sábado, 22 de fevereiro de 2025

DEZ

Título Original: Dah
Diretor: Abbas Kiarostami
Ano: 2002
País de Origem: Irã
Duração: 89min
Nota: 9

Sinopse: Um teste social visual na forma de dez conversas entre uma motorista e seus vários passageiros.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Quando o filme terminou eu dei uma nota 8, mas só depois eu descobri que tudo é roteirizado e o filme cresce mais com isso, pois é impressionante o trabalho dos atores. Amin Maher, o garoto que interpreta o filho dá um show de interpretação e irrita demais (hoje ele é um trans-ativista que prefere ser chamado de Amina e mora em Berlim). Todo o diálogo, tudo o que vai sendo criado em torno dos pedaços de histórias que vão passando pelo carro, só mostra mais e mais como Kiarostami era um gênio. No IMDB o filme consta apenas com Abbas Kiarostami como diretor, em outros lugares coloca a atriz principal Mania Akbari como co-diretora também. Há vários momentos e várias camadas sobre a sociedade do Irã em cada diálogo, inclusive o pragmatismo em que a motorista enxerga algumas coisas (acredite, sou casado com uma iraniana). Mas acho que é unânime que a cena com a última mulher é a melhor de todo o filme e emociona. O filme foi banido no Irã por anos pelo teor contestador.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

LADRÃO DE SONHOS

Título Original: La Cité des Enfants Perdus
Diretores: Marc Caro & Jean-Pierre Jeunet
Ano: 1995
País de Origem: França
Duração: 112min
Nota: 10

Sinopse: Um cientista de uma sociedade surrealista rapta crianças para roubar seus sonhos, na esperança de que eles desacelerem seu processo de envelhecimento.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Eu simplesmente adoro este filme, ele marcou demais minha adolescência. Os diretores criam este mundo estranho com uma maestria ímpar, tudo funciona tão bem para mim, mesmo sem explicar tudo, há muito a ser explicado em diálogos e detalhes ao longo da película, é preciso assistir com atenção. Discordo completamente de detratores que tentam dizer que o filme coloca o relacionamento dos personagens principais como "pedófilo", em nenhum momento One sexualiza Miette, inclusive a chama de "irmãzinha", e a paixão platônica que ela tem por ele é tão comum em crianças que até parece que ninguém nunca teve isso por alguma professora da escola ou algo do tipo. A fotografia é linda demais, um filme divertido com atuações excelentes. Lembro que quando O Fabuloso Destino de Amélie Poulain estreou no cinema fui correndo assistir por conta deste filme. Trilha sonora maravilhosa do Angelo Badalamenti.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

GOLEM

Título Original: Golem
Diretor: Piotr Szulkin
Ano: 1980
País de Origem: Polônia
Duração: 94min
Nota: 9

Sinopse: Pernat se encontra em um interrogatório policial, acusado de um assassinato, e incapaz de se lembrar de quaisquer detalhes do crime, ou mesmo de sua própria vida. Ele é libertado de volta a um mundo de lunáticos delirantes e dentistas perturbados, médicos assassinos e cientistas que acreditam que o segredo da criação humana está dentro das paredes de um forno de ferro fundido.
 
Comentário: Segundo filme que assisto do Piotr Szulkin e confesso que estou maravilhado com este cara. A direção dele é fantástica, as imagens são tão vivas que não parece um filme feito há mais de 40 anos. Li o livro do Gustav Meyrink faz uns dois anos e a narrativa é tão intrincada (para não dizer confusa) como no filme, mas não pense que essa confusão que causa do leitor (ou no espectador aqui) é por ter uma narrativa falha, muito pelo contrário. Ela causa sensações na gente assim como no personagem, que está tão confuso como a gente, e vamos entrando nessa montanha russa de sentimentos junto com ele. Achei o filme excelente, consegue dialogar com aquele mundo de 1980 assim como consegue dialogar com o mundo de hoje, o que faz da obra atemporal, e isto é muito difícil. Uma bela obra de arte. Marek Walczewski está excelente no papel principal e Krystyna Janda deslumbrante como sempre.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

DAHOMEY

Título Original: Dahomey
Diretora: Mati Diop
Ano: 2024
País de Origem: Benin
Duração: 68min
Nota: 8

Sinopse: A jornada de 26 tesouros reais saqueados do Reino de Dahomey exibidos em Paris, que agora estão sendo devolvidos ao Benin. A diretora Mati Diop expressa artisticamente as demandas de uma nova geração.
 
Comentário: Vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim. Confesso que esperava mais, acho que o maior defeito do filme é sua curta duração, acho que a diretora perdeu um tremenda oportunidade de contar mais em sua película. As narrativas em off da estátua combinaram perfeitamente com o pano de fundo da discussão que o filme levanta, mas que podia ser usado para contar mais sobre o antigo Reino de Dahomey (ou Daomé em português) que perdurou por mais de 300 anos e foi destruído pela ação do colonialismo no começo do século XX. O fato do país receber apenas 26 artefatos de volta é importantíssimo, mas para quem assiste fica tudo meio perdido sem a história por trás desta cultura que foi destruída e que podia ser mais trabalhada em mais uns vinte minutos, pelo menos. De resto é ótimo, a discussão dos estudantes, as imagens e o impacto que isto tem no Benin até hoje. Muito importante falar de colonialismo em um mundo onde vemos Israel ao vivo na TV fazendo o que a Europa fez com a África, que paga o preço até hoje.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

LEVADOS PELAS MARÉS

Título Original: Feng Liu Yi Dai
Diretor: Jia Zhang-ke
Ano: 2024
País de Origem: China
Duração: 111min
Nota: 8

Sinopse: Anos depois que seu namorado a deixou para ir para a cidade grande e prometeu levá-la para lá depois que ele se estabelecesse, uma mulher parte em uma jornada para se reunir com ele.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro em Cannes. A narrativa do filme é bastante inovadora, estava perplexo de como era possível o diretor ter filmado algo hoje com tantos detalhes que parecesse ter sido filmado em cada época mostrada no filme, mas descobri que ele utilizou arquivos de gravações de projetos que não foram para frente, o que torna tudo ainda mais fantástico. Confesso que teve momentos que não me senti muito conectado ao filme, há momentos dispersos, mas isso não tira a genialidade da narrativa e nem o fato de ser um filme muito bom como experiência visual também. Não estou familiarizado com a obra do diretor, acho que eu teria aproveitado mais se conhecesse seu estilo antes de ver este. Adorei as músicas que tocam no filme. É um filme sensorial, com uma história bem comum, mas contada de um jeito completamente diferente. A vida é cruel, mas segue sempre em frente.

domingo, 16 de fevereiro de 2025

A FRATERNIDADE É VERMELHA

Título Original: Trois Couleurs: Rouge
Diretor: Krzysztof Kieslowski
Ano: 1994
País de Origem: França
Duração: 99min
Nota: 10

Sinopse: A modelo Valentine inesperadamente faz amizade com um juiz aposentado depois que ela atropela seu cachorro. A princípio, o homem mal-humorado não demonstra nenhuma preocupação com o cachorro, e ela decide ficar com ele. Mas os dois formam um vínculo quando ela retorna à casa e o pega ouvindo os telefonemas dos vizinhos.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Quando assisti a Trilogia das Cores do Kieslowski pela primeira vez, este era o meu favorito, agora ao reve mais de 15 anos depois confesso preferir o Liberdade é Azul devido a várias situações de luto que passei na minha vida desde então. O que não tira a genialidade deste filme, Irène Jacob sempre lindíssima e competente dividindo as cenas com o lendário Trintignant. O filme é mais profundo do que aparenta e acredito que é o que fala sobre coisas mais variadas de toda a trilogia: conectividade, solidão, empatia, envelhecimento e tantas outras coisas. Último filme de Kieslowski que veio a falecer de uma cirurgia do coração pouco tempo depois, foi um dos maiores.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

MADAME SATÃ

Título Original: Madame Satã
Diretor: Karim Aïnouz
Ano: 2002
País de Origem: Brasil
Duração: 100min
Nota: 9

Sinopse: Um retrato de João Francisco dos Santos, também conhecido como Madame Satã, transformista, amante, pai, herói e convicto do Rio de Janeiro.
 
Comentário: Indicado para os prêmios Câmera de Ouro e Um Certo Olhar no Festival de Cannes. Por mais que eu adore Karim Aïnouz, um dos meus diretores brasileiros preferido, aqui quem brilha mais é o Lázaro Ramos. É o ator que faz o filme funcionar, é sua entrega total ao personagem que convence tudo e todos. A direção é mero detalhe. O trabalho de cenografia e figurino é o segundo grande ponto, parece que voltamos mesmo ao Rio de Janeiro da década de 30. Demora um pouco para engrenar, em determinados pontos parece que não vai para lugar nenhum e não vai mesmo, mas daí você vai tomando um choque de realidade, porque a vida é exatamente assim. É o realismo cru que contamina a gente quando assiste, é esse tapa na cara, essa coisa assustadora que é a vida, sem preto no branco e cheia de áreas cinzentas. O filme é um recorte da época, um recorde do personagem, apenas um recorte do todo.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

O COWBOY E O FRANCÊS

Título Original: The Cowboy and the Frenchman
Diretor: David Lynch
Ano: 1988
País de Origem: EUA
Duração: 26min
Nota: 7

Sinopse: Um cowboy grisalho e com problemas de audição, Slim, e seus dois amigos, Dusty e Pete, capturam um francês misterioso e bem-vestido.
 
Comentário: Celebrando os seus 10 anos de existência, a revista francesa Figaro pediu para cinco diretores realizar um curta metragem para serem lançados no bicentenário da Revolução Francesa. A temática era os franceses visto por esses diretores. Além de Lynch, foram convidados Werner Herzog, Andrzej Wajda, Luigi Comencini e Jean-Luc Godard. Eu já havia assistido há muito tempo, reassisti recentemente no catálogo do Mubi. Em seu curta, Lynch vai para a comédia e cria um pastiche com estereótipos, tanto franceses quanto estadunidenses. A metade inicial funciona melhor, dá para dar boas risadas com a situação, o elenco afiadíssimo. Depois a coisa vai descambando um pouco para as coisas malucas do Lynch que eu adoro, mas que aqui parece não funcionar tão bem com o início. Vale a pena, é um bom curta, mas está longe de ser das obras memoráveis do mestre.

domingo, 9 de fevereiro de 2025

OS POTEMKINISTAS

Título Original:
Diretor: Radu Jude
Ano: 2022
País de Origem: Romênia
Duração: min
Nota: 7

Sinopse: O curta escrito e dirigido por Radu Jude parte do gesto de desafio à Rússia feito em 1905 pelos marinheiros do cruzador Potemkin, que receberam asilo político na Romênia. Em 2021, um escultor (interpretado por Alexander Dabija) tenta fazer uma obra inspirada neste evento.
 
Comentário: Mais um curta que assisto deste incrível diretor, mas confesso que achei este o mais fraco dos que assisti até agora. É um filme bem específico sobre a mentalidade da Romênia e nem tanto sobre o fato acontecido em 1905. O diálogo é afiado, como sempre, e coloca nos dois personagens características políticas que reverberam a história da Romênia sob o julgo do stalinismo. Elucida bem sobre uma população que vive em uma corda bamba para não pender para a extrema direita como vários governos europeus atuais e que insiste em não estudar sua própria história sem entender que o comunismo não é Stalin. Conheço vários romenos e poloneses que criticam o comunismo por conta do que viveram, mas quando pergunto o que é o comunismo não me sabem dar nenhuma resposta. Também tenho amigos desses dois países que tem compreensão perfeita das coisas e conseguem entender o contexto histórico e separar uma coisa da outra. No fundo, hoje, vivemos em um cenário político onde pisamos em ovos para agradar uma massa ignorante.