sábado, 30 de novembro de 2024

DEDE

Título Original: Dede
Diretor: Mariam Khatchvani
Ano: 2017
País de Origem: Geórgia
Duração: 92min
Nota: 8

Sinopse: Uma mulher. Três homens. Dina pode desafiar as duras tradições das profundas montanhas do Cáucaso. Mas o espírito dela sobreviverá?
 
Comentário: Filme sobre os recônditos do Cáucaso da Geórgia, que faz a gente pensar na merda que é o patriarcado. Bem, pelo menos se você não for um machista de merda, mas acho que um misógino não chega nem perto de ter a oportunidade na vida de assistir a um filme desses. O filme é dirigido por uma mulher: o que faz toda a diferença. Natia Vibliani está exuberante no papel principal, consegue cativar muito, seu marido consegue tomar a pior decisão da história do cinema, se alguém souber de alguém que tire este "prêmio" dele, por favor se manifeste. Vejo um monte de gente horrorizada em como este povo "primitivo" toma as decisões como se em regiões afastadas do Brasil fosse muito diferente. Um filme muito bom, pena que o povo só assiste coisas comerciais.

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

HANEZU

Título Original: Hanezu
Diretora: Naomi Kawase
Ano: 2011
País de Origem: Japão
Duração: 90min
Nota: 7

Sinopse: O marceneiro Takumi muda-se para uma pequena aldeia onde conhece Kayoko, uma mulher que estudou na mesma escola que ele. Kayoko é fascinada pela cor hanezu (carmesim); mora com o namorado Tetsuya. Logo, eles se apaixonam.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. O filme se passa na região de Asuka, considerado o berço da civilização japonesa, por isso a forte conexão com antepassados, história e a herança tanto dos personagens trabalhado de forma poética pela diretora. Mas achei que o filme dispersa demais, preferi o Mães de Verdade com uma narrativa mais fundada na realidade. O título é uma palavra antiga que significa um tom de vermelho, especificamente um vermelho profundo ou carmesim, o que faz todo sentido. Yosano Yakiko, uma das poetisas modernas mais importantes do Japão utilizou esta palavra em um famoso poema. Os personagens são muito etéreos, não consegui criar uma conexão muito profunda com eles, mas há detalhes que encantam os olhos, como o pássaro na gaiola em contraste com os pássaros livres na casa de seus respectivos amores. Diz muito sobre o sentimento que eles impactam sua vida. Um filme bonito, mas que poderia ser mais amarrado.

quinta-feira, 28 de novembro de 2024

AS VIOLETAS SÃO AZUIS

Título Original: Violets are Blue
Diretor: Jack Fisk
Ano: 1986
País de Origem: EUA
Duração: 85min
Nota: 9

Sinopse: Depois de quinze anos viajando ao redor do mundo, Gussie, uma famosa fotógrafa, retorna a região costeira de Maryland, onde cresceu. Ela reencontra seu namorado do ensino médio, Henry, que agora é casado e dirige o jornal local que herdou de seu pai. Segue-se um romance inusitado e cheio de tensão.
 
Comentário: Assisti este filme com minha irmã quando eu tinha mais ou menos 10 anos de idade, lembro que não gostei, achei bobo e nunca entendi porque minha irmã adorava. Reassisti agora, em 2024, no aniversário de três anos do falecimento dela, meio que para me sentir mais próximo. Filmes eram algo que nos conectava, assisti ao Charada neste mesmo tipo de ritual em outro ano. Hoje, obviamente, o filme é outro. É preciso viver e ter uma carga emocional para entendê-lo, coisa que uma criança de 10 anos não tem. O filme me tocou profundamente, acho que só quem teve um amor assim vai entender, e a frase "É assim que escolhemos, Gussie. Nós deixamos acontecer" é pra entrar nas melhores da história do cinema. O filme diz tanto sobre mim e sobre minha vida, chega até a ser engraçado isso. Me impressiona como minha memória é boa, lembrava de várias coisas, principalmente para o final. Um filme modesto, mas muito subestimado. O título faz alusão a uma famosa rima popular estadunidense que faz alusão a amor e afeto.

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

HARALD & HARALD

Título Original: Harald & Harald
Diretor: Ingmar Bergman
Ano: 1996
País de Origem: Suécia
Duração: 10min
Nota: 5

Sinopse: Dupla de humoristas assume o papel de críticos de arte para discutir um documento elaborado pela Comissão Sueca de Cultura. Cinema, Teatro, Música e Juventude são alguns dos temas debatidos com extrema ironia.
 
Comentário: Curta metragem feito para a televisão durante a aposentadoria de Bergman. É difícil assistir com a mesma visão de 1996 e sendo um sueco. É um filme que o local e o tempo importam, pois foi feito para aquele público específico, naquela época específica. Portando é normal que seja datado, que nem todo o humor seja captado hoje, mas em linhas gerais é um curta mediano, longe de qualquer genialidade do diretor, mas ainda assim com seus diálogos afiadíssimos e sua crítica ao status quo de seu tempo. As caixas de sapato na cabeça dos apresentadores ficou divertidíssimo, mas ao mesmo tempo sem muito sentido que eu pude extrair. Parece até coisa do Lynch.

terça-feira, 19 de novembro de 2024

ZONA DE EXCLUSÃO

Título Original: Zielona Granica
Diretor: Agnieszka Holland
Ano: 2023
País de Origem: Polônia
Duração: 152min
Nota: 10

Sinopse: Uma família de refugiados da Síria, uma professora de inglês do Afeganistão, um guarda de fronteira e ativistas dos direitos humanos reúnem-se na fronteira entre a Polônia e a Bielorrússia durante a mais recente crise humanitária na região.
 
Comentário: Indicado ao Leão de Ouro e vencedor do Prêmio Especial do Juri e de outros 3 fora da competição principal no Festival de Veneza. Confesso que no início eu estava torcendo o nariz, a diretora apela demais em alguns pontos levando tudo a uma repetição exaustiva, mas passando isso o filme só cresce. Cresce como crítica, cresce como denúncia, cresce como reflexão humana, cresce como crítica ao reino de cristal europeu que a mídia insiste fingir que não ruiu há muito tempo. A diretora foi muito corajosa em enfrentar o governo polonês na realização deste filme, teve que cortar suas raízes com o país e sofreu perseguição. Mas o mais lindo de tudo, a cereja no bolo e o principal fato que eu levantei e aplaudi o filme dando nota 10, foi a capacidade de criticar a postura da Polônia (e porque não de todos os países europeus) na hipocrisia que é o tratamento dado aos imigrantes de um modo geral em relação aos ucranianos que fugiram do conflito. A Europa,  como eu sempre insisto em dizer, é ridícula e hipócrita em seus valores.

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

ZONA DE INTERESSE

Título Original: The Zone of Interest
Diretor: Jonathan Glazer
Ano: 2023
País de Origem: Alemanha
Duração: 104min
Nota: 10

Sinopse: O comandante de Auschwitz, Rudolf Höss, e sua esposa Hedwig, se esforçam para construir a vida dos sonhos para sua família em uma casa com jardim ao lado do campo.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro e vencedor do Grande Prêmio do Festival e do prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema no Festival de Cannes, também ganhou dois Oscars. O filme é impressionante por ser diferente de tudo que se fez até agora sobre o assunto, sem contar a parte técnica impecável. Você só escuta os ruídos de Auschwitz enquanto contempla a vida de plástico construída do lado de fora. O diretor soube utilizar a sutileza, a crítica ácida e diálogos afiadíssimos misturados com o dia a dia comum em uma experiência sensorial única. Não acho que seja um filme que vá tocar todo mundo, principalmente falando de quem está acostumado com o filme pipoca de Hollywood e de uma geração que tende a falta de empatia hoje em dia, mas para mim foi um dos melhores do ano.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

A IGUALDADE É BRANCA

Título Original: Trois Couleurs: Blanc
Diretor: Krzysztof Kieslowski
Ano: 1994
País de Origem: França
Duração: 88min
Nota: 8

Sinopse: O imigrante polaco Karol Karol encontra-se em situação difícil quando a sua esposa francesa, Dominique, se divorcia dele após seis meses devido à sua impotência. Forçado a deixar a França depois de perder o negócio que possuíam juntos, Karol convoca o expatriado polonês Mikołaj para contrabandeá-lo de volta para sua terra natal.
 
Comentário: Indicado ao Urso de Ouro e vencedor do prêmio de Melhor Diretor no Festival de Berlim. Não havia gostado tanto quando assisti há uns 15 anos atrás. Revendo hoje o filme cresceu muito, acho que é preciso passar por algumas coisas na vida para se conectar a este filme. Se é o mais fraco da trilogia, é porque os outros dois são filmes gigantes demais em um âmbito muito geral. O filme é divertido, mas também trás reflexões e cenas que marcam a gente. Só não tem uma nota mais alta porque achei o final apressado demais, tudo acontece muito rápido depois de uma construção em tempo perfeita. Ótima trilha sonora e entrega do elenco. Do diretor eu acho que nem preciso falar. Outra coisa estranha, é que dessa trilogia com as cores da bandeira francesa, este filme é muito mais um filme polonês do que um filme francês, não que isso seja um problema.

terça-feira, 12 de novembro de 2024

AS DUAS EXECUÇÕES DO MARECHAL

Título Original: Cele Doua Executii ale Maresalului
Diretor: Radu Jude
Ano: 2018
País de Origem: Romênia
Duração: 9min
Nota: 8

Sinopse: O filme confronta dois pontos de vista diferentes do assassinato do General Ion Antonescu, líder da Romênia durante a Segunda Guerra Mundial.
 
Comentário: O curta metragem intercala imagens da execução real de Antonescu, que foi filmada, em 1946 com cenas de uma encenação com atores da mesma morte. Radu Jude é talvez o diretor contemporâneo romeno de maior grandeza na minha opinião, não sei se fica muito claro aqui sua intenção de criticar pessoas de seu país que ainda insistem em tentar tornar esse monstro em uma espécie de herói. A figura do Marechal já foi duramente criticada por ele em outros de seus filmes, mais eloquentemente no "Eu não me Importo se Entrarmos para a História como Bárbaros". Um curta que só indico para quem realmente está querendo ir mais a fundo no cinema do diretor.

domingo, 3 de novembro de 2024

A SAPIÊNCIA

Título Original: La Sapienza
Diretor: Eugène Green
Ano: 2014
País de Origem: Itália
Duração: 105min
Nota: 9

Sinopse: Alexandre, um arquiteto bem-sucedido, vai para a Itália trabalhar num livro acompanhado de Alienor, sua esposa, que sente o casamento abalado.
 
Comentário: Indicado ao Leopardo de Ouro no Festival de Locarno. Eu realmente não sei explicar muito bem o porque gostei tanto deste filme. Obviamente que a parte técnica toda é soberba, enquadramentos, música, edição, paleta de cores... milimetricamente perfeito. Os personagens são meio mecânicos, como em um filme do Kaurismäki, e isto gera um pouco de estranhamento no começo, depois tudo vai fluindo se der uma chance. Obviamente que não é o tipo de filme para um público grande, é um filme de nicho, mas que é muito belo. Christelle Prot está belíssima e o encontro dela com o senhor caldeu, interpretado pelo próprio diretor, é uma das passagens mais bonitas do filme.

sábado, 2 de novembro de 2024

SEMIÓTICA PLÁSTICA

Título Original: Plastic Semiotic
Diretor: Radu Jude
Ano: 2021
País de Origem: Romênia
Duração: 22min
Nota: 9

Sinopse: A vida média dos seres humanos – desde o nascimento até a velhice – é representada pelos brinquedos infantis. Bonecas Barbie, dinossauros de plástico e modelos de carros são montados para recriar as inevitabilidades da vida, incluindo feriados, engarrafamentos e morte.
 
Comentário: Radu Jude é um dos grandes diretores da atualidade, cada vez que assisto alguma coisa dele viro mais fã. Isto aqui é um curta maravilhoso, que serve de crítica a tanta coisa. Não há diálogos ou narração, apenas imagem e música, e as imagens nos contam sobre guerras, sexualidade, degradação, apatia, violência, amor... bem, sobre tudo o que estiver disposto a tirar do curta. Acho que ele é uma experiência pessoal de cada um que assista, é possível criar assuntos sob diferentes pontos de vista, já que você vai acabar sendo influenciado por seu próprio cérebro também enquanto vê as imagens. Quase um teste de Rorschach . Feito antes do filme da Barbie, mas como disseram, funcionária perfeitamente para que fosse os créditos finais.