terça-feira, 31 de dezembro de 2024

O VENTO NOS LEVARÁ

Título Original: Bad Ma Ra Khahad Bord
Diretor: Abbas Kiarostami
Ano: 1999
País de Origem: Irã
Duração: 118min
Nota: 7

Sinopse: Munido de câmera fotográfica e telefone celular, um estrangeiro no próprio país é tratado pelos moradores da vila de casas de barro Siah Dareh, no Curdistão iraniano, como o “engenheiro”. No entanto, ele não chegou de Teerã a serviço da engenharia, mas da espera. O real motivo da viagem é uma anciã à beira da morte.
 
Comentário: Vencedor do Grande Prêmio Especial do Júri, do Prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema e de mais um fora da competição oficial no Festival de Veneza. O filme funciona e não funciona, ele faz você prestar atenção redobrada em algumas partes e em outras dispersa completamente o telespectador, há uma insistência em cenas repetitivas, mas logicamente que tudo há uma mensagem, que não será entendida completa e resta ao telespectador ter que lidar com isso. Acho que é um filme para se rever daqui um tempo, não sei muito o que pensar sobre ele. O garotinho Farzad é o grande trunfo do filme, todas as cenas com ele são maravilhosas. A direção e a parte técnica retratando essa região do Curdistão iraniano é maravilhosa, não conheço essa região do Irã, na semana que assisti ao filme descobri que o cara que corta meu cabelo é exatamente desta parte do Irã, sempre achei que ele era um curdo do Iraque. Coincidências.

domingo, 29 de dezembro de 2024

SARABANDA

Título Original: Saraband
Diretor: Ingmar Bergman
Ano: 2003
País de Origem: Suécia
Duração: 112min
Nota: 8

Sinopse: Trinta anos após o divorcio, Marianne decide visitar Johan no seu isolado retiro no interior e testemunha o relacionamento atormentado entre seu amargo ex-marido, seu filho, Henrik e uma neta de 19 anos.
 
Comentário: Último filme do mestre sueco onde ele revisita os personagens da sua clássica série Cenas de um Casamento. O filme é muito bom, mas infelizmente não funciona muito bem como uma continuação, que é a expectativa que se cria no telespectador, ao invés disso os personagens de Marianne e Johan e a relação entre eles são deixados em segundo plano, e isso para mim foi um dos pontos negativos do filme. O foco é a relação entre Johan e seu filho do primeiro casamento e a relação da neta entre eles. Tudo é arquitetado muito bem, toda a tensão sentimental que o filme carrega faz dele um típico Bergman, o contraste da velhice e da juventude que já foi tema de Morangos Silvestres ganha um ar muito mais carregado aqui. A relação do pai para com a filha é doentia e beira a insanidade, todo o elenco está maravilhoso. E foram mais de 50 filmes ao longo de anos resenhando nos dois blogs, ainda resta o Sonata Fantasma que já assisti, mas é uma peça de teatro filmada para a TV. Bergman foi um dos maiores, se não o maior, cineasta da história. Ver e rever seus filmes são sempre o que faz o cinema ter uma razão de existir para mim. Tudo profundo, como este último filme, há muito mais do que aparenta a superfície.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

O-BI, O-BA - O FIM DA CIVILIZAÇÃO

Título Original: O-Bi, O-Ba: Koniec Cywilizacji
Diretor: Piotr Szulkin
Ano: 1985
País de Origem: Polônia
Duração: 90min
Nota: 9

Sinopse: Em um bunker subterrâneo, seres humanos esfarrapados sobrevivem após o holocausto nuclear. As pessoas esperam a chegada da Arca para resgatá-los, enquanto o abrigo desmorona sobre suas cabeças.
 
Comentário: Queria assistir um filme antinatalino no natal, não sabia o que assistir, então peguei este meio que sem saber muita coisa, mas que pela sinopse era meio orwelliano. Bem, foi o filme mais niilista que eu já assisti na minha vida, não tô bem nao (hehehehe). Szulkin filmou algo completamente atemporal aqui, é impressionante como o filme é atual, como não envelheceu, as cenas são assustadoramente tão bem filmadas que não parece nem um pouco um filme de mais de 30 anos atrás. Há cenas que se estendem demais, há alguma coisa na narrativa que se torna repetitiva, mas o filme tem muito mais acertos que erros, há cenas chocantes, há cenas que são um colírio aos olhos, mas ao mesmo tempo o filme é cheio de desesperança, completamente pessimista e isso eu achei perfeito. Era exatamente o que eu precisava. Uma crítica das mais ferrenhas que eu já vi na história do cinema, merecia muito mais reconhecimento.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

PERSÉPOLIS

Título Original: Persepolis
Diretores: Vincent Paronnaud & Marjane Satrapi
Ano: 2007
País de Origem: França
Duração: 95min
Nota: 8

Sinopse: Marjane Satrapi é uma garota iraniana de 8 anos, que sonha em se tornar uma profetisa para poder salvar o mundo. Querida pelos pais e adorada pela avó, ela acompanha os acontecimentos que levam à queda do Xá em seu país, juntamente com seu regime brutal. Tem início a nova República Islâmica, que controla como as pessoas devem se vestir e agir
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro, ao Câmera de Ouro e vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes. Eu recomendo ler a HQ, que é muito melhor e obviamente acaba sendo mais profunda em tudo o que acontece, mas a animação não deixa de ser muito boa também. Li há muitos e muitos anos atrás, nem imaginava que já fazia tanto tempo que a animação tinha saído (o tempo realmente passa muito rápido). Tenho uma relação muito forte com Persépolis, já que sou casado hoje graças e ela (quando conheci minha esposa, que é iraniana, a única referência que eu tinha na época era essa HQ que eu já havia lido e foi o que me fez puxar assunto com ela). Uma obra essencial para entender um pouquinho sobre o Irã. A animação é linda, parece a HQ em movimento mesmo.

terça-feira, 24 de dezembro de 2024

CORRIDA SILENCIOSA

Título Original: Silent Running
Diretor: Douglas Trumbull
Ano: 1972
País de Origem: EUA
Duração: 89min
Nota: 8

Sinopse: Em um futuro não determinado, um jardineiro espacial se rebela quando recebe ordens de destruir o que resta da natureza, protegida em domos espaciais, pois a Terra conseguiu meios artificiais de sobreviver sem ela.
 
Comentário: Nunca tinha ouvido falar deste filme, o que é estranho já que é dirigido pelo lendário Douglas Trumbull, e acabei vendo uma cena dele no Instagram e fui atrás para assistir. Adoro ficção científica com todo esse design retrô dos anos 70, deviam fazer mais filmes assim com esta estética saudosista porque, pelo menos para mim, funciona bem demais até hoje. Bruce Dern e Ron Rifkin tão novos que são quase irreconhecíveis. Parece ser a primeira ficção científica com um tema sobre ecologia. O filme ainda conta no roteiro com Michael Cimino e Steven Bochco (este último que ficou conhecido pela série Nova York Contra o Crime que adoro). O filme como um todo é muito bom, gera tensão e discussão sobre vários aspectos. E o visual das florestas viajando pelo espaço são de tirar o fôlego. Crescemos com histórias para salvar o planeta e não fizemos absolutamente nada em relação a isso.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

NA PRESENÇA DE UM PALHAÇO

Título Original: Larmar Och Gör Sig Till
Diretor: Ingmar Bergman
Ano: 1997
País de Origem: Suécia
Duração: 119min
Nota: 8

Sinopse: Outubro de 1925. O engenheiro Carl Åkerblom, fervoroso admirador de Schubert, é internado em um hospital psiquiátrico em Uppsala. De seu quarto, ele alimenta o revolucionário projeto de inventar o cinema falado. Com a ajuda do professor Osvald Vogler, o diretor Åkerblom improvisa uma história de amor contando os últimos dias de Schubert.
 
Comentário: Indicado a premiação Um Certo Olhar no Festival de Cannes. Acho que é o filme do Bergman que mais me trouxe sentimentos conflitantes, há momentos que acho sublime e há momentos que acho enfadonho. Marie Richardson já tinha mostrado talento em A Marquesa de Sade, mas aqui ela segura demais o filme, simplesmente exuberante. As cenas com o palhaço (na verdade palhaça) são ótimas, mas no fundo achei que a personagem foi mal aproveitada. As cenas da peça são lindas e toda a homenagem do Bergman à sétima arte como um todo vale demais a assistida. Sempre esqueço que o Peter Stormare é sueco, adoro ele. Meu problema maior com o filme talvez seja com o personagem principal, Åkerblom é chato demais.

domingo, 15 de dezembro de 2024

A SEMENTE DA FIGUEIRA SAGRADA

Título Original: Dane-ye Anjir-e Ma'abed
Diretor: Mohammad Rasoulof
Ano: 2024
País de Origem: Irã
Duração: 166min
Nota: 9

Sinopse: O juiz de instrução Iman luta contra a paranoia em meio à agitação política em Teerã. Quando sua arma desaparece, ele suspeita de sua esposa e de suas filhas, impondo medidas draconianas que desgastam os laços familiares.
 
Comentário: Vencedor do Prêmio Especial do Júri e vencedor de outros 3 prêmios fora da competição principal no Festival de Cannes. Filme que abre de maneira tardia o ano de 2024 aqui no blog e um dos mais comentados devido a sua estreia com a fuga do diretor do país para aparecer em Cannes. O filme é ótimo, trás para a mesa uma discussão contemporânea e o choque de gerações que vive o Irã neste momento. Nunca tinha parado para pensar como deve ser a vida de pessoas contra o sistema com familiares que apoiam. Não achei o melhor filme do Rasoulof, achei inclusive que lembra mais um filme do Asghar Farhadi em muitos pontos. Me lembrou demais ao livro A Costa do Mosquito (não assisti ao filme) do escritor Paul Theroux, principalmente no desenvolvimento do personagem do pai. Parece que todo o elenco teve que sair do país também, o filme teve uma enorme repercussão e foi o indicado pela Alemanha ao Oscar de Filme Estrangeiro. Um filme necessário.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

O CROCODILO

Título Original: Il Caimano
Diretor: Nanni Moretti
Ano: 2006
País de Origem: Itália
Duração: 108min
Nota: 9

Sinopse: Bruno Bonomo foi um festejado diretor de filmes B. Hoje, porém, não consegue emplacar um projeto, até que chega às suas mãos uma sátira política sobre um primeiro-ministro desonesto. No entanto, as semelhanças da ficção com o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi podem fazer com que os investidores desistam do projeto.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro e vencedor de dois prêmios fora da competição principal no Festival de Cannes. Quando me mudei para a Itália pela primeira vez este filme estava em cartaz nos cinemas, lembro que todo mundo estava comentando sobre ele e agradeço que eu não tenha ido ver naquela época em que sabia muito pouco sobre política mundial, hoje pude aproveitar muito mais. É impressionante como Berlusconi iniciou na política uma era de bufões estúpidos cheio da grana, as diferenças entre ele e o Trump são quase inexistentes, o que faz o filme ainda ter a mesma força que tinha há quase vinte anos em sua estreia, continua tão atual quanto. A direção de Moretti é sempre ótima, mas o elenco aqui se destaca ainda mais, Silvio Orlando está perfeito e a novata Jasmine Trinca, que se tornou uma atriz excepcional, já demonstra força suficiente nas cenas em que aparece. Percebo que o diretor é meio obcecado com narrativas sobre divórcio.

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

MISTÉRIO

Título Original: Tayna
Diretor: Andrey Zvyagintsev
Ano: 2011
País de Origem: Rússia
Duração: 6min
Nota: 8

Sinopse: Uma história bem próxima da realidade mostrando que algumas portas fechadas escondem mistérios muito maiores do que você imagina e é melhor deixá-las fechadas. “Mistério” faz parte do Experimento 5IVE.
 
Comentário: O Experimento 5IVE financiado pela marca de chiclete Wrigley produziu cinco curtas metragens russos de aproximadamente 5 minutos cada. Aqui mostra o quão foda é Andrey Zvyagintsev, que consegue criar uma narrativa cheia de simplicidade e tensão com maestria. O diretor consegue tirar do espectador uma gama de sentimentos sem ter que criar nada mirabolante. Você fica se perguntando e criando possibilidades nos buracos que a história deixa de maneira muito pertinentes. Achei muito bom.

domingo, 8 de dezembro de 2024

O GAROTO DA BICICLETA

Título Original: Le Gamin au Vélo
Diretores: Jean-Pierre Dardenne & Luc Dardenne
Ano: 2011
País de Origem: Bélgica
Duração: 87min
Nota: 8

Sinopse: Abandonado pelo pai, um menino é deixado em uma fazenda para jovens administrada pelo Estado. Em um ato de gentileza, a cabeleireira da cidade concorda em adotá-lo nos fins de semana.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro e vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes. O que eu gosto dos filmes dos Dardenne é que o menos é mais. São narrativas simples, mas que são cruas em seu realismo, que funcionam para emocionar, criar tensão e principalmente faz com que questionemos nós mesmos em situações que não nos imaginamos no cotidiano. Cécile de France, no papel de Samantha, consegue ofuscar até o garoto (que também está primoroso), mas é ela que dá todo o tom para que o filme não seja só mais um dentro do tema que propõe. Como pode existir pais (e não são poucos) como o mostrado aqui? Como a pessoa consegue viver consigo mesma? Não consigo entender.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

GOSTO DE CEREJA

Título Original: Ta'm e Guilass
Diretor: Abbas Kiarostami
Ano: 1997
País de Origem: Irã
Duração: 92min
Nota: 10

Sinopse: Um homem iraniano dirige seu caminhão procurando alguém para enterrá-lo silenciosamente debaixo de uma cerejeira depois que ele cometer suicídio.
 
Comentário: Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes. Talvez seja a obra prima do mestre Kiarostami, mas não sei se é o meu preferido. Porém é um filme excepcional que se destaca pela complexidade daquilo que transmite. Todo ser humano tem suas complexidades e ninguém sabe o que está passando na cabeça de outra pessoa, ninguém realmente conhece outra pessoa; A obra então pode até ter um diálogo com Solaris de Stanislaw Lem (transposto para o cinema pelo grande Tarkovski). Homayoun Ershadi está perfeito no papel principal, evoca emoções de maneira apática. Tudo no filme é como tinha que ser, e depois de descobrir como foi filmado, com o diretor no banco do passageiro nas cenas com o motorista e no banco do motorista nas cenas dos passageiros: o filme fica ainda maior. Costumo a ser pessimista, mas confesso que o filme aflorou um lado positivista no desfecho. Um filme para ser revisitado no futuro.

sábado, 30 de novembro de 2024

DEDE

Título Original: Dede
Diretor: Mariam Khatchvani
Ano: 2017
País de Origem: Geórgia
Duração: 92min
Nota: 8

Sinopse: Uma mulher. Três homens. Dina pode desafiar as duras tradições das profundas montanhas do Cáucaso. Mas o espírito dela sobreviverá?
 
Comentário: Filme sobre os recônditos do Cáucaso da Geórgia, que faz a gente pensar na merda que é o patriarcado. Bem, pelo menos se você não for um machista de merda, mas acho que um misógino não chega nem perto de ter a oportunidade na vida de assistir a um filme desses. O filme é dirigido por uma mulher: o que faz toda a diferença. Natia Vibliani está exuberante no papel principal, consegue cativar muito, seu marido consegue tomar a pior decisão da história do cinema, se alguém souber de alguém que tire este "prêmio" dele, por favor se manifeste. Vejo um monte de gente horrorizada em como este povo "primitivo" toma as decisões como se em regiões afastadas do Brasil fosse muito diferente. Um filme muito bom, pena que o povo só assiste coisas comerciais.

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

HANEZU

Título Original: Hanezu
Diretora: Naomi Kawase
Ano: 2011
País de Origem: Japão
Duração: 90min
Nota: 7

Sinopse: O marceneiro Takumi muda-se para uma pequena aldeia onde conhece Kayoko, uma mulher que estudou na mesma escola que ele. Kayoko é fascinada pela cor hanezu (carmesim); mora com o namorado Tetsuya. Logo, eles se apaixonam.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. O filme se passa na região de Asuka, considerado o berço da civilização japonesa, por isso a forte conexão com antepassados, história e a herança tanto dos personagens trabalhado de forma poética pela diretora. Mas achei que o filme dispersa demais, preferi o Mães de Verdade com uma narrativa mais fundada na realidade. O título é uma palavra antiga que significa um tom de vermelho, especificamente um vermelho profundo ou carmesim, o que faz todo sentido. Yosano Yakiko, uma das poetisas modernas mais importantes do Japão utilizou esta palavra em um famoso poema. Os personagens são muito etéreos, não consegui criar uma conexão muito profunda com eles, mas há detalhes que encantam os olhos, como o pássaro na gaiola em contraste com os pássaros livres na casa de seus respectivos amores. Diz muito sobre o sentimento que eles impactam sua vida. Um filme bonito, mas que poderia ser mais amarrado.

quinta-feira, 28 de novembro de 2024

AS VIOLETAS SÃO AZUIS

Título Original: Violets are Blue
Diretor: Jack Fisk
Ano: 1986
País de Origem: EUA
Duração: 85min
Nota: 9

Sinopse: Depois de quinze anos viajando ao redor do mundo, Gussie, uma famosa fotógrafa, retorna a região costeira de Maryland, onde cresceu. Ela reencontra seu namorado do ensino médio, Henry, que agora é casado e dirige o jornal local que herdou de seu pai. Segue-se um romance inusitado e cheio de tensão.
 
Comentário: Assisti este filme com minha irmã quando eu tinha mais ou menos 10 anos de idade, lembro que não gostei, achei bobo e nunca entendi porque minha irmã adorava. Reassisti agora, em 2024, no aniversário de três anos do falecimento dela, meio que para me sentir mais próximo. Filmes eram algo que nos conectava, assisti ao Charada neste mesmo tipo de ritual em outro ano. Hoje, obviamente, o filme é outro. É preciso viver e ter uma carga emocional para entendê-lo, coisa que uma criança de 10 anos não tem. O filme me tocou profundamente, acho que só quem teve um amor assim vai entender, e a frase "É assim que escolhemos, Gussie. Nós deixamos acontecer" é pra entrar nas melhores da história do cinema. O filme diz tanto sobre mim e sobre minha vida, chega até a ser engraçado isso. Me impressiona como minha memória é boa, lembrava de várias coisas, principalmente para o final. Um filme modesto, mas muito subestimado. O título faz alusão a uma famosa rima popular estadunidense que faz alusão a amor e afeto.

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

HARALD & HARALD

Título Original: Harald & Harald
Diretor: Ingmar Bergman
Ano: 1996
País de Origem: Suécia
Duração: 10min
Nota: 5

Sinopse: Dupla de humoristas assume o papel de críticos de arte para discutir um documento elaborado pela Comissão Sueca de Cultura. Cinema, Teatro, Música e Juventude são alguns dos temas debatidos com extrema ironia.
 
Comentário: Curta metragem feito para a televisão durante a aposentadoria de Bergman. É difícil assistir com a mesma visão de 1996 e sendo um sueco. É um filme que o local e o tempo importam, pois foi feito para aquele público específico, naquela época específica. Portando é normal que seja datado, que nem todo o humor seja captado hoje, mas em linhas gerais é um curta mediano, longe de qualquer genialidade do diretor, mas ainda assim com seus diálogos afiadíssimos e sua crítica ao status quo de seu tempo. As caixas de sapato na cabeça dos apresentadores ficou divertidíssimo, mas ao mesmo tempo sem muito sentido que eu pude extrair. Parece até coisa do Lynch.

terça-feira, 19 de novembro de 2024

ZONA DE EXCLUSÃO

Título Original: Zielona Granica
Diretor: Agnieszka Holland
Ano: 2023
País de Origem: Polônia
Duração: 152min
Nota: 10

Sinopse: Uma família de refugiados da Síria, uma professora de inglês do Afeganistão, um guarda de fronteira e ativistas dos direitos humanos reúnem-se na fronteira entre a Polônia e a Bielorrússia durante a mais recente crise humanitária na região.
 
Comentário: Indicado ao Leão de Ouro e vencedor do Prêmio Especial do Juri e de outros 3 fora da competição principal no Festival de Veneza. Confesso que no início eu estava torcendo o nariz, a diretora apela demais em alguns pontos levando tudo a uma repetição exaustiva, mas passando isso o filme só cresce. Cresce como crítica, cresce como denúncia, cresce como reflexão humana, cresce como crítica ao reino de cristal europeu que a mídia insiste fingir que não ruiu há muito tempo. A diretora foi muito corajosa em enfrentar o governo polonês na realização deste filme, teve que cortar suas raízes com o país e sofreu perseguição. Mas o mais lindo de tudo, a cereja no bolo e o principal fato que eu levantei e aplaudi o filme dando nota 10, foi a capacidade de criticar a postura da Polônia (e porque não de todos os países europeus) na hipocrisia que é o tratamento dado aos imigrantes de um modo geral em relação aos ucranianos que fugiram do conflito. A Europa,  como eu sempre insisto em dizer, é ridícula e hipócrita em seus valores.

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

ZONA DE INTERESSE

Título Original: The Zone of Interest
Diretor: Jonathan Glazer
Ano: 2023
País de Origem: Alemanha
Duração: 104min
Nota: 10

Sinopse: O comandante de Auschwitz, Rudolf Höss, e sua esposa Hedwig, se esforçam para construir a vida dos sonhos para sua família em uma casa com jardim ao lado do campo.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro e vencedor do Grande Prêmio do Festival e do prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema no Festival de Cannes, também ganhou dois Oscars. O filme é impressionante por ser diferente de tudo que se fez até agora sobre o assunto, sem contar a parte técnica impecável. Você só escuta os ruídos de Auschwitz enquanto contempla a vida de plástico construída do lado de fora. O diretor soube utilizar a sutileza, a crítica ácida e diálogos afiadíssimos misturados com o dia a dia comum em uma experiência sensorial única. Não acho que seja um filme que vá tocar todo mundo, principalmente falando de quem está acostumado com o filme pipoca de Hollywood e de uma geração que tende a falta de empatia hoje em dia, mas para mim foi um dos melhores do ano.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

A IGUALDADE É BRANCA

Título Original: Trois Couleurs: Blanc
Diretor: Krzysztof Kieslowski
Ano: 1994
País de Origem: França
Duração: 88min
Nota: 8

Sinopse: O imigrante polaco Karol Karol encontra-se em situação difícil quando a sua esposa francesa, Dominique, se divorcia dele após seis meses devido à sua impotência. Forçado a deixar a França depois de perder o negócio que possuíam juntos, Karol convoca o expatriado polonês Mikołaj para contrabandeá-lo de volta para sua terra natal.
 
Comentário: Indicado ao Urso de Ouro e vencedor do prêmio de Melhor Diretor no Festival de Berlim. Não havia gostado tanto quando assisti há uns 15 anos atrás. Revendo hoje o filme cresceu muito, acho que é preciso passar por algumas coisas na vida para se conectar a este filme. Se é o mais fraco da trilogia, é porque os outros dois são filmes gigantes demais em um âmbito muito geral. O filme é divertido, mas também trás reflexões e cenas que marcam a gente. Só não tem uma nota mais alta porque achei o final apressado demais, tudo acontece muito rápido depois de uma construção em tempo perfeita. Ótima trilha sonora e entrega do elenco. Do diretor eu acho que nem preciso falar. Outra coisa estranha, é que dessa trilogia com as cores da bandeira francesa, este filme é muito mais um filme polonês do que um filme francês, não que isso seja um problema.

terça-feira, 12 de novembro de 2024

AS DUAS EXECUÇÕES DO MARECHAL

Título Original: Cele Doua Executii ale Maresalului
Diretor: Radu Jude
Ano: 2018
País de Origem: Romênia
Duração: 9min
Nota: 8

Sinopse: O filme confronta dois pontos de vista diferentes do assassinato do General Ion Antonescu, líder da Romênia durante a Segunda Guerra Mundial.
 
Comentário: O curta metragem intercala imagens da execução real de Antonescu, que foi filmada, em 1946 com cenas de uma encenação com atores da mesma morte. Radu Jude é talvez o diretor contemporâneo romeno de maior grandeza na minha opinião, não sei se fica muito claro aqui sua intenção de criticar pessoas de seu país que ainda insistem em tentar tornar esse monstro em uma espécie de herói. A figura do Marechal já foi duramente criticada por ele em outros de seus filmes, mais eloquentemente no "Eu não me Importo se Entrarmos para a História como Bárbaros". Um curta que só indico para quem realmente está querendo ir mais a fundo no cinema do diretor.

domingo, 3 de novembro de 2024

A SAPIÊNCIA

Título Original: La Sapienza
Diretor: Eugène Green
Ano: 2014
País de Origem: Itália
Duração: 105min
Nota: 9

Sinopse: Alexandre, um arquiteto bem-sucedido, vai para a Itália trabalhar num livro acompanhado de Alienor, sua esposa, que sente o casamento abalado.
 
Comentário: Indicado ao Leopardo de Ouro no Festival de Locarno. Eu realmente não sei explicar muito bem o porque gostei tanto deste filme. Obviamente que a parte técnica toda é soberba, enquadramentos, música, edição, paleta de cores... milimetricamente perfeito. Os personagens são meio mecânicos, como em um filme do Kaurismäki, e isto gera um pouco de estranhamento no começo, depois tudo vai fluindo se der uma chance. Obviamente que não é o tipo de filme para um público grande, é um filme de nicho, mas que é muito belo. Christelle Prot está belíssima e o encontro dela com o senhor caldeu, interpretado pelo próprio diretor, é uma das passagens mais bonitas do filme.

sábado, 2 de novembro de 2024

SEMIÓTICA PLÁSTICA

Título Original: Plastic Semiotic
Diretor: Radu Jude
Ano: 2021
País de Origem: Romênia
Duração: 22min
Nota: 9

Sinopse: A vida média dos seres humanos – desde o nascimento até a velhice – é representada pelos brinquedos infantis. Bonecas Barbie, dinossauros de plástico e modelos de carros são montados para recriar as inevitabilidades da vida, incluindo feriados, engarrafamentos e morte.
 
Comentário: Radu Jude é um dos grandes diretores da atualidade, cada vez que assisto alguma coisa dele viro mais fã. Isto aqui é um curta maravilhoso, que serve de crítica a tanta coisa. Não há diálogos ou narração, apenas imagem e música, e as imagens nos contam sobre guerras, sexualidade, degradação, apatia, violência, amor... bem, sobre tudo o que estiver disposto a tirar do curta. Acho que ele é uma experiência pessoal de cada um que assista, é possível criar assuntos sob diferentes pontos de vista, já que você vai acabar sendo influenciado por seu próprio cérebro também enquanto vê as imagens. Quase um teste de Rorschach . Feito antes do filme da Barbie, mas como disseram, funcionária perfeitamente para que fosse os créditos finais.

terça-feira, 29 de outubro de 2024

NÃO ME TOQUE

Título Original: Touch Me Not
Diretor: Adina Pintilie
Ano: 2018
País de Origem: Alemanha
Duração: 128min
Nota: 7

Sinopse: Juntos, uma cineasta e seus personagens se aventuram em um projeto pessoal de pesquisa sobre intimidade. Na fronteira fluida entre a realidade e a ficção, Não Me Toque segue as viagens emocionais de Laura, Tómas e Christian, oferecendo uma visão profundamente empática das suas vidas.
 
Comentário: Vencedor do Urso de Ouro e de outro prêmio fora da competição principal no Festival de Berlim. Um filme bem diferente, experimental, portanto é normal que muita coisa funcione e outras não para o espectador, mas independente da experiência é um filme muito interessante e corajoso por parte da diretora em realizá-lo. Christian Bayerlein é o grande trunfo do filme, sua história de vida e de luta com todas as dificuldades que enfrenta é uma lição de vida, não há como não se emocionar. Acho que a diretora erra a mão quando cai demais na ficção do Tómas Lemarquis seguindo sua suposta ex-namorada, por exemplo, nos desconectamos da ideia do que a diretora está tentando vender como documentário nestes momentos. Laura Benson fica entre o real e o lírico. Gostei do filme, acho que mereceu o prêmio, mas é muito longo para o que propõe e a diretora deveria participar mais, pois gostei das cenas em que ela participa. Sua narrativa também trás as melhores reflexões do filme, há um momento em que desmontam um equipamento em que o que ela diz vale toda a assistida.

PS: Cadastrei como um filme alemão, pois para mim não faz sentido colocá-lo como um filme romeno por conta da diretora. O filme foi filmado na Alemanha e é todo falado em inglês. Não tem nada que nos faça referência a Romênia.

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

A MARQUESA DE SADE

Título Original: Markisinnan de Sade
Diretor: Ingmar Bergman
Ano: 1992
País de Origem: Suécia
Duração: 105min
Nota: 7

Sinopse: Uma produção teatral da peça de Yukio Mishima, filmada para a televisão sueca. Começa na França em 1772. Seis mulheres, uma delas Madame de Sade, discutem suas opiniões e sentimentos em relação ao notório Marquês de Sade.
 
Comentário: Depois de anunciar sua aposentadoria do cinema, esta peça interpretada no Royal Dramatic Theatre em Estocolmo e filmada para a televisão foi um dos projetos do mestre Bergman. A peça funciona muito bem, com excelentes interpretações e diálogos afiadíssimos, mas achei que dá uma cansada em certo ponto. Há pontos repetitivos e falta um certo dinamismo no decorrer da história. Talvez com umas pitadas do humor ácido que Bergman costuma usar funcionasse melhor do que ficar muito preso ao texto, e apesar de haver uma discussão feminista nas entrelinhas, ela poderia também ter sido melhor utilizada como o diretor sempre fez. No geral é um bom "filme", merece ser visto por quem é fã do diretor, mas pode ser ignorado para quem quer ver apenas suas obras primas.

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

MUSEU

Título Original: Museo
Diretor: Alonso Ruizpalacios
Ano: 2018
País de Origem: México
Duração: 126min
Nota: 6

Sinopse: Em 1985, um grupo de criminosos evadiu a segurança do Museu Nacional de Antropologia na Cidade do México para roubar 140 peças pré-hispânicas de suas vitrines.
 
Comentário: Indicado ao Urso de Ouro e vencedor de Melhor Roteiro no Festival de Berlim. O filme não é ruim, tem seus momentos, mas enrola demais e parece que não chega em lugar nenhum do meio para o final. A história real tem muitos detalhes que foram omitidos e que tornariam o filme muito mais dinâmico e interessante. Me espanta o prêmio de Melhor Roteiro, porque eu só fui perceber que o filme se passava em 1985 depois que fui ler a respeito, há uma cena do natal em que o sobrinho dele ganha um Lego do Star Wars que foi lançado pela primeira vez só em 2000, eu me preocupo tanto com esses detalhes quando vou escrever algo, vejo um roteiro preguiçoso aqui. O final é muito apressado, a relação familiar que poderia ser o mais interessante no desfecho também fica corrida. O elenco principal (Bernal e Ortizgris) funciona e estão muito bem.

sábado, 19 de outubro de 2024

CLOSE-UP

Título Original: Nema-ye Nazdik
Diretor: Abbas Kiarostami
Ano: 1990
País de Origem: Irã
Duração: 98min
Nota: 9

Sinopse: A verdadeira história de Hossain Sabzian, um cinéfilo que se apresentou como o diretor Mohsen Makhmalbaf para convencer uma família a ser protagonista em seu novo filme.
 
Comentário: A maneira que Kiarostami filmou este filme é de uma originalidade ímpar. Há partes que parecem com um documentário, mas há outras completamente encenadas, o que faz a gente ficar imaginando como é que foi fazer este filme. É impressionante o carisma de Hossain Sabzian, seu amor pelo cinema e pela maneira que nos conquista. Ele é a alma do filme, é ele quem faz o filme acontecer mais do que o próprio diretor, muito triste que tenha morrido depois de um ataque de asma e ficar quatro meses em coma exatamente quando iria fazer outro filme com Kiarostami. A sensibilidade do diretor, óbvio, que conta muito pelo produto final. A cortesia que o povo iraniano te trata na rua é muito diferente do que em qualquer lugar do mundo que eu conheci, e aqui é possível ter um pouco essa experiência. Não diria que é um filme obrigatório, pois talvez não seja o estilo de uma grande maioria, mas para mim e para quem realmente ama cinema é um filme necessário.

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

AQUÁRIO

Título Original: Fish Tank
Diretor: Andrea Arnold
Ano: 2009
País de Origem: Inglaterra
Duração: 122min
Nota: 9

Sinopse: Mia é uma garota de 15 anos, que vive com sua mãe e irmã nos subúrbios da Inglaterra. Excluída da escola e desprezada por amigas, a vida de Mia muda quando ela conhece Connor, o novo namorado de sua mãe.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro e vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes. Fui assistir sem esperar muito, afinal não tenho sido mais o público alvo quando o assunto é adolescente, e não tinha me empolgado muito com o badalado Como Fazer Sexo, mas estava completamente errado. O filme entrega tudo! É fenomenal, vivo hoje nos subúrbios da Inglaterra há quatro anos e a representação da realidade que a diretora faz aqui é simplesmente perfeita. Não há exageros, não há glamorização, não há maquiagem... uma grande parte da população britânica vive exatamente como se mostra no filme por mais que tudo que você pense sobre a Inglaterra seja uma propaganda ocidental bem meia boca. A narrativa te prende, a realidade bate forte, o elenco é sensacional e a direção certeira. Demorei demais para assistir, assustador ver que é de 2009 e pouca coisa mudou por aqui. Lembrei que assim que vim morar na casa que estou hoje, tinha uma vizinha chamada Libby com uma bebezinha que chorava de noite, toda noite a mulher gritava com o bebê mandando calar a boca, queria ir até o apartamento de cima e pegar a criança para cuidar eu mesmo, quantas Mias não estão espalhadas por aí?

domingo, 13 de outubro de 2024

NUVENS DE MAIO

Título Original: Mayis Sikintisi
Diretor: Nuri Bilge Ceylan
Ano: 1999
País de Origem: Turquia
Duração: 117min
Nota: 7

Sinopse: Um aspirante a cineasta visita seus pais e começa a elaborar um filme. Ao criar e escalar o elenco ele encontra familiares e amigos que lutam com seus próprios problemas, sonhos e vida.
 
Comentário: Indicado ao Urso de Ouro no Festival de Berlim. Depois do curta (Casulo) e do seu longa de estreia (A Pequena Cidade), aqui o diretor parece começar a criar um pouco mais o que viria a ser seu estilo narrativo mais refinado e intrincado. Porém parece haver uma simbiose entre esses seus trabalhos iniciais para a evolução que estava trilhando. Há uma cena em que os pais assistem a si mesmos em uma TV que me parece ser uma parte do curta metragem, o filme que o personagem principal está filmando parece ser exatamente o longa de estreia do diretor, o que faz de toda a sua filmografia inicial uma colcha de retalhos metodicamente costurada. Gostei da história do menino com o ovo e de toda a atenção que o diretor dá aos seus pais em cena. A construção da história vai se dando em conta gotas e quando percebemos já estamos envolvidos na história. Um bom filme, mas que ainda não tínhamos como saber a força da natureza que o diretor se tornaria.

sábado, 12 de outubro de 2024

SUBWAY

Título Original: Subway
Diretor: Luc Besson
Ano: 1985
País de Origem: França
Duração: 102min
Nota: 8

Sinopse: Fred, um ladrão de cofres desonesto, se refugia no metrô de Paris após ser perseguido pelos capangas de um empresário obscuro de quem ele havia acabado de roubar alguns documentos.
 
Comentário: Filme que deu um prêmio César de Melhor Ator no currículo de Christopher Lambert. Me diverti muito assistindo ao filme, e este sentimento de entretenimento que o filme cumpre muito bem para mim já valeu toda a assistida. É um tipo de filme que foi extinto, pois ele não dá tudo mastigado para o telespectador e em alguns pontos chega até a não fazer muito sentido, mas é essa mistura de nonsense com um ritmo frenético que faz com que ele funcione. Há vários clichês misturados com uma fantasia oitentista, dando ao filme personalidade, estilo e identidade. Luc Besson menos mainstream, sem querer agradar tanto ao cinema pipoca, mas sem deixar de ser pop. Lambert está realmente muito bem, nem parece o canastrão de sempre, o resto do elenco ajuda muito a criar todo o cenário dos subterrâneo do metrô de Paris. Adjani está linda, mas poderia ter sido melhor aproveitada. Um final meio apressado, mas que no geral cumpre seu papel. Não esperava que fosse gostar tanto, era o tipo de filme que estava precisando, sempre pensei em assistir e acabei nunca vendo até agora. Tinha até gravado em um VHS quando moleque. Há uma cena quando Fred está andando embaixo do trem que aparece alguém da equipe técnica do filme em um túnel em que ele entra, passou batido na edição.

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

ALICE NÃO MORA MAIS AQUI

Título Original: Alice Doesn't Live Here Anymore
Diretor: Martin Scorsese
Ano: 1974
País de Origem: EUA
Duração: 112min
Nota: 10

Sinopse: Uma mulher recentemente viúva está na estrada com seu filho, determinada a construir uma nova vida como cantora.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes e vencedor do Oscar de Melhor Atriz. Eu havia visto este filme há mais de vinte anos, lembro que havia gostado, mas provavelmente não tanto quanto agora, pois é um filme que faz mais sentido quando adquirimos uma certa bagagem em nossas vidas. Ellen Burstyn está fantástica aqui, que depois do sucesso de O Exorcista havia ganho uma carta branca para desenvolver um projeto sobre uma história de uma mulher vivendo problemas comuns, Scorsese foi contratado por indicação de Coppola. Diane Ladd, vale ressaltar, está incrível aqui também, e sua filha (a famosa atriz Laura Dern) aparece com menos de 10 anos na cena final da lanchonete comendo sorvete e usando um óculos no balcão. Os atores Keitel e Kristofferson são meros ornamentos de Burstyn, mas cada qual a sua maneira acrescentando muito a história e perfeitos ao que propõe. Scorsese já mostra todo seu potencial em um dos filmes que o tiram de sua zona de conforto. Mas encerremos voltando a falar de Burstyn, que não tem medo de mostrar seus pés de galinha, que é uma força da natureza interpretativa, que interpreta um papel feminino sem glamorização da figura como o patriarcado gosta. Talvez o Oscar mais importante de toda a história da categoria feminina. Um filmaço!

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

OS ABENÇOADOS

Título Original: De Två Saliga
Diretor: Ingmar Bergman
Ano: 1986
País de Origem: Suécia
Duração: 82min
Nota: 6

Sinopse: Uma professora de meia-idade sofre de delírios paranoicos. Seu marido é aos poucos puxado para sua condição. O amor a tornou vulnerável e ciumenta e lentamente seu casamento é transformado de maneira sombria a uma loucura.
 
Comentário: Um especial para a TV sueca que Bergman realizou depois de sua aposentadoria anunciada do cinema. O ritmo atrapalha bastante, não me senti em nenhum momento muito conectado ao filme, tudo vai acontecendo de maneira muito quebrada. Os atores estão muito bem, há diálogos fantásticos (afinal de contas é um Bergman) e momentos interessantes, mas não trás a grandiosidade da filmografia do diretor. Um filme de momentos, mas que no geral fica devendo. Todos sabem que sou avesso a remakes, acho algo desnecessário, mas aqui seria interessante ver um releitura no Brasil atual: casal de idosos que começam a ficar malucos devido a fake news espalhadas pelo whatsapp e começam a rezar para pneus... melhor não, acho que todo brasileiro já viu este filme, mas é o que melhor resume o que acontece aqui.

terça-feira, 8 de outubro de 2024

LABRADOR

Título Original: Labrador
Diretor: Frederikke Aspöck
Ano: 2011
País de Origem: Dinamarca
Duração: 70min
Nota: 8

Sinopse: Em uma ilha desolada e varrida pelo vento, Stella e Oskar, um jovem casal, visitam o pai dela, Nathan, que vive uma vida simples e solitária na companhia de seu cão labrador. No entanto, o relacionamento de Stella e Nathan não é exatamente normal.
 
Comentário: Indicado ao prêmio Câmera de Ouro no Festival de Cannes. O filme prova que qualquer história, por mais simples que seja, se bem escrita, pode se tornar algo realmente muito bom. É exatamente isto o que acontece neste filme. Os diálogos, as situações, tudo o que acontece em cena desperta algum sentimento, bom ou ruim, nos faz questionar os personagens e a nós mesmos. "O que faríamos em uma situação dessa?" é uma pergunta constante. O filme é curto e vai direto ao ponto, com um poder de síntese preciso, não há enrolação. Stephanie Leon, além de muito bonita mostra um talento de sobra interpretando Stella, consegue cativar desde que aparece até o fim. Os filmes da premiação Câmera de Ouro do Festival de Cannes sempre conseguem me surpreender no quesito qualidade. Vale a assistida.