sexta-feira, 30 de agosto de 2019

O VERÃO DOS PEIXES-VOADORES

Título Original: El Verano de los Peces Voladores
Diretora: Marcela Said
Ano: 2013
País de Origem: Chile
Duração: 95min
Nota:  8

Sinopse: Manena é uma adolescente determinada, filha de Pancho, um rico fazendeiro chileno que dedica suas férias a uma obsessão: exterminar as carpas que invadem seu lago. No decorrer do verão, enquanto ele recorre a métodos cada vez mais extremos, Manena sofre com sua primeira decepção amorosa e descobre um mundo que coexiste silenciosamente com o seu – o dos trabalhadores indígenas Mapuche que reivindicam acesso às terras e enfrentam seu pai.

Comentário: Eu gostei muito do filme e me senti hipnotizado com a maneira com que a diretora colocou todas as discussões de maneira sutil, quase nas entrelinhas do que está acontecendo. A classe média rica do Chile é um retrato da do Brasil, e porque não do mundo? Os diálogos toscos do seu pai, o impacto disso na personagem conforme ela vai entendendo o cenário sociopolítico em que ela está inserida é de encher os olhos. As imagens da natureza são sublimes, o conflito interno de Manena também, ela tem que lidar com seus sentimentos românticos ao mesmo tempo que entende sobre o mundo em que vive. O ritmo do filme não é para qualquer um, pode parecer entrecortado demais, vazio demais, estranho demais... mas é meu tipo de filme. PS: Atenção para o diálogo de Pancho com o policial onde brota todo egocentrismo da elite escrota e também uma menção a atuação da Francisca Walker que é uma gracinha.

sábado, 24 de agosto de 2019

FELIZ COMO LÁZARO

Título Original: Lazzaro Felice
Diretora: Alice Rohrwacher
Ano: 2018
País de Origem: Itália
Duração: 127min
Nota:  7

Sinopse: Lázaro era um jovem satisfeito com a vida simples do campo, mas a amizade inesperada com o filho de uma marquesa acaba mudando totalmente o rumo de sua história.

Comentário: O filme ganhou o prêmio de melhor roteiro em Cannes, mas ainda prefiro ao filme anterior da diretora (As Maravilhas). O filme tem vários pontos que funcionam muito bem, a referência bíblica de Lázaro misturado a uma fábula italiana como só Italo Calvino sabia escrever casam muito bem, a crítica ferrenha ao capitalismo e a várias características da cultura italiana também só acrescentam qualidade ao filme. O ponto negativo ao filme, na minha opinião, é exatamente ao personagem principal, por ele ser um tremendo idiota, fica difícil uma conexão com ele, que representa a ignorância do explorado, mais conhecido no Brasil como o "pobre de direita": Lázaro é aquele cara que é explorado, fazem de idiota, mas está sempre defendendo o patrão. Achei também que o filme tem uma duração grande para a história que se propõe a contar, mas nada que tire o impacto da direção tão competente e extraordinária da Alice Rohrwacher.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

GAROTA

Título Original: Girl
Diretor: Lukas Dhont
Ano: 2018
País de Origem: Bélgica
Duração: 106min
Nota:  9

Sinopse: Aos 15 anos, a bailarina Lara enfrenta barreiras físicas e emocionais enquanto se prepara para a cirurgia de confirmação de gênero. Inspirado em uma história real.

Comentário: Vencedor do prêmio Câmera de Ouro e de melhor ator no prêmio Um Certo Olhar em Cannes e indicado para melhor filme estrangeiro no Globo de Ouro, este filme dividiu opiniões dentro da comunidade LGBT. Eu vou entrar de cabeça na defesa do filme. O filme é tenso, consegue ser tenso até nas cenas de dança, o trabalho empático de nos colocar na pele de uma garota trans de 15 anos é feito de maneira sublime. Uma parte da comunidade LGBT criticou o filme por ter sido dirigido e atuado por cisgêneros, fato que fez com que Nora Monsecour (a mulher em que o filme é baseado) vir em defesa do filme: “Quem está criticando Girl está impedindo que outras histórias trans sejam compartilhadas com o mundo. Todos os dias em que vejo pessoas trans lutando por seus sonhos. Eles não são fracos e frágeis e Girl conta uma história sem mentiras. Dizer que a experiência de Lara [a personagem do longa], não é valida por termos um ator cis ou por ter sido dirigida por Lukas [Dhont, o diretor], acaba me ofendendo”. Acho esse tipo de atitude muito parecida com os evangélicos, que vivem fechados em suas igrejas convivendo com evangélicos e fazendo coisas de evangélicos, tenho um livro publicado onde o assunto LGBT é muito forte, eu não devia ter escrito este livro por ser cis? O ator faz um trabalho magnífico e sua escolha faz todo o sentido, já que o ator Victor Polster é um bailarino. A gente fica pensando em tantas pessoas trans por aí, sofrendo horrores, se para Lara que tem um pai de ouro e vive um inferno, imagina para tantos outros que sofrem o pesadelo de viverem em um corpo que não se identificam e ainda são abandonados pela família. Levantar a bandeira LGBT não é uma luta só de quem é, levantar essa bandeira é um dever empático de ser humano. PS: Traduzi o título porque tenho horror a título em "ingrêis".

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

ERA UMA VEZ NA ANATÓLIA

Título Original: Bir Zamanlar Anadolu'da
Diretor: Nuri Bilge Ceylan
Ano: 2011
País de Origem: Turquia
Duração: 151min
Nota:  9

Sinopse: Nas planícies da Anatólia, na Turquia, um grupo composto de um policial, um médico legista e um advogado conduz dois prisioneiros em busca do local onde enterraram sua vítima. Já é tarde da noite e, em meio à escuridão, eles não conseguem mais encontrar o local exato onde foi colocado o cadáver. Entre as divagações e os deslocamentos, o advogado e o médico começam a se conhecer melhor, percebendo que eles têm pontos de vista muito diferentes sobre a vida.

Comentário: Vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes de 2011. Nuri Bilge Ceylan, para mim, é um dos maiores diretores da atualidade e o filme posterior a este, Sono de Inveno, é um dos melhores filmes dos últimos dez anos. Era uma Vez na Anatólia é uma bela surpresa, sua história simples e reflexiva demonstra todo o poder de uma excelente narrativa, sem necessidade de nada muito mirabolante. A fotografia é belíssima e os personagens são profundos, são praticamente duas horas onde a única coisa que acontece é a busca por um corpo na estrada entre vilarejos, mas onde várias outras sub-histórias começam a acontecer entre diálogos. Achei que o filme perde um pouco a força em sua meio hora final, quando ele sai do elemento construído até ali, mas nada que estrague sua narrativa. Não achei o filme cansativo e nem arrastado, muito pelo contrário, me senti preso a ele. Gostei muito do personagem do Comissário Naci, com seu jeito explosivo e se sentindo constrangido a todo momento. O embate entre a fé do promotor contra o ceticismo do médico rende a verdadeira grande história do filme. Um filme difícil de descrever, inovador e de uma sensibilidade ímpar.

sábado, 10 de agosto de 2019

UM HOMEM QUE GRITA

Título Original: Un Homme Qui Crie
Diretor: Mahamet-Saleh Haroun
Ano: 2010
País de Origem: Chade
Duração: 91min
Nota:  5

Sinopse: Adam (Youssouf Djaoro) tem 60 anos de idade, é ex-campeão de natação, e há 30 anos trabalha com guardião de piscina de um hotel de luxo situado no Chade, na África. Contudo, investidores compram o estabelecimento e ele se vê obrigado a ceder sua vaga para seu filho Abdel (Diouc Koma), situação que o incomoda bastante por ver nela um declínio social. Além de estar diante deste conflito pessoal, seu país passa por uma guerra civil, com rebeldes ameaçando o governo. Neste contexto, Adam precisa ajudar o governo com dinheiro ou enviando seu filho para que lute pelo país. Assim, o líder do bairro pede que Adam dê sua contribuição, mas ele não tem dinheiro, só tem o filho.

Comentário: O vencedor do Prêmio do Juri em Cannes não me fisgou tanto. O filme é interessante em muitos aspectos, como mostrar a recente situação do Chade, adorei muito o personagem David, o cozinheiro, e algumas cenas lindíssimas, mas como disse, faltou algo. Todos os personagens são muito interessantes, mas nenhum coadjuvante é realmente muito trabalhado, a namorada grávida, a mãe, ou até mesmo o cozinheiro que disse acima. O filme é cheio de silêncios reflexivos, acho que faltou o grito do título. O personagem principal, que é muito bem retratado, ao meu ver não passa de um velho mesquinho e infantil, pois seus motivos para enviar o filho para a guerra não me pareceu em nenhum momento falta de dinheiro como diz a sinopse. Acho que o filme se perde entre as entrelinhas silenciosas, entre a falta de um grito que fizesse com que a história tivesse um clímax que nunca chega. Um filme regular.

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

SOL A PINO

Título Original: Zvizdan
Diretor: Dalibor Matanic
Ano: 2015
País de Origem: Croácia
Duração: 118min
Nota:  10

Sinopse: Dois vilarejos e três décadas marcadas por uma longa história de ódio e hostilidade étnica. No contexto das guerras que redefiniram a ex-Iugoslávia, o longa revela as cicatrizes deixadas por este período através de três comoventes histórias de amor. Em 1991, uma atmosfera de loucura e medo torna a paixão algo proibido. Em 2001, tendo como pano de fundo os primeiros momentos pós-guerra, as feridas ainda estão abertas e muitos são incapazes de amar. Em 2011, o amor pode enfim criar raízes e se libertar das dores do passado.

Comentário: Outro vencedor do prêmio Um Certo Olhar em Cannes por aqui. Achei o filme simplesmente maravilhoso, em todos os aspectos. Eu dava o prêmio de melhor atriz fácil para a Tihana Lazovic, uma interpretação de encher os olhos. O legal do filme é que as três histórias te pega de maneira completamente diferente, o tipo de amor dos personagens são também completamente diferentes, mas o pano de fundo, retratando os problemas étnicos envolvendo os sérvios e croatas, é o fator comum entre as histórias. É muito fácil não se envolver no filme se ignorarmos o contexto histórico em que as histórias se passam e o fardo que essa guerra horrível tem nesse povo. A direção é maravilhosa. Entendo que pode não ser o tipo de filme que a maioria está acostumada, mas definitivamente é o tipo de filme que eu gosto. Fiquei pensando no futuro dos personagens apresentados, em como cada ato impactou em suas vidas a partir de cada desfecho. Não consigo também dizer qual história é a minha preferida, pois cada uma teve algo que me fisgou.

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

HAHAHA

Título Original: Hahaha
Diretor: Hong Sang-soo
Ano: 2010
País de Origem: Coréia do Sul
Duração: 115min
Nota:  8

Sinopse: JO Munkyung, diretor, pensa sair de Seul para viver no Canadá. Dias antes da sua partida, encontra o seu grande amigo Bang Jungshik, crítico de cinema. Neste encontro, os dois amigos descobrem por acaso que foram recentemente à mesma vila litorânea, Ton-yung. Decidem contar um ao outro a viagem que fizeram, na condição de só revelarem momentos agradáveis. Não percebendo que estiveram os dois no mesmo lugar ao mesmo tempo, ao lado das mesmas pessoas, as reminiscências do verão tórrido dos dois amigos envolvem-se como um catálogo de recordações.

Comentário: O filme é muito bem escrito e faturou o prêmio Um Certo Olhar em Cannes, apesar de alternar em histórias curtas entre os dois personagens, ele parece ser mais longo do que realmente é, mas não é um filme parado. A ideia da narrativa é o grande diferencial e é muito fácil se apaixonar por alguns personagens, não todos. Atuações ótimas onde a narrativa é sobre o cotidiano da vida real, onde comédia, drama, amores e tristezas se mesclam de uma maneira como poucos diretores conseguem colocar na tela, pode ser exagero, mas em alguns momentos até me lembrou o François Truffaut, mas não acho que seja exagero não. O desfecho de alguns personagens me desagradou, como de alguns outros me agradou, mas acho que a vida é assim, né? Cheia de erros, escolhas erradas, falta de desfechos e, em alguns casos (porque não?), finais felizes também. Recomendadíssimo!