Data é um ser vivo. Os seres humanos também não são controlados por algoritmos que nosso cérebro vai processando através de nossas experiências? Porque que com uma IA seria diferente? Dá muito pano para a manga. A dupla principal está excelente e a direção não deixa a peteca cair, pois é leve e gostoso de assistir como uma comédia romântica que não precisa cair em clichês e ser vazia. Achei um filme extremamente importante e atual devido as discussões recentes sobre inteligência artificial.

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

VIDA DE CAMPEÃ

Título Original: Nadia, Butterfly
Diretor: Pascal Plante
Ano: 2020
País de Origem: Canadá
Duração: 107min
Nota: 9

Sinopse: Ainda jovem e em seu auge, Nadia decide se aposentar da natação profissional após os Jogos Olímpicos. Ela quer escapar de uma vida rígida e de sacrifícios. Depois de sua última prova, Nadia mergulha em noites de excesso pontuadas por episódios de insegurança. Mas mesmo esse entorpecimento transicional não pode esconder sua verdadeira busca interior: definir sua identidade fora do mundo dos esportes de elite.
 
Comentário: Era um dos filmes selecionados em Cannes no ano que o Festival não aconteceu devido a pandemia. Achei o filme maravilhoso, a personagem é mais profunda do que as piscinas em que costuma nadar, onde as reflexões vão muito além do esporte. Katerine Savard convence muito como Nadia, apesar de não ser atriz e ter vários paralelos com a personagem, não se enganem, pois ela não está interpretando ela mesma (Savard também ganhou uma medalha de bronze no revezamento assim como no filme, mas nas Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016, mas ao contrário da personagem, ela não está aposentada, participou das Olimpíadas em Tóquio ficando em 4º lugar em uma das três provas que participou e nesta semana que escrevo este texto ela iniciou a preparação olímpica para Paris em 2024). O mais legal do filme é que as Olimpíadas de Tóquio ficou quase uma versão de realidade paralela, já que o filme foi feito sem saber que iria ocorrer uma pandemia, o que deu um toque maravilhoso para o filme. Achei a direção muito competente, o filme flui, e vou falar de novo que Savard brilha. Me emocionei bastante. Fico pensando quem foi o idiota que tinha o título "Nadia, Borboleta" na mesa que dá um enorme significado para o filme, já que os dilemas da personagem a coloca em uma espécie de casulo de maturação para tentar se desenvolver em algo mais além do esporte, daí o imbecil pensa que "Vida de Campeã" é um título melhor.

terça-feira, 15 de agosto de 2023

AS PUPILAS

Título Original: Le Pupille
Diretor: Alice Rohrwacher
Ano: 2022
País de Origem: Itália
Duração: 38min
Nota: 8

Sinopse: Acompanhamos um grupo de garotas rebeldes de um internato católico antes do Natal, em um momento de escassez e de guerra.
 
Comentário: Indicado ao Oscar de Melhor Curta Metragem. A diretora nunca decepciona, neste curta metragem feito para a Disney ela volta para o universo infantil para contar uma história de como o entorno influencia o pensamento das crianças, talvez aí more o jogo de palavras que é o título já que enxergamos o mundo com nossos olhos (assim como em português "as pupilas" podem se referir aos olhos como as protegidas de alguém), e nos créditos finais a diretora opta por focar as pupilas dos olhos em movimento exatamente para mostrar que o jogo de palavras existe. Poderia ser um longa, sem deixar cansativo, mas Alice Rohrwacher consegue nos contar sua história em um pouco mais de meia hora. As garotinhas são o que rouba a cena e a parte técnica um deleite à parte.

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

DEPOIS DO AMOR

Título Original: After Love
Diretor: Aleem Khan
Ano: 2020
País de Origem: Inglaterra
Duração: 90min
Nota: 8

Sinopse: Situada na cidade portuária de Dover, Mary Hussain se vê viúva após a morte inesperada de seu marido. Um dia após o funeral, ela descobre que ele tem um segredo a apenas vinte e uma milhas através do Canal em Calais.
 
Comentário: Um dos únicos filme com um prêmio no Festival de Cannes de 2020 que foi cancelado por conta da pandemia, recebeu o prêmio da Gan Foundation para distribuição do filme. A película é muito boa, e mesmo tendo algumas situações que extrapolam demais a realidade, é tudo feito em um ritmo muito bom, com um desenvolvimento da história de uma maneira que prende a gente. O que mais chama a atenção no filme não é parte técnica ou a história em si, mas a entrega da atriz Joanna Scanlan, impressiona, faz com que a história que está sendo contada ganhe uma vida, uma realidade e uma força muito grande. Um filme de detalhes, que mexe em sentimentos internos, que pode até passar batido para muita gente, mas tem alma.

sexta-feira, 11 de agosto de 2023

R.M.N.

Título Original: R.M.N.
Diretor: Cristian Mungiu
Ano: 2022
País de Origem: Romênia
Duração: 127min
Nota: 10

Sinopse: Uma análise sem julgamento das forças motrizes do comportamento humano face ao desconhecido, da forma como percebemos o outro e de como nos relacionamos com um futuro incerto.
 
Comentário: Indicado ao Palma de Ouro no Festival de Cannes e Vencedor do Prêmio entregue pelo European Film Promotion para a atriz Judith State no Festival de Berlim. Que filmaço! Para quem, como eu, vive uma situação de vida de emigrante na Europa não tem como não se identificar com algo. Racismo, xenofobia, preconceito, ignorância... enfim, um retrato perfeito da Europa inteira de uma maneira macro se utilizando de uma vila na Romênia de uma maneira micro. A hipocrisia reina e o futuro é de fácil vislumbre como a visão da criança andando na floresta. Um dos meus melhores amigos no trabalho é cingalês e foi revoltante algumas cenas como só um diretor competente poderia fazer. A atriz premiada em Berlim entrega muito no papel. O desfecho é tão estranho que deixa a gente pensando semanas depois... fiquei fazendo um paralelo entre os Sem Ursos do Panahi já que esse é com ursos, hahahahahaha, mas é interessante pensar nos governos falidos que nos controlam e nas visões que ambos os filmes nos dão sobre isso.

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

PARIS, 13º DISTRITO

Título Original: Les Olympiades, Paris 13e
Diretor: Jacques Audiard
Ano: 2021
País de Origem: França
Duração: 105min
Nota: 9

Sinopse: Émilie conhece Camille que se sente atraída por Nora, que se cruza com Amber. Três mulheres e um homem: eles são amigos, por vezes amantes e muitas vezes ambos.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Audiard nunca decepciona e aqui não é diferente, talvez o seu filme mais simples e cotidiano em muitos aspectos, mas que funciona absurdamente bem. Não há como não se identificar com alguma coisa e a construção dos personagens é fantástica. Há todo um aspecto psicológico por trás de cada um deles que permanece oculto como em um iceberg durante todo o filme. Eu sou apaixonado pela Noémie Merlant, então sou suspeito para falar qualquer coisa dela, mas a Lucie Zhang consegue roubar todas as cenas em que aparece e é uma graça. Tive raiva do personagem masculino em alguns momentos, mas homem é assim, né? A nota subiu um pouquinho com o final fofo que entrega, eu adorei! Fiquei curioso em ler a história em quadrinhos em que é baseado, já está no meu carrinho de compras.

terça-feira, 1 de agosto de 2023

CAMINHANDO CONTRA O VENTO

Título Original: Ye Ma Fen Zong
Diretor: Shujun Wei
Ano: 2020
País de Origem: China
Duração: 129min
Nota: 4

Sinopse: Um estudante sem rumo de uma escola de cinema parte para uma viagem pela China até o interior da Mongólia em um velho jipe enquanto participa das gravações de um filme.
 
Comentário: Mais um dos filmes selecionados para o Festival de Cannes que nunca aconteceu devido a Pandemia. Para mim, definitivamente, não funcionou. O personagem é chato, o fato de ser irresponsável e infantil nem conta tanto... o cara é um baita de um chato mesmo. O filme por ser meio autobiográfico do diretor já faz eu torcer o nariz para ele. Há cenas que funcionam, a parte técnica tem uma altíssima qualidade e o filme é assistível somente por isso. A relação entre ele e a namorada e ir percebendo o quanto ele é babaca prende o telespectador assim como os momentos "roadie movie", mas para por aí. O restante do filme simplesmente não vai para lugar nenhum... é um tremendo limbo. No fim, de um modo geral, não vale a pena a assistida. Preciso comentar que o cara tem o pior penteado que eu já vi na vida.