sábado, 28 de setembro de 2024

O AUTO DA COMPADECIDA

Título Original: O Auto da Compadecida
Diretor: Guel Arraes
Ano: 1999
País de Origem: Brasil
Duração: 161min
Nota: 9

Sinopse: No Brasil, dois nordestinos pobres e espertos vivem de enganar pessoas para sobreviver. Quando conhecem uma moça rica, eles têm esperança de se darem bem, mas seus planos são interrompidos pela chegada de um bandido forasteiro.
 
Comentário:

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

LIÇÃO DE CASA

Título Original: Mashgh-e Shab
Diretor: Abbas Kiarostami
Ano: 1989
País de Origem: Irã
Duração: 71min
Nota: 7

Sinopse: Neste documentário, Kiarostami pergunta a vários alunos sobre seus deveres de casa da escola. As respostas de algumas crianças mostram o lado mais obscuro deste método de educação.
 
Comentário: Outro curta feito para o Instituto para Desenvolvimento Intelectual de Crianças e Jovens Adultos, mas o que difere esse dos outros é mostrar como a Guerra Irã-Iraque afetava o pensamento das crianças. Apesar do foco ser a lição de casa, que dá o título ao documentário, é interessante ver como as crianças falam do cenário em guerra naquele momento. Tirando isso, é um pouco mais do mesmo do que Kiarostami havia feito até ali. Como fui criado em uma família cheia de pedagogos achei a discussão muito pertinente, tanto quando são as crianças falando como os adultos. Triste também notar que a "cultura" da lição de casa pouco mudou, nossas crianças ainda são bombardeadas comresponsabilidades que não condiz com a realidade e muitas vezes chega até a obrigá-las a perder um pouco da infância. Vejo esse reflexo nos meus sobrinhos nos dias atuais.

terça-feira, 24 de setembro de 2024

O PORTO

Título Original: Le Havre
Diretor: Aki Kaurismäki
Ano: 2011
País de Origem: França
Duração: 94min
Nota: 8

Sinopse: Quando um menino africano chega de navio cargueiro à cidade portuária de Le Havre, um engraxate idoso fica com pena da criança e a recebe em sua casa.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro e vencedor do prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema e de outros dois no Festival de Cannes. Concordo com quem diz que o estilo do diretor combina mais com os cenários finlandeses, mas achei que no geral o filme não fica devendo em nada ao estilo característico do diretor. Gosto da insistência positivista de seus filmes, por mais que ele não deixe de lado as mazelas de seus personagens e  da critica político-social, há também o foco na bondade do ser humano, em um microcosmo de solidariedade e empatia. Não sou um grande conhecedor da obra de Kaurismäki, mas as "musas" de seus filmes parecem robôs, e acho isso interessante, dá muito o que pensar. O elenco todo está muito bem, a mensagem sobre imigração funciona, e isso na Europa de hoje é algo importantíssimo (infelizmente necessária). Não achei inferior a Folhas de Outono, mesmo alto nível.

sábado, 21 de setembro de 2024

NUNCA DEIXE DE LEMBRAR

Título Original: Werk Ohne Autor
Diretor: Florian Henckel von Donnersmarck
Ano: 2018
País de Origem: Alemanha
Duração: 189min
Nota: 9

Sinopse: Kurt Barnert (Tom Schilling) é um artista alemão que conseguiu escapar da Alemanha Oriental. Agora, ele vive seus dias na Alemanha Ocidental, mas ainda assim é atormentado pelos traumas da sua infância sob o regime dos nazistas e da República Democrata Alemã (RDA).
 
Comentário: Indicado ao Leão de Ouro e vencedor de outros dois prêmios fora da competição principal no Festival de Veneza, foi também indicado a dois Oscars. Primeiramente quero deixar registrado que essa sinopse dada ao filme não faz nenhum sentido, já que ele parte da Alemanha Oriental para a Ocidental já praticamente depois de duas horas de filme. O filme é uma biografia, bem fiel pode-se dizer em relação aos fatos pelo menos, do grande pintor Gerhard Richter, provavelmente todos os nomes foram trocados por não ter sido autorizado pelo mesmo. Para título de curiosidade, o médico se chamava Henry Eufinger e morreu sem ser responsabilizado por nada, Richter só veio a saber da relação de seu ex-sogro (pois se separou da esposa em 1982) com sua tia depois da publicação de um artigo no jornal Tagesspiegel em 2004. Os quadros mesclando fotografias não são exatamente como no filme, mas na mesma coleção havia foto da tia e do sogro em outro quadro. Fui descobrir que se tratava da biografia de Richter depois de duas horas de filme quando aparece o Joseph Beuys (usando o nome de Antonius van Verten), foi então que ligou todos os pontos na minha cabeça, Beuys é disparado meu artista preferido, sou meio obcecado pela obra dele e já escrevi alguns textos sobre seu trabalho e maneira de pensar. O bombardeio de Dresden, mostrado no filme, é considerado talvez o pior bombardeio depois das bombas no Japão durante a Segunda Guerra e foi retratado por Kurt Vonnegut, um sobrevivente, no livro Matadouro Cinco. No geral gostei muito do filme, achei que as horas passaram voando. Richter produziu coisas bem mais interessantes no período posterior ao filme e hoje ainda está vivo com seus 92 anos.

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

SHÉHÉRAZADE

Título Original: Shéhérazade
Diretor: Jean-Bernard Marlin
Ano: 2018
País de Origem: França
Duração: 111min
Nota: 8

Sinopse: Zachary, um jovem de 17 anos, acaba de sair da prisão. Rejeitado pela mãe, ele vive pelas ruas em áreas perigosas de Marselha. É nessa situação que ele conhece Shéhérazade.
 
Comentário: Indicado ao Câmera de Ouro no Festival de Cannes. Dá para dizer que o filme abre uma "trilogia" de filmes que retratam o lado escuro da França que ninguém quer mostrar (o segundo filme seria o excelente Os Miseráveis do diretor Ladj Ly de 2019 e o terceiro o mais recente Os Piores dos diretores Lise Akoka & Romane Gueret de 2022). Aqui a narrativa é mais simples e não tão inovadora, quase um clichê mesmo, mas a maneira que o diretor escolheu contar sua história emociona, pela crueza e crueldade. O elenco se entrega ao filme demais. O casal constrói sua história sobre tantos detritos e lixos de suas vidas que é impossível não se entregar ao sentimentalismo ao final. É brutal e doce, vale a pena assistir.

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

DEPOIS DO ENSAIO

Título Original: Efter Repetitionen
Diretor: Ingmar Bergman
Ano: 1984
País de Origem: Suécia
Duração: 73min
Nota: 8

Sinopse: Henrik Vogler, um consagrado diretor de teatro, costuma permanecer no teatro depois dos ensaios, trabalhando ou dormindo. Anna, a promissora atriz principal de sua nova montagem, retorna depois do ensaio em busca de um bracelete esquecido. O que se segue desse encontro casual leva-nos ao limite entre encenação e realidade, entre arte e vida, entre indivíduos, máscaras e papéis - dentro e fora do teatro.
 
Comentário: Filme feito para a televisão depois que Bergman havia anunciado sua aposentadoria do cinema com Fanny & Alexander. Eu gostei bastante, trás excelentes diálogos com um tom autobiográfico metalinguístico casando muito bem com o teatro, essa atmosfera que Bergman amava tanto. Lena Olin está tão nova, não reconheci ela no começo, já mostrava o talento que tem até hoje. Erland Josephson e Ingrid Thulin sã monstros do cinema, ver os dois em cena é sempre ótimo. Uma galera diz que é um trabalho do Bergman, mas sou obrigado a discordar completamente, é muito bom e para mim tem o mesmo peso de muitos grandes filmes do diretor feitos para o cinema. Filme obrigatório na filmografia bergniana.

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

ESTADOS UNIDOS PELO AMOR

Título Original: Zjednoczone Stany Milosci
Diretor: Tomasz Wasilewski
Ano: 2016
País de Origem: Polônia
Duração: 101min
Nota: 7

Sinopse: Polônia, 1990. O primeiro ano eufórico de liberdade, mas também de incerteza quanto ao futuro. Quatro mulheres aparentemente felizes, de diferentes idades, decidem que é hora de mudar suas vidas e realizar seus desejos.
 
Comentário: Indicado ao Urso de Ouro e vencedor do prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Berlim. Um filme pesadíssimo sobre quatro mulheres, mas que diz muito também sobre o comportamento masculino repleto de condicionamentos do patriarcado. As histórias são contadas separadas, como se o filme fosse feito por diferentes curtas, mas que se conectam em determinados pontos. Amores platônicos, traições, sociopatias, comportamento abusivo, estupro de incapaz... o filme tem de tudo um pouco. A falta de conexões reais entre os personagens diz muito sobre o mundo hoje também, que tem se tornado cada vez mais artificial nessa Sociedade-Instagram. A paleta de cores desse filme é fantástica, diretor conseguiu passar o clima frio entre os personagens na fotografia também. Um bom filme, mas que tem que estar meio que preparado, porque não é tão fácil de digerir.

terça-feira, 17 de setembro de 2024

EU NÃO ME IMPORTO SE ENTRARMOS PARA A HISTÓRIA COMO BÁRBAROS

Título Original: Îmi Este Indiferent Daca în Istorie Vom Intra ca Barbari
Diretor: Radu Jude
Ano: 2018
País de Origem: Romênia
Duração: 138min
Nota: 8

Sinopse: Uma artista recebe financiamento para encenar um espetáculo sobre uma batalha de guerra na Romênia e recebe críticas dos produtores por incluir um retrato realista do tratamento dado aos judeus por seu país durante a Segunda Guerra Mundial.
 
Comentário: Achei a narrativa até a metade meio entrecortada demais, não te prende muito, porém quando o filme passa da metade você já está completamente fisgado, se desenvolve melhor quando deixa de focar muito no relacionamento que não leva a lugar nenhum da diretora com o piloto. O espetáculo e a relação com o seu entorno é muito interessante, o comportamento fascista tosco de muitos romenos é nítido quando se convive com eles, e eu convivo com vários no meu local de trabalho. Radu Jude faz um belo filme aqui e já desponta como um dos grandes diretores europeus deste século, não há um filme mais ou menos que eu tenha assistido dele. O elenco também está espetacular, com diálogos afiadíssimos em momentos chaves. No final fica a reflexão e a explicação muito nítida do porque a Europa está como está hoje.

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

A LIBERDADE É AZUL

Título Original: Trois Couleurs: Bleu
Diretor: Krzysztof Kieslowski
Ano: 1993
País de Origem: França
Duração: 98min
Nota: 10

Sinopse: Julie é a esposa de um renomado maestro e compositor francês que morre em um desastre automobilístico com a filha do casal. A mulher, única sobrevivente da tragédia, vê-se na situação de ter que lidar com essas perdas e seguir sua vida.
 
Comentário: Vencedor do Leão de Ouro e de mais outros quatro prêmios no Festival de Veneza. Para mim, um dos filmes definitivos sobre o luto, Binoche está mais linda do que nunca e perfeita, a direção do Kieslowski também é maravilhosa. Me choquei ao perceber que já fazia mais de 15 anos que havia assistido, rever o filme depois de tudo o que passei até aqui foi mais catártico do que eu poderia imaginar. Tentar ir em frente depois de enterrar tanta gente é difícil, mas é o que resta como única opção. Da primeira vez que vi, lembro que não havia gostado da decisão de Olivier no final do filme, mas hoje entendo como ela é importante como mensagem. Filmes se modificam conforme nossas experiências de vida e eu acho isso maravilhoso. Trilha sonora icônica!

sábado, 7 de setembro de 2024

DURANTE A TORMENTA

Título Original: Durante la Tormenta
Diretor: Oriol Paulo
Ano: 2018
País de Origem: Espanha
Duração: 129min
Nota: 8

Sinopse: Duas tempestades separadas por 25 anos, uma mulher assassinada, uma filha desaparecida, e apenas 72 horas para descobrir a verdade.
 
Comentário: Tem filmes que é preciso se desligar um pouco da realidade e se entregar à narrativa, e Oriol Paulo já provou que é mestre de uma narrativa rocambolesca que funciona muito bem. Confesso que preferi seus filmes anteriores (O Corpo e Um Contratempo), talvez haja nesse filme exageros que extrapolam demais algumas situações, por outro lado, há momentos aqui que são realmente excepcionais. O filme me prendeu muito bem, para um filme pipoca blokbuster coloca os filmes de Hollywood atuais no chinelo, com um elenco e uma direção muito competentes. Achei que a parte final do filme vai se desenrolando rápido demais, principalmente com as histórias paralelas dos atores coadjuvantes, no geral o filme é muito bom, gosto do diretor exatamente porque ele não tem medo de cair no absurdo para contar uma boa história, falta isso nos filmes de hoje em dia.

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

SACRO GRA

Título Original: Saro Gra
Diretor: Gianfranco Rosi
Ano: 2013
País de Origem: Itália
Duração: 91min
Nota: 3

Sinopse: Ao longo de quase dois anos explorando os quase 70 km de rodovias circulares do “Grande Anel Rodoviário”, Gianfranco Rosi traz à tona o cotidiano do cidadão comum, compondo o perfil de um microcosmo nos arredores da Grande Roma.
 
Comentário: Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza, o que é completamente incompreensível para mim. Dos grandes festivais, Veneza é o que deu o prêmio máximo para vários filmes que considero muito abaixo da média, mas nenhum que eu tenha desgostado tanto quanto esse. Eu juro que tentei, mas mesmo tendo assistido inteiro, o filme não criou absolutamente nenhuma conexão comigo, não me disse absolutamente nada, coisas completamente desconexas e vazias foi o que assisti ao longe de uma hora e meia. Sim, a parte técnica e as imagens são lindas em vários momentos, e mesmo tendo algumas cenas que salvam (o pescador de enguia e o cara que escuta os besouros), são ínfimas dentro do todo. O cara que tem conexões de trabalho com a Lituânia foi das coisas mais bizarras do filme, dá até vergonha. Achei que seriam personagens com ligações com o Grande Anel Rodoviário, mas nem isso, não conexão, coesão ou uma mensagem. Daqueles filmes pseudo-cults feitos para inflar egos da área cinematográfica ou sei lá. Muito ruim. 

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

LESTE

Título Original: Ostwärts
Diretor: Christian Petzold
Ano: 1991
País de Origem: Alemanha
Duração: 23min
Nota: 6

Sinopse: Pouco depois da reunificação alemã, três residentes de uma zona tranquila a norte de Berlim falam sobre os seus planos e tentativas de novos começos econômicos no meio das mudanças trazidas pela queda do Muro de Berlim.
 
Comentário: Único documentário de Petzold, que estava no começo da carreira, e mostra a visão da unificação da Alemanha pela visão de pessoas que estavam no lado da RDA. A primeira personagem a aparecer, a maquiadora facial, é a que trás mais peso ao curta, suas divagações e suas percepções e análises a respeito das duas Alemanhas faz a gente ter uma visão completamente diferente daquela vendida pelo lado propagandista pelo mundo ocidental. O segundo personagem não trás nada de muito interessante para a discussão, porém o terceiro faz uma ponte com o passado e liga com o medo e a esperança que há no futuro, fiquei pensando no que será que aconteceu com seu negócio. É interessantíssimo do ponto de vista histórico e antropológico. O impacto que toda a obra do diretor terá com assuntos que são trazidos aqui também fazem deste curta ter uma importância relevante em sua cinebiografia.