terça-feira, 29 de outubro de 2024

NÃO ME TOQUE

Título Original: Touch Me Not
Diretor: Adina Pintilie
Ano: 2018
País de Origem: Alemanha
Duração: 128min
Nota: 7

Sinopse: Juntos, uma cineasta e seus personagens se aventuram em um projeto pessoal de pesquisa sobre intimidade. Na fronteira fluida entre a realidade e a ficção, Não Me Toque segue as viagens emocionais de Laura, Tómas e Christian, oferecendo uma visão profundamente empática das suas vidas.
 
Comentário: Vencedor do Urso de Ouro e de outro prêmio fora da competição principal no Festival de Berlim. Um filme bem diferente, experimental, portanto é normal que muita coisa funcione e outras não para o espectador, mas independente da experiência é um filme muito interessante e corajoso por parte da diretora em realizá-lo. Christian Bayerlein é o grande trunfo do filme, sua história de vida e de luta com todas as dificuldades que enfrenta é uma lição de vida, não há como não se emocionar. Acho que a diretora erra a mão quando cai demais na ficção do Tómas Lemarquis seguindo sua suposta ex-namorada, por exemplo, nos desconectamos da ideia do que a diretora está tentando vender como documentário nestes momentos. Laura Benson fica entre o real e o lírico. Gostei do filme, acho que mereceu o prêmio, mas é muito longo para o que propõe e a diretora deveria participar mais, pois gostei das cenas em que ela participa. Sua narrativa também trás as melhores reflexões do filme, há um momento em que desmontam um equipamento em que o que ela diz vale toda a assistida.

PS: Cadastrei como um filme alemão, pois para mim não faz sentido colocá-lo como um filme romeno por conta da diretora. O filme foi filmado na Alemanha e é todo falado em inglês. Não tem nada que nos faça referência a Romênia.

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

A MARQUESA DE SADE

Título Original: Markisinnan de Sade
Diretor: Ingmar Bergman
Ano: 1992
País de Origem: Suécia
Duração: 105min
Nota: 7

Sinopse: Uma produção teatral da peça de Yukio Mishima, filmada para a televisão sueca. Começa na França em 1772. Seis mulheres, uma delas Madame de Sade, discutem suas opiniões e sentimentos em relação ao notório Marquês de Sade.
 
Comentário: Depois de anunciar sua aposentadoria do cinema, esta peça interpretada no Royal Dramatic Theatre em Estocolmo e filmada para a televisão foi um dos projetos do mestre Bergman. A peça funciona muito bem, com excelentes interpretações e diálogos afiadíssimos, mas achei que dá uma cansada em certo ponto. Há pontos repetitivos e falta um certo dinamismo no decorrer da história. Talvez com umas pitadas do humor ácido que Bergman costuma usar funcionasse melhor do que ficar muito preso ao texto, e apesar de haver uma discussão feminista nas entrelinhas, ela poderia também ter sido melhor utilizada como o diretor sempre fez. No geral é um bom "filme", merece ser visto por quem é fã do diretor, mas pode ser ignorado para quem quer ver apenas suas obras primas.

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

MUSEU

Título Original: Museo
Diretor: Alonso Ruizpalacios
Ano: 2018
País de Origem: México
Duração: 126min
Nota: 6

Sinopse: Em 1985, um grupo de criminosos evadiu a segurança do Museu Nacional de Antropologia na Cidade do México para roubar 140 peças pré-hispânicas de suas vitrines.
 
Comentário: Indicado ao Urso de Ouro e vencedor de Melhor Roteiro no Festival de Berlim. O filme não é ruim, tem seus momentos, mas enrola demais e parece que não chega em lugar nenhum do meio para o final. A história real tem muitos detalhes que foram omitidos e que tornariam o filme muito mais dinâmico e interessante. Me espanta o prêmio de Melhor Roteiro, porque eu só fui perceber que o filme se passava em 1985 depois que fui ler a respeito, há uma cena do natal em que o sobrinho dele ganha um Lego do Star Wars que foi lançado pela primeira vez só em 2000, eu me preocupo tanto com esses detalhes quando vou escrever algo, vejo um roteiro preguiçoso aqui. O final é muito apressado, a relação familiar que poderia ser o mais interessante no desfecho também fica corrida. O elenco principal (Bernal e Ortizgris) funciona e estão muito bem.

sábado, 19 de outubro de 2024

CLOSE-UP

Título Original: Nema-ye Nazdik
Diretor: Abbas Kiarostami
Ano: 1990
País de Origem: Irã
Duração: 98min
Nota: 9

Sinopse: A verdadeira história de Hossain Sabzian, um cinéfilo que se apresentou como o diretor Mohsen Makhmalbaf para convencer uma família a ser protagonista em seu novo filme.
 
Comentário: A maneira que Kiarostami filmou este filme é de uma originalidade ímpar. Há partes que parecem com um documentário, mas há outras completamente encenadas, o que faz a gente ficar imaginando como é que foi fazer este filme. É impressionante o carisma de Hossain Sabzian, seu amor pelo cinema e pela maneira que nos conquista. Ele é a alma do filme, é ele quem faz o filme acontecer mais do que o próprio diretor, muito triste que tenha morrido depois de um ataque de asma e ficar quatro meses em coma exatamente quando iria fazer outro filme com Kiarostami. A sensibilidade do diretor, óbvio, que conta muito pelo produto final. A cortesia que o povo iraniano te trata na rua é muito diferente do que em qualquer lugar do mundo que eu conheci, e aqui é possível ter um pouco essa experiência. Não diria que é um filme obrigatório, pois talvez não seja o estilo de uma grande maioria, mas para mim e para quem realmente ama cinema é um filme necessário.

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

AQUÁRIO

Título Original: Fish Tank
Diretor: Andrea Arnold
Ano: 2009
País de Origem: Inglaterra
Duração: 122min
Nota: 9

Sinopse: Mia é uma garota de 15 anos, que vive com sua mãe e irmã nos subúrbios da Inglaterra. Excluída da escola e desprezada por amigas, a vida de Mia muda quando ela conhece Connor, o novo namorado de sua mãe.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro e vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes. Fui assistir sem esperar muito, afinal não tenho sido mais o público alvo quando o assunto é adolescente, e não tinha me empolgado muito com o badalado Como Fazer Sexo, mas estava completamente errado. O filme entrega tudo! É fenomenal, vivo hoje nos subúrbios da Inglaterra há quatro anos e a representação da realidade que a diretora faz aqui é simplesmente perfeita. Não há exageros, não há glamorização, não há maquiagem... uma grande parte da população britânica vive exatamente como se mostra no filme por mais que tudo que você pense sobre a Inglaterra seja uma propaganda ocidental bem meia boca. A narrativa te prende, a realidade bate forte, o elenco é sensacional e a direção certeira. Demorei demais para assistir, assustador ver que é de 2009 e pouca coisa mudou por aqui. Lembrei que assim que vim morar na casa que estou hoje, tinha uma vizinha chamada Libby com uma bebezinha que chorava de noite, toda noite a mulher gritava com o bebê mandando calar a boca, queria ir até o apartamento de cima e pegar a criança para cuidar eu mesmo, quantas Mias não estão espalhadas por aí?

domingo, 13 de outubro de 2024

NUVENS DE MAIO

Título Original: Mayis Sikintisi
Diretor: Nuri Bilge Ceylan
Ano: 1999
País de Origem: Turquia
Duração: 117min
Nota: 7

Sinopse: Um aspirante a cineasta visita seus pais e começa a elaborar um filme. Ao criar e escalar o elenco ele encontra familiares e amigos que lutam com seus próprios problemas, sonhos e vida.
 
Comentário: Indicado ao Urso de Ouro no Festival de Berlim. Depois do curta (Casulo) e do seu longa de estreia (A Pequena Cidade), aqui o diretor parece começar a criar um pouco mais o que viria a ser seu estilo narrativo mais refinado e intrincado. Porém parece haver uma simbiose entre esses seus trabalhos iniciais para a evolução que estava trilhando. Há uma cena em que os pais assistem a si mesmos em uma TV que me parece ser uma parte do curta metragem, o filme que o personagem principal está filmando parece ser exatamente o longa de estreia do diretor, o que faz de toda a sua filmografia inicial uma colcha de retalhos metodicamente costurada. Gostei da história do menino com o ovo e de toda a atenção que o diretor dá aos seus pais em cena. A construção da história vai se dando em conta gotas e quando percebemos já estamos envolvidos na história. Um bom filme, mas que ainda não tínhamos como saber a força da natureza que o diretor se tornaria.

sábado, 12 de outubro de 2024

SUBWAY

Título Original: Subway
Diretor: Luc Besson
Ano: 1985
País de Origem: França
Duração: 102min
Nota: 8

Sinopse: Fred, um ladrão de cofres desonesto, se refugia no metrô de Paris após ser perseguido pelos capangas de um empresário obscuro de quem ele havia acabado de roubar alguns documentos.
 
Comentário: Filme que deu um prêmio César de Melhor Ator no currículo de Christopher Lambert. Me diverti muito assistindo ao filme, e este sentimento de entretenimento que o filme cumpre muito bem para mim já valeu toda a assistida. É um tipo de filme que foi extinto, pois ele não dá tudo mastigado para o telespectador e em alguns pontos chega até a não fazer muito sentido, mas é essa mistura de nonsense com um ritmo frenético que faz com que ele funcione. Há vários clichês misturados com uma fantasia oitentista, dando ao filme personalidade, estilo e identidade. Luc Besson menos mainstream, sem querer agradar tanto ao cinema pipoca, mas sem deixar de ser pop. Lambert está realmente muito bem, nem parece o canastrão de sempre, o resto do elenco ajuda muito a criar todo o cenário dos subterrâneo do metrô de Paris. Adjani está linda, mas poderia ter sido melhor aproveitada. Um final meio apressado, mas que no geral cumpre seu papel. Não esperava que fosse gostar tanto, era o tipo de filme que estava precisando, sempre pensei em assistir e acabei nunca vendo até agora. Tinha até gravado em um VHS quando moleque. Há uma cena quando Fred está andando embaixo do trem que aparece alguém da equipe técnica do filme em um túnel em que ele entra, passou batido na edição.

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

ALICE NÃO MORA MAIS AQUI

Título Original: Alice Doesn't Live Here Anymore
Diretor: Martin Scorsese
Ano: 1974
País de Origem: EUA
Duração: 112min
Nota: 10

Sinopse: Uma mulher recentemente viúva está na estrada com seu filho, determinada a construir uma nova vida como cantora.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes e vencedor do Oscar de Melhor Atriz. Eu havia visto este filme há mais de vinte anos, lembro que havia gostado, mas provavelmente não tanto quanto agora, pois é um filme que faz mais sentido quando adquirimos uma certa bagagem em nossas vidas. Ellen Burstyn está fantástica aqui, que depois do sucesso de O Exorcista havia ganho uma carta branca para desenvolver um projeto sobre uma história de uma mulher vivendo problemas comuns, Scorsese foi contratado por indicação de Coppola. Diane Ladd, vale ressaltar, está incrível aqui também, e sua filha (a famosa atriz Laura Dern) aparece com menos de 10 anos na cena final da lanchonete comendo sorvete e usando um óculos no balcão. Os atores Keitel e Kristofferson são meros ornamentos de Burstyn, mas cada qual a sua maneira acrescentando muito a história e perfeitos ao que propõe. Scorsese já mostra todo seu potencial em um dos filmes que o tiram de sua zona de conforto. Mas encerremos voltando a falar de Burstyn, que não tem medo de mostrar seus pés de galinha, que é uma força da natureza interpretativa, que interpreta um papel feminino sem glamorização da figura como o patriarcado gosta. Talvez o Oscar mais importante de toda a história da categoria feminina. Um filmaço!

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

OS ABENÇOADOS

Título Original: De Två Saliga
Diretor: Ingmar Bergman
Ano: 1986
País de Origem: Suécia
Duração: 82min
Nota: 6

Sinopse: Uma professora de meia-idade sofre de delírios paranoicos. Seu marido é aos poucos puxado para sua condição. O amor a tornou vulnerável e ciumenta e lentamente seu casamento é transformado de maneira sombria a uma loucura.
 
Comentário: Um especial para a TV sueca que Bergman realizou depois de sua aposentadoria anunciada do cinema. O ritmo atrapalha bastante, não me senti em nenhum momento muito conectado ao filme, tudo vai acontecendo de maneira muito quebrada. Os atores estão muito bem, há diálogos fantásticos (afinal de contas é um Bergman) e momentos interessantes, mas não trás a grandiosidade da filmografia do diretor. Um filme de momentos, mas que no geral fica devendo. Todos sabem que sou avesso a remakes, acho algo desnecessário, mas aqui seria interessante ver um releitura no Brasil atual: casal de idosos que começam a ficar malucos devido a fake news espalhadas pelo whatsapp e começam a rezar para pneus... melhor não, acho que todo brasileiro já viu este filme, mas é o que melhor resume o que acontece aqui.

terça-feira, 8 de outubro de 2024

LABRADOR

Título Original: Labrador
Diretor: Frederikke Aspöck
Ano: 2011
País de Origem: Dinamarca
Duração: 70min
Nota: 8

Sinopse: Em uma ilha desolada e varrida pelo vento, Stella e Oskar, um jovem casal, visitam o pai dela, Nathan, que vive uma vida simples e solitária na companhia de seu cão labrador. No entanto, o relacionamento de Stella e Nathan não é exatamente normal.
 
Comentário: Indicado ao prêmio Câmera de Ouro no Festival de Cannes. O filme prova que qualquer história, por mais simples que seja, se bem escrita, pode se tornar algo realmente muito bom. É exatamente isto o que acontece neste filme. Os diálogos, as situações, tudo o que acontece em cena desperta algum sentimento, bom ou ruim, nos faz questionar os personagens e a nós mesmos. "O que faríamos em uma situação dessa?" é uma pergunta constante. O filme é curto e vai direto ao ponto, com um poder de síntese preciso, não há enrolação. Stephanie Leon, além de muito bonita mostra um talento de sobra interpretando Stella, consegue cativar desde que aparece até o fim. Os filmes da premiação Câmera de Ouro do Festival de Cannes sempre conseguem me surpreender no quesito qualidade. Vale a assistida.

domingo, 6 de outubro de 2024

MALENA

Título Original: Malèna
Diretor: Giuseppe Tornatore
Ano: 2000
País de Origem: Itália
Duração: 108min
Nota: 8

Sinopse: Em 1941, numa pequena vila localizada na Sicília, um grupo de garotos de 13 anos de idade nutre uma profunda paixão por Malena (Monica Bellucci), a viúva de um soldado local, despertando uma história de amor, perda e coragem.
 
Comentário: Indicado ao Urso de Ouro no Festival de Berlim e a dois Oscars. A história te prende, a direção é soberba e a produção é gigantesca, mas é a Bellucci que chama a atenção aqui, o resto não chega a importar tanto. Passamos o filme obcecado como o garoto. Confesso que achei bem controverso as cenas dela com o ator mirim Giuseppe Sulfaro (bela interpretação diga-se de passagem), me remeteu muito a toda história da Xuxa no filme Amor Estranho Amor. Tem um ritmo meio Hollywood e umas situações meio exageradas e vai mudando de tom conforme vai avançando, ficando mais pesado. Não gostei muito de alguns pontos do desfecho e achei que no fim a história não acrescenta muito, mas é um filme muito bom, mas muito longe da nota 10 de um Cinema Paradiso.

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

DOVLATOV

Título Original: Dovlatov
Diretor: Aleksei German Jr
Ano: 2018
País de Origem: Rússia
Duração: 126min
Nota: 7

Sinopse: Filme sobre a vida do renomado escritor russo de origem armênia Sergei Dovlatov. As ações do filme se desenrolam em 1971, contando sobre quatro dias na vida do famoso escritor. O filme levanta a questão eterna da cultura russa e europeia - a questão da escolha moral.
 
Comentário: Indicado ao Urso de Ouro e vencedor de um prêmio fora da competição principal no Festival de Berlim. Não conheço a obra de Dovlatov, fato que talvez venha a remediar, mas não posso dizer que nutri muita simpatia pelo personagem título durante a película: mimado, irresponsável e pedante. O filme demora demais para se tornar interessante, porém em sua reta final eu confesso que estava grudado na tela, por isso ganhou pontos na minha nota. É mais interessante pelo cenário em torno que vai sendo construído do que pelo personagem em si. Há diálogos ótimos e situações que despertam uma excelente discussão. No geral é um bom filme, mas é muito de nicho, maioria das pessoas não irão gostar. Não posso terminar sem falar da atuação do Milan Maric, que faz um excelente trabalho como Dovlatov, é ele que segura boa parte das partes que não funcionam tão bem, mantendo o telespectador interessado. A parte técnica é impecável.