domingo, 22 de junho de 2025

DISTANTE

Título Original: Uzak
Diretor: Nuri Bilge Ceylan
Ano: 2002
País de Origem: Turquia
Duração: 109min
Nota: 8

Sinopse: Depois que sua esposa o abandona, um fotógrafo tem uma crise existencial e tenta lidar com a visita de seu primo.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro e vencedor do Grande Prêmio do Júri, Melhor Ator e outro fora da competição principal no Festival de Cannes. O filme que finalmente mostrou para a que veio Nuri Bilge Ceylan, peça fundamental inicial do que seria um dos maiores diretores de todos os tempos na minha opinião, todo enquadramento é maravilhoso. É o filme preferido do diretor de um amigo meu, mas acho que ainda faltam elementos que ele viria a trabalhar melhor em seus filmes mais recentes. Mehmet Emin Toprak ganhou o prêmio de melhor ator em Cannes meses após ter falecido em um acidente de carro 4 meses após seu casamento, ele era primo do diretor, o que tornou o filme uma espécie de testamento de seu talento ainda em ascensão. É interessante a dinâmica dos personagens, você simpatiza e antipatiza de ambos em momentos diferentes do filme, é tudo tão natural, tão simples ao mesmo tempo em que nos diz tanto e também tão pouco sobre eles.

sábado, 21 de junho de 2025

O FIM DA VIOLÊNCIA

Título Original: The End of Violence
Diretor: Wim Wenders
Ano: 1997
País de Origem: EUA
Duração: 122min
Nota: 9

Sinopse: Em Hollywood, as vidas de um produtor de cinema de sucesso, sua esposa, um detetive de polícia e um agente de vigilância se cruzam após um sequestro fracassado.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Eu adorava esse filme quando assisti no fim da minha adolescência e passei uns bons anos com esse tique de dizer "defina isso ou defina aquilo". Diria que é o "Cidade dos Sonhos" do Wim Wenders, sua crítica a Hollywood e a sociedade plástica estadunidense. A história é toda entrecortada, parece haver lacunas, parece estar incompleta, cheia de buracos, mas óbvio que são intencionais e adoro este tipo de filme, onde nos força a entender os personagens muito bem construídos e seus detalhes que servem como auto explicação de muita coisa. É o Wenders fazendo um filme nos Estados Unidos debochando da narrativa dos filmes hollywoodianos, não a toa o diretor no filme solta um "porque não vou fazer filmes na Europa?" em um momento chave. Bill Pullman teve seu ano de ouro aqui lançando este e o Estrada Perdida do Lynch. Impressionante também como o filme é visionário sobre o "fim da violência", estado e câmeras por todos os lados.

segunda-feira, 16 de junho de 2025

TICKETS

Título Original: Tickets
Diretores: Ermanno Olmi, Abbas Kiarostami & Ken Loach
Ano: 2005
País de Origem: Itália
Duração: 105min
Nota: 8

Sinopse: Durante uma viagem de trem da Europa Central para Roma, personagens se conectam por meio de encontros casuais e contam uma história de amor, acaso e sacrifício. Uma única viagem desencadeia muitas mudanças para muitas pessoas.
 
Comentário: Filme muito bom, a primeira história dirigida por Olmi talvez seja a mais sensível, cheia de tons realistas sobre como fantasiamos em amores platônicos ao mesmo tempo que contrasta com a Europa pós-11 de Setembro e a Invasão do Iraque em 2003. É na segunda história dirigida por Kiarostami que acredito que more a maior força do filme, porque nos força a encarar sentimentos conflitantes, principalmente quanto a personagem da viúva e seu desfecho, interessante notar que no ano que o filme foi lançado o serviço obrigatório dos homens no exército foi abolido. A terceira e última é um típico conto Loachiano, com conflitos de realidades entre emigrantes albaneses (em uma época que o problema de imigração na Europa era de outros europeus entrando na União Europeia, a realidade hoje aqui é muiiiiiiito diferente) e torcedores escoceses de futebol, mas que apesar de trazer toda a discussão social que o diretor sempre propõe é também a história mais leve e que carrega até uma pitada de humor e leveza em seu final. Vale muito a assistida.

domingo, 15 de junho de 2025

AINDA ESTOU AQUI

Título Original: Ainda Estou Aqui
Diretor: Walter Salles
Ano: 2024
País de Origem: Brasil
Duração: 137min
Nota: 10

Sinopse: Uma mulher casada com um ex-político durante a ditadura militar no Brasil é obrigada a se reinventar e a traçar um novo destino para si e os filhos depois que a vida de sua família é impactada por um ato violento e arbitrário.
 
Comentário: Indicado ao Leão de ouro e vencedor de outros três prêmios fora da competição principal no Festival de Veneza e Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Fui assistir sem esperar muito, pois sempre fico com o pé atrás quando o filme tem o hype muito alto e havia lido algumas críticas de que o filme era elitista. Amei o filme, a história é contada de uma maneira que dá muito força a narrativa, é tudo muito forte e sensível ao mesmo tempo. Fernanda Torres está uma força da natureza aqui, para quem está acostumado a ver ela fazendo comédia é impressionante vê-la tão entregue ao papel. Quanto ao filme ser elitista, pode até ser, mas acho injusto isso pesar contra, já que é contado por uma família elitista praticamente do mesmo padrão da que eu cresci. Meu primo é o desaparecido político mais jovem desta época (15 anos: preso, torturado e morto) e o fato de sermos uma família elitista não diminui a dor que isto causou como uma bomba na família. A cena da empregada é extremamente realista, porque é exatamente assim que acontece, por mais que sejam pessoas da família, elas estão ali para serem pagas também. O amor existe, mas a realidade é outra, achei a cena de uma realidade crua e até necessária. Filme obrigatório e ditadura nunca mais.

sábado, 14 de junho de 2025

CORAÇÃO DO SOL QUEBRADO

Título Original: Pòsuì Tàiyáng Zhī Xīn
Diretor: Bi Gan
Ano: 2022
País de Origem: China
Duração: 15min
Nota: 9

Sinopse: Um gato abandonado embarca em uma jornada para descobrir a coisa mais preciosa do mundo.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro de Melhor Curta Metragem no Festival de Cannes. Bem, eu sou suspeito para falar sobre qualquer coisa do Bi Gan, que diretor maravilhoso. O curta que mistura seu estilo entrecortado narrativo com realismo fantástico em um estilo que mescla ficção científica é das coisas mais lindas que assisti este ano. A fotografia é linda e a poesia incrustada no texto dá uma força muito grande a história que está sendo contada. Um curta que poderia facilmente ser um longa metragem na mão do diretor que eu ia amar passar duas horas assistindo. Assisti duas vezes e ainda não consegui pegar tudo, quinze minutos que nos fala muito mais que filmes de duas horas.

sexta-feira, 13 de junho de 2025

MUNDO DE GLÓRIA

Título Original: Härlig är Jorden
Diretor: Roy Andersson
Ano: 1991
País de Origem: Suécia
Duração: 16min
Nota: 8

Sinopse: Após testemunhar um ato de violência sem precedentes sem sequer pestanejar, um corretor imobiliário emocionalmente entorpecido visita sua mãe doente no hospital e, em seguida, no cemitério. Haverá um pingo de felicidade nesta vida cruel e curta?
 
Comentário: Acho engraçado a tentativa frustrada de tentar se criar uma sinopse com algum fio narrativo quando não existe um. Roy Andersson é sempre impressionante de se assistir, mas seus filmes não são fáceis e não nos conduz a uma história a ser contada na maioria das vezes. São cenas, cada cena conta algo, um momento, um sentimento, uma crítica ou até uma comédia. Este curta não foge a regra, e impressiona assim como tudo do diretor que já tenha assistido. Cada cena é um quadro, lindamente pintado pela fotografia perfeita, mas um quadro em movimento. Para quem gosta do diretor eu super indico. Desconcertante e profundo.

quinta-feira, 12 de junho de 2025

A CAVERNA DO CACHORRO AMARELO

Título Original: Shar Nokhoir Tam
Diretora: Byambasuren Davaa
Ano: 2005
País de Origem: Mongólia
Duração: 90min
Nota: 9

Sinopse: A pequena menina nômade, Nansal, encontra um cachorrinho na savana mongol, que se torna seu melhor amigo — apesar de todas as rejeições de seus pais. Uma história sobre uma família nômade mongol — seu modo de vida tradicional e o crescente chamado da Cidade.
 
Comentário: Vencedor da Palma Dog no Festival de Cannes, uma espécie de prêmio para interpretação de animais em filmes. Que filme lindo de assistir, tão distante da nossa cultura, mas que nos cativa pela simplicidade da história a ser contada. O elenco é uma família real meio que interpretando uma história fictícia ligada ao seu modo de vida. A ideia da diretora é simplesmente fantástica e é um filme que precisa ser visto por quem ama cinema. Diria até que obrigatório. Nansal Batchuluun, a garotinha protagonista, exala simpatia e nos conquista já nos primeiros minutos. A cena e que ela conversa com a anciã que lhe conta o quão a vida é sagrada usando arroz e alfinete como exemplo é um dos pontos altos do filme.

quarta-feira, 11 de junho de 2025

A FRENTE FRIA QUE A CHUVA TRAZ

Título Original: A Frente Fria que a Chuva Traz
Diretor: Neville de Almeida
Ano: 2016
País de Origem: Brasil
Duração: 83min
Nota: 7

Sinopse: Um grupo de playboys organiza a última festa do ano em uma favela antes da mudança de clima. E para esta noite, além das drogas, álcool e sexo habituais, eles receberão convidados especiais: uma viciada que usa e é usada pelo grupo, um cantor sertanejo que cresceu na favela, um segurança estranho e o dono do lugar.
 
Comentário: Um bom filme do consagrado Neville de Almeida, com vários pontos altos e outros nem tanto assim. Muitos personagens são de plástico, talvez a intenção seja essa, mas os diálogos toscos soam muitas vezes irreais demais. Porém muito, mas muito mesmo da podridão do comportamento de muitos deles são tão reais que chocam mesmo e é essa a força do filme. Os mash up das músicas funcionam de maneira perfeita. Não preciso dizer que é a Bruna Linzmeyer que carrega o filem nas costas, que presença foda, impressionante e muito do filme vale ser visto por isto. Um filme com momentos perfeitos e outros nem tanto, mas que a qualidade se sobrepõe aos erros. O filme cresce da metade pro final. Gostei.

terça-feira, 10 de junho de 2025

TUDO QUE IMAGINAMOS COMO LUZ

Título Original: All We Imagine as Light
Diretora: Payal Kapadia
Ano: 2024
País de Origem: Índia
Duração: 118min
Nota: 8

Sinopse: A enfermeira Prabha, de Mumbai, mergulha no trabalho para suprimir memórias dolorosas, até que um presente reabre as feridas de seu passado. Sua despreocupada colega de quarto, Anu, anseia por conseguir um tempo a sós com o namorado.
 
Comentário: Vencedor do Grande Prêmio do Festival e indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Não vou dizer que é um filme fácil, acho que tem horas que ele divaga demais e parece que não vai te levar para lugar nenhum, confesso que teve momentos que parecia que ia fazer com que eu perdesse o interesse, para depois me chamar a atenção de volta. As coadjuvantes parecem funcionar melhor do que a personagem principal, pois são eles que dão ritmo ao filme. Anu e seu relacionamento complexo ou o despejo da amiga acabam sobressaindo mais do que o drama da personagem principal. No final é um filme muito bom, que vai tocar cada um de maneira diferente. A interpretação individual de uma cena crucial eleva bastante a experiência e nos deixa pensando sobre.

segunda-feira, 9 de junho de 2025

JULIETA

Título Original: Julieta
Diretor: Pedro Almodóvar
Ano: 2016
País de Origem: Espanha
Duração: 98min
Nota: 9

Sinopse: O filme abrange 30 anos da vida de Julieta, desde um nostálgico 1985, quando tudo parece esperançoso, até 2015, quando sua vida parece estar além de qualquer reparo e ela está à beira da loucura.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Outro excelente filme de Almodóvar, sempre acho que quando o diretor opta por contar uma história mais simples ele acaba acertando mais. O filme é uma delícia de assistir, conforme vai passando mais vamos ficando conectados e interessados em Julieta e todos os detalhes da sua vida. Baseado em três histórias diferentes da escritora, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura, Alice Munro. Se eu já fiquei putaço com algum personagem mais do que fiquei da filha dela no filme, no momento não me recordo. O final é perfeito, mostrando que Almodóvar controla o timing daquilo que quer contar de maneira perfeita. Emma Suaréz e Adriana Ugarte estão perfeitas dividindo a personagem título.

domingo, 8 de junho de 2025

ELES FUGIRAM

Título Original: He Ovat Paenneet
Diretor: J.-P. Valkeapää
Ano: 2014
País de Origem: Finlândia
Duração: 101min
Nota: 7

Sinopse: Dois adolescentes rejeitados fogem de uma casa de recuperação e embarcam em uma jornada pelo país.
 
Comentário: Indicado a um prêmio fora da competição principal no Festival de Veneza. Roosa Söderholm, a atriz principal é quem segura o filme nas costas, que na minha opinião, se perde completamente quando vai chegando ao final. O ator Teppo Manner também trabalha muito bem, mas seu papel é muito fraco, não dão espaço para o personagem dele crescer muito durante o filme. A direção é linda, Valkeapää parece conseguir pegar mais enquadramentos lindos aqui do que no seu filme posterior (Cães Não Usam Calças), mas confesso que preferi o outro a este filme. Parece que a narrativa se perde quando o roteiro resolve pesar a mão e violência gratuita que não aprofunda em nada a história jorra na cara do espectador pura e simplesmente para querer chocar. Não indico não, apesar de ser um bom filme.

sábado, 7 de junho de 2025

CIDADE DOS SONHOS

Título Original: Mulholland Dr.
Diretor: David Lynch
Ano: 2001
País de Origem: EUA
Duração: 147min
Nota: 10

Sinopse: A loira Betty Elms acaba de chegar a Hollywood para se tornar uma estrela de cinema quando conhece uma morena enigmática com amnésia. As duas partem em busca da identidade dela enquanto o cineasta Adam Kesher se depara com problemas ameaçadores ao selecionar o elenco para seu mais recente projeto.
 
Comentário: Vencedor do prêmio de Melhor Diretor e indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Tive a sorte de assistir no cinema quando este filme estreou em 2002 no Brasil, agora 23 anos depois pude voltar a assistir em uma tela grande. Devia fazer uns 20 anos que eu não assistia. Lynch foi brilhante em tudo que fez, em alguns projetos mais que outros, este pode não ser meu filme preferido dele, mas com certeza ele mostra porque foi o melhor diretor estadunidense de seu tempo. O filme, que foi pensado para ser uma série (fico imaginando quem são esses produtores que vetavam essas coisas), é tudo o que fez Lynch ser quem era. O filme é divertido, bizarro, assustador, complexo, confuso, onírico, surreal e misturando tudo isso uma enorme crítica a Hollywood e a sua plasticidade falsa. Dizer que é obrigatório é pouco. Elenco e trilha sonora do saudoso Badalamenti também estão perfeitos.

terça-feira, 3 de junho de 2025

BIRD

Título Original: Bird
Diretor: Andrea Arnold
Ano: 2024
País de Origem: Inglaterra
Duração: 119min
Nota: 10

Sinopse: Bailey vive com seu irmão Hunter e seu pai Bug, que os cria sozinho em um alojamento no norte de Kent. Bug não tem muito tempo para se dedicar a eles. Bailey procura atenção e aventura em outros lugares.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Andrea Arnold talvez seja a melhor diretora contemporânea fazendo filmes no Reino Unido. Já havia me impressionado com o filme Aquário, mas esse conseguiu superar minhas expectativas. O filme é perfeito em todos os aspectos, a realidade cruel nada glamourosa que eu vejo todos os dias morando nos subúrbios afastado dos grandes centros aqui é transmitida para a tela de forma muito competente. Todo o elenco está ótimo, a estreante Nykiya Adams no papel principal manda super bem, Franz Rogowski está completamente diferente de tudo que eu já assisti com ele, mas é Barry Keoghan que rouba a cena mais uma vez: o personagem dele é impressionantemente bem escrito, mas não vou entrar em detalhes para não dar spoiler. O filme emociona, cativa e você consegue se conectar aos personagens entendendo que os caminhos trilhados são sempre muito fodas, mas é o amor que salva tudo no final. Um filme obrigatório para mim.

segunda-feira, 2 de junho de 2025

JARDIM DOS DESEJOS

Título Original: Master Gardener
Diretor: Paul Schrader
Ano: 2022
País de Origem: EUA
Duração: 111min
Nota: 9

Sinopse: Narvel Roth é um horticultor meticuloso que se dedica a cuidar dos jardins de uma bela propriedade e a agradar sua empregadora, a rica viúva Sra. Haverhill. Quando ela exige que ele cuide de sua sobrinha rebelde e problemática, isso revela segredos sombrios de um passado violento enterrado.
 
Comentário: Paul Schrader é uma das poucas coisas que conseguem salvar o cinema estadunidense nos últimos anos. Em uma Hollywood abandonada a filmes de super heróis e remakes desnecessários, o diretor consegue trazer narrativas cheia de detalhes e contemporâneas. Além de todo o simbolismo que o jardim carrega nesse filme, nós tempos a discussão de temas pesados como racismo e supremacismo que parecem afundar cada vez mais o "país das oportunidades" em um ralo sombrio com políticas ainda mais nefastas. Schrader é sutil, e é isso que eu gosto dele desde Taxi Driver, é esses buracos em branco que ele deixa na narrativa que devem ser preenchidos que fazem de seus filmes sempre uma obra de arte.