quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

SEM OUTRA TERRA

Título Original: No Other Land
Diretores: Yuval Abraham, Basel Adra, Hamdan Ballal  & Rachel Szor
Ano: 2024
País de Origem: Palestina
Duração: 96min
Nota: 9

Sinopse: Um coletivo palestino-israelense mostra a destruição de Masafer Yatta, na Cisjordânia ocupada, por soldados israelenses e a aliança que se desenvolve entre o ativista palestino Basel e o jornalista israelense Yuval.
 
Comentário: Vencedor de melhor documentário no Festival de Berlim. Desnecessário dizer que é um filme extremamente necessário em meio ao genocídio perpetrado por Israel e seus aliados ocidentais. Para quem acompanha há tempos a situação da Palestina, muito antes da retaliação do Hamas, não fica nem um pouco surpreso com o que é mostrado aqui, lembro de receber em um grupo no Telegram praticamente ao vivo o dia em que eles cimentaram o poço de água das pessoas mostrado aqui neste documentário. É interessante como tudo foi feito por quatro pessoas (dois que aparecem de frente à câmera e outros dois nos bastidores). Me lembrou um pouco a maneira de se fazer cinema do Jafar Panahi, criando cenas para contar uma história em meio ao documentário. A pessoa que ainda não entendeu o que acontece por lá e insiste em defender Israel ou sofre de alguma deficiência cognitiva ou é mal caráter mesmo. Um dos melhores filmes de 2024.

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

ABC ÁFRICA

Título Original: ABC África
Diretor: Abbas Kiarostami
Ano: 2001
País de Origem: Uganda
Duração: 87min
Nota: 8

Sinopse: Dispondo de duas câmeras digitais, Kiarostami viaja para Uganda, país assolado pela crise da AIDS, para gravar um documentário sobre as milhares de crianças portadoras do vírus e os esforços (ou falta deles) em ajudá-las.
 
Comentário: Gravado a pedido do Fundo Internacional da ONU para o Desenvolvimento para que a crise que assolava Uganda conseguisse chamar mais atenção da comunidade internacional e assim obter mais recursos. O filme mostra o lado mais triste da sociedade que construímos, pois tudo o que acontece na África é reflexo dos séculos de exploração do continente. Trabalho com muitos africanos (principalmente da Nigéria, Eritreia, Etiópia, Sudão, Gana e Zimbábue)  e percebo que uma das piores coisas enraizadas neles é a lavagem cerebral religiosa que os europeus levaram para lá. Nesse filme é possível ver bem isso em um diálogo sobre a igreja não permitir o uso de camisinha. As cenas no hospital é avassaladora, porém, em um mundo onde assistimos a um genocídio em Gaza em tempo real pela internet, tudo parece não chocar tanto mais, e isto me faz indagar o quanto perdemos de nossa humanidade nos últimos anos. Ao pesquisar, parece que a situação de Uganda teve uma melhora a respeito do assunto, o país é referência hoje no combate ao HIV.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

ERASERHEAD

Título Original: Eraserhead
Diretor: David Lynch
Ano: 1977
País de Origem: EUA
Duração: 89min
Nota: 10

Sinopse: O pai de primeira viagem, Henry Spencer, tenta sobreviver ao ambiente industrial, à namorada furiosa e aos gritos insuportáveis ​​de seu filho mutante recém-nascido.
 
Comentário: Assisti na semana em que o mundo ficou mais triste com a partida do diretor, que é dos meus preferidos e uma grande referência desde que assisti ao Estrada Perdida no cinema. Tive o prazer de encontrá-lo pessoalmente uma vez. Eraserhead é um de seus melhores filmes, impressiona ainda mais por ser a estreia do diretor. Quando assisti a primeira vez o impacto foi fulminante. Lynch disse que escreveu o roteiro depois que sua filha, Jennifer, nasceu com um problema no pé, o que gerou vários sentimentos conflitantes. Jack Nance, que contribuiu em toda a filmografia do Lynch até seu falecimento em uma briga de bar, está perfeito no papel do esquisito Henry Spencer. Meio assustador ver como ele envelheceu rápido até fazer Twin Peaks, praticamente 10 anos depois. Lynch era um gênio, saber que não vou mais ver nenhum trabalho novo dele é das piores notícias sobre cinema que recebi na vida. Eraserhead é um de suas obras primas.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

L'APOLLONIDE: OS AMORES DA CASA DE TOLERÂNCIA

Título Original: L'Apollonide: Souvenirs de la Maison Close
Diretor: Bertrand Bonello
Ano: 2011
País de Origem: França
Duração: 125min
Nota: 9

Sinopse: Em um elegante bordel parisiense do século XX, há um mundo claustro de prazer, dor, esperança, rivalidades e, acima de tudo, escravidão.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Um filme com uma narrativa estranha, mas com uma mensagem incrível. O filme é profundo, mais fundo que o fundo do poço. É triste e avassalador. O diretor não tenta passar uma visão feminina da coisa toda, não, ele escancara a podridão do patriarcado e o sistema de escravidão da prostituição (que cabe tão bem na pornografia de um modo geral na sociedade moderna). As atrizes cativam, passam pela tela como pessoas reais, a construção de tudo é fantástica. A trilha sonora com The Mighty Hannibal é um ponto a mais. Fotografia, figurino e montagem de encher os olhos de tanta perfeição. Mas fica aqui minha menção a Alice Barnole, que interpreta Madeleine, que atriz maravilhosa, fiquei chocado que ela não tenha feito muitos outros filmes depois deste, era para chover papel para esta mulher.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

A SONATA FANTASMA

Título Original: Spöksonaten
Diretor: Ingmar Bergman
Ano: 2007
País de Origem: Suécia
Duração: 86min
Nota: 8

Sinopse: As aventuras de um jovem estudante que idealiza a vida dos habitantes de um elegante prédio de apartamentos em Estocolmo. Ele conhece o misterioso Jacob Hummel, que o ajuda a encontrar o caminho para o local, apenas para descobrir que é um ninho de traição e doença. No mundo, o aluno aprende, o inferno e os seres humanos devem sofrer para alcançar a salvação.
 
Comentário: Último trabalho do Bergman, foi uma peça que foi apresentada na televisão sueca. Novamente o diretor volta seus olhos para uma peça de August Strindberg, autor que estimulou e esteve sempre presente em toda a obra por décadas, soa até como uma força do destino que este tenha sido o canto do cisne de um dos maiores diretores da história do cinema. Das montagens que Bergman fez de Strindberg, acho que gostei mais deste mesmo, o elenco está bem entrosado, as cenas convidam ao telespectador a acompanhar com mais atenção. O desfecho é muito rápido e um tanto estranho, talvez rápido demais. Finalizo aqui todos os mais de cinquenta filmes do mestre que assisti ao longo dos últimos anos, muitos dos quais devo revisitar no futuro. Apesar de nada conhecido, este último trabalho serve como um ótimo desfecho de tudo, vale a conferida.

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

PHOENIX

Título Original: Phoenix
Diretor: Christian Petzold
Ano: 2014
País de Origem: Alemanha
Duração: 98min
Nota: 7

Sinopse: A cantora de cabaré judia alemã Nelly sobreviveu a Auschwitz, mas teve que passar por uma cirurgia reconstrutiva porque seu rosto ficou desfigurado. Sem reconhecer Nelly, seu ex-marido Johnny pede que ela o ajude a reivindicar a herança de sua esposa. Para ver se ele a traiu, ela concorda, tornando-se sua própria sósia.
 
Comentário: Petzold é um dos meus diretores contemporâneos preferido, todos os filmes dele que eu tinha visto até aqui são obras de arte da mais alta qualidade, mas confesso que este é o mais fraco dos que vi, não que seja ruim, muito longe disto, mas faltou algo. O desfecho é simplesmente maravilhoso e o grande ponto alto do filme, mas o meio parece tudo meio preso em um limbo. Phoenix é o nome do bar em que ela encontra o marido pela primeira vez depois de sair do campo de concentração, mas também remete ao pássaro mítico que renasce das cinzas e do fogo, o que faz todo o sentido dentro da narrativa. É um filme acima da média, que funciona ao seu propósito, mas que fica uma pontinha de decepção única e exclusivamente porque todo os outros filmes recentes do diretor beiram a perfeição.

terça-feira, 7 de janeiro de 2025

EU SEI QUE VOU TE AMAR

Título Original: Eu Sei Que Vou Te Amar
Diretor: Arnaldo Jabor
Ano: 1986
País de Origem: Brasil
Duração: 102min
Nota: 9

Sinopse: Um jovem casal recém-separado se encontra na casa onde viviam juntos e começam a discutir seu relacionamento anterior.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro e vencedor do Prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes. Depois que nossa Fernanda Torres ganhou o prêmio no Globo de Ouro me toquei que nunca tinha visto ao filme que ela havia faturado em Cannes. Resolvi tirar ele da fila e não me arrependi nem um pouco. O filme é maravilhoso e me trouxe vários gatilhos de relacionamentos passados, e achei excelente como a narrativa muda a todo momento do drama para o trágico e para a comédia. Ambos os atores estão sensacionais, se entregam demais, os diálogos são como facas. Única coisa que me incomodou foram coisas pontuais que se identifica a impressão digital do Jabor, pensamentos burgueses e conservadores travestidos de descolados. Mas o fato do diretor ser uma das pessoas mais desprezíveis da mídia brasileira das últimas décadas, estranhamente isto não afeta em nada ao filme, que continua maravilhosamente bem  quase 40 anos depois. Vale muito a assistida. E Fernanda Torres é gigante!

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

UMA ALEGORIA URBANA

Título Original: Allégorie Citadine
Diretores: Alice Rohrwacher & JR
Ano: 2024
País de Origem: França
Duração: 21min
Nota: 10

Sinopse: Uma bailarina está atrasada para um teste para um espetáculo inspirado na Alegoria da Caverna de Platão. Ela chega com seu filho de sete anos, Jay, e implora ao diretor que lhe dê uma chance.
 
Comentário: Depois de realizarem o excelente curta Homilia Camponesa na itália, os diretores se reúnem aqui para filmar esta peça de arte nas ruas de Paris. Alice Rohrwacher é um dos grandes nomes do cinema italiano atual e JR vem chamando a atenção na França onde tem no currículo até um trabalho com a lendária Agnès Varda. Tudo aqui é pura arte, é dança, é movimento, é crítica social, é lindo demais! Não lembro de um curta que diz tanto falando tão pouco. A parte técnica é perfeita, há tomadas incríveis. O minimalismo e os cenários estéreis e cinzentos que vivemos hoje vem me incomodando demais ultimamente e ao assistir este sentimento teve um grande impacto em mim. De quebra ainda podemos ver o Leos Carax fazendo uma ponta.